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5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.3. Principais problemas detectados

Lembradas as limitações do presente estudo já citadas, a análise feita sugere alguns problemas que têm comprometido o desempenho da empresa. Ainda que muitos deles extrapolem o foco deste trabalho, serão mencionados por antecederem qualquer possibilidade de melhoria de desempenho através da reorganização dos processos.

5.3.1. Ausência de políticas e de planejamento

Como primeiro ponto, observa-se que a partir de 1982 não são explicitadas de forma clara as políticas de industrialização por parte do governo do Estado. Do mesmo modo, nota-se a falta de um planejamento estratégico da CDI-MG, articulado às políticas estabelecidas para Minas Gerais, ao contrário do que ocorria anteriormente.

Durante o governo Azeredo (1995 a 1998) ocorreram algumas iniciativas relacionadas a projetos especiais para os quais a CDI-MG foi convocada, mas foram ações pontuais que não delinearam os contornos de uma política de industrialização. O funcionamento interno da companhia, sem diretrizes gerais, continuou ocorrendo de forma dispersa e apresentando baixos resultados.

5.3.2. O problema de agency

Além da falta de planejamento global, o critério usado na indicação dos dirigentes pode ser apontado como fator importante no baixo desempenho da companhia. Ainda que de forma incipiente, objetivou-se verificar, através deste estudo específico, a ocorrência de problemas de agency numa empresa sob controle do Estado e constituída como sociedade anônima, tomando-se por base as colocações dos autores estudados.

A inexistência de políticas globais e a escolha da diretoria feita a partir de articulações políticas nos governos pós-abertura democrática, substituíram a antiga tecno-burocracia por agents priorizando os próprios interesses em detrimento dos acionistas. No caso, tanto os executivos programando áreas industriais localizadas em regiões de seu interesse, independentemente da viabilidade econômica e existência de mercado, quanto o próprio governo, acionista majoritário, mas que como representante eleito pela população, não atende os interesses dos que seriam efetivamente os proprietários da companhia.

5.3.3. A CDI e seu acionista majoritário

Os retornos da empresa são de longo prazo e como seu objetivo visa mais o fomento que o lucro, os resultados de suas ações não trazem benefícios para sua contabilidade. As facilidades oferecidas para a instalação das indústrias, por sua vez, dão retorno ao Estado, sob a forma de aumento de arrecadação, no aumento do consumo de energia, e às administrações municipais, seja enquanto arrecadação, na geração de empregos ou na preservação da malha urbana, evitando outras despesas. Seu desempenho, outrossim, deveria ser mensurado de outra forma.

Enquanto empresa pública observa-se uma certa promiscuidade entre a contabilidade da companhia e de seu acionista majoritário. Subordinada à Secretaria de Indústria e Comércio durante muitos anos, grande parte do mobiliário e dos equipamentos utilizados pela secretaria foram adquiridos pela CDI-MG e constam de seu patrimônio. Atualmente, por ter perdido sua sede própria, a companhia transferiu sua sede para as instalações da secretaria.

Também com relação a seu patrimônio, no caso da instalação da Mercedes- Benz em Juiz de Fora, terrenos de uma das etapas de distrito industrial implantado pela CDI-MG entraram nas negociações do governo para atrair o empreendimento, sem que a companhia fosse ressarcida de seus prejuízos.

São freqüentes as solicitações do governo para que a companhia desempenhe certas tarefas ou atenda pedidos de estudos dos municípios, sem que

os serviços sejam remunerados. Quando as dificuldades financeiras da companhia se tornam insuperáveis, o governo do Estado faz alguns repasses sob a forma de integralização de capital.

5.3.4. Desorganização interna

As constantes modificações nos organogramas, a eliminação de unidades e a redução de pessoal, sem um planejamento estratégico e uma definição clara de que atividades seriam eliminadas ou que atribuições seriam repassadas para outras unidades, acarretaram uma total desorganização interna.

Freqüentemente algumas atividades continuam a ser feitas por iniciativa de um funcionário que as julgou importantes. Outras deixam de acontecer por ninguém ser designado para fazê-las. Em conseqüência, o controle de documentos da companhia e a falta de registros adequados de suas ações geram dados inconsistentes, impedem que informações fundamentais para um planejamento estejam disponíveis e criam um círculo vicioso em suas deficiências.

A distribuição de tarefas é aleatória e, em geral, são solicitadas em caráter emergencial, para atender a alguma demanda específica ou resolver solicitações legais e burocráticas urgentes. A locação das unidades, a disponibilização de equipamentos e funcionários para cada área também passou a depender cada vez mais do poder de influência de seus gerentes do que de critérios voltados para uma maior produtividade.

5.3.5. Imobilidade face o novo ambiente externo

Na década de 70, com um planejamento centralizado e o governo federal disponibilizando recursos, a CDI-MG implantava os distritos programados. Quando surgiam solicitações de outros municípios, eram enviadas equipes técnicas para fazer pesquisas de áreas que elaboravam relatórios detalhados, mesmo em situações onde não havia qualquer possibilidade de ser viabilizada a implantação de uma área industrial.

Seguindo o modelo tradicional, a companhia não se adequou às novas condições de recursos escassos e continuou considerando como sua única fonte de recursos os oriundos da venda de lotes industriais. Todos os serviços necessários para a elaboração de seu produto, não eram cobrados, mesmo quando interrompidos em etapas anteriores à possibilidade de vender os lotes industriais. Isto é, atende a todas as solicitações de municípios para que sejam feitos estudos e seleção de áreas propícias ao uso industrial, chega a elaborar projetos de distritos industriais em alguns casos, às suas expensas. Sequer se poderia considerar estas atividades como investimentos de risco, uma vez que usualmente visam apenas atender solicitações políticas, sabendo-se previamente não existir viabilidade técnico-financeira para o empreendimento.

Do ponto de vista técnico, houve algum avanço no sentido de se desenvolverem novos modelos de assentamento industrial, redimensionando lotes em algumas quadras de distritos implantados para atender micro e pequenas empresas, criando o que se chamou de “quarteirão empresarial” para atender municípios onde a industrialização é ainda incipiente.

Mas não houve a mesma preocupação quanto ao aperfeiçoamento da análise custo/benefício de qualquer uma de suas ações, nem quanto à identificação de novos clientes potenciais e verificação de suas necessidades, objetivando agregar valor a seus produtos ou mesmo vender serviços, como a elaboração de planos diretores industriais a partir do estudo do município e das pesquisas de áreas realizadas.