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3. OBJETO DE ESTUDO

3.3. Histórico e evolução da companhia

A criação da CDI-MG em 1971 situa-se em um contexto onde existia uma grande ênfase ao planejamento e prevalecia a idéia de que o desenvolvimento econômico seria alcançado através de iniciativas do poder público (Siqueira, 2001). O insucesso de ações anteriores passou a ser atribuído a pouca agilidade da administração direta.

O desenvolvimento econômico do país na década de 70, por sua vez, pautou- se pelas facilidades de obtenção de recursos federais para investimentos, o que, por sua vez, possibilitou a adoção de políticas de fomento por parte de governos estaduais.

Dispondo de um sistema operacional de apoio à industrialização bem estruturado e bastante ágil, Minas Gerais pôde se beneficiar da abundância desses recursos financeiros, investindo na criação de distritos industriais em localizações estratégicas. Consolidou, assim, uma posição especial entre os estados industrializados da federação – por sua localização centralizada e pela sua primazia na criação de áreas industriais especificamente planejadas (Diniz, 1981).

Como instrumento de política de governo, a instalação da CDI-MG visava promover o desenvolvimento econômico e social nas diversas regiões do Estado, buscando a superação dos desequilíbrios existentes. O instrumento previsto era a instalação de áreas industriais para, aproveitando as potencialidades locais, assegurar melhores resultados para os investimentos do Estado em infra-estrutura.

A concepção inicial de distritos industriais que embasou a instalação da cidade industrial em Contagem e, posteriormente, a criação da Companhia - que inclusive adotou esse nome, seguia modelos aplicados em outros países e previa a preparação de áreas destinadas exclusivamente à instalação industrial.

Em sua própria evolução, esta primeira cidade industrial implantada apontou os equívocos de uma concepção tão restrita. Ao longo dos anos, diversos terrenos foram sendo ocupados por agências bancárias e outros serviços de apoio indispensáveis ao funcionamento das indústrias, assim como surgiram, irregularmente, pequenos núcleos comerciais para atender o grande número de trabalhadores que circulava na região diariamente.

Outro fator que obrigou a CDI-MG a repensar os modelos de áreas industriais convencionais, deixando de se restringir aos aspectos intrínsecos ao planejamento de áreas industriais, foi a ocupação de alguns de seus terrenos por favelas.

A transformação de uma economia fundada na agropecuária por uma industrialização acelerada refletiu-se de maneira intensa sobre o sistema urbano, com o deslocamento de grandes contingentes populacionais para as cidades e aumento do déficit de moradia.

A instalação de um núcleo industrial, pelas oportunidades de emprego criadas, atrai para suas imediações famílias de trabalhadores. Na ausência de alternativas, isso representou o significativo aumento de áreas faveladas, particularmente em terrenos públicos destinados à implantação de projetos de longa maturação - como o são os distritos industriais.

E, finalmente, as novas demandas apresentadas pelas próprias indústrias, em decorrência de sua especialização tecnológica, também influenciaram na necessidade de alterações no produto oferecido pela companhia.

Esse conjunto de fatores fez com que a CDI-MG, ao longo de sua existência, diversificasse suas formas de atuação e desenvolvesse novos modelos de assentamentos. Empreendimentos de porte variado exigiram a definição de lotes industriais com dimensões que atendessem necessidades específicas e, ao mesmo tempo, com flexibilidade para assegurar futuras expansões.

A complexidade do sistema produtivo atual, por outro lado, exigiu a ampliação do conceito de Distrito Industrial para o de núcleos empresariais planejados. Constatou-se a necessidade dessas áreas incluírem empreendimentos complementares do setor comercial (como atacadistas) e do setor de serviços (como transportadoras) além de outros também indispensáveis ao funcionamento das indústrias.

Empresas de maior porte demandaram estudos específicos para sua instalação - como no caso das montadoras, exigindo da CDI-MG o desenvolvimento de projetos especiais para sua implantação, bem como o planejamento complementar de áreas industriais de apoio, capazes de absorver fornecedores de autopeças.

Verificou-se, também, que outras atividades industriais, por suas peculiaridades, tendiam a se desenvolver no interior da malha urbana, sob a forma de micro-empresas. Não apresentando conflitos com outras atividades urbanas, poderiam ser atendidas em pequenas áreas ou quarteirões industriais que,

beneficiando-se da infra-estrutura existente nas cidades, viabilizariam a instalação de empreendimentos em municípios com desenvolvimento ainda incipiente ou em regiões urbanas carentes de oportunidades de emprego.

Resumindo, ainda que obedecendo aos objetivos básicos para a qual a empresa foi criada, houve uma grande evolução quanto à concepção de planejamento de áreas industriais. A figura 3.4. sintetiza os principais modelos desenvolvidos até 1994, enquanto a figura 3.5. apresenta o significado de cada um desses modelos, conforme as definições estabelecidas na CDI-MG.

Figura 3.4. Modelos de assentamentos industriais (A CDI-MG e a desconcentração industrial, 1994, p.13A)

MODEL O S DE A SSENTAMENTOS INDUSTRIAIS UNIDADES INDUSTRIAIS AGLOMERADOS EMPRESARIAIS (com predominância de atividades industriais) indústria urbana indústria isolada grande > 2.000.000 m2 pequeno > 300.000 m2 < 800.000 m2 mini > 50.000 m2 < 300.000 m2 quarteirão < 50.000 m2 > 800.000 m2 < 2.000.000 m2 médio Convencional Socio-integrado Agro-industrial

Centro industrial ou Mini-distrito Quarteirão industrial

Semi especializado (diversificado com predominância de algum ramo de atividade)

Diversificado

Especializado oumono-estruturado QUANTO ÀO PORTE

(área total do projeto)

QUANTO À CONCEPÇÃO ESPACIAL

QUANTO À OCUPAÇÃO (atividades)

Modelo de assentamento industrial Definição Indústrias urbanas Unidades não poluidoras dispersas na malha urbana.

Indústrias isoladas Unidades fabris localizadas fora da malha urbana, na sua maioria tem atividades incômodas, potencialmente poluidoras ou geradoras de tráfego pesado.

Distritos Industriais convencionais Aglomerados planejados de indústrias de diversas tipologias, além de unidades de comércio e serviços. Porte maior e mais afastados da malha urbana.

Distritos Industriais sócio- integrados

Aglomerados planejados para indústrias não poluidoras, com áreas comerciais, de serviços e habitacional (para diminuir distância habitação-trabalho-lazer-comércio- serviços). Porte maior, junto à periferia da cidade e perto de outras atividades. Distritos Agroindustriais Aglomerados planejados de indústrias que beneficiam e transformam produtos

agropecuários, bem como de unidades de apoio e assistência técnica. Porte médio, junto da cidade e junto da região ou produção agropecuária.

Centros industriais sócio integrados ou minidistritos industriais

Aglomerados planejados de empresas de pequeno e médio porte, de atividades diversificadas ou especializadas ou de atividade única (monoestruturados). Porte pequeno (menor investimento) e localizadas mais próximos das cidades – nas periferias. Quarteirões industriais (em

desenvolvimento) Áreas de pequeno porte para micro e pequenas empresas não poluentes, dentro da malha urbana, preferencialmente para cidades de pequeno e médio portes: podem se destinar a ocupações especializadas ou serem utilizados com objetivo social (geração de empregos) junto a áreas habitacionais.

Centros especializados (em desenvolvimento)

Como bases para o desenvolvimento de pesquisas tecnológicas e para instalação de setores intensivos em tecnologia (eletroeletrônica e agroindústria).

Parques de alta tecnologia (em desenvolvimento)

Núcleos tecnológicos, envolvendo incubadoras de empresas e infra-estrutura laboratorial, junto às Universidades.

Galpões padronizados mono (já implementado) ou multifabris (em desenvolvimento)

Para incentivar a criação de novas empresas ou incubadoras de indústrias, utilizando os projetos padrões de arquitetura e engenharia já elaborados.

Figura 3.5. Definições dos modelos adotadas pela CDI-MG (A CDI-MG e a desconcentração industrial, p.14)

Como mostrado na figura 3.5., apesar de seus objetivos permanecerem os mesmos dos da época de sua criação a companhia procurou se adequar às condições existentes, diversificando os produtos oferecidos. Sua atuação, sintetizadas no documento Projeto CDI, elaborado em 1988, podem se resumir nas seguintes premissas:

• aproveitar as economias de escala e aglomeração;

• ser instrumento de planejamento regional na política de localização industrial;

• promover o ordenamento urbano, através do controle de localização das atividades;

• promover a socio-integração da atividade industrial com as demais funções e atividades urbanas, visando a melhoria de vida da população.

Do ponto de vista administrativo a empresa sofreu, igualmente, grandes modificações ao longo dos trinta anos de sua existência. A equipe inicial, oriunda do Departamento de Industrialização, foi sendo ampliada pela contratação de novos

funcionários, quadruplicando-se em cinco anos. Em 1983, doze anos após sua criação, a companhia atingiu o número máximo em seu quadro funcional, contando com 256 empregados. A partir de então teve início uma política constante de redução de pessoal.

Ainda que parte da redução ocorrida em seu corpo técnico possa estar relacionada à introdução de novas tecnologias e ferramentas de trabalho, como a estação total para levantamentos de campo e a informática – que permitiram uma drástica redução em pessoal na área de topografia e de desenho, além de maior racionalização nas atividades de apoio administrativo, não se pode atribuí-la exclusivamente a isto.

Os cortes de pessoal não parecem estar relacionados diretamente à reorganização do processo produtivo ao se considerar o fato de que, do grupo inicial de 48 funcionários mais da metade estava lotada nas divisões de planejamento e obras e, do total de empregados hoje atuando na empresa, apenas um terço encontra-se em posição similar.

Quanto às instalações de sua sede, após um período inicial em que permaneceu no local onde se funcionava o Departamento de Industrialização, transferiu-se para andares alugados em outro prédio na região central de Belo Horizonte, tendo permanecido neste endereço por quatorze anos. Em 1987 mudou- se para uma sede própria, ocupando quatro pavimentos; após desfazer-se de um desses andares e de uma área prevista para instalação de auditório (que não chegou a se concretizar), acabou perdendo o imóvel para pagamento de dívidas e, no presente ano, transferiu-se para um espaço cedido no prédio da Secretaria de Indústria e Comércio.