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PLANÍCIES DE INUNDAÇÃO DA BACIA AMAZÔNICA

4 ÁREA DE ESTUDO

4.5 PLANÍCIES DE INUNDAÇÃO DA BACIA AMAZÔNICA

Devido a uma topografia plana (que não chega a exceder os 100 m acima do nível do mar), solos pouco drenados, grande variação sazonal da precipitação e altos níveis de pluviosidade, aproximadamente 44% da bacia Amazônica são sujeitas a inundação periódica do Rio Amazonas e seus tributários (GUYOT et al., 2007; JUNK, 1997). Na Figura 14 encontra-se a Bacia Amazônica, onde a área representada pela cor cinza mais claro corresponde à planície inundável Amazônica.

Figura 14: Bacia Amazônica com destaque para a planície inundável amazônica, representada pela cor cinza claro.

Fonte: Adaptado de GUYOT et al., 2007.

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As planícies de inundação incluem pequenos lagos, planícies aluviais e pântanos. Estima-se a existência aproximada de 6.500 lagos de várzea entre as latitudes 52.5ºW a 70,5ºW, como mostra a fig. 14. Estes lagos ocupam uma área aproximada de 10.370 km2. Ao longo dos tributários Rio Japurá, Purus, Negro e Madeira existem ainda mais 2.300 lagos, aproximadamente (MELACK; FORSBERG, 2001).

Figura 15: Rio Amazonas e seus principais tributários. Área em destaque representa a região onde aproximadamente 6.500 lagos de várzea ocupam uma área de 10.370 km2.

As florestas inundáveis que margeiam os lagos são conhecidas localmente como várzeas e igapós. Estes termos foram adotados na literatura científica, embora ainda não tenham sido claramente definidos (IRION et al., 1997). A definição proposta por Sioli é a mais utilizada. Segundo este pesquisador, o termo várzea é utilizado para as regiões inundáveis formadas em áreas próximas aos rios de águas claras, ricas em nutrientes e materiais em suspensão. Em contraste, os igapós são principalmente irrigados por rios de águas pretas, com baixo teor de nutriente e material em suspensão (JUNK, 1997). No entanto, o termo várzea também pode designar as florestas que são periodicamente inundáveis, enquanto a mata de igapó representa a vegetação que é permanentemente inundada (IBAMA, 2001).

Além das florestas inundáveis, as macrófitas também constituem importante ecossistema ao longo da planície de inundação amazônica, sendo mais abundantes em lagos de águas brancas. Estima-se que, durante os períodos de altas águas, a vegetação macrofítica corresponda a 90% da vegetação em contraste aos 10% representado pelas florestas inundáveis na porção leste da Amazônia Central. No entanto, na porção oeste, as florestas inundáveis apresentam área mais significativa, representando cerca de 70% da vegetação,

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enquanto a média da porcentagem de cobertura de macrófitas é de 30% (MELACK; FORSBERG, 2001).

Em relação a produção de carbono orgânico, as várzeas amazônicas apresentam média anual de 8,4 × 106 toneladas de carbono por ano (ton C/ano), sendo as macrofitas responsáveis por cerca de 5 × 106 ton C/ano, as arvores e gramíneas apresentam produção de 2,4 × 106 ton C/ano e a comunidade fitoplanctônica apresenta produção de 1 × 106 ton C/ano (JUNK, 1997).

4.5.1 Formação das planícies de inundação

Diversos trabalhos mostram que a formação das várzeas esteve relacionada às flutuações do nível do mar durante o pleistoceno (IRION, 1989; IRION et al., 1997; VITAL; STATTEGGER, 2000; BEHLING et al., 2001; BEHLING; COSTA, 2000).

Nos períodos glaciais, o nível do mar era mais baixo, o que causava uma diminuição do nível das águas dos rios. Isto fazia com que grandes áreas ficassem mais expostas à erosão, que ocorria com maior intensidade durante este período, produzindo grandes quantidades de sedimentos. Quando o nível do mar aumentava (nas fases interglaciais), bloqueava o curso normal dos rios, que inundavam suas margens e, através da formação de barreiras e depósito de sedimentos, originavam-se os lagos de várzeas (IRION, 1989; IRION et al., 1997; DUNNE et al., 1998).

Resultados obtidos através de datações por Carbono 14 mostram uma relação positiva entre a formação de lagos e as oscilações do nível do mar (IRION, 1989). Como estas flutuações são acompanhadas por alterações climáticas, o desenvolvimento de várzeas é conseqüência de mudanças do clima ocorridas no passado.

4.5.2 Hidrologia dos sistemas de várzeas amazônicas

Uma das características mais marcantes da Bacia Amazônica é a forte variação nos níveis de água dos rios ao longo do ano. O pulso de inundação é monomodal, ou seja, apresenta um período regular de enchente e outro de vazante (JUNK, 1997). Entre janeiro e fevereiro observa-se uma rápida subida da água, acarretando num período de inundação, que ocorre entre os meses de abril e junho. Entre agosto e outubro o nível da água começa a diminuir, atingindo seu nível mínimo entre novembro e dezembro (NOVO et al., 2005). Estas

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variações estão representadas pela Figura 16. Nesta Figura é possível observar as medições do nível de água realizados no canal principal do rio e no maior lago da Várzea de Curuai, durante o ano de 1999 à 2003.

Figura 16: Nível d’água medido na Várzea do Lago Grande de Curuai e no Rio Amazonas, na cidade de Óbidos, entre os anos de 1999 e 2004.

Fonte : MAURICE-BOURGOIN et al., 2007.

A diferença entre o nível das águas durante o período de seca e cheia é elevado, mas apresenta variações significativas ao longo da Bacia. Na estação em Porto Velho, o Rio Madeira apresenta amplitude média de 11 metros. Em Manaus, o Rio Amazonas apresenta amplitude média de 10 metros e, em Barcelos, o Rio Negro apresenta amplitude de 6 metros, conforme esquematizado pelos gráficos da Figura 17.

Figura 17: Níveis de precipitação em mm (a) e variações do nível de água (b) no Rio Madeira em Porto Velho, Rio Amazonas em Manaus e Rio Negro em Barcelos, representando o sul, centro e norte da Bacia Amazônica, respectivamente.

Fonte: Adaptado de JUNK; PIEDADE, 2005.

Estas variações nos níveis de inundação influenciam fortemente a hidroecologia dos lagos de várzea. Durante o período de cheia, os lagos aumentam consideravelmente de área,

abrangendo florestas inundáveis e plantas aquáticas (macrófitas), recebendo elevado input de material fluvial que chega até estes lagos através de diferentes canais (MELACK; FORSBERG, 2001). Parte deste material é estocado nas várzeas, enquanto o restante é liberado para os rios durante o período de vazante. Durante este período, os lagos de várzea podem apresentar níveis muito baixos de água e ocasionalmente podem secar completamente.

Mertes (1994) estimou que cerca de 80% do material sedimentar fluvial que é transportado para as várzeas é depositado nestes ambientes. Este valor representa milhões de toneladas de sedimentos que são transportados anualmente para as planícies de inundação da Amazônia Central, numa taxa de 0,8 a 1,6 cm/dia. O material que é transportado para estes sistemas de várzeas é submetido a diferentes processos biogeoquímicos que, ao retornar para o sistema fluvial durante o período de vazante, podem influenciar a química das águas do Rio Amazonas. Estes processos biogeoquímicos estão sob influência dos padrões espaciais e temporais da hidrologia das várzeas, que por sua vez são alterados pela topografia, solos e vegetação das planícies de inundação (MERTES et al., 1995), o que mostra a complexa inter- relação entre os sistemas fluviais e os sistemas de várzeas.

Existe, portanto, uma grande variedade de sistemas de várzea ao longo do Rio Amazonas e sua influência na hidrologia, sedimentação e biogeoquímica nos canais principais ainda não está bem compreendido (MAURICE-BOURGOIN et al., 2007).

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