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Trabalho como Exposição da Identidade do Feirante

4 DIAGNÓSTICO

4.2 ANÁLISE DAS ENTREVISTAS

4.2.2 Trabalho como Exposição da Identidade do Feirante

Esse segundo campo temático encontrado é a noção de identidade atribuída ao sentido do trabalho, conforme diz Freint (1998), com o trabalho que o homem tenta satisfazer suas necessidades, o homem produz os meios dessa satisfação e com isso transforma o mundo natural e a si mesmo, pois por meio do trabalho instaura relações sociais, cria modelos de comportamento, instituições e saberes.

Como aponta Silva (2004), apud Cabana e Ichikawa (2015), a identidade é dependente da diferença e ambas, tanto a identidade quanto a diferença, são estruturas narrativas e discursivas, são sociais e culturais e não naturais, esta seja talvez a parte mais importante a ser debatida, porque podemos discutir e questionar as identidades já que são narrativas e discursos que podem ser transformados.

Assim observarmos o que fala sobre identidade os feirantes deste estudo.

Há dez anos a gente foi convidado para expor na feira, eu sempre tinha um sonho, vender artesanato na rua, uma coisa assim onde passa o turista, porque eu desde de garoto vendo artesanato eu vendia na antiga rodoviária (Fe3).

Por várias vezes ela (a feira) teve bastantes feirantes e de repente tinha pouco, teve época de só trabalhar dois ou três feirantes e depois houve essa ideia de unir o artesanato (Fe4).

Bom, eu criei todos os meus filhos fazendo artesanato para expor na feira, minha vida inteira fazendo artesanato para ajudar na despesa de casa, pra ajudar o marido. Aí meu marido se aposentou e aí resolvi montar a feira todo domingo (Fe7).

Assim, Cabana e Ichikawa (2015) afirmam que os tempos atuais têm mostrado de forma evidente que a identidade vai muito além de uma identidade central e duradoura, pois as estruturas que lhe davam suporte estão caindo, como é o caso das identidades nacionais, restando o caráter indeterminado, instável, contraditório e inconcluso das identidades.

Nesse mesmo ponto de vista dos estudiosos, sobre identidade do feirante, asseguram que permanece uma atribuição essencial ou um caráter central no indivíduo que expõe sua identidade.

Assim, também no meu pensar, todo feirante faz sua exposição de modo a vincular alguns atributos, como: se divertir, ganhar dinheiro, realizar sonhos com a parte financeira, como também fazer amizades. Assim ser feirante é trabalhar, mas também ter expectativa de vida.

Na mesma perspectiva, a exposição da identidade pessoal que afirma que exista uma pertença essencial ou um caráter central no indivíduo que denotava sua identidade, também acreditava que as organizações tinham atributos centrais que as diferenciavam das outras e estes eram duradouros (CABANA e ICHIKAWA, 2015).

Vejo que cada um mostra sua identidade de forma a promover novas ações, onde expressam sua identidade como sentido de trabalho, dizendo.

A minha ideia de trabalhar na feira da JK veio de minha mãe, que conhecida, na época, a Guerda, que era a coordenadora das feiras. Então minha mãe comentou que eu fazia trabalho desse tipo e ela ia falar com ela (a coordenadora), que ela estava no início, fazendo a montagem (da feira) e foi assim que começou (Fe1).

Mas eu sempre tive a ideia de vender numa banca tipo feira, uma coisa assim, e agora sonho realizado e estamos tocando o barco (Fe2).

Para Cabana e Ichikawa (2015), o indivíduo preserva sua “identidade” e sobrevivência e para isto desenvolve uma estrutura normativa e uma estrutura de ação originada principalmente nas posições dirigentes. Desta forma, percebemos que as organizações procuram alicerces, nos quais se apoiar e, para isto, criam mecanismos que aparentam dar estabilidade.

Foi um convite do governo municipal. Na época, então o Sr. Dobrandino Gustavo da Silva que convidou os produtores rurais para participarem da feira, para venderem seus produtos, para ter renda, para propriedade. Eu aceitei na época, né, e comecei com pouca coisa, quase nada, como eu trabalho com pouco produto também, só produto que a gente produz e hoje menos ainda, porque eu não tenho mão de obra para produzir, continuo então com esse trabalho, né, então a ideia foi de renda maior para família, para propriedade (Fe3).

Percebe-se que a identidade de cada feirante é influenciada desde a infância, onde viam seus pais trabalharem com artesanatos ou fazendo comércio nos arredores da comunidade que viviam.

Nesta concepção, Cabana e Ichikawa (2015) afirmam que a identidade é dependente da diferença e ambas, tanto a identidade quanto a diferença, são estruturas narrativas e discursivas, são sociais e culturais e não naturais. Esta seja talvez a parte mais importante a ser debatida, porque podemos discutir e questionar as identidades já que são narrativas e discursos que podem ser transformados.

Para Neves (2017), o ser humano tem necessidade de afirma-se na sua identidade, onde reforça o caráter central do trabalho para a humanidade quando afirma que, ao longo de toda a história da evolução humana, o trabalho foi algo determinante para a manutenção da vida do homem, tanto individual como coletiva.

Logo na visão da autora, todas essas estruturas reforçam e complementam o conceito de trabalho, pois a existência das pessoas reforça a importância do que elas mais gostam de fazer, que é trabalhar e viver em harmonia com a vida em sociedade.

Na visão de Cabana e Ichikawa (2015), a identidade trabalho pode ser encontrada sob muitos aspectos, que interligam com os discursos e as relações de poder, discussões que criam cenários que podem posicionar, como por exemplo, proporcionando novas oportunidades profissionais, são discursos que nos indicam posições de sujeitos específicos.

Neste sentido, os entrevistados da pesquisa expõem suas identidades, como novas oportunidades.

Foi um bom incentivo para mim e para muitas pessoas que eu incentivei também (Fe5).

Devido a feira eu aprendi mais, mais e mais, hoje eu posso trabalhar em outros lugares se eu quiser, em festas, aniversários, então, me ajudou muito (Fe6).

A gente sempre pega encomendas e já mandei minhas coisas para fora do país. Uma vez uma cliente disse que ia mandar pra Itália e já virou super cliente e de vez em quando sempre vem. E em relação a isso acho que tem grandes oportunidades sim (Fe2).

Assim, é visto que as relações de identidade oportunizam novos saberes na vida dos feirantes: um, porque queria uma nova vida; outro, porque o cenário foi propício para ele e, desse modo, todos vivem numa sociedade que cria efeitos para cada necessidade e ou até mesmo diversão.

Já segundo Gerencer (1984), o trabalho e identidade são o meio da democratização da sociedade, qual deve priorizar a compreensão da natureza

prática que eleva o ser humano da condição de desigualdade para igualdade possível.

A prática social do trabalho, para Oliveira e Silveira (2012), em consequência da gestão, é determinada pela evolução do mundo dos afazeres. Portanto, o comando do trabalho é determinado pela concretude histórica da produção material da existência humana e pelo objeto específico da prática social do ser humano.

Dessa forma, vejo homens e mulheres, público alvo deste estudo, se doando ao trabalho e ao mesmo tempo mantendo-se na sua identidade, podendo acrescentar o ato de transformação e também o ato de liberdade para trabalhar abertamente na sociedade.

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