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identidade e diferença: desafios Para a inclusão sociodigital na eja

Lutar pela igualdade sempre que a diferença nos discrimine; lutar pelas diferença sempre que a igualdade nos descaracterize.

(SANTOS, 1999, p. 44) Inicialmente se deseja explicitar que nosso país jamais poderá se afirmar no mundo se não cuidar da inclusão social, em todos os sentidos, quer na sua dimensão social, cultural ou físico-material.

As políticas de inclusão social deveriam incentivar a desconcen- tração de poder evitando a expansão do poder das megacorporações do localismo globalizado, incentivando o desenvolvimento e auto- nomia das localidades, regiões e nações pobres, como coloca, com muita propriedade, o teórico Boaventura de Souza Santos (1993).

A inclusão social e digital não está apenas relacionada com a inserção de grupos marginalizados em redes de produção e con- sumo de informações, mas, sobretudo, diz respeito à inserção dos países, onde as elites floresceram num novo modo de desenvol- vimento, supostamente universal e inexorável, e o que mais con-

ta é a acumulação de conhecimento e a capacidade de lidar com maiores níveis de complexidade no processamento da informação. (CASTELLS, 1999)

Dada à sua complexidade, os conceitos de exclusão e inclusão sociodigitais não podem ser utilizados em sentido absoluto, pois são palavras que trazem no seu bojo muitas ambiguidades de na- tureza teórica, que pouco descreve a verdadeira natureza sobre as quais essas definições se assentam. Diferentemente do que o senso comum e a mídia chamam de excluídos, no nosso país são todos os “[...] pobres, analfabetos, indígenas, minorias étnicas, gays, dentre outros, que são na verdade ‘perversamente incluídos’ numa dinâ- mica econômica e sociocultural que transforma diferenças em desi- gualdades”. (BUZATO, 2007, p. 12) Nesse sentido, os excluídos sociais são também aqueles que se encontram à margem do acesso às tec- nologias digitais, sem oportunidades de ampliar o potencial cogniti- vo através das mixagens cognitivas cooperativas. (ASSMANN, 2009) Ao contrário do discurso hegemônico que não valoriza a dife- rença, expulsando os sujeitos da vida urbana e do convívio social, convém colocar, como o faz com propriedade Silva (2009a), os dois conceitos diferença e identidade, lado a lado, para questionar e re- fletir sobre os sistemas de representação que dão suporte à essas duas realidades. A identidade e a diferença são criações sociais e culturais, constituídas através de atos de linguagem e dos sistemas simbólicos e não podem ser compreendidas fora desses sistemas de significação, através dos quais ganham sentido e são criados e recriados constantemente. (WOODWARD, 2008)

O outro é a diferença que não pode deixar de ser matéria de preo- cupação pedagógica, pois numa sociedade atravessada pela diferen- ça, os estudantes convivem com o outro (outro gênero, outra raça, outra sexualidade, etc.) – com o diferente, no próprio espaço escolar. Faz-se necessário entender como os discursos de identidade e diferença são produzidos no interior das instituições escolares, e

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quais os mecanismos e instituições que estão envolvidos na criação da identidade e sua fixação. Silva defende uma abordagem política, sem a qual se torna inviável se questionar as relações de poder e os processos de diferenciação que produzem a identidade e a diferen- ça, sob pena de produzirmos novas dicotomias. (SILVA, 2009b)

As afirmações sobre diferença dependem de um cadeia, que em geral oculta sobre “outras identidades”. Com propriedade, Lopes (2011, p. 34), citando Giacaglia (2004) coloca que: “Assim, tanto há necessidade de reconhecer o Outro e suas diferenças, como tam- bém a impossibilidade de tornar esse Outro, um igual, no sentido de anular suas diferenças [...]”.

Como dissemos anteriormente, a identidade é marcada pela di- ferença, através de sistemas simbólicos de representação ou por formas de exclusão social (WOODWARDT, 2008) e não pode ser compreendida fora desses sistemas de significação através dos quais ganham sentido.

Identidade e diferença são palavras inseparáveis. Questionar a identidade e a diferença é questionar os sistemas de representação que dão suporte a essas duas realidades. O diferente é justamente o discriminado socialmente, aquele que pertence a um segmento resultante de um desenvolvimento capitalista, desigual e desuma- no, quando deveria ser considerado nas suas singularidades e na sua diversidade. A verdadeira inclusão digital é um primeiro passo para a apropriação das tecnologias pelas populações socialmente excluídas, evitando a reprodução da miséria.

Quando colocamos o problema em termos do indivíduo, podem- se enumerar diversos desafios e ambiguidades da sociedade em rede que podem propiciar inclusão e ao mesmo tempo provocar uma profunda exclusão sociodigital, a depender da situação socio- econômica em que o indivíduo se encontre. Se por um lado existem os que têm possibilidade de acesso, situação essa que possibilita ao indivíduo capacidade de processamento da informação e de

geração de conhecimento, por outro, pode-se observar a exclusão digital quando os sujeitos têm limitada capacidade educacional e cultural para fazer o uso da tecnologia, ou quando as redes digitais apresentam falta de infraestrutura tecnológica, obstáculos econô- micos ou institucionais.

Quando falamos do segmento mais pobre e mais desassistido educacionalmente o exemplo mais perfeito são os jovens e adultos da modalidade EJA que não têm sido convenientemente tratados pelas nossas políticas públicas. Essa realidade se constitui em um grande desafio para todos aqueles que estão envolvidos com essa modalidade de ensino, no país, e têm responsabilidades de reco- nhecer a necessidade de estabelecer uma relação diferente com os alunos, propiciando uma atmosfera de colaboração e co-investiga- ção, para a utilização adequada e consciente das Tecnologias de Informação e Comunicação, como mecanismos potencializadores do desenvolvimento e emancipação desse segmento desassistido.

Na perspectiva da inclusão sociodigital, ainda queremos enfa- tizara importância de se garantir aos sujeitos da EJA, práticas de letramento digital para que os sujeitos possam fazer uso dos me- canismos de participação que a sociedade propicia e que represen- tam uma porta de entrada para o exercício consciente da cidada- nia. O conceito de letramento aqui defendido é uma prática social e não aprendizagem de um código, mas a inserção dos sujeitos em práticas sociais nas quais a escrita tem um papel significativo.

O letramento digital traz mudanças na maneira como a socieda- de passa a conceber a escola e representa também um espaço para dominar uma série de “gramáticas” próprias desse meio, isto é, um conjunto de regras que regem a construção de sentidos na leitura e na escrita mediadas por computador. (XAVIER, 2002, p. 5)

Pelo exposto, a inclusão sociodigital requer práticas sociais do uso do computador de forma autônoma, para o desenvolvimento das habilidades necessárias, exigindo das políticas públicas inves-

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timentos financeiros e das instituições educacionais novas atitu- des, competências e conhecimentos diferenciados, onde as tecno- logias representam elementos estruturantes de “novas formas” de ensinar e aprender. Tal constatação desafia o trabalho docente, pois há uma pressão externa à escola por uma educação de mais quali- dade, que estimule as aprendizagens significativas, pois não somos meros consumidores de conteúdos digitais, mas cidadãos de uma sociedade em que a educação tem que dar respostas satisfatórias.

conclusão

No presente artigo decidimos inicialmente por mapear o cenário contemporâneo, marcado por crises, incertezas e desmistificação de certas “verdades”, tidas como absolutas. Mostramos que, com a globalização surge o fenômeno da migração dos trabalhadores em várias partes do mundo, denominado por Hall (2009) de diáspora, e que esses trabalhadores se afastam para evitar as guerras civis, a fome, as doenças, a xenofobia , a pobreza, dentre outros males da sociedade contemporânea. O fenômeno da migração criou uma mistura de culturas pelo mundo, ajudando a erguer cidades multi- culturais, criando novas diásporas, que estão na contramão da ló- gica da globalização neoliberal.

As mudanças estruturais que as sociedades vêm apresentando nesse início de século XXI provocam declínio nas velhas identida- des que sendo substituídas por novas identidades, dividindo o su- jeito moderno que está sem uma ancoragem no mundo social e nos seus quadros de referência.

Por outro lado analisamos o desenvolvimento tecnológico da so- ciedade contemporânea e a necessidade de incluir social e digital- mente os diferentes segmentos sociais. Trouxemos a ambiguidade dos conceitos relacionados à inclusão /exclusão digital, mostrando a