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4 TÉCNICAS DA GENÉTICA, EMBRIOLOGIA, BIOLOGIA MOLECULAR E NEOEUGENIA

4.1 CRESCIMENTO E EVOLUÇÃO DA GENÉTICA COMO DISCIPLINA CIENTÍFICA

4.1.2 Hominização X Humanização

No intuito de avaliar os fatores que ocasionaram a evolução da nossa espécie até os dias atuais, e como forma de determinar o momento inicial da formação da pessoa, passa-se a realizar uma reflexão acerca da vida humana em nosso planeta nos seus aspectos físicos, biológicos e genéticos (hominização),

717 DECLARAÇÃO Universal dos Derechos das Gerações Futuras. In: Revista de Derecho e

Genoma Humano, nº 01, 1994, p. 221 e ss.

718 MÍNGUEZ, Maria Isabel Tejada, Genética Médica e Eugenesia. In: CASABONA, Carlos Maria

acompanhados do momento da aquisição da personalidade por este mesmo ser, o que caracteriza a humanização.719

De acordo com Lacadena720 existem dois aspectos fundamentais da

biologia que dizem respeito à evolução e ao desenvolvimento do seres vivos em nosso planeta. O primeiro deles se constitui no estudo dos mecanismos genéticos que lastrearam o processo evolutivo (evolução como processo), e que deram origem à diversidade dos seres vivos da biosfera, que habitaram e povoam ainda hoje o planeta (evolução como resultado). O segundo aspecto diz respeito às interações genéticas que dão origem ao organismo adulto completo, a partir de uma única célula inicial chamada zigoto, que surge após a fecundação entre dois gametas (genética do desenvolvimento).

De acordo com este autor721, o patrimônio genético atual é o resultado da evolução de um sistema genético pré-biotico, anterior ao RNA, que precedeu o “mundo” das ribonucleoproteínas, a partir das quais foram sintetizadas as moléculas de DNA, que por sua vez comandaram a evolução celular dos organismos vivos.

O conceito biológico de espécie, delineado desde o século XIX por Buffon e outros naturalistas722, a define como uma população que possui uma coesão genética interna, em função de programas gênicos historicamente evolucionados, compartilhados por todos os membros do grupo, de forma que passam a se constituir em uma comunidade reprodutiva, uma unidade ecológica e uma unidade genética.

O sentido de comunidade reprodutiva se dá quando os indivíduos de uma mesma espécie se comportam como pares sexuais potenciais, se buscando com propósitos reprodutivos. A reprodução é uma característica intraespecífica.

Na qualidade de unidade ecológica os membros de uma mesma espécie, independentemente do tipo de indivíduos que a compõem, interagem como uma unidade com as outras espécies com as quais compartilham o mesmo ambiente. Da mesma forma, a unidade genética se caracteriza pela existência de um grande acervo gênico intercomunicante entre seus indivíduos, de maneira que cada

719 LACADENA, Juan Ramon. Ser Humano, Pessoa, Dignidade, Biologia e Humanidade.

Disponível em: <http://www.isftic.mepsyd.es/w3/tematicas/genetica/index.html>. Acesso em: 26 maio 2009.

720 Ibid., loc. cit.

721LACADENA, Juan Ramon. Ser Humano, Pessoa, Dignidade, Biologia e Humanidade. Disponível

em: <http://www.isftic.mepsyd.es/w3/tematicas/genetica/index.html>. Acesso em: 26 maio 2009

componente da espécie funciona como recipientes temporários de uma pequena proporção deste acervo durante a sua vida, carga genética esta que se incorpora em cada nova geração ao patrimônio da espécie.723

Sendo assim, o conceito biológico de espécie segundo Lacadena724, é o de grupos de populações naturais que estão reprodutivamente afastados de outros grupos pelos chamados “mecanismos de isolamento”, que os protege do fluxo daninho de genes provenientes de outros acervos. Por outro lado cada acervo gênico forma entre si combinações harmoniosas, agraciadas pela seleção natural durante o processo evolutivo.

O desenvolvimento é definido como um processo regulado de crescimento e diferenciação resultante das interações núcleo-citoplasmáticas, do ambiente celular interno do próprio organismo e do ambiente externo, de maneira que, em seu conjunto, o desenvolvimento constitui uma sequência programada de modificações fenotípicas controladas espacial e temporalmente, e que constitui o ciclo vital do organismo.725

Importante assinalar a existência de três aspectos relacionados com todo processo biológico em geral, e com o processo de desenvolvimento em particular:726 O primeiro deles é o da continuidade, pelo qual se torna impossível se distinguir com exatidão o “antes” e o “depois” dos processos biológicos. Estes se desenvolvem em um contínuo, onde não existem “momentos”.

Os processos biológicos também são compatíveis com a emergência instantânea de propriedades novas, qualitativamente diferentes das existentes em uma etapa anterior. Por fim, o terceiro aspecto reza que o todo biológico não é igual à soma de suas partes, o que indica o risco da aplicação do reducionismo na esfera dos organismos biológicos.727

Desta forma, qualquer ser vivo representa uma série de sucessos geneticamente programados que estão escritos em seu DNA. A informação genética existente no DNA está contida na sequência de suas quatro bases nitrogenadas (adenina, timina, guanina e citosina), de tal maneira que mediante os processos de

723 Ibid., loc. cit.

724 LACADENA, Juan Ramon. Ser Humano, Pessoa, Dignidade, Biologia e Humanidade.

Disponível em: <http://www.isftic.mepsyd.es/w3/tematicas/genetica/index.html>. Acesso em: 26 maio 2009.

725 Ibid., loc. cit 726 Ibid., loc. cit.. 727 Ibid., loc. cit.

transcrição e tradução, cada sequência ditará a fabricação de um determinado aminoácido, que por sua vez irão se agrupar de diversas maneiras para estruturar as inúmeras proteínas do corpo.728

Da mesma forma, se entende por genoma em sentido amplo todo o DNA existente em um jogo cromossômico haploide expresso através da sequência de suas bases nitrogenadas. Por genoma em sentido estrito, porém, se compreende o conjunto de genes que especificam todos os caracteres que potencialmente podem vir a se expressar em um organismo, quer seja na sua forma externa (exofenótipo) ou internamente (endofenótipo).729

A Declaração Universal da UNESCO730 sobre o Genoma Humano e os

Direitos Humanos de 1997 reza em seu artigo primeiro que “o genoma humano constitui a unidade fundamental de todos os membros da família humana, e do reconhecimento de sua dignidade intrínseca e de sua diversidade. Em sentido simbólico, o genoma humano é patrimônio da humanidade”.

Dentro do processo evolutivo houve um momento em que o cérebro do então homídio passou a exercer uma atividade intelectual graças a uma série ininterrupta de transformações anatômicas geneticamente determinadas que favoreceram o desenvolvimento do cérebro (cerebralização). A partir de então os estímulos do meio ambiente passaram a serem apreendidos, não mais como mero estímulos, mais sim como uma realidade, produto de uma reflexão.731

No momento que esta capacidade de reflexão se volta para o próprio indivíduo surge a consciência de si mesmo, o que fez com que o homídio alcançasse o ponto culminante de sua hominização, sendo então elevado á categoria de homem. Como consequência do seu poder de reflexão, surgiram as características distintivas do ser humano representadas pela capacidade de antecipar acontecimentos e de agir conscientemente em conformidade com esta percepção. Os registros fósseis identificaram o fato do individuo, a partir deste

728 LACADENA, Juan Ramon. Ser Humano, Pessoa, Dignidade, Biologia e Humanidade.

Disponível em: <http://www.isftic.mepsyd.es/w3/tematicas/genetica/index.html>. Acesso em: 26 maio 2009.

729 Ibid., loc. cit.

730 DECLARAÇÃO Universal da Unesco sobre o Genoma Humano e os Direitos Humanos de 1997,

Disponível em:

<http://www.anvisa.gov.br/sangue/simbravisa/Declaracao%20Genoma%20Humano%20e%20Direitos %20Humanos.pdf>. Acesso em: 20 maio 2009.

evento, ter passado a construir instrumentos com o intuito de atender às suas necessidades futuras.732

Dentro do segundo aspecto levantado por Lacadena733, que diz respeito à genética do desenvolvimento, faz-se necessário empreender uma breve sinopse do processo reprodutivo humano, com o fito de evidenciar, através do estudo as suas etapas, o momento da aquisição da personalidade pelo ser humano.734

O ciclo vital se inicia a partir de uma única célula, o zigoto, formado da fecundação dos gametas (óvulos e espermatozoides), que, submetido aos processos de multiplicação e diferenciação traz como resultado a formação de outro ser humano, que ao se tornar adulto produzirá, a partir das suas gônadas, novas células reprodutivas repetindo então este ciclo.735

O processo biológico da reprodução humana se divide em quatro etapas que representam situações genéticas e estruturais distintas, que geram, quando aviltadas, questões éticas, jurídicas, sociais e teológicas também diversas, como a seguir:736

1ª etapa: gametas – fecundação – zigoto

2ª etapa: zigoto – mórula e blastocisto (embrião) - nidação 3ª etapa: nidação - feto

4ª etapa: feto – nascimento

Os limites cronológicos destes acontecimentos são de capital importância quando nos referimos ao momento de individualização do novo ser vivo assim como o da aquisição da personalidade, o que servirá de marco inicial do exercício dos direitos fundamentais.

Para Lacadena737 resta configurada a individualidade quando o material

genético do novo ser se encontra estruturalmente determinado, ou seja, no momento da formação do zigoto (que ocorre aproximadamente vinte horas após a penetração do núcleo do espermatozoide no óvulo), e que se configura em uma realidade

732 LACADENA, Juan Ramon. Ser Humano, Pessoa, Dignidade, Biologia e Humanidade.

Disponível em: <http://www.isftic.mepsyd.es/w3/tematicas/genetica/index.html>. Acesso em: 26 maio 2009

733 Ibid., loc. cit. 734 Ibid., loc. cit. 735 Ibid., loc. cit. 736 Ibid., loc. cit. 737 Ibid., loc. cit.

genética distinta das células que lhe precederam, com uma potencialidade própria e autonomia estrutural.738

O Quadro 1, abaixo, busca sistematizar as principais etapas do processo reprodutivo humano.