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5 EDUCAÇÃO DAS RELAÇÕES ÉTNICO RACIAIS: A FAVOR DE QUÊ? CONTRA QUÊ? A

5.1 Identidade

A identidade é um conceito chave para este estudo, considerando a necessidade de pensar sobre como as pessoas estão se constituindo pessoas, como estão se tornando pessoas nas relações com outrem, com a diversidade, pois pensar a identidade hoje envolve considerar que estamos falando de identidades, na pluralidade destas, buscando principalmente chegar às minorias que comumente têm suas identidades negadas ou não reconhecidas. Para falar nesta pluralidade, iremos trazer as ideias de Hall (2005), que nos alerta que as mudanças estruturais na sociedade tem influenciado na constituição das indentidades dos sujeitos, pois “o sujeito, previamente vivido como tendo uma identidade unificada e estável, está se tornando fragmentado; composto não de uma única, mas de várias identidades, muitas vezes contraditórias ou não-resolvidas” (p.12).

Sendo assim, vamos abordar o conceito de identidade de maneira a problematizar as diversas influências e mudanças estruturais que tem influenciado na maneira como as ditas minorias têm constituído suas identidades. De acordo com Moreira e Câmara (2013, p. 39):

Em termos políticos, a ênfase na identidade deriva do reconhecimento de que certos grupos sociais têm, há muito, sido alvo de inaceitáveis discriminações. Entre eles, incluem-se os negros, mulheres e homossexuais. Tais grupos se têm rebelado contra a situação de opressão que os têm vitimado e, por meio de árduas lutas, tem conquistado espaços e afirmado seus direitos à cidadania. Com muita tenacidade, têm contribuído para que se compreenda que as diferenças que os apartam dos “superiores”, “normais”, “inteligentes”, “capazes”, “fortes” ou “poderosos” são, na verdade, construções sociais e culturais que buscam legitimar e preservar privilégios. Além da afirmação de suas identidades, tais grupos sociais tem procurado desafiar a posição privilegiada das identidades hegemônicas.

Ao tratar de identidade, estamos tratando também de construções sociais e culturais que muitas vezes se revelam como injustas e perversas no que diz respeito ao favorecimento de umas em detrimento de outras e da negação de diversas formas de ser que não se encontram dentro do que seriam as identidades consideradas hegemônicas. Sobre esta

negação, concordamos com Freire (2011ª, p. 98-99), que diz que “[...] nada justifica a minimização dos seres humanos, no caso, das maiorias compostas de minorias que não perceberam ainda que, juntas, seriam a maioria”. Sobre o conceito de identidade, compreendemos que:

A identidade não é algo inato. Ela se refere a um modo de ser no mundo e com os outros. É um fator importante na criação das redes de relações e de referências culturais dos grupos sociais. Indica traços culturais que se expressam através de práticas linguísticas, festivas, rituais, comportamentos alimentares e tradições populares referências civilizatórias que marcam a condição humana (GOMES, 2005, p. 41).

Stuart Hall (2005, p. 62-63) fala sobre a constituição de múltiplas identidades, que não podem ser unificadas, pois isso implicaria que fosse imposta uma hegemonia cultural em torno do processo de formação das identidades. De acordo com o autor, quando se trata das tentativas de unificar as identidades a partir da raça, isto se torna ainda mais difícil, pois esta é uma categoria discursiva e não uma categoria biológica.

Questionando os padrões estabelecidos, trazemos à tona a multiplicidade de identidades presentes na realidade brasileira, situando-nos no contexto da América Latina, de diferentes povos e culturas. Para compreender a realidade latino-americana em que estamos inseridos, precisamos situar nossos entendimentos e percepções a partir de nosso continente, a América Latina da qual somos parte:

É a América Latina, a região das veias abertas. Desde o descobrimento até nossos dias, tudo se transformou em capital europeu ou, mais tarde, norte americano, e como tal tem-se acumulado e se acumula até hoje nos distantes centros de poder. Tudo: a terra, seus frutos e suas profundezas, ricas em minerais, os homens2 e sua capacidade de trabalho e de consumo, os recursos

naturais e os recursos humanos (GALEANO, 1990, p. 5).

Nesse sentido, pensamos que “produzir conhecimentos na perspectiva da América Latina, exige nos libertarmos de referências dogmáticas, construídas a partir de experiências alheias a nossos valores e culturas”, sendo necessário situar os contextos e espaços de nossas pesquisas olhando para a diversidade (OLIVEIRA et al, 2014, p. 32). Olhar

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A obra de Eduardo Galeano “As veias abertas da América Latina” foi escrita em 1970, sendo, portanto, dotada de linguagem que ainda não havia sido modificada observando-se crítica ao machismo da linguagem no uso de “homens” no sentido de humanidade, seres humanos, homens e mulheres. Nesta investigação mantemos, quando em citações, conforme original, e destacamos que apesar da escrita encontrar diferenças com as discussões da atualidade, a obra de Eduardo Galeano continua de extrema atualidade.

para a diversidade é também reconhecer as identidades presentes em nossos povos e culturas, identidades que os constituem enquanto sujeitos e que precisam ser valorizadas.

Nesse sentido, destacamos as ideias de Santos (2009), sobre a linha abissal existente no pensamento moderno ocidental, dividindo a realidade em dois universos distintos, um que fica ‘deste lado da linha’ e outro que fica ‘do outro lado da linha’. Sendo assim, a realidade que fica do outro lado da linha se localiza na exterioridade e é invisibilizada, pois não é possível que se considere os dois lados da linha nesse pensamento. A respeito do conhecimento científico, o autor nos alerta para as disputas epistemológicas presentes na validação do que se considera verdadeiro ou falso, mas que ainda assim, estas disputas encontram-se do lado visível da linha, e o que permanece invisível são os “conhecimentos populares, leigos, plebeus, camponeses ou indígenas do outro lado da linha. Eles desaparecem como conhecimentos relevantes ou comensuráveis por se encontrarem para além do universo do verdadeiro e do falso” (SANTOS, 2009, p. 25).

O autor propõe um pensamento pós-abissal, que tenha como postulado, para além da resistência política, a resistência epistemológica, pois “o pensamento pós-abissal parte da ideia de que a diversidade do mundo é inesgotável e que esta diversidade continua desprovida de uma epistemologia adequada” (p. 43). Sendo assim, neste pensamento, a proposta é aprender com o Sul usando uma epistemologia do Sul, confrontando, conforme Santos (2009), a monocultura da ciência com uma ecologia de saberes, reconhecendo a pluralidade de conhecimentos heterogêneos, sendo sempre o conhecimento um “interconhecimento” (p. 45). De acordo com Santos (2009, p. 51):

A ecologia de saberes assenta na ideia pragmática de que é necessária uma reavaliação das intervenções e relações concretas na sociedade e na natureza que os diferentes conhecimentos proporcionam. Centra-se, pois, nas relações entre saberes, nas hierarquias que se geram entre eles, uma vez que nenhuma prática concreta seria possível sem estas hierarquias. Contudo, em lugar de subescrever uma hierarquia única, universal e abstracta entre os saberes, a ecologia de saberes favorece hierarquias dependentes do contexto, à luz dos resultados concretos pretendidos ou atingidos pelas diferentes formas de saber.

Sendo assim, compreendemos que é necessário mais do que reconhecer a existência da diversidade, mas sim é preciso que os conhecimentos que foram invisibilizados encontrem, a partir do diálogo com outros conhecimentos que também se encontram ‘do outro lado da linha’, a possibilidade de um diálogo intercultural usando uma epistemologia do Sul. Este posicionamento exige que adotemos uma perspectiva intercultural, que “pressupõe o

reconhecimento recíproco e a disponibilidade para enriquecimento mútuo entre várias culturas que partilham um dado espaço cultural” (SANTOS; MENESES, 2009, p. 9). Sendo assim, compreendemos que é preciso acontecer um diálogo intercutural, a partir de diversos universos culturais. A perspectiva intercultural se mostra adequada a este estudo, pois esta:

[...] rompe com uma visão essencialista das culturas e das identidades culturais. Concebe as culturas em contínuo processo de elaboração, de construção e reconstrução. Certamente cada cultura tem suas raízes, mas essas raízes são históricas e dinâmicas. Não fixam as pessoas em determinado padrão cultural (CANDAU, 2008, p. 51).

Compreendemos que as relações culturais são também permeadas por relações de poder, hierarquias, também marcadas pelo preconceito e pela discriminação de alguns grupos (CANDAU, 2008, p. 51). Portanto, ao abordar a perspectiva intercultural estamos reconhecendo a trama de relações que está envolta na dinâmica dos diferentes grupos socioculturais. Sendo assim, concordamos com Candau (2008) a favor de uma perspectiva intercultural que possa:

[...] promover uma educação para o reconhecimento do “outro”, para o diálogo entre os diferentes grupos sociais e culturais. Uma educação para a negociação cultural, que enfrenta os conflitos provocados pela assimetria de poder entre os diferentes grupos socioculturais nas nossas sociedades e é capaz de favorecer a construção de um projeto comum, pelo qual as diferenças sejam dialeticamente integradas. A perspectiva intercultural está orientada à construção de uma sociedade democrática, plural, humana, que articule políticas de igualdade com políticas de identidade (CANDAU, 2008, p. 52).

Nesse sentido, destacamos a necessidade de buscar o reconhecimento das identidades para que a discriminação e a marginalização possam ser entendidas como construídas historicamente, combatendo sua negação. Há dados que revelam a expressiva desigualdade racial existente em nosso país, que contradizem a negação da mesma.

De acordo com o documento “Retrato das desigualdades de gênero e raça” divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) no ano de 20113, a desigualdade racial no Brasil se expressa na expectativa de vida, na renda média das famílias, na escolaridade, acesso aos serviços de saúde, no mercado de trabalho, etc. Por exemplo, no

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que diz respeito à taxa de desemprego da população, a menor taxa de desemprego corresponde à dos homens brancos (5%), ao passo que a maior remete às mulheres negras (12%). No intervalo entre os extremos, encontram-se as mulheres brancas (9%) e os homens negros (7%). Em relação ao acesso ao serviço de saneamento, o estudo mostra que enquanto entre a população branca em geral 77,1% dos domicílios contam com esgotamento sanitário adequado, apenas 60% da população negra dispõe do serviço. No que diz respeito ao acesso a bens duráveis, o estudo mostra que em 2009, enquanto 37,9% dos domicílios urbanos chefiados por brancas ou brancos não dispõem da máquina de lavar, esta proporção é de 91,2% para os domicílios rurais chefiados por negras ou negros. Sobre a distribuição de renda, o documento aponta que os negros apresentam, em média, 55% da renda recebida pelos brancos.

A partir dos dados citados é possível afirmar que o passado escravista e colonizador ainda deixa marcas sobre a trajetória dos/as negros e negras brasileiros/as, que constroem suas identidades nesse contexto histórico, político, social e cultural. E é nesse contexto que se constroem as identidades de negros/as brasileiros/as, e neste trabalho entendemos a identidade negra:

[...] como uma construção social, histórica, cultural e plural. Implica a construção do olhar de um grupo étnico/racial ou de sujeitos que pertencem a um mesmo grupo étnico/racial, sobre si mesmos, a partir da relação com o outro. Construir uma identidade negra positiva em uma sociedade que, historicamente, ensina aos negros, desde muito cedo, que para ser aceito é preciso negar-se a si mesmo é um desafio enfrentado pelos negros e pelas negras brasileiros(as) (GOMES, 2005, p. 43).

A educação e as práticas educativas podem ser consideradas como peças chave para que se desenvolva uma prática pedagógica que seja pautada na construção de novas posturas e atuações, construindo uma “Pedagogia da Diversidade” (GOMES, 2010, p. 109). A educação é por nós entendida como processo que acontece não só na escola, mas que se dá ao longo da vida, nas diversas práticas sociais de que participamos, convivendo uns com os outros, ensinando e aprendendo, pois “as pessoas se formam em todas as experiências de que participam em diferentes contextos ao longo da vida” (OLIVEIRA et al, 2014, p. 36).

Educar as relações étnico-raciais implica um movimento em educar-se para e nas relações étnico-raciais, reconhecendo nosso papel de educadores/as comprometidos/as com a modificação de realidades injustas. Entendemos que:

É preciso ensinar para os(as) nossos(as) filhos(as), nossos alunos(as) e para as novas gerações que algumas diferenças construídas na cultura e nas relações de poder foram, aos poucos, recebendo uma interpretação social e política que as enxerga como inferioridade. A consequência disso é a hierarquização e naturalização das diferenças, bem como a transformação destas em desigualdades supostamente naturais. Dessa forma, se queremos lutar contra o racismo, precisamos re-educar a nós mesmos, às nossas famílias, às escolas, às(aos) profissionais da educação, e à sociedade como um todo. Para isso, precisamos estudar, realizar pesquisas e compreender mais sobre a história da África e da cultura afro-brasileira e aprender a nos orgulhar da marcante, significante e respeitável ancestralidade africana no Brasil, compreendendo como esta se faz presente na vida e na história dos negros, índios, brancos e amarelos brasileiros (GOMES, 2005, p. 49).

Ao estudar para conhecer e compreender a cultura afro-brasileira estamos agindo no sentido de desconstruir as imagens negativas que foram difundidas sobre o continente africano, sobre as culturas africanas e afro-brasileiras. Ao considerarmos o legado africano como parte de nossa história, como parte que nos constitui, alimenta e fortalece, estaremos colocando o respeito e valorização das diferenças como nossa responsabilidade, independentemente de nossa origem ou pertencimento étnico. Ao estarmos comprometidos/as com a busca de condições de vida digna e justa, estamos nos comprometendo para a construção de um país em que a diferença não seja mais sinônimo de desigualdade, em que as pessoas não sejam julgadas pela cor da sua pele, em que a meritocracia e o mito da democracia racial não definam o lugar social daqueles que foram postos à margem. Destacamos que usamos o termo “vida digna” embasados pelas ideias de Quijano (2012) “Bien Vivir” e “Buen Vivir”, compreendendo-o como expressão da resistência contra a colonialidade do poder, como forma de resistir à dominação, à imposição, à exploração cultural e às desigualdades que são reflexo da colonização.

Possibilitar espaços de discussão e reflexão acerca das impressões sobre o continente africano, sua cultura e história, compreendendo-os como parte integrante da história construída por diferentes povos no Brasil, pode auxiliar na formação de novas compreensões sobre as diferentes identidades e culturas. De acordo com Moreira e Câmara (2013, p. 41-42):

[...] ao longo da vida, em meio às interações e identificações com diferentes pessoas e grupos com que convivemos ou travamos contato, construímos nossas identidades, que se formam mediante os elos (reais ou imaginários) estabelecidos com essas pessoas, grupos, personalidades famosas, personagens de obras literárias, personagens da mídia. Identificamo-nos, em maior ou menor grau, com familiares, amigos, colegas de trabalho, torcedores do time de futebol de nosso coração, pessoas que compartilham

conosco elementos étnico-raciais, seguidores de nossa religião, pessoas de nossa geração, pessoas do mesmo sexo que nós, moradores de nossa cidade, assim como procuramos nos distinguir de pessoas diferentes de nós. Nossa identidade, portanto, vai sendo tecida, de modo complexo, em meio às relações estabelecidas, que variam conforme as situações que nos colocamos.

A convivência com outrem4 nos espaços que frequentamos é permeada por nossas impressões sobre o mundo que nos cerca, pois estamos no mundo, vivenciando experiências e nos constituindo enquanto pessoas. Portanto, entendemos que dentro dos espaços de convívio podem ser identificadas as múltiplas referências e formas de ser no mundo com outrem, pois:

[...] é sendo sem restrições nem reservas aquilo que sou presentemente que tenho oportunidade de progredir, é vivendo meu tempo que posso compreender os outros tempos, é me entranhando no presente e no mundo, assumindo resolutamente aquilo que sou por acaso, querendo aquilo que quero, fazendo aquilo que faço que posso ir além (MERLEAU-PONTY, 1996, p. 611).

Ao viver com outrem ao mundo, percebemos diferentes formas de ser que são diferentes das nossas, pois vivenciamos o mundo a partir de nossas referências e experiências, que nos constituem como ser-ao-mundo, pois de acordo com Merleau-Ponty (1996) “[...] é preciso que o mundo esteja, em torno de nós, não como um sistema de objetos dos quais fazemos a síntese, mas como um conjunto aberto de coisas em direção às quais nos projetamos” (p. 518). É nos projetando ao mundo que este vai sendo dotado de sentidos, que vão sendo construídos por nossas experiências no mundo com outrem, reconhecendo que estamos ao mundo, compreendendo nossa existência e compreendendo as outras formas de existir, pois para Merleau-Ponty, o ser é tempo, espaço, motricidade e fala, só podendo ser compreendido de modo integral.

O sujeito entendido nesta perspectiva dá sentido ao mundo, construindo-o. Os sujeitos constroem os sentidos de sua existência na relação com outrem ao mundo, o que faz com que formas de ser e estar ao mundo sejam significadas de acordo com as experiências

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Usamos aqui a palavra outrem no sentido empregado por Dussel, quando o autor fala do Outro como aquele que é colocado na exterioridade, como não-ser, o bárbaro, ou seja, os oprimidos e marginalizados. Aqui usamos o termo outrem para que possamos nos referir a homens e mulheres.

DUSSEL, Enrique. Filosofia da Libertação. Piracicaba, SP: Editora UNIMEP, 1977. Disponível em: http://enriquedussel.com/Textos_Libros/29.Filosofia_da_libertacao.pdf.

que os sujeitos se valem para se constituírem no mundo, o que implica que distintas visões de mundo estejam presentes num mesmo espaço de convívio.

As diferentes identidades são formadas de acordo com as experiências que são significadas pelos sujeitos em sua existência, podendo formar-se diferentes identidades em um mesmo contexto, mas a forma como as experiências são sentidas e vivenciadas modifica o sujeito que se forma no contato com o mundo:

Identidades são inscritas através de experiências culturalmente construídas em relações sociais. A subjetividade – o lugar do processo de dar sentido a nossas relações com o mundo – é a modalidade em que a natureza precária e contraditória do sujeito-em-processo ganha significado ou é experimentada como identidade. As identidades são marcadas pela multiplicidade de posições de sujeito que constituem o sujeito. Portanto, a identidade não é fixa nem singular; ela é uma multiplicidade relacional em constante mudança. Mas no curso desse fluxo, as identidades assumem padrões específicos, como num caleidoscópio, diante de conjuntos particulares de circunstâncias pessoais, sociais e históricas (BRAH, 2006, p. 371).

Por isso neste estudo falamos em identidades, compreendendo estas como construções, como algo que não é fixo nem singular. Concordamos com Hall (2005), quando o autor fala sobre a influência do mundo global sobre a constituição das identidades, pois o autor argumenta que quanto mais a vida social se torna mediada pelas imagens da mídia e dos sistemas de comunicação, mais as identidades se desvinculam de tempos, lugares, histórias e tradições (p. 75). Nesse sentido, destacamos a necessidade em educar as relações étnico- raciais para que sejam fortalecidas e construídas identidades de negros/as e não negros/as a partir de uma perspectiva que valorize os sentidos de ser negro/a no Brasil, de vivenciar a cultura afro-brasileira. Segundo Munanga:

Tomar consciência histórica da resistência cultural e da importância de sua participação na cultura brasileira atual é o que importa e deveria fazer parte do processo de busca da identidade negra por parte da elite politizada. Mas basear a busca e a construção de sua identidade “atualmente” dita cultura negra é problemático, pois em nível do vivido outros segmentos da população brasileira poderiam lançar mão da mesma cultura e nem todos os negros que no plano da retórica “cantam” a cultura negra a vivem exclusiva e separadamente dentro do contexto brasileiro, assim como não existem brancos vivendo exclusiva e separadamente uma cultura dita branca. Aqui os sangues se misturam, os deuses se tocam, e as cercas das identidades culturais vacilam (MUNANGA, 2009, p. 18).

É preciso considerar que a construção da identidade negra no Brasil enfrenta dificuldades por estarmos inseridos em uma sociedade racista, que perpetua um racismo

velado, porém não menos perverso, que encontra lugar em práticas de silenciamento e negação. No próximo tópico, iremos apresentar nossas compreensões acerca do racismo.