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o Programa de Pós-graduação: uma ProPosta inovadora

A formação de educadores em EJA tornou-se um campo de in- vestigação promissor, acirrando as discussões contemporâneas de- sencadeadas por diferentes pesquisadores, potencializando a im- plantação de programas e projetos destinados à EJA, oportunizando o aparecimento de mestrados profissionais a partir das orientações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e favorecendo, neste contexto, a implantação do Programa

de Pós-graduação na modalidade de Mestrado Profissional em Educação de Jovens e Adultos (MPEJA), da Universidade do Estado da Bahia (UNEB).

Este programa aprovado pela Capes em 2012, passou a funcionar em agosto de 2013 e vem atendendo a uma demanda desassistida e enfrentando a oferta dispersa de formação em EJA, como já aler- tava Flecha (1990), para dar respostas aos demandantes por uma formação qualificada nesta área e em observância às especificida- des da modalidade da educação de jovens e adultos. Este Mestrado teve a sua gênese em um curso de especialização em educação bá- sica de jovens e adultos, implantado no Departamento de Educação, Campus I da UNEB , em 1998, com financiamento da Capes, no bojo do Projeto Nordeste, aderindo à proposta do governo de investir no aperfeiçoamento de professores licenciados, tendo formado 400 alu- nos que atuavam como professores ou gestores da educação básica na rede pública de ensino estadual e/ou municipal. (DANTAS, 2012)

A formação desses profissionais veio atentar para a diversidade da clientela formada por jovens e adultos, às suas peculiaridades, às suas diferenças culturais, às suas experiências de vida, às suas his- tórias, aos seus saberes, às suas características específicas, consi- derando os sujeitos da EJA como protagonistas e sujeitos históricos. Na contemporaneidade, o primeiro aspecto a ser destacado na formação de professores é que não existe uma formação específi- ca, obrigatória, para o educador de jovens e adultos efetuando-se uma formação inicial e uma formação continuada de profissionais em EJA a cargo dos Estados e Municípios, tendo como referência as Diretrizes Nacionais para o Ensino Fundamental e o Ensino Médio e as Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação de professo- res. Soares(2002, p. 139) citando a Resolução CNE/CEB 1,datada de 3 de julho de 2000, com base nos Incisos I, II,III e IV, esclarece que esta formação inicial e continuada deve ter como apoio os seguin- tes elementos:

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• Ambiente institucional com organização adequada à proposta pedagógica;

• Investigação dos problemas desta modalidade de educação, buscando oferecer soluções teoricamente fundamentadas e socialmente contextuadas;

• Desenvolvimento de práticas educativas que correlacionem teoria e prática;

• Utilização de métodos e técnicas que contemplem códigos e linguagens apropriadas às situações específicas de aprendizagem”.

O segundo aspecto a ser observado é que a prática da educação de adultos é construída no interior da própria sala de aula, ademais que os conhecimentos dos professores são originados a partir de sua visão pessoal, de sua experiência na carreira, de sua visão de mundo e de sociedade, da troca de informações e das interlocuções com os demais colegas de profissão, dos cursos de capacitação que participa das interações que estabelece com os alunos, do domínio da matéria que lecionam, entre outros fatores. (DANTAS, 2009)

O terceiro aspecto a ser enfocado é que não temos clareza acerca das características e competências que deve ter o profissional que atua na EJA como docente, não temos um perfil delineado deste educador, como chama a atenção Arroyo (2006, p. 17) ao denun- ciar que “[...] não temos parâmetros oficiais que possam delinear o perfil do educador de jovens e adultos e de sua formação, porque, também, não temos uma definição ainda muito clara da própria EJA”. Para ele, esta área está em permanente construção, sempre fez parte da dinâmica emancipadora da sociedade.

Na verdade, a EJA vem se transformando em um campo de es- tudo e de pesquisa que requer ações e atividades pedagógicas es- pecíficas e que são diferenciadas das demais etapas da educação básica, exigindo um tratamento distinto para a formação dos edu- cadores e caminhos outros para a atuação profissional.

Concordamos com Popkewitz (1995, p. 40) quando enfatiza que “ [...] é necessário que os professores adquiram maiores compe- tências em relação ao desenvolvimento e implementação do currí- culo [...]”, pois as sociedades modernas exigem práticas de ensino que valorizem o pensamento crítico, a flexibilidade e a capacidade de questionar padrões sociais, isto é, requisitos culturais que têm implicações na autonomia e responsabilidade dos professores.

O Relatório encomendado pela Unesco para a Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI, presidida por Jacques Delors (2001, p. 103), defende a proposta de uma educação ao longo de toda a vida lembrando que “a educação ocupa cada vez mais espaço na vida das pessoas à medida que aumenta o papel que desempenha na dinâmica das sociedades modernas”.

Soares (2006b) nos adverte que está havendo uma multiplici- dade de eventos nacionais e internacionais sobre a educação de jovens e adultos como a VI Confintea realizada em Belém/PA, o Encontro de EJA da América Latina e Caribe, os Encontros Nacionais de Educação de Jovens e Adultos (ENEJAS), as Reuniões promo- vidas pela Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPED), as Reuniões Regionais Científicas (EPEN) que vêm ressaltando o crescimento e a importância da EJA.

Nesta perspectiva é que se propôs um mestrado profissional com uma carga horária de 840 horas, que está sendo desenvolvido desde 2013, no Departamento de Educação (DEDC) – Campus I, nos turnos vespertino e noturno, oferecendo 30 vagas e estruturado em três áreas de concentração: Educação, Trabalho e Meio Ambiente; Formação de Professores e Políticas Públicas; Gestão Educacional e Novas Tecnologias.

Cada área de concentração reúne os temas centrais do Programa e se constitui a via pela qual se desenvolvem as pesquisas, projetos, programas, experiências inovadoras, desenvolvimento tecnológico, processos e técnicas, produção de programas, desenvolvimento de

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aplicativos, de materiais didáticos e instrucionais e de produtos, entre outros. (UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA, 2012b)

Dentre as disciplinas nucleares destaca-se a de Fundamentos teóricos-metodológicos da concepção freiriana de educação que apresenta aos alunos as principais ideias, implicações da pedago- gia freiriana, a influência de outros autores sobre a pedagogia frei- riana, apreendendo seus fundamentos e princípios, discutindo as principais obras de Paulo Freire antes e depois do exílio. Esta disci- plina vem contando com a colaboração de professores doutores do Instituto Paulo Freire, de coordenadores de Núcleos de Referência e Grupos de Pesquisa em EJA, de professores de outros programas – como os da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) que trabalham com a concepção freiriana de educação.

Potencializando uma gama de produtos como trabalho de con- clusão do curso, tais como dissertação, projeto de intervenção, re- latório técnico, projeto de inovação tecnológica, artigos, projetos técnicos, o Programa diversifica os seus produtos, em observân- cia à uma das suas finalidades a que visa incrementar a pesquisa aplicada no campo da EJA, conforme Proposta do curso e o Art. 44 do Regimento do Programa de Pós-Graduação. (UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA2012a, 2012b)

O MPEJA visa a produção de conhecimentos, a atualização per- manente dos avanços da ciência e das tecnologias, a formação e o aperfeiçoamento de profissionais na área da educação de jovens e adultos, atendendo às demandas sociais e profissionais.

O curso tem como objetivo geral a qualificação profissional de recursos humanos com capacidade científica, didático-pedagó- gica, técnica, política, e ética para atuar no ensino, na pesquisa, na extensão e na gestão na área da educação de jovens e adultos, atendendo às peculiaridades desse campo e aos novos paradigmas educacionais para esta área. Foi criado na intenção de deixar cla- ro a nossa discordância com a atuação de professores na EJA, em

qualquer função, sem a devida qualificação para assumir as suas funções como já denunciava Dantas (2012) e Soares (apud DANTAS, 2012, p. 154) quando criticava que “a educação de jovens e adultos nem sempre foi reconhecida como uma modalidade educativa que requer um profissional adequado para o seu exercício”.

Pretendemos com a implantação do mestrado profissional em EJA conseguir avançar em várias frentes que contribuam para mu- dar o cenário neste campo de conhecimento e nesta área de forma- ção pedagógica, a saber:

a. Cambiar a política de educação para jovens e adultos garantindo- se os direitos expressos na legislação educacional;

b. Assegurar a formação de educadores para o desenvolvimento de competências básicas, atendendo às demandas dos sistemas e os mercados de trabalho;

c. Melhorar a educação de jovens e adultos por meio da análise, nos centros educativos, sobre as tendências atuais, as inovações pedagógicas, as metodologias empregadas, os problemas, as limitações e as dificuldades;

d. Promover acordos entre o governo, as empresas, Organização Não- Governamental (ONGs) e a sociedade civil, a fim de fortalecer e ampliar a oferta de oportunidades educativas.

A criação de um Mestrado Profissional em EJA na Bahia con- templa uma demanda importante da educação brasileira, ou seja, a educação de jovens e adultos, até então muito discutida e ana- lisada em encontros nacionais, regionais e locais, mas que ainda apresentava poucas ações relativas a uma formação adequada ao profissional que atua (atuará) nesse segmento. Esta constatação pode ser comprovada pela quantidade de inscritos na primeira se- leção deste Mestrado, totalizando 1.026 candidatos na inscrição on- line para concorrer a 30 vagas.

Nessa direção, o MPEJA pretende ser um espaço de qualificação e um lugar de formação continuada do profissional da EJA, em que

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a relação teoria-prática terá um espaço de reflexão-ação sobre esta modalidade de ensino. É importante salientar também a proposta de aproximação da universidade com as redes públicas de ensino por meio da contribuição para a formação dos(as) seus(suas) pro- fessores(as) da educação básica e da troca de experiências advindas das reflexões e pesquisas desenvolvidas no mestrado assim como de parcerias que estão sendo instituídas entre a UNEB e as redes pú- blicas para o desenvolvimento de novas práticas pedagógicas na EJA. Desta forma, convém salientar a proposta de estágio de docên- cia que potencializa uma articulação com a educação básica a par- tir de atividade curricular permanente de ensino e de pesquisa nas várias escolas estaduais e municipais, orientada pelo princípio de ação-reflexão-ação, que será administrada pelos mestrandos, me- diante supervisão dos docentes do Programa, como atividade obri- gatória na matriz curricular do Mestrado Profissional em EJA.

Defendemos como prospectiva de formação a ampliação da oferta do Componente EJA como obrigatório não apenas no curso de Pedagogia, mas também nas demais Licenciaturas que envolvem diferentes áreas de conhecimento (Letras, Matemática, Geografia, História, Ciências Sociais, Artes).

Reforçamos a posição de Haddad (2007) que é preciso um novo paradigma para a EJA a partir do diálogo e de um novo olhar acerca dos sujeitos concretos que participam dos processos formativos, incorporando lógicas inovadoras que permitam a inclusão social, cultural e educativa desses protagonistas da EJA.

No momento, a equipe de docentes do Mestrado Profissional vem trabalhando no sentido de enfrentar os seguintes desafios:

a. Colaborar para implantar uma política pública de estado para a EJA; b. Garantir a infraestrutura básica (espaço físico, recursos humanos,

equipamentos, materiais permanentes e de consumo) para o pleno funcionamento do Programa;

c. Desenvolver pesquisas com os estudantes do programa que tenham aplicabilidade e impacto nas comunidades;

d. Articular ensino, pesquisa e extensão no âmbito das atividades desenvolvidas no programa;

e. Captar recursos para garantir as ações e atividades planejadas para o triênio 2015-2016-2017;

f. Concretizar os convênios que estão em processo de negociação (Ifbaiano, IFBA, Secretaria de Educação do Estado e Secretaria Municipal de Lauro de Freitas);

g. Publicar quatro livros com temáticas versando sobre EJA neste triênio;

h. Credenciar novos professores para ministrar as disciplinas do programa que necessitam de docentes;

i. Realizar o II Encontro em Salvador e o III Encontro Internacional de Alfabetização e Educação de Jovens e Adultos em Florianópolis, Santa Catarina.

Dentre as perspectivas atuais destacamos o fortalecimento do programa intentando aumentar a nota para 4, na primeira ava- liação trienal do Programa pela Capes; planejar antecipadamen- te as ações no sentido de garantir a participação de docentes do MPEJA em eventos científicos nacionais, regionais e locais; reali- zar o Seminário Internacional sobre Direitos Humanos na UNEB em articulação com várias instituições e promover os Encontros Internacionais para se discutir como a educação de pessoas adul- tas vem sendo trabalhada e pesquisada em outros países.

Trata-se de uma proposta de formação inclusiva que se contra- põe à política de exclusão que caracterizava o tratamento que vi- nha sendo atribuído à EJA ao longo de sua história. Proposta que abriga entre os alunos selecionados professores da EJA, ex-alfabeti- zadores de adultos, gestores e pesquisadores deste segmento, que necessitavam de uma qualificação especializada na área de educa- ção de jovens e adultos sem possibilidades concretas de oferta de

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curso desta natureza. O Mestrado Profissional se constitui, portan- to, uma experiência pioneira e inovadora no campo da educação, vem contribuindo de maneira decisiva para uma nova configura- ção da educação de jovens e adultos na Bahia, indo ao encontro de uma política de estado para a EJA.

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sujeitos jovens, adultos e idosos