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HISTÓRICO DA FACHADA EM CHAPAS DELGADAS ESTRUTURADAS EM LSF

SUMÁRIO

BRASILEIRO E INTERNACIONAL

3. CARACTERIZAÇÃO DA FACHADA EM CHAPAS DELGADAS ESTRUTURADAS EM LSF

3.1 HISTÓRICO DA FACHADA EM CHAPAS DELGADAS ESTRUTURADAS EM LSF

Fachada, do italiano facciata, é a parte principal e anterior de um edifício e, na tradição clássica, a fachada era definida pelo número de colunas que a ornavam (RAVAZZINI, 1982).

A enciclopédia “Larousse du XX Siècle”15, datada da década de 1930, define o termo

fachada (façade) como “cada um dos lados exteriores do edifício”, referindo-se mais particularmente à sua face principal. A enciclopédia, no mesmo verbete, mostra a definição administrativa do termo e destaca a regulamentação da época, em relação à altura da fachada, sendo que o prefeito detinha o direito de interditar a construção se houvesse materiais que pudessem representar riscos de incêndio ou de queda16.

No decorrer do tempo, a linguagem da arquitetura clássica constituiu-se em uma das linguagens mais estáveis da cultura ocidental. O ponto de ruptura se verificou com as vanguardas históricas do final do século XIX (PRATELLI, 1984).

O Movimento Moderno na arquitetura trouxe a cisão entre clássico e o moderno e, por consequência, a depuração formal da linguagem clássica. O antológico manifesto de Adolf Loos, "Ornamento e crime", publicado em Viena em 1908, trouxe o papel precursor de superar a contraditória herança cultural da sociedade burguesa que não poderia mais tomar como parâmetro a cultura do classicismo (FRAMPTON, 1982). Dada à ruptura em relação à linguagem, há também uma ruptura em relação às técnicas de execução, que eram de domínio dos engenheiros e arquitetos de fins do século XIX, e que foram passadas empiricamente de geração em geração. No Brasil, conforme sinaliza Barros (1991), há também ruptura com as técnicas de execução, com a falta de análises dos motivos pelos quais uma atividade era executada de uma determinada maneira, o que contribuiu para a falta de domínio tecnológico por parte das novas gerações. Dada à necessidade de industrialização e o desaparecimento de artesões, precursores que imigraram para o Brasil no início do século e que

15 Larousse du XX e Siècle. Maison Larousse. Paris. 1930.

16 Nota da autora: Desde àquela época nota-se a preocupação com o desempenho ao se vetar materiais que traziam risco de incêndio ou de queda.

efetivamente dominavam o "saber fazer", perdeu-se o conhecimento vernacular na execução de elementos arquitetônicos que tinham funções de proteção como se dava na arquitetura tradicional.

Na fachada, a perda de elementos da arquitetura clássica como molduras, frisos, entre outros elementos arquitetônicos, trouxe perda de desempenho, uma vez que estes elementos tinham também funções como pingadeiras, escoamento de água, proteção e limitação de panos para se evitar fissuras.

As vedações de alvenaria foram e ainda são largamente usadas na civilização ocidental e desempenham, entre outros, proteção térmica essencialmente pela sua alta inércia térmica. Segundo Yu (2014), a parede monolítica, usada como única barreira entre interior e exterior, pode causar alguns inconvenientes que a tornam mais suscetível à penetração de água, em estado líquido ou vapor, pelo fato de a alvenaria ser porosa e pelo seu grande número de juntas.

Yu (2014) afirma que a introdução de uma camada de ar entre as superfícies exteriores e interiores colabora no controle da penetração de água e fornece um dreno para a água de condensação evitando a entrada de umidade e destaca, como exemplo do uso pioneiro de vedações com cavidade, a Morgan Library, em Nova York, projetada em 1906 por McKim, Mead & Withe, que utilizava essa técnica para proteção dos livros contra umidade.

Ainda segundo Yu (2014), as fachadas multicamadas têm seu início quando da introdução das vedações externas com cavidades de ar no interior, propiciando uma opção de resistência a umidade às paredes monolíticas com função portante. A introdução de uma camada de ar, entre as duas espessuras da parede, cria a oportunidade de melhorar o isolamento térmico do conjunto. Combinando materiais de isolamento com o ar da cavidade, torna-se possível a melhora da capacidade térmica da vedação vertical, aumentando-se o gradiente de temperatura entre as camadas externas e internas. A introdução da cavidade ainda permite, caso haja condensação interna, introduzir uma barreira de vapor no lado interno, lado mais quente, para proteger as camadas interiores da água de condensação. Contudo, essa forma de produção estava associada a vedações portantes.

Novos avanços permitiram o uso precursor de perfis leves com a técnica do Balloon Framing (Figura 1). Segundo Yu (2014), essa técnica foi o primeiro passo para criação

de kits de componentes para a construção em estrutura leve (light frame) e sua utilização pioneira é iniciada nos Estados Unidos ainda no século XIX, sendo mais difundida após o grande incêndio de Chicago em 1871.

Figura 1 – Técnica do Balloon Frame

Fonte: WOODWARD; WOODWARD (1863)17 apud O’BRIEN (2010)

Os avanços na indústria das chapas de ligação (nails) colaboraram para a difusão do sistema de painéis formados por perfis de madeira, cuja construção era mais leve em comparação com grandes vigas e peças de madeira e cujas conexões podiam ser feitas por mão de obra com pouca especialização quando comparadas às conexões das pesadas peças em madeira. O sistema continuou a evoluir tomando um posto privilegiado em relação a outros métodos, principalmente porque não exigia mão de obra altamente especializada, o que reduzia seu custo de produção. Por isto, permitiu sua utilização em grande parte das habitações de subúrbio norte-americanas.

Yu (2014) afirma que acompanhando a evolução da construção leve americana, e por razões de segurança contra incêndio, muitas municipalidades proíbem o uso da madeira. Assim, em edificações de múltiplos andares e comerciais, houve a substituição dos perfis de madeira por perfis de aço. Apesar de leves, os painéis continuavam constituindo vedações portantes.

17 WOODWARD, G. E.; WOODWARD, F. W. Woodward’s Country Homes. New York, NY: Stephen

Os avanços estruturais eliminaram a função portante da vedação vertical, que fora delegada à estrutura reticulada com elementos como pilares e vigas, sejam de concreto ou de aço. Com isso, novas possibilidades foram trazidas às vedações, como as que ocorreram no século XIX em que as estruturas de ferro foram empregadas em conjunto com fechamento de vidro.

A partir de então, a vedação vertical externa passa a ter a função de pele ou envelope do edifício, necessitando suportar apenas o seu peso próprio, abrindo-se novas possibilidades à arquitetura e à engenharia.

Segundo Yu (2014), as vedações, dos exemplos portantes e monolíticos, do início do século XX, evoluíram de simples materiais para sistemas mais sofisticados, aumentando a necessidade de controle das propriedades físicas, tais como, ganhos e perdas de calor, controle da umidade, entre outras. Novos materiais e novos métodos de produção trouxeram novos limites aos materiais de construção. Novos avanços permitiram a utilização pioneira de revestimentos não aderidos. O edifício dos correios de Viena, Áustria, do arquiteto Otto Wagner, construído em 1904, tem o revestimento de fachada não aderido. Nesse edifício, painéis de mármore são fixados em uma estrutura usando rebites de alumínio (Figura 2).

Figura 2- Trecho de fachada mostrando revestimento de mármore fixado com rebites

Maugard (2007) manifesta que, do ponto de vista da arquitetura, podem-se observar três estágios de evolução da matéria e dos materiais de construção: a matéria opaca para delimitar o interior do exterior, a matéria transparente para se visualizar o exterior a partir do interior e vice-versa, e, paradoxalmente, a matéria “invisível” que traz um continuum entre interior e exterior.

Segundo Maugard (2007), onipresente na arquitetura tradicional, a matéria opaca ainda tem o seu lugar, uma vez que sempre se apresenta a necessidade de separação de interior e exterior, e, o que há de novo é poder se utilizar novos materiais como a gama de metais, polímeros, e mesmo materiais tradicionais, como a pedra, sob a forma de finas películas.

A tecnologia dos materiais leves e não-portantes aplicada ao desenvolvimento das vedações exteriores continua sendo objeto de evolução devido à contínua necessidade de proteção, às crescentes exigências dos usuários e às necessidades de desempenho cada vez maiores para fazer face às novas regulamentações.

A tecnologia das fachadas em chapas delgadas estruturadas em LSF teve o seu desenvolvimento em grande parte alavancado pelo desenvolvimento das vedações verticais internas com chapas de gesso acartonado, o drywall.

Sabbatini (1998) registra que as chapas de gesso acartonado foram inventadas por Augustine Sackett em 1898 nos Estados Unidos, mas passaram a ser utilizadas de forma intensiva somente a partir da década de 1940. Segundo Souza (2003), na Europa, essa vedação vertical foi introduzida para responder à demanda por habitações necessárias no pós segunda grande guerra mundial.

No Brasil, esse sistema teve início na década de 1970. Foi utilizado no Conjunto Habitacional Zezinho Magalhães Prado com 11 mil unidades habitacionais. Seu projeto, de 1967, dos arquitetos João Batista Vilanova Artigas, Paulo Mendes da Rocha e Fábio Penteado, tinha como partido o aproveitamento máximo das possibilidades tecnológicas existentes para permitir o barateamento dos custos de construção e a elevação dos padrões construtivos (SABBATINI, 1998; BASTOS; ZEIN, 2011).

Segundo Souza (2003), houve uma série de questões que impediram a implantação da tecnologia no Brasil nos anos 1970 e 1980, como falta de materiais e componentes, problemas técnicos e de desempenho, sendo a principal delas falta de ações de

desenvolvimento tecnológico. Em meados da década de 1990, com a entrada no mercado de fabricantes de chapa retomou-se o desenvolvimento da tecnologia com a disponibilização de materiais e componentes.

A tecnologia de vedação vertical com chapas de gesso acartonado tornou propício o desenvolvimento das fachadas em chapas delgadas estruturadas em LSF, dado o desenvolvimento de mercado iniciado pelo drywall que fomentou a indústria de componentes (perfis de aço, chapa de gesso acartonado, parafusos, etc.).

As fachadas em chapas delgadas estruturadas em LSF fazem parte dessa longa história de evolução dos materiais, das tecnologias e das maneiras de se conceber o ambiente construído.

Segundo Way e Lawson (2013), o sistema apresenta os benefícios de construção como o baixo peso, velocidade e facilidade de instalação.

Santiago (2008) afirma que a fachada em chapas delgadas em LSF possui peso próprio baixo (<60kg/m2), gerando alívio nas solicitações da estrutura principal

fundações e que facilita as atividades de transporte dos painéis ou seus componentes para o canteiro de obras.

Neste capítulo busca-se caracterizar essa tecnologia, identificando seus componentes e suas respectivas funções.

3.2 CLASSIFICAÇÃO E TERMINOLOGIA ASSOCIADAS ÀS VEDAÇÕES