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QUADRO 6 TIPOS DE DIAGNÓSTICOS GENÉTICOS

4.2.2 Seleção de sexo e sexismo

Em se tratando de seleção de sexo, a primeira questão a ser enfrentada é aquela que define sexismo como a crença de que um sexo é superior ao outro, a partir do pressuposto que homens e mulheres são valorativamente diferentes. As repercussões do sexismo na sociedade se manifestam através dos papeis sociais e políticos de gênero muito diferenciados. 801

A curiosidade entre os humanos em conhecer previamente os fatores que determinam o sexo dos filhos vem desde a antiguidade, e já na Bíblia se encontram citações a este respeito: “[...] se a mulher emite seu sêmen primeiro, ela dá a luz a uma criança do sexo feminino [...]802

Para Badalotti803, existem registros na história da humanidade que atestam algumas práticas humanas realizadas com o intuito de tentar influenciar na seleção do sexo dos filhos, que vão desde a negligência em relação à criança, até ao extremo do infanticídio.

Na família humana a probabilidade de nascimento de crianças de cada um dos sexos é de 50%, independentemente dos outros eventos do mesmo gênero. Desta forma cada nascimento tem uma probabilidade autônoma em relação aos outros.

Por seleção de sexo, entretanto, entende a mesma autora que se trata da utilização de tecnologia médica para determinar o sexo do filho, compreende

800 O Conselho da Europa, através de sua Recomendação nº 13 preconiza para todos os casos de

exames preditivos a exigência do consentimento informado, além da garantia do sigilo, no sentido de que as informações só deverão ser disponibilizadas ao interessado ou seus representante legais (excluindo-se, portanto, até o outro nubente no caso de exames pré-nupciais (CASABONA, Carlos Maria Romeo. Las práticas eugenésicas: nuevas perspectivas. In: La eugenesia hoy. Granada: Comares, 1999, p.17).

801 VITORIA, Ceres. Seleção de sexo numa perspectiva antropológica, In: CLOTET, Joaquim;

GOLDIM, José Roberto (orgs). Seleção de Sexo e Bioética. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2004, p,47.

802 BÍBLIA SAGRADA. Levítico 12:2. São Paulo: Casa Publicadora Brasileira, 1996.

803BADALOTTI, Mariângela. Seleção de sexo: aspectos médicos e biológicos, In: CLOTET, Joaquim;

qualquer prática, técnica ou intervenção com o objetivo de aumentar a chance de concepção, gestação e nascimento de uma criança de um sexo em relação ao outro.

804:

Os motivos determinantes da seleção do sexo são classificados em médicos e não médicos: no primeiro caso, se utiliza destas técnicas para evitar doenças genéticas ligadas ao sexo, enquanto que o segundo tipo de motivo é representado pelo desejo de fazer um “balanço familiar” através da compensação da predominância de um dos sexos entre os filhos, ou em função da associação de razões sociais, culturais, econômicas ou pessoais.

De acordo com a terminologia médica, segundo Lacadena805, todas as

vezes que se faz menção a enfermidades ligadas ao sexo, se está fazendo referência implícita a patologias produzidas por genes recessivos situados no segmento diferencial do cromossomo X.

Por outro lado, os caracteres patológicos podem ser parcialmente ligados ao sexo (ligamento parcial) ou totalmente ligados ao sexo (ligamento total).

Doenças como a hemofilia, as distrofias musculares, a síndrome do X frágil (segunda causa mais frequente de retardo mental, depois da Síndrome de Down), são apenas alguns dos exemplos das patologias cuja expressão estão diretamente ligadas ao cromossomo X.

Estas enfermidades se caracterizam pela presença de genes deletérios ligados a este cromossomo. Uma vez que na mulher os gametas são dotados de dois cromossomos X (genótipo XX), é necessário que os dois estejam comprometidos pela mesma patologia, para que a mesma se expresse, o que é muito raro. No caso de apenas um deles estar afetado, a mulher é considerada apenas portadora sã da patologia, não exteriorizando, portanto o seu quadro clínico.

No caso masculino, como o genótipo se apresenta como XY, é suficiente que o único cromossomo X esteja afetado pela doença para que a mesma se apresente em toda a sua plenitude. Neste caso 100% da prole masculina de uma paciente detentora de uma patologia a herdará, contra 50% dos filhos homens gerados por mulheres que apenas são portadoras sãs destas doenças.

804BADALOTTI, Mariângela. Seleção de sexo: aspectos médicos e biológicos, In: CLOTET, Joaquim;

GOLDIM, José Roberto (orgs.). Seleção de Sexo e Bioética. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2004, p,13.

805 LACADENA, Juan Ramon. A Seleção de Sexos: aspectos bioéticos e legais. Disponível em:

Por este motivo, na terapia gênica relativa ao tratamento de patologias hereditárias ligadas ao sexo é suficiente que se evite o nascimento de crianças do sexo masculino, para se evitar a disseminação da doença.

Existe também a possibilidade de ligamento “absoluto” com o cromossomo Y (caracteres holandricos), que configura os casos de patologias das quais só padecem pessoas do sexo masculino, ou seja 100% da prole masculina expressaria a afecção.

De acordo com Lacadena806 as técnicas de seleção de sexo na espécie

humana podem se realizar em nível de gametas ou de embriões, com perspectivas éticas e legais diferentes em cada um dos casos.

Existem três técnicas que viabilizam a seleção sexual, quais sejam a que, através da reprodução assistida seleciona os gametas antes da fecundação, aquela que identifica o sexo do embrião e realiza a transferência apenas daqueles do sexo desejado (os embriões excedentários têm como possibilidades de destino a destruição, a doação para casais inférteis e a utilização com fins experimentais), e por fim, o abortamento, sempre que a biópsia do vilo corial, a amniocentese, ou ao exame de ultrassonografia evidenciarem um feto com o sexo diverso do desejado.

Desta forma se configura muito mais recomendável selecionar-se gametas e realizar a inseminação artificial dos escolhidos, do que empreender a escolha dentre embriões obtidos por FIV, o que implica na possível destruição dos não escolhidos.

As técnicas de seleção sexual, além de gerarem maior expectativa quanto ao desempenho futuro do novo ser, direcionam o do sexo do embrião o que certamente causará um desequilíbrio no percentual entre homens e mulheres, o que poderá determinar uma alteração no comportamento social e até sexual da espécie.

Observa-se, entretanto que muitos países possuem uma tendência em apoiar as práticas de aperfeiçoamento genético como forma de diminuir o percentual de nascimentos de pessoas portadoras de doenças hereditárias graves com deficiências físicas e mentais, no sentido de aliviar o peso das altas cifras relativas às despesas com assistência sanitária e previdência social dispensadas a estas pessoas.

806 LACADENA, Juan Ramon. A Seleção de Sexos: aspectos bioéticos e legais. Disponível em:

Em nosso país, o Conselho Federal de Medicina através do novo código de ética médica807 ao referir-se à seleção de sexo preconiza que “as técnicas de reprodução assistida não devem ser aplicadas com a intenção de selecionar o sexo ou qualquer outra característica biológica do futuro filho808, exceto quando se trate de evitar doenças ligadas ao sexo do filho que venha a nascer”. 809

Desta forma, resta patente que o direcionamento da escolha do sexo na espécie humana se afigura como um procedimento deletério para a mesma, em função principalmente da possibilidade da ocorrência de desequilíbrio na relação quantitativa entre os sexos, com consequências ainda imprevisíveis para o ecossistema terrestre.

A seleção de embriões em função do seu sexo implica, obviamente, na eliminação dos embriões do sexo não desejado. A partir do diagnóstico pré- implantatório é possível averiguar o sexo do embrião, e desta forma selecioná-los, evitando o nascimento de crianças afetadas por uma enfermidade ligada ao cromossoma sexual. Esta prática é permitida atualmente pela maioria dos textos internacionais e ordenamentos jurídicos, sempre que existir uma finalidade preventivo-terapêutica.810

Na República Federal da Alemanha e na Noruega a seleção de sexo se restringe a casos de enfermidades realmente graves, determinação amparada respectivamente pelo artigo n° 3 da Lei sobre Proteção de Embriões e pelo artigo n° 4.3 da Lei número 56. Na Índia, através da Lei número 57 se proíbe a comunicação ao casal o sexo do feto, com o objetivo de evitar que a sua consequente seleção.811