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11 DINIZ, Eugênio; PROENÇA Jr., Domício. Política de Defesa no Brasil: uma análise crítica. Brasília: UNB, 1998.p.22

12Entrevista com Benedito Onofre Bezerra Leonel. In: ALSINA Jr.,João Paulo Soares. Política externa e política de defesa no Brasil: Síntese Imperfeita. Brasília: Câmara dos deputados, 2006 P.31

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SAINT-PIERRE, Hector Luis. Reconceitualizando novas ameaças: da subjetividade da percepção à segurança cooperativa. In: MATHIAS, Suzeley K.; SOARES, Samuel A. Novas ameaças: Dimensões e Perspectivas. São Paulo: Sicurezza, 2003.p. 24

14 WOLFERS, Arnold. “National Security as an ambigous symbol”. Apud: SAINT-PIERRE, Hector Luis. Reconceitualizando novas ameaças: da subjetividade da percepção à segurança cooperativa. In: MATHIAS, Suzeley K; SOARES, Samuel A. Novas ameaças: Dimensões e Perspectivas. São Paulo: Sicurezza, 2003.p. 24

portanto, as ameaças que propiciariam um estado de insegurança seriam aquelas diretamente relacionadas à soberania, à integridade ou, em suma, à sobrevivência do Estado. Ou seja, não estamos nos referindo à segurança individual ou pública, por exemplo. Nesta direção, concordamos com Alsina Jr., quando assume como pressuposto que a política de defesa, enquanto mantenedora da segurança:

[...] deva estar centrada nas ameaças do sistema internacional e inserida no escopo mais amplo da política externa – tendo em mente que a diplomacia e as Forças Armadas representam os vetores clássicos das relações exteriores do Estado Moderno. Isso ocorre porque, na qualidade de política pública indelegável – a não ser que se imaginem novas formas de organização político- social diversas das atualmente disponíveis –, a defesa nacional está inscrita no âmbito das atribuições fundamentais do Estado territorial soberano15.

Deixando em evidência os possíveis equívocos que possam se interpolar entre os conceitos de Defesa e de segurança, finalizamos reforçando a idéia de que uma política de defesa resume seu significado quando inserida no seio da política externa e vice-versa. A atuação autônoma dessas duas esferas torna inconsistente a defesa dos interesses nacionais. No caso específico de políticas de cooperação bilateral que envolvam o campo estratégico, como é o caso do tema desta pesquisa, é imprescindível que se conte com o diálogo entre os dois instrumentos de mediação – diplomacia e defesa – e, principalmente, com a efetiva subordinação desses instrumentos ao campo político. Por outro lado, a política de Defesa deve ser compatível ao planejamento da ação diplomática e vice-versa.

A concepção de indivisibilidade entre Diplomacia e Defesa na constituição da política externa é lugar comum no diálogo entre a história e a teoria das relações internacionais, como se discorre a seguir.

Para Aron, Diplomacia e Estratégia, antes de tudo, “denotam aspectos complementares da arte única da política – a arte de dirigir o intercâmbio com os outros Estados em benefício do ‘interesse nacional’”16. É salutar que estratégia auxilie a diplomacia no desenvolvimento de uma habilidade especial para evitar colisões no momento de afirmação dos interesses nacionais e, por

15 ALSINA Jr. João Paulo Soares. Política externa e política de defesa no Brasil: Síntese Imperfeita. Brasília: Câmara dos deputados, 2006.p.34

16 Ver: Capítulo I: Estratégia e Diplomacia ou a unidade da política externa. In: ARON, Raymond. Paz e Guerra entre as nações. Brasília: UNB; São Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 2002, p.73.

outro lado, é a diplomacia quem avalia quão segura é a trilha pela qual devem ser conduzidas as negociações17. Ou seja, trata-se de dois prismas cuja integração se faz imprescindível.

A primeira premissa de Aron para afirmar que diplomacia e estratégia são duas atividades complementares e interdependentes, está na idéia de que as relações internacionais desenvolvem-se sob a possibilidade da guerra, ou seja, “as relações entre estados se compõem, por essência, da alternativa da guerra e da paz”18. Entretanto, a guerra de que fala Aron não é, necessariamente, o conjunto de ofensivas e defensivas armadas, ou seja, não é a batalha em si, porém, tal como consagrou Clausewitz19, é a guerra como continuação da política20, que, por sua vez, é consignada pelo jogo realizado entre os Estados, para prevalência de suas vontades21. Aron defende que o objetivo último de toda sociedade é paz – ou a supressão das rivalidades entre os Estados, e que se pode alcançar a paz por três meios, ou pela combinação deles: pelo equilíbrio de poder, pela hegemonia ou pelo império. As três modalidades, todavia, ocorrem pela imposição das capacidades de um Estado a outro (ou de um grupo de Estados a outro), não excluindo, portanto, a violência em seu sentido mais amplo. Daí deriva a dialética da Guerra e da Paz proposta pelo autor22 e a conseqüente idéia de que diplomacia e estratégia devem se complementar23. É recomendável que a estratégia endosse a atividade diplomática, em período

17 No entanto, o diplomata tem de tomar emprestada a “visão estratégica” do militar para saber agir rápida e precisamente “sob pena de ser tachado de oportunista ou, o que é pior, correr o risco de perder posições irrecuperáveis.” Sua ação deve ser equilibrada – “porque tem que ser coerente com os objetivos desejados e coerente com os desígnios da Nação” – e deve, também ser prospectiva, “para que não comprometa posições futuras que possam favorecer os objetivos nacionais”. MENEZES, Delano Teixeira. O Militar e o Diplomata. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1997. p.20

18 ARON, Op. Cit.,p.23

19 CLAUSEWITZ, Carl Von. Da Guerra. Tradução de Maria Teresa Ramos. São Paulo: Martins Fontes, 1996. p.27

20 Aron interpreta que a fórmula de Clausewitz “a guerra não é apenas um ato político, mas um instrumento real da política, uma busca de relações políticas, uma realização de relacionamentos políticos por outros meios” não representa a manifestação de uma “filosofia belicista, mas a simples constatação de uma evidência: a guerra não é um fim em si mesmo, a vitória não é por si um objetivo. O intercâmbio entre as nações não cessa no momento em que as armas tomam a palavra: o período belicoso inscreve-se numa comunidade de relações que é sempre comandada pelas intenções mútuas das coletividades.” Aron, Op.Cit, p.71

21 Idem, p.127

22 Idem, pp.220 a 223.

23 Aron descreve a sutileza do limite entre Diplomacia e Estratégia: “Chamemos de estratégia o comportamento relacionado com o conjunto das operações militares, e de diplomacia a condução do intercâmbio com outras unidades políticas. Tanto a estratégia quanto a diplomacia estarão subordinadas à política, isto é, à concepção que a coletividade, ou aqueles que assumem a responsabilidade pela vida

de trégua e, em contrapartida, como propõe o autor, “as declarações, notas, promessas, assim como as garantias e as ameaças fazem parte do arsenal do chefe de Estado, durante a guerra”24.

Em Introdução à História das Relações Internacionais, Duroselle dialoga com Aron25 e convida-nos a pensar como o espectro da guerra pode agir como condicionante na decisão de um Estado. A guerra, ainda que meramente hipotética, é passível de surtir importante efeito psico- social e político, influenciando a decisão do homem de Estado de modo que este execute mudanças não apenas sobre os acontecimentos, mas sobre a conjuntura, e sobre a própria estrutura das sociedades. Além disto, por meio do que chama de “Guerra Psicológica” ou da atividade essencial a qual dá o nome de “Propaganda”, um Estado pode exercer influência sobre as forças coletivas de outro Estado. Então, uma vez que o discurso diplomático de um Estado tem como escopo último moldar a visão que outras coletividades têm dele e assim, levar estes outros Estados a alterar uma decisão em detrimento daquilo que era seu interesse inicial, ele está associado a uma prática estratégica. O discurso diplomático é, portanto, um exercício de poder que não deve desconsiderar o cálculo de meios e fins realizado com o auxílio da Defesa.

Não obstante, a fim de destacar o poder da “Propaganda” sobre a dinâmica das relações internacionais, Duroselle difere-a da “Informação”:

Quando um governo entende dar uma justa versão dos fatos, chama a esta iniciativa de “informação”. Mas raros são os casos em que ele dá informações, sem ter desígnios ocultos. Sua informação, portanto, tem sérias chances de ser “orientada”. Não se trata de “informação”, mas de “propaganda”26.

Sendo a informação, quando mais tendente à propaganda, uma força de manipulação e coerção, estabelece-se uma íntima relação entre Propaganda e Guerra Psicológica. Ambas seguem teoricamente as mesmas técnicas: reforçar o “moral” do país, dar ao estrangeiro uma