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6 RESULTADOS E DISCUSSÕES

6.3 RECONSTRUÇÃO PALEOAMBIENTAL DO LAGO COMPRIDO

6.3.7 Holoceno Superior

A partir de 3.000 anos cal AP até o presente, o material sedimentar foi caracterizado por argila rica em material orgânico, com macrorestos vegetais e grande presença de diatomáceas, como indicado pela Figura 40. O crescente aumento de diatomáceas planctônicas (como o gênero Aulacoseira sp, encontrada no registro sedimentar do testemunho COM1 e COM2) reflete a expansão dos corpos d’água, altos níveis lacustres e,

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conseqüentemente, aumento da umidade na bacia de drenagem (SERVANT; SERVANT- VILDARY, 2003). A alta concentração de clorofila sedimentar e de carbono orgânico característicos desta fase também sugerem aumento na produtividade lacustre.

A matéria orgânica observada nesta fase apresenta sinal típico de vegetação C3, como

revelado pelo diagrama C/N × δ13C, indicado pela Figura 43. Este ambiente pode corresponder à vegetação inundável ou banco de macrófitas, que na Amazônia apresenta elevados índices de produtividade (PIEDADE et al., 1991).

Razão C/N 5 10 15 20 δ 1 3C ( ‰ V P D B ) -30 -25 -20 COM1 COM2 Fitoplancton

Solos com cobertura C3

plantas C3

Figura 43: Diagrama razão C/N vs. δ13C para os testemunhos COM1 e COM2.

É importante ressaltar que o testemunho COM2 apresenta concentrações mais elevadas de derivados clorofilianos e de diatomáceas planctônicas do gênero Aulacoseira sp do que o observado no testemunho COM1. Esta diferença pode refletir a posição de coleta do testemunho COM2, que foi coletado mais próximo à margem. Na margem de lagos de regiões tropicais complexos litorais de macrófita e perifíton dominam (ESTEVES, 2003) e esta flora litoral pode contribuir significativamente para a produtividade do ecossistema lacustre (ESTEVES, 2003; WETZEL, 2001).

A caracterização da matéria orgânica evidencia elevada produtividade lacustre após 3000 anos cal AP, com elevado aporte de matéria orgânica autóctone que pode ser responsável pelos elevados teores de COT registrados no Lago Comprido.

A conexão entre o Lago Maracá e Comprido com o Rio Amazonas parece ter uma alteração significativa em 3.200 anos cal AP no Lago Maracá (MOREIRA et al., 2012b) e um pouco antes no Lago Comprido, em 2.900 anos cal AP. Em ambos os casos, um evento de 119

sedimentação abrupta marca esta transição, refletindo-se em mudança significativa na origem e quantidade de matéria orgânica sedimentada em ambos os lagos. No entanto, estas conseqüências foram diferentes em cada lago, provavelmente devido à distância e a conexão com o canal principal do Rio e a influência da Bacia de Drenagem. Após a sedimentação abrupta no Lago Maracá, este apresentou evidências de aumento do nível do lago com elevada influência do Rio Amazonas, caracterizado por baixas concentrações de TOC devido à diluição do Rio. Em contraste, o Lago Comprido apresentou altos níveis de COT após o evento de sedimentação abrupta. Estas diferenças podem ser atribuídas à influência da bacia de drenagem. Como já discutido anteriormente, o material sedimentar transportado pelo Rio Amazonas apresenta elevado teor em esmectita, enquanto o material sedimentar da floresta de Terra Firme é rico em caulinita. Os elevados níveis de caulinita registrados ao longo de todo o perfil do testemunho COM1 indicam elevado aporte de material da bacia de drenagem. O predomínio de vegetação C3 corrobora para esta interpretação, uma vez que pode refletir a

presença de uma vegetação inundável ou de um banco de gramíneas desenvolvidos devido ao ambiente com baixa energia hidrodinâmica. No entanto ocorriam pulsos freqüentes do Rio no Lago Comprido após 3.000 anos cal AP ate o presente, como indicado pela presença, mesmo em pequenas quantidades, de esmectita. O transporte fluvial e terrestre foram responsáveis pela alta produtividade lacustre a partir deste período devido à contribuição de matéria orgânica proveniente da bacia de drenagem e de nutrientes carreados pelo canal principal do Rio Amazonas. A influência fluvial no Lago Comprido ocorre através do Lago Maracá, que neste mesmo período, apresentou material sedimentar rico em esmectita (MOREIRA et al., 2012b), o que indica elevada influência do Rio Amazonas nesta região durante o Holoceno Médio. Portanto, a influência fluvial no Lago Comprido ocorre de forma indireta e sazonal devido a distancia do canal principal do Rio.

Além do evento de sedimentação abrupta observada no testemunho COM2, a presença de areia foi observada concomitante com este evento, como é possível observar nas Tabelas 1 e 2. Estas características podem indicar forte erosão na bacia de drenagem devido à forte precipitação, o que sugere fase mais úmida na região, corroborando com outros registros amazônicos do Holoceno Superior, como discutido no tópico 3.3.1.2 da base teórica deste trabalho.

Os diferentes paleoambientes identificados no registro sedimentar do Lago Comprido estão relacionados às variações paleohidrológicas do Rio Amazonas que, por sua vez, podem ser conseqüência de diversos fatores, como por exemplo, mudanças climáticas. O fluxo do rio em direção ao lago pode ser controlado pela amplitude entre os períodos de cheia e seca do

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Rio Amazonas e seus tributários e pelos níveis de precipitação local que controlam o transporte de material entre o rio e as planícies de inundação, e ambos estes eventos podem ser influenciados por variações climáticas (BEHLING et al., 2001). Portanto, os resultados apresentados neste trabalho indicam que os processos deposicionais no Lago Comprido foram influenciados pelas variações no nível de cheia e seca do Rio Amazonas que por sua vez influenciou na quantidade e na origem da matéria orgânica sedimentar encontrada no Lago Comprido. O regime climático demonstrou manter-se úmido durante o Holoceno Superior nesta região e os últimos 3.000 anos cal AP representam o período onde o Lago Comprido atingiu elevado nível d’água.

Apesar da evidencia de condições climáticas mais úmidas durante o Holoceno Superior alguns autores encontraram evidencias de fases mais secas e curtas durante este período na Bacia Amazônica (ABSY, 1974; CORDEIRO et al., 2008; SANTOS, 2001). No entanto, no registro sedimentar do Lago Comprido não foram encontradas evidencias de fase mais seca durante o Holoceno Superior. Neste caso, foi registrado significativo aumento no fluxo de micropartículas de carvão durante os últimos 2.000 anos cal AP, como representado pela Figura 40. Este aumento pode sugerir impacto antrópica na vegetação durante a fase úmida do Holoceno Superior. Durante o Holoceno, a agricultura se estabeleceu em praticamente todos os continentes ocasionando alteração de ecossistemas terrestres (KAPLAN et al., 2011). Na cidade de Monte Alegre, Pará, Roosevelt (1996) encontrou registro de ocupação humana nesta região desde os últimos 11.300 anos cal AP. No registro do Lago Comprido as evidências de ocupação humana foram mais marcantes a partir de 2.000 anos cal AP.

7 IMPACTO DAS VARIAÇÕES HIDROLÓGICAS DO RIO AMAZONAS NOS TRÊS