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1. FUNDAMENTOS

3.3 HISTÓRICO DA MINERAÇÃO EM CACHOEIRO DE ITAPEMIRIM

No município de Cachoeiro de Itapemirim, a atividade de mineração tem seus primeiros registros ainda no século XIX. Segundo Costa (1991), por volta do ano de 1878, com a chegada de imigrantes europeus na região, principalmente oriundos da Itália, deflagrou-se o início da exploração de calcário.

Diversas famílias italianas estabeleceram-se em Cachoeiro de Itapemirim, muitas delas pioneiras na fabricação de cal. Em1924, foi fundada uma fábrica de cimento na região, que também se beneficiava da presença de jazidas de calcário. Segundo Villaschi e Sabadini (2000), o início da produção do mármore em Cachoeiro de Itapemirim não se deu pelalavra de blocos, mas pelas marmorarias, instaladas na

região a partir de 1930.A primeira marmoraria de Cachoeiro de Itapemirim, denominada “Marmoraria do Sul”, entretanto, foi instalada somente em 1930.

O imigrante português Joaquim Bernardino instalou, em 1930, na Rua 25 de Março, no centro de Cachoeiro de Itapemirim, a primeira marmoraria da região. Apenas beneficiava peças trazidas do Rio de Janeiro ou de São Paulo. (SABADINI, p.68,2013)

Segundo Sabadini (2013), a primeira tentativa de serragem em 1917 ocorreu no distrito de Jaciguá, por uma família de portugueses. O processo de serragem se deu através de um tear de madeira, movido a roda de água. Esta operação não obteve sucesso, pois o processo era bastante rudimentar.

As atividades de extração de mármore começaram em 1957. Seus pioneiros foram os empresários de origem italiana. As serrarias somente apareceram no município a partir de 1966. A exploração comercial do mármore e granito teve início, efetivamente, a partir dos anos 1960 e 1970 (VILLASCHI e SABADINI, 2000).

Com o objetivo de unir forças no setor e consolidar um importante segmento da economia do sul do Estado, foi criado, em 1973, o Sindicato da Indústria de Rochas Ornamentais, Cal e Calcários do Espírito Santo (SINDIROCHAS).

Hoje o Sindicato é o único representante legal das empresas do setor de rochas do ES congregando cerca de 459 associados. Para atender com extrema eficiência toda demanda em cada região, a entidade possui uma sede localizada em Cachoeiro de Itapemirim e mais 4 sub-sedes em pontos estratégicos como Vitória, Nova Venécia, Barra de São Francisco e Colatina, além de apoiar as diversas associações tanto do Norte quanto do Sul do Estado com intuito de unificar esforços. (SINDIROCHAS, 2014)

A Associação Noroeste de Produtores de Pedras Ornamentais (ANPO), foi criada em 2003 pelos empresários de rochas ornamentais, com o objetivo de organizar o setor e fortalecer toda a economia da região, baseada no respeito às leis ambientais, trabalhistas e fiscais. A base territorial desta associação abrange as seguintes cidades: Águia Branca, Água Doce do Norte, Alto Rio Novo, Barra de São Francisco, Baixo Guandú, Boa Esperança, Colatina, Ecoporanga, Governador Lindemberg, Mantenópolis, Montanha, Marillândia, Mucurici, Nova Venécia, Pancas, Ponto Belo,

Pinheiros, São Domingos do Norte, São Gabriel da Palha, Vila Valério, Vila Pavão (ANPO, 2014).

Buscando melhorias tecnológicas para o setor, bem como o aperfeiçoamento técnico da mão de obra, foi fundado, em 1988, o Centro Tecnológico do Mármore e Granito (CETEMAG). Esta entidade se tornou referência no setor de mineração, não apenas pela sua importância técnica, mas, também, pela organização da Feira do Mármore e Granito em Cachoeiro de Itapemirim, em 1989. Este evento, ao longo dos anos, ganhou destaque no cenário de mineração, tornando-se uma feira internacional que ocorre anualmente em Cachoeiro de Itapemirim e em Vitória, denominadas, respectivamente, Cachoeiro Stone Fair e Vitória Stone Fair.

Segundo Maia e Heider (2012), no Brasil, o consumo aparente de rochas em 2011 foi estimado em 6,2 Mt, impulsionado novamente pela manutenção do crescimento da construção civil e de obras de infraestrutura, atendendo, também, eventos como a Copa de 2014. As exportações de rochas pelo Espírito Santo atingiram US$ 708,5 milhões (cerca de 70% do realizado no Brasil, em valor), refletindo a estrutura de logística e modernização do parque de beneficiamento existente.

Desta forma, para atender à demanda existente das empresas de mineração na região sul do Estado do Espírito Santo,foram implantadas, há menos de dez anos, unidades de educação e pesquisa especializadas no Estado do Espírito Santo. O curso Técnico em Mineração, do IFES Campus Cachoeiro de Itapemirim, o curso de Engenharia de Minas do IFES Campus Cachoeiro de Itapemirim, o curso de Geologia, da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), e o Centro de Tecnologia Mineral (CETEM), têm contribuído de forma significativa na formação de profissionais qualificados e em pesquisas voltadas para o setor de mineração.

Nesse breve histórico sobre a atividade de mineração, fica evidente a importância econômica que a atividade vem apresentando ao longo dos anos, tanto para o município de Cachoeiro de Itapemirim, como para o Estado do Espírito Santo, e, também, em nível mundial. Também fica nítido que o crescimento do setor envolveu a sociedade do município, principalmente no que se refere à necessidade de mão de

obra especializada. Isso refletiu na implantação de diversos cursos e, principalmente, no curso Técnico em Mineração do IFES Campus Cachoeiro de Itapemirim. Portanto, a implantação do curso que se investiga nesta pesquisa está diretamente vinculada a uma necessidade de desenvolvimento de uma atividade tecnológica que depende de conhecimentos vinculados à ciência e à tecnologia para seu desenvolvimento e crescimento como setor produtivo.

Vivemos em um mundo globalizado, onde as grandes descobertas, invenções e inovações da ciência e tecnologia estão em constante evolução e mudam vertiginosamente a realidade social e ambiental e, portanto, o próprio estilo de vida das pessoas. Em sociedades democráticas, os indivíduos devem ter o direito de se implicarem nas grandes decisões de naturezas científicas e tecnológicas (MARTINS e PAIXÃO, 2011).

Assim, acreditamos que para a formação de uma sociedade crítica e reflexiva, os cursos altamente tecnológicos, como é o caso do curso Técnico em Mineração, possuem um papel importante e precisam envolver uma educação atenta às situações e aos dilemas decorrentes das relações entre ciência, tecnologia e atividades sociais, econômicas e políticas, bem como aos riscos socioambientais gerados pelas aplicações técnicas e científicas.

Para Ainkenhead (2009), o futuro da educação em ciências residirá no desenvolvimento de uma literacia científica crítica, característica indispensável de um público verdadeiramente informado. Portanto, o contexto atual do município de Cachoeiro de Itapemirim, que reflete o mundo globalizado, no qual a implantação de um curso altamente tecnológico está inserido, como é o caso do curso Técnico em Mineração, mostra a necessidade de se pensar uma educação que prepare cidadãos para atuar e desfrutar dos benefícios proporcionados pela ciência e tecnologia, para participarem de forma crítica na tomada de decisões (responsável e democraticamente) e na resolução de problemas socioambientais (pessoais, locais e globais), que envolvam a ciência e a tecnologia. Dentro desta perspectiva que analisamos o PPP do curso Técnico em Mineração do IFES Campus Cachoeiro de Itapemirim.

4 O PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO DO CURSO TÉCNICO EM MINERAÇÃO

A versão vigente do PPP ainda é a primeira que foi escrita por professores com formações em Geologia, Engenharia de Minas, Engenharia Civil, Licenciatura em Letras, Agronomia, Economia e Pedagogia, sendo estes professores Especialistas, Mestres ou Doutores. Estes profissionais foram responsáveis pela implantação do curso Técnico em Mineração da Unidade de Cachoeiro de Itapemirim, do antigo sistema CEFETES. No ano de 2008, foi aprovado, pelo Presidente do Conselho Diretor do Centro Federal de Educação Tecnológica do Espírito Santo, o projeto do Curso Técnico em Mineração, em reunião realizada em 08/05/2008, através da Resolução CD Nº 12/2008, de 9 de maio de 2008.

O curso contempla uma carga horária de 1.200 horas, está em conformidade com o Catálogo Nacional de Cursos Técnicos e encontra-se dentro do eixo tecnológico Recursos Naturais. Segundo Catálogo Nacional de Cursos Técnicos (2012):

Abrange ações de prospecção, avaliação técnica e econômica, planejamento, extração, cultivo e produção referente aos recursos naturais. Inclui, ainda, tecnologia de máquinas e implementos, estruturada e aplicada de forma sistemática para atender às necessidades de organização e produção dos diversos segmentos envolvidos, visando à qualidade e sustentabilidade econômica, ambiental e social. Integra a organização curricular destes cursos: ética, desenvolvimento sustentável, cooperativismo, consciência ambiental, empreendedorismo, normas técnicas e de segurança, além da capacidade de compor equipes, atuando com iniciativa, criatividade e sociabilidade (BRASIL, p.1, 2012).

Ainda, segundo Catálogo Nacional de Cursos Técnicos (2012), o profissional Técnico em Mineração está apto a:

Operar equipamentos de extração mineral, sondagem, perfuração, amostragem e transporte. Auxilia na caracterização de minérios sob os aspectos físico-químico, mineralógico e granulométrico. Executa projetos de desmonte, transporte e carregamento de minérios. Monitora a estabilidade de rochas em minas subterrâneas e a céu aberto. Auxilia na elaboração de mapeamento geológico e amostragem em superfície e subsolo. Opera equipamentos de fragmentação, de separação mineral, separação sólido– líquido, hidrometalúrgicos e de secagem (BRASIL, p.2, 2012).”

Atualmente, todos os temas propostos pelo Catálogo Nacional de Cursos Técnicos (Quadro 3) estão sendo abordados na formação do Técnico em Mineração do IFES Campus Cachoeiro de Itapemirim.

Quadro 3 - Curso Técnico em Mineração, segundo Catálogo Nacional de Cursos Técnicos POSSIBILIDADES DE TEMAS A SEREM ABORDADOS NA FORMAÇÃO POSSIBILIDADES DE ATUAÇÃO INFRAESTRUTURA RECOMENDADA  Mineralogia  Geologia  Topografia  Pesquisa mineral  Lavra  Tratamento de minérios  Segurança do trabalho e meio ambiente  Empresas de mineração e de petróleo  Empresas de equipamentos de mineração e de consultoria  Centros de pesquisa em mineração

 Biblioteca com acervo específico e atualizado  Laboratório de informática com programas específicos  Laboratório de mineralogia e tratamento de minérios  Laboratório de petrografia  Laboratório de topografia Fonte: Catálogo Nacional de Cursos Técnicos (2012).

Em relação à infraestrutura recomendada pelo Catálogo Nacional de Cursos Técnicos, pode-se observar que o curso Técnico em Mineração do IFES Campus Cachoeiro de Itapemirim atende à exigência.

O curso Técnico em Mineração possui os seguintes laboratórios: Informática, Mineralogia e Petrografia (Figura 8), Tratamento de Minérios, Topografia, Caracterização de Rochas (Figura 9), Beneficiamento de Rochas e Artesanato Mineral.

Figura 8 - Laboratório de Mineralogia e Petrografia

Fonte: Arquivo da autora, 2014.

Figura 9 - Laboratório de Caracterização de Rochas

Fonte: Arquivo da autora, 2013.

Para ingressar no curso Técnico em Mineração, é necessário que o candidato seja aprovado no exame de seleção realizado por processo seletivo estabelecido através de edital, em consonância com o Regulamento da Organização Didática do IFES. São oferecidas 40 vagas semestrais no turno noturno. Inicialmente, o curso funcionava com turmas no período vespertino e noturno. A partir do primeiro semestre de 2013, o curso passou a funcionar somente no período noturno. Hoje, o curso oferta a modalidade subsequente ao Ensino Médio, com duração de dois anos, divididos em quatro períodos, funcionando com aulas no período noturno, em todos os dias da semana.

Segundo informações da Coordenadoria de Registro Acadêmico, desde a sua implantação, o curso técnico teve, até o segundo semestre de 2012, 803 alunos ingressos. Neste mesmo período, foram 203 alunos formados.

As aulas são ministradas por uma equipe de professores com as seguintes formações: Geologia, Engenharia de Minas, Engenharia Civil, Agronomia e Letras, sendo que a maioria destes docentes possui mestrado e alguns cursam o doutorado. O curso conta, ainda, com 3 técnicos industriais de laboratório, aprovados em concurso público, todos possuindo a formação técnica em Mineração.

O curso Técnico em Mineração possui duração de dois anos, estruturado em uma matriz curricular composta por quatro módulos de 300 horas cada, com estágio obrigatório de no mínimo 400 horas. Segundo o PPP do curso Técnico em Mineração do IFES Campus Cachoeiro de Itapemirim:

O estágio supervisionado, de caráter obrigatório, não deverá ter duração inferior a 400 (quatrocentas) horas, distribuídas em, no mínimo, 20 (vinte) semanas, atendendo ao que estabelece o Decreto n° 87.497, de 18 de agosto de 1982, e o Parecer CNE/CEB nº 35/2003 e Res. CNE/CEB n.º 01/2004, que disciplinam a organização e a realização de estágios supervisionados (BRASIL, p. 5, 2008).

A matriz curricular do curso é formada por quatro módulos, conforme apresentada no Quadro 4. O módulo 1, que compreende o ciclo básico, é formado pelas disciplinas Geologia Geral, Propriedades e Resistência dos Materiais, Cartografia e Topografia, Informática Aplicada e Introdução ao CAD, Comunicação Empresarial, Relações Humanas no Trabalho e Saúde, Medicina e Segurança no Trabalho. Para o aluno cursar o segundo módulo, é necessário que ele tenha sido aprovado na disciplina de Geologia Geral. Este segundo módulo compreende a área de “Pesquisa” e é composto pelas disciplinas: Mineralogia e Petrografia, Geologia Aplicada – Estrutural e de Mina, Prospecção e Pesquisa Mineral e Estabilidade e Desmonte de Rochas. Para cursar o módulo 3, que estuda as atividades de“Lavra”, o aluno precisa ter sido aprovado na disciplina de Mineralogia e Petrografia. Este terceiro módulo possui as seguintes disciplinas: Métodos de Lavra, Cominuição e Classificação, Mineração e Meio Ambiente, Geoprocessamento Aplicado à

Mineração e Inglês Técnico I. Para a realização do último módulo,que aborda assuntos relacionados a “Tratamento”, é necessário que o aluno tenha sido aprovado na disciplina de Cominuição e Classificação. Este módulo final é composto pelas disciplinas: Inglês Técnico II, Tópicos Especiais, Serviços e Equipamentos de Mineração, Caracterização e Aplicação de Bens Minerais e Energéticos, Concentração e Separação (sólido-líquido) e Empreendedorismo.

Quadro 4 - Matriz curricular do curso Técnico em Mineração COMPONENTE CURRICULAR NÚMERO DE

AULAS SEMANAIS

CARGA HORÁRIA TOTAL MÓDULO I - Básico

Geologia Geral 4 60

Propriedades e Resistências dos Materiais 2 30

Cartografia e Topografia 4 60

Informática Aplicada e Introdução ao CAD 4 60

Comunicação Empresarial 2 30

Relações Humanas no Trabalho 2 30

Saúde, Medicina e Segurança no Trabalho (SMS) 2 30

TOTAL 20 300

MÓDULO II - Pesquisa

Mineralogia e Petrografia 4 60

Geologia Aplicada – Estrutural e de Mina 6 90

Prospecção e Pesquisa Mineral 6 90

Estabilidade e Desmonte de Rochas 4 60

TOTAL 20 300

MÓDULO III - Lavra

Métodos de Lavra 6 90

Cominuição e Classificação 4 60

Mineração e Meio Ambiente 4 60

Geoprocessamento Aplicado à Mineração 4 60

Inglês Técnico I 2 30

TOTAL 20 300

MÓDULO IV - Tratamento

Inglês Técnico II 2 30

Tópicos Especiais 2 30

Serviços e Equipamentos de Mineração 4 60

Caracterização e Aplicação de Bens Minerais e

Energéticos 4 60

Concentração e Separação (sólido-líquido) 4 60

Empreendedorismo 2 30

Gestão da Produção 2 30

TOTAL 20 300

TOTAL DE CARGA HORÁRIA/AULA 1.200

ESTÁGIO SUPERVISIONADO OBRIGATÓRIO (mínimo) 400

CARGA HORÁRIA TOTAL 1.600

As atividades realizadas no estágio curricular devem contemplar os componentes curriculares e habilidades exigidas para o curso. O estágio é realizado a partir do Módulo 2 ou, excepcionalmente, em etapa posterior à conclusão do Módulo 4 (quando não for viável sua realização durante o curso), em empresas privadas ou públicas.

Para avaliar se as concepções de CTSA estavam presentes no PPP do curso Técnico em Mineração, buscamos, inicialmente, identificar se existiam referências a uma abordagem CTSA ao longo do texto. Como não encontramos, de forma explícita, essas referências, buscamos identificar algum tipo de abordagem no processo ensino-aprendizagem.

Com relação às diferentes abordagens que podemos encontrar no processo ensino- aprendizagem, vários autores analisaram e compararam essas abordagens, considerando suas principais divergências. Entre os autores, podemos destacar Bordenave (1984), Libâneo (1982), Saviani (1984) e Myzukami (1986), que classificam e agrupam as correntes teóricas segundo critérios diferentes. Segundo Santos (2005, p. 20)

Os autores citados analisam as abordagens do processo de ensino e aprendizagem a partir de seus princípios, dos componentes necessários ao fenômeno educativo e de seus efeitos sobe o individuo e a sociedade (SANTOS, p. 20, 2005).

A autora Myzukami (1986), considera que a base das teorias do conhecimento envolve três características básicas: primado do sujeito, primado do objeto e interação sujeito-objeto. A autora reconhece, ainda, que existem muitas variações e diferentes combinações possíveis. Para esta autora, as abordagens do processo de ensino e aprendizagem podem ser: tradicional, comportamentalista, humanista, cognitivista e sociocultural. O Quadro 5, apresenta um pequeno resumo das diferentes abordagens segundo Mysukami (1986).

Quadro 5 – Abordagens do processo de ensino e aprendizagem ABORDAGENS DO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM

TRADICIONAL COMPORTAMENTALISTA HUMANISTA COGNITIVISTA SOCIOCULTURAL

ESCOLA - normas rígidas - lugar ideal para a educação

- empresa: quem planeja e quem executa - autonomia do aluno - democrática - menos rígida - material para que o aluno possa aprender sozinho - deve ser um local onde seja possível o crescimento mútuo, do professor e dos alunos PROFESSOR - transmissor de conteúdo - treinador - seleciona/organiza e aplica conjunto de meios e técnicas - facilitador da aprendizagem - cria situações desafiadoras - relação professor-aluno é horizontal -empenhado na prática transformadora procurará desmitificar e questionar, junto com o aluno ALUNO - passivo - receptor de informações - criativo e

participativo - centro do processo - ativo para comparar, relacionar, experimentar, observar - concreto e objetivo - potencial transformador da sociedade ENSINO E APRENDIZAGEM - aula expositiva - conteúdos selecionados a partir de documentos oficiais - eficiência e eficácia - ênfase na técnica - treinamento - foco no interesse do aluno - aspectos afetivos - autoavaliação - trabalho em grupo - solução de problemas - jogos - temas extraídos da realidade do aluno - enfatiza o diálogo crítico

Fonte: Elaborado pela autora, 2014.

O PPP do curso Técnico em Mineração também não apresentou abordagem pedagógica, de forma explícita, em suas partes. Assim, devido à já relatada relação que o movimento CTSA tem com a abordagem progressista de Paulo Freire, partimos em busca de referências indiretas no PPP a uma abordagem sociocultural. Consideramos que esta abordagem se caracteriza como interacionista entre o sujeito e o objeto de conhecimento, embora com enfoque no sujeito como elaborador e criador do conhecimento (SANTOS, 2005). Santos (2005) destaca que:

Na abordagem sociocultural, o fenômeno educativo não se restringe à educação formal, por intermédio da escola, mas um processo amplo de

ensino e aprendizagem, inserido na sociedade. A educação é vista como um ato político, que deve provocar e criar condições para que se desenvolva uma atitude de reflexão crítica, comprometida com a sociedade e sua cultura. Portanto, deve levar o indivíduo a uma consciência crítica de sua realidade, transformando-a e melhorando-a (SANTOS, 2005, p.25).

Nenhuma referência ou texto foi encontrado no PPP que evidenciasse a educação do curso Técnico em Mineração como crítica ou comprometida com a comunidade do entorno, a não ser a preocupação com formação de mão de obra especializada para o setor de mineração. Encontramos apenas a busca, em termos metodológicos, em compreender a realidade, por meio de atividades inter-relacionadas, ou seja, buscando a interdisciplinaridade entre as disciplinas do curso. O PPP nos apresenta que, na metodologia, o curso pretende desenvolver:

Atividades progressivas e inter-relacionadas – As atividades propostas baseiam-se no estágio de desenvolvimento em que o estudante se encontra, porém com estímulo a que um nível mais alto das componentes curriculares seja atingido. Sempre que possível, as atividades são inter- relacionadas, numa perspectiva interdisciplinar (BRASIL, p.42, 2008).

No âmbito das ciências da educação, o conceito de interdisciplinaridade vem se desenvolvendo desde a década de 1980, como movimento contrário à disciplinarização, que pode ser entendida, com base em Japiassu (1976), como a fragmentação do conhecimento em domínios específicos. Neste sentido, conforme destaca Fróes Burnham (2001, p.39),

[...] a excessiva fragmentação e compartimentalização do conhecimento nas organizações curriculares; [...] observa-se que as disciplinas são tratadas de modo reificado, como conteúdos estanques, com pouca ou nenhuma interconexão, tanto entre si, quanto em relação ao mundo concreto e à experiência vivida.

Freire (1989) afirma, nesse sentido, que parece que a leitura da escola se distancia da leitura do mundo. Segundo Gadotti (1999, p.5), “O conceito de interdisciplinaridade não é unívoco e está sujeito a conflito de interpretações. E, apesar do seu desenvolvimento, ainda não se firmou como um novo paradigma”. Assim, a proposta interdisciplinar propõe uma profunda revisão de pensamento, no sentido da intensificação do diálogo, da integração conceitual e metodológica nos diferentes campos do saber.

Mesmo que o PPP do curso Técnico em Mineração contemple, no discurso de seus elaboradores, a interdisciplinaridade, acreditamos que, associado ao conceito, invariavelmente necessitaria explicitar as possibilidades de superação da fragmentação das disciplinas durante o curso, como expressão de resistência a um saber fracionado, em detrimento de um conhecimento integral e totalizante. Entretanto, não observamos qualquer tentativa efetiva de promover a interdisciplinaridade no PPP, o que torna a atividade um grande desafio.

Da mesma forma que buscamos referências indiretas no PPP de uma abordagem sociocultural, também procuramos indicadores de uma abordagem indireta das perspectivas CTSA no PPP, principalmente na matriz curricular.

Desde a década de sessenta, currículos de ensino de Ciências com ênfase em CTS vêm sendo desenvolvidos no mundo inteiro (SANTOS, 2002). Tais currículos apresentam, como objetivo central, preparar os alunos para o exercício da cidadania e caracterizam-se por uma abordagem dos conteúdos científicos no seu contexto social (SANTOS, 2002). Segundo Hofstein, Aikenhead e Riquarts (1988: 358), CTS pode ser caracterizado como o ensino do conteúdo de ciências no contexto autêntico do seu meio tecnológico e social, no qual os estudantes integram o conhecimento científico com a tecnologia e o mundo social de suas experiências do