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4 DIAGNÓSTICO

4.2 ANÁLISE DAS ENTREVISTAS

4.2.1 Identidade e trabalho na Feira

O primeiro campo temático encontrado durante as pesquisas foi a compreensão da identidade dos sujeitos e a arte de fazer na feira, resumidamente, seu trabalho na feira. Assim, conforme menciona Vedana (2013), fazer a feira é também “fazer” o feirante à medida que se escuta as interpretações sobre como aprendem e ensinam a relação das quais esses sujeitos estabelecem com o outro.

A feira tem uma aproximação direta com a identidade dos feirantes. Da mesma forma como apresentam Cabana e Ichikawa (2015), existe um entrelaçamento entre identidade e cotidiano. Esse entrelaçamento atua na medida em que a vida cotidiana reflete a raiz da existência do sujeito. Dessa maneira, é no cotidiano que a identidade é manifestada e renovada.

Trabalho desde o início, desde quando era em frente à Fundação Cultural, que depois com tempo passou para aqui para JK (Fe1).

Geralmente, de acordo com a necessidade eu vou fabricando, fazendo as peças, vendendo e vou produzindo durante a semana, não tem muitas novidades. Trabalho quando eu quero, porque para mim é um lazer, não é um ganha dinheiro, viver, exclusivamente da feira (Fe1).

Já frequentava a feira desde de quando começou, isso já faz uns treze anos (Fe2).

Aí uma amiga, vai lá que de repente você pode vender lá. Aí eu fui, conversei se podia ir lá e depois, acho que um tempo depois, que a gente desceu pra cá. Foi por necessidade mesmo (Fe2).

Nesse diálogo dos entrevistados, permiti-me ressaltar que todo trabalho tem seu início, mas sempre vem as expectativas para evolução. De acordo com Cabana

et al (2017), os trabalhos organizacionais não podem parar na visão do passado,

devem ser projetados em conjunto, do passado com o presente, pois a memória da história abre possibilidades para se tratar de história da organização, mas das histórias no plural, visto que são várias as perspectivas em que se pode vivenciar o cotidiano nas organizações.

Nossa identidade continua a ser a mesma, sobre o impulso de trabalhar e procurar motivos para viver melhor, como define a voz da entrevista.

Com o crescimento da feira, as pessoas da cidade foram tomando conhecimento e aquelas que têm algum dom de fazer alguma coisa, algum artesanato, se interessam, e nossa feira hoje está uma feira concreta, bastante estabilizada, grande e de grande movimento (Fe1).

Atualmente está bem melhor, porque a diversificação de produtos está bem maior, o movimento é bem maior, a gente passa uma manhã super agradável de domingo (Fe1).

Administração, antes não tinha administração. Não tinha quem cuidava, quem administrava, quem dava as regras, ordens. Agora tem regras, ordens, e está tudo no papel, tá bonitinho (Fe3).

Em Certeau (2015), a visão de organizações industriais leva as oportunidades à expansão dos negócios industriais, constituindo um conjunto integrado de processos dinâmicos e interativos, que interligam as fases do universo

organizacional, para a proteção do processo integrador do domínio industrial, assegurando a lealdade da concorrência do comércio industrial, nasce o Tratado da Propriedade Industrial.

Para muitos feirantes o trabalho na feira é uma oportunidade de ganhar dinheiro, para ajudar na economia da casa; para outros, é uma diversão, como descrevem os feirantes.

E é uma diversão pra gente, não é só um trabalho (Fe2).

Eu gosto muito de trabalhar aqui na feira. Para mim é gratificante porque eu trabalho aqui não é porque preciso, é mais por um hobby do que por um trabalho (Fe1).

Bom, aqui virou um escape maravilhoso, uma fuga, você trabalha a semana inteira, você estuda, faz um monte de coisa e aqui está calmo (Fe3).

Ah, eu gosto porque é uma terapia pra mim (risos) e, outra coisa, é também um pouco a necessidade, mas é mais a terapia, é única fonte de renda (Fe5).

Nestes pontos de vista, os feirantes identificam sua identidade no trabalho da feira: uma realização junto às emoções de satisfação.

Neste sentido, Locatelli e Cavedon (2012) afirmam que as emoções são discutidas a partir da dinâmica social, tendo como foco seu processo de constituição, e seu domínio por meio de práticas de discursos situados. As explorações analíticas das emoções ocorrem nas narrativas que envolvem questões de sociabilidade e de poder na vida cotidiana dos indivíduos. Consideram as emoções como produções socioculturais que, por seus efeitos materiais e simbólicos, podem desvelar relações de poder, mecanismos de resistências, performances e práticas de contextos sociais situados sócio-historicamente, o que inclui as organizações do trabalho.

Para Vedana (2013), todos esses saberes e experiências que conformam o trabalhador feirante, um deles é visto como fundamental por todos os interlocutores com a capacidade de interação com o outro e o jogo social como fregueses e mesmo outros feirantes, a maestria de instaurar a veracidade dos fatos e consolidar vínculos com fregueses.

Neste contorno de fazer amizades, mas também fazer dinheiro, significa dar ênfase a centralidade do trabalho para a vida humana, como dizem os feirantes.

Adoro trabalhar na feira, adoro os clientes, ver muita gente, e preciso também trabalhar para ganhar dinheiro para pagar as contas (Fe6).

Bom, eu gosto, porque tem um círculo de amizade muito bom e também para ganhar dinheiro, um dinheirinho extra, porque a gente precisa para a despesa do dia a dia (Fe7).

Assim, afirma Vedana (2013) que a sociabilidade é o elo fundamental de argumentação sobre o feirante como um trabalhador urbano, onde no decorrer de suas atividades é preciso dominar o jogo do trabalho, ora com boa amizade, ora com o suor, e construir laços de reciprocidade com seus fregueses, produzindo o sucesso do seu negócio na interação da atribuição do trabalho.

O trabalho na feira para esses feirantes é uma realização pessoal, mesmo que a idade não permita muita coisa, mas estar lá interagindo com o mundo que os rodeia é uma dimensão sem tamanho, pois muitas vezes o idoso fica fora do âmbito de trabalho. Como diz Locatelli e Cavedon (2012), o senso comum costuma olhar o envelhecimento sob dois prismas antagônicos: o primeiro que aponta para a pauperização e abandono a que o velho é relegado, associando-o à inatividade, incapacidade e improdutividade; e o segundo que propaga a imagem do velho bem- sucedido, que mantém sua funcionalidade, flexibilidade e adaptabilidade frente aos desafios advindos da idade.

Assim, observa-se que a vida cumpre o envelhecimento para aqueles indivíduos que desejam atuarem da forma que quiserem, mas para o público deste estudo, são profissionais idosos, que tem vontade de lutar, persistindo à natureza de sua atividade, não mostrando nenhuma recaída de incapacidade.

Então podemos analisar: por que os idosos vão a feira? Esta é uma resposta que podemos encontrar junto aos feirantes: Sérgio (Fe1) tem 63 anos; Francisco (Fe3), 69; Joaquim (Fe4), 72; Lídia (Fe5), 62; Ereni (Fe7), 64; e Pedro (Fe8) tem 62 anos.

Nesta perspectiva, todos têm como propósito desempenhar um trabalho que lhes dê prazer de viver, adotados pelas atribuições que ocorrem no cotidiano de cada um, como as novas amizades. Ser idoso para eles é somente envelhecer e não deixar de trabalhar. A feira se tornou um refúgio para a mente.

Para Marx (1983), apud Neves et al (2017), é justamente essa capacidade que o homem tem de transmitir significado à natureza por meio de uma atividade planejada, consciente e que envolve uma dupla transformação entre o homem e a natureza, que diferencia o trabalho do homem de qualquer outro animal.

Nesse pensamento, concluo que é pelo trabalho que o homem transforma a si e à natureza, e, ao transformá-la de acordo com suas necessidades, imprime em tudo que o cerca a marca de sua comunidade.

Portanto, percebe-se que as organizações nascem na fortaleza da identidade de cada homem e evolui conforme necessidade e trabalho da comunidade.

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