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o direito à educação e dados do analfabetismo

Pensar a questão do direito dos processos educativos de jovens, adultos e idosos é lembrar que esses direitos vêm sendo objeto de luta, no sentido de que tais processos passem a não mais se confi- gurar como um “desinteresse” pelo governo estadual, mas se efeti- vem no âmbito das políticas públicas com a garantia de sua oferta por parte do Estado. Outra questão refere-se à noção de direito à educação como constitutiva de políticas públicas de Estado.

Sartori (2010) questiona a respeito da garantia do direito ao ensi- no fundamental gratuito a todos, independente da idade e ressalta, ao citar as diretrizes de EJA, que os alunos e as alunas de EJA devem conhecer e fazer valer essa prerrogativa.

Discute-se, ainda, se jovens, adultos e idosos conhecem este di- reito, valem-se dele? Em algum momento, alguém se valeu dele? Quantos alunos e alunas não conseguem, muitas vezes, concluir o ensino fundamental por falta de turmas, quando este direito deve- ria ser assegurado pelas instituições públicas no ato da procura por vaga? Igualmente, essa noção de direito também requer que os es- tudantes jovens e adultos tenham profissionais habilitados e con- dições na estrutura física das instituições públicas de modo a aten- derem suas particularidades. Este princípio é fundamental quando se constatamos dados relacionados ao analfabetismo no Brasil.

Segundo o IBGE (2016a), o Brasil contava em 2012 com 8,7% da população acima de 15 anos sendo identificada como analfabeta (o IBGE considerou como analfabeto um sujeito “incapaz de es- crever um bilhete simples em seu idioma”). Essa taxa varia nas diferentes regiões do país, destacando-se na região nordeste, com

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Maria Hermínia Lage Fernandes Laffin

17,4%. Esses dados vêm diminuindo na última década e o índice de analfabetismo é mais elevado entre os homens, conforme Figura 1 a seguir:

Figura 1 – Taxa de analfabetismo das pessoas de 15 anos ou mais de idade, por sexo

Fonte: IBGE (2016b).

Em 2010, também segundo a Pesquisa Nacional de Amostras a Domícilio o índice mais elevado de analfabetismo foi identificado junto a pessoas adultas (17,3%) e acima de 60 anos, com um per- centual de 39,2%. Além disso, há um grande número de pessoas em situação de analfabetismo, particularmente, na região rural.

Figura 2 – Proporção de analfabetos por faixa etária, em 2010

1991 2000 2010 0,0% 9,4% 5,5% 2,7% 16,9% 13,5% 8,3% 16,4% 15,9% 14,0% 17,3% 16,4%17,6% 15,4%17,3% 18,3% 24,7% 31,4% 39,2% 15 a 19 anos 20 a 29 anos 30 a 39 anos 40 a 49 anos 50 a 59 anos 60 anos ou mais 5,0% 10,0% 15,0% 20,0% 25,0% 30,0% 35,0% 40,0% 45,0% Fonte: Brasil (2011).

O novo cenário populacional brasileiro revela um número cres- cente de idosos, os quais buscam novas alternativas de inserção so- cial, atividades e oportunidades de aprendizagem. Entre elas, estão políticas de alfabetização e de Educação de Jovens e Adultos que oferecem uma oportunidade de combate ao preconceito uma vez que o idoso compreende que a educação é um caminho para a sua inclusão social.

Esse dado reitera análises do IBGE (2009, 2012), de que segundo o censo de 2000 a população de idosos representa um contingente de quase 15 milhões de pessoas com 60 anos ou mais de idade (8,6% da população brasileira). Essa progressão do aumento do envelhe- cimento também é constatada pelo IBGE no período de 1990 a 2011.

Figura 3 – Progressão do aumento de idosos com 60 anos ou mais com base no PNAD/IBGE, 2012

Fonte: Brasil (2011).

Ainda, houve um aumento nesse índice de envelhecimento em 2008, pois para cada grupo de 100 crianças de 0 a 14 anos exis- tiam 24,7 idosos de 65 anos ou mais. As projeções indicam que em 2050, para cada 100 crianças de 0 a 14 anos existirão 172,7 idosos. (BRASIL, [200-]).

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Os idosos pessoas com mais de 60 anos somam 23,5 milhões dos brasileiros, mais que o dobro do registrado em 1991, quando a faixa etária contabilizava 10,7 milhões de pessoas. Na compara- ção entre 2009 (última pesquisa divulgada) e 2011, o grupo au- mentou 7,6%, ou seja, mais 1,8 milhão de pessoas. Há dois anos, eram 21,7 milhões de pessoas. Ao mesmo tempo, o número de crianças de até quatro anos no país caiu de 16,3 milhões, em 2000, para 13,3 milhões, em 2011. (BRASIL, [200-], p. 2)

Por um lado, se a perspectiva de vida aumentou, por outro lado certos direitos constitucionais1 foram garantidos. Em 1991, tinha-se

uma taxa de 40,1% de pessoas consideradas analfabetas na faixa etária de 50 anos ou mais, em 2000 foi de 48,7% e 57,5% em 2010. Em forma de números absolutos, conta-se com 5,1 milhões de ido- sos analfabetos no País, conforme IBGE (2002), ao situar o perfil dos idosos responsáveis pelos domicílios no Brasil. Esse documento informava ainda de que as mulheres eram maioria, ou seja, são 8,9 milhões (62,4%) de idosas, as quais eram responsáveis pelos domicílios e possuem, em média, 69 anos de idade e 3,4 anos de estudo. Ainda em relação ao gênero, os homens continuam sendo, proporcionalmente, mais alfabetizados do que as mulheres (67,7%

1 Os direitos constitucionais garantidos ao idoso são estes: “1 – A família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade, de- fendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida. (Art. 230); 2 – os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade. (Art. 229); 3 – aos maiores de sessenta e cinco anos é garantida a gratuidade dos transportes coletivos urbanos (Art. 230, § 2.º); 4 – os idosos, pessoas com sessenta anos ou mais, que provarem não possuir meios de prover a própria manutenção e nem tê-la provida por sua família têm direito a um salário mínimo mensal [...] Este benefício deverá ser requerido junto aos postos do INSS ou ao órgão autorizado. Para ter direito ao salário mínimo mensal, o beneficiário idoso deverá provar que: a) possui sessenta anos de idade ou mais; b) não exerce atividade remunerada; c) renda familiar mensal inferior à prevista na Lei Orgânica da Assistência Social.” (CONSELHO ESTADUAL DE DEFESA DOS DIREITOS DO HOMEM E DO CIDADÃO, [200-])

contra 62,6%, respectivamente), já que até os anos 60/70 tinham mais acesso à escola do que as mulheres.

Ressalta-se que segundo o IBGE (2012), dos jovens entre 18 e 24 anos de idade, apenas 30,9% informaram que frequentavam escola ou universidade. Desses, 57,6% estavam cursando o ensino funda- mental, médio ou outros (que compreende os cursos: pré-vestibu- lar, alfabetização e Educação de Jovens e Adultos) e 42,4% cursavam graduação ou pós-graduação. Desse modo, há um grande número de jovens, adultos e idosos que não concluíram a escolarização bá- sica, direito constitucional da população brasileira.

Por fim, é importante lembrar que o direito à educação é um dos direitos subjetivos ou direitos fundamentais, positivados na Constituição Federal de 1988 em seu Artigo 6º e, portanto, deve ser materializado de forma rápida e eficaz. O que nem sempre acon- tece, por isso, a necessidade de uma constante fiscalização por parte dos movimentos sociais, dos fóruns e pelos órgãos públicos. Quando tais direitos não são cumpridos, faz-se necessária a utiliza- ção de meios jurídico-processuais que garantam a sua efetivação. Isso nos leva à contínua observação e acompanhamento das políti- cas de oferta da EJA no sentido de poder efetivamente convalidar os direitos fundamentais propostos em seus dispositivos normativos das leis e na busca e uso de meios jurídicos processuais que pre- cisam ser ativados para a garantia de oferta a estudantes jovens, adultos e idosos.

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