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Uma intervenção com Africanidades como proposta para a educação das relações étnico-

5 EDUCAÇÃO DAS RELAÇÕES ÉTNICO RACIAIS: A FAVOR DE QUÊ? CONTRA QUÊ? A

5.3 Uma intervenção com Africanidades como proposta para a educação das relações étnico-

relações étnico-raciais

Neste ponto, iremos dar ênfase ao conceito de Africanidades, que é central para este estudo. Buscamos com a utilização deste conceito atrelado à nossa prática, trazer visões e ações que desmistifiquem as impressões equivocadas e preconceituosas sobre as culturas africana e afro-brasileira, para que possamos compreender de que forma este conceito pode acrescentar novos horizontes para o trabalho com a educação das relações étnico raciais.

Destacamos primeiramente os propósitos e escolhas que nos levaram a realizar uma intervenção com Africanidades, pois estes posicionamentos refletem nosso entendimento do conceito e também as bases teóricas que nos influenciam. A proposta de realização de uma intervenção com Africanidades se deu pela necessidade que sentíamos em realizar um trabalho voltado para a educação das relações étnico-raciais que pudesse trazer à tona, trazer para o diálogo, diferentes questões e expressões que nos ajudassem a atingir os objetivos propostos com este estudo.

Sendo assim, consideramos que a palavra Africanidades é repleta de significados, pois:

Ao dizer africanidades estamos nos referindo ao legado africano, à herança que mulheres e homens escravizados deixaram para nós, povo brasileiro. Os africanos escravizados, afastados de suas nações, separados de suas famílias, vistos como objetos de uso e de dominação, desenraizados de suas culturas, viram-se provocados a reagir, para manterem-se vivos física e moralmente. E reagir, neste caso, significou fugir, organizar os quilombos, criar todas as formas de resistência, inventar um jeito de ser africano, no Brasil, em meio à opressão e aos desprezo pelo que tinham de mais genuíno: a cor de sua pele e sua cultura (SILVA, 1995, p. 2).

E são estas formas de reagir, de resistir, que negros/as escravizados/as desenvolveram como forma de sobrevivência, que nos impulsionam a realizar este trabalho também como forma de resistir, de reagir às consequências da colonização, apresentada até nossos dias em suas mais perversas formas de dominação e exploração, de dizer basta à negação das culturas africanas, reconhecendo-as como parte que constitui nossas raízes brasileiras. Assim, buscamos com esse trabalho fortalecer, valorizar, buscar conhecimentos, fazer conhecidas as origens das Africanidades.

Ao assumir esta proposta, estamos também nos posicionando politicamente, buscando combater as ideias e posturas que até hoje contribuíram para a negação das culturas, do trabalho, da presença e da resistência dos/as negros/as africanos/as e dos afro-brasileiros/as para a construção do Brasil. Posicionar-se dessa maneira implica assumir as lutas que têm sido empreendidas para que as marcas da escravização e da exploração dos/as negros/as, que se fazem presentes com o racismo sejam combatidas, pois são um atraso na construção de um país justo.

Assumir esta postura significa também assumir um desafio, pois:

Trabalhar em propostas educativas de interesse dos afro-brasileiros implica combater os próprios preconceitos, os gestos de discriminação tão fortemente enraizados na personalidade dos brasileiros, desejo sincero de superar sua ignorância relativamente à história e à cultura deste povo (SILVA, 1995, p. 5).

E foi nesse sentido que se deu a realização de uma intervenção com Africanidades, pois significou ao mesmo tempo fortalecer nosso posicionamento comprometido com o combate ao racismo, ao preconceito e às discriminações; como também significou assumir-se como parte de uma sociedade racista e que por muito tempo nos tem negado conhecer a história e cultura afro-brasileira e africana. Reconhecendo nossas fragilidades, consideramos que estamos assumindo com humildade nossa ignorância, o que não nos coloca numa posição de imobilismo, mas sim nos move na busca por aquilo que até então nos foi negado.

Por meio da intervenção com Africanidades que foi realizada na parceria dos Projetos Vivências em Atividades Diversificadas de Lazer e Mais que Futebol (VADL-MQF) no ano de 2016, nos propusemos a trabalhar com as influências e a presença das culturas africanas e afro-brasileiras no dia-a-dia dos/as brasileiros/as, de maneira a reconhecer e valorizar o papel e a influência do povo negro na construção da cultura, sociedade e história do Brasil.

Um trabalho de intervenção voltado para a educação das relações étnico-raciais constitui-se como forma de combate ao racismo e discriminações através de momentos de diálogos e propostas de atividades que tem por objetivo fortalecer e valorizar a cultura africana e afro-brasileira bem como colocar em destaque a participação de negros/as na construção do Brasil. Inserir uma iniciativa de intervenção em projeto de lazer, o VADL- MQF, foi a forma que encontramos para explorar a amplitude dos espaços educativos, sendo também o lazer um deles, pois é na convivência uns com os outros que nos fazemos e refazemos no processo de nos tornarmos pessoas.

O trabalho com Africanidades “diz respeito ao direito dos/as descendentes de africanos/as, assim como de todos os cidadãos/ãs brasileiros/as, à valorização de sua identidade étnico-histórico-cultural, de sua identidade de classe, de gênero, de faixa etária, de escolha sexual” (SILVA, 2005, p. 156-157). Ao partilhar experiências que valorizem as diferentes culturas, etnias e modos de ser que compõem nosso país, podemos possibilitar que novas formas de ser e estar no mundo sejam construídas, reconstruídas e repensadas. Sendo assim, é possível criar um ambiente em que as diferentes visões de mundo sejam socializadas para que novas impressões de um grupo sejam construídas no diálogo entre diferentes.

O trabalho a partir de uma intervenção com Africanidades exige o comprometimento por parte dos/as educadores/as envolvidos/as, pois ao reconhecer diferentes raízes na história e cultura de nosso país, é preciso romper com toda uma ideologia racista e excludente que permeia a educação e as relações em que estamos inseridos cotidianamente. É preciso uma mudança de postura que exige um esforço de questionar nossas próprias atitudes e preconceitos que se encontram contaminados por um padrão eurocêntrico de ser e estar no mundo.

De acordo com Silva (2005), para que este trabalho se efetive de maneira satisfatória é preciso que alguns elementos estejam presentes nesta prática, pautando-se numa “pedagogia anti-racista”. São eles: o diálogo, a reconstrução do discurso e da ação pedagógicos e o estudo da recriação das diferentes raízes da cultura brasileira (p. 160). Sendo assim, o trabalho com Africanidades representa para os/as educadores/as envolvidos/as a oportunidade de desconstruir atitudes, posturas e crenças preconceituosas, buscando refletir sobre sua ação no mundo para então reconstruir novas formas de atuação junto aos educandos/as. Podemos chamar de um educar-se nas e para as relações étnico-raciais.

No entanto, destacamos que é preciso reconhecer a complexidade envolvida neste trabalho, para que não se incorra no erro de apresentar as raízes de nossas culturas de maneira simplista e esvaziada de seus sentidos e valores. Entendemos que:

As Africanidades Brasileiras vêm sendo elaboradas há quase cinco séculos, na medida em que os africanos escravizados e seus descendentes, ao participar da construção da nação brasileira, vão deixando nos outros grupos étnicos com que convivem suas influências e, ao mesmo tempo, recebem e incorporam as destes. Portanto, estudar as Africanidades Brasileiras significa tomar conhecimento, observar, analisar um jeito peculiar de ver a vida, o mundo, o trabalho, de conviver e de lutar pela dignidade própria, bem como pela de todos descendentes de africanos, mais ainda de todos que a sociedade marginaliza. Significa também conhecer e compreender os trabalhos e criatividade dos africanos e de seus descendentes no Brasil, e de situar tais produções na construção da nação brasileira (SILVA, 2005, p. 156).

Não se trata de apresentar elementos das culturas africanas de maneira descontextualizada, mas sim trazer suficiente embasamento histórico para que esses elementos sejam entendidos na sua relação com outras culturas que também fizeram parte da construção do Brasil, bem como em sua relação com as características políticas e sociais envolvidas em sua constituição. Portanto, não se trata de colocar a cultura eurocêntrica de um lado, e as culturas africanas e afro-brasileiras de outro, mas sim de compreender a relação entre estas e entre estas e outras, como a indígena e asiática, por exemplo, num diálogo intercultural (SANTOS; MENESES, 2009). Isto implica que seja construído um ambiente de respeito a diferentes culturas que compõem nosso país, pois:

Todo esse processo de aquisição de conhecimentos e de formação de atitude respeitosa de reconhecimento da participação e contribuição dos afro- brasileiros na sociedade brasileira requer que preconceitos e discriminações contra este grupo sejam abolidos, que sentimentos de superioridade e de inferioridade sejam superados, que novas formas de pessoas negras e não negras se relacionarem sejam estabelecidas (SILVA, 2005, p. 158).

Estabelecer novas formas de relacionamento entre as pessoas em nossa sociedade têm se mostrado um desafio, uma vez que, devido ao mito da democracia racial, acredita-se que as diferentes culturas e etnias convivem harmoniosamente em igualdade em nosso país, crença que dificulta que sejam assumidos os tratamentos desiguais entre as pessoas e a hierarquização de culturas. O trabalho com as culturas africanas e afro-brasileira passa a ser considerado desnecessário, pois as culturas são também colocadas como igualmente valorizadas, mas notadamente há conflitos e hierarquização entre as culturas, havendo, portanto, sobreposição de umas sobre outras.

O ocultamento da diversidade no Brasil vem reproduzindo, tem cultivado, entre índios, negros, empobrecidos, o sentimento de não pertencer à sociedade. Visão distorcida das relações étnico-raciais vem fomentando a idéia, de que vivemos harmoniosamente integrados, numa sociedade que não vê as diferenças. Considera-se democrático ignorar o outro na sua diferença. É por meio da negação das diferenças que o ensino, o conhecimento e o reconhecimento das raízes africanas de nosso país têm sido negligenciados, permanecendo os valores eurocêntricos como superiores, valorizados e aceitáveis, dificultando que brasileiros/as de outros pertencimentos e raízes étnicas consigam se identificar e se reconhecer na cultura e história de seu próprio país. Esta situação tem se agravado cada vez mais, pois:

Somos oriundos de uma formação que atribui, aos brancos, aos europeus, a cultura que dizem clássica, pois permanece no tempo, desconhecendo-se culturas dos povos não europeus que também têm permanecido no tempo. Ignoramos, por exemplo, que os egípcios, povo também negro, ou melhor, os conhecimentos que eles produziram, estão no nascedouro da filosofia e das ciências o que se costuma atribuir aos gregos e a outros europeus. Somos levados a confundir cultura com ilustração, civilização com o hemisfério norte, ao lado de outros tantos equívocos (SILVA, 2007, p. 500).

São estes e outros equívocos e injustiças que têm contribuído para que uma educação racista encontre forças para permanecer em pé. Por isso, o trabalho a partir de uma intervenção com Africanidades se mostra como uma forma de reagir a esses equívocos e práticas que têm se perpetuado com crenças em verdades eurocentradas que foram construídas com o preço da exploração e marginalização de outrem. Consideramos que as raízes das africanidades fazem parte do mundo africano, que é entendido como sendo “composto pelos povos e sociedades que vivem no continente africano e também por aqueles que constituem a diáspora na sua diversidade” (SILVA, 2009, p. 43).

O trabalho com Africanidades implica pensar não somente nos povos e culturas do continente africano, mas é também considerar a trajetória dos/as negros/as da diáspora, e os diferentes destinos e desfechos que por eles/as foram encontrados na vivência de explorados/as e escravizados/as, pois:

As africanidades contêm conhecimentos, significações que começaram a ser elaboradas no continente antes da chegada dos colonizadores. Foram dolorosamente acrescidas durante a travessia do Atlântico forçada aos escravizados, bem como no constrangimento desses seres humanos, reduzidos à condição de objetos, de semoventes. Foram e têm sido relidas na transferência de pensamentos e tecnologias africanas para territórios não

africanos, refeitas nas lutas por reconhecimento e reparações, no combate ao racismo, na resistência contra o embranquecimento de mentes e corpos negros (SILVA, 2009, p. 43).

As africanidades brasileiras são fruto de heranças africanas que resistem, e que também são recriadas a partir das condições e situações vividas pelos/as negros/as da diáspora. Por isso falar em africanidades brasileiras é dar ênfase aos contextos histórico e cultural de que os/as negros/as foram também atores, construtores e produtores, semeando os referenciais do pensamento, da filosofia e da cultura africana em nossas terras, em nossos habitantes.

A partir da valorização e reconhecimento de nossas raízes africanas podemos avançar na construção de uma sociedade justa, pois de acordo com a autora etíope Eleni Tedla (1995), a filosofia africana abrange todos os aspectos da vida, sendo toda e qualquer vida interligada e interdependente, pois só pode ser praticada e afirmada em comunidade. Segundo a autora, é através da comunidade que o indivíduo obtém o entendimento de sua própria identidade, tomando consciência de seu ser a partir de outras pessoas, de sua responsabilidade para com elas.

Destacamos uma expressão da filosofia africana: “Ubuntu”, que segundo o teólogo sul-africano Desmond Tutu (2012) significa que:

“Uma pessoa é uma pessoa por intermédio de outras pessoas”. Precisamos de outros seres humanos para aprendermos a ser humanos, pois ninguém vem ao mundo totalmente formado. Não saberíamos como falar, andar, pensar ou comer como seres humanos a não ser se aprendêssemos como fazer essas coisas com outros seres humanos. Para nós, o ser humano solitário é quase uma contradição (TUTU, 2012, p. 41).

A partir desta perspectiva, só podemos nos formar e nos reconhecer como seres humanos no convívio e aprendizado com outras pessoas, não sendo uma relação de submissão, mas de comunidade, pois no sentido do ubuntu as pessoas são mais importantes do que os bens materiais. Segundo Tutu (2012), “Ubuntu fala de atributos espirituais como generosidade, hospitalidade, compaixão, dedicação, partilha. Você pode ser rico em posses materiais, mas ainda assim não ter ubuntu” (p. 42). Como se vê, são valores opostos ao das sociedades ocidentais, em que se preconizam os direitos individuais, a negação e inferiorização de outrem por sua origem, cultura, trajetória e posição social.

Os autores moçambicanos Castiano e Ngoenha (2013) trazem à tona a compreensão de africanidade como “[...] uma atitude de solidariedades para com os que nas

épocas passadas da História foram submetidos à condição de escravos e oprimidos e, como que numa certa continuidade, hoje são submetidos à condição de existência neocolonial no continente africano” (p.282), afirmam que:

No entanto, a africanidade não pode basear-se somente na lamentação pelo facto de terem sido oprimidos no passado e de viverem na periferia do presente. É necessário que ao longo do discurso de desconstrução do colonialismo e do neocolonialismo cresça um discurso de construção do que queremos ser. A nossa condição de existência não pode continuar a ter como epicentro as diversas formas de neocolonização. O nosso pensar sobre nós próprios não pode ter como referência só o Ocidente. Desta forma, embora refinando constantemente a nossa arte de criticar o Ocidente, não sairemos da condição periférica (CASTIANO; NGOENHA, 2013, p.282).

De acordo com o filósofo moçambicano Castiano (2015), é comum no contexto africano quando se fala em cultura, esta ser associada a tradições, hábitos e costumes que devem ser adaptados ao desenvolvimento ou superados em busca da modernização das sociedades africanas, muito embora as tecnologias sejam utilizadas pelas comunidades africanas para manter o direito de dizerem a sua palavra a partir de seu ponto de vista, modificando e modernizando em benefício da própria comunidade. Já no contexto euro- ocidental, o conceito de cultura está a serviço da civilização, da ciência, do desenvolvimento. (p. 57). Por isso, concordamos com o autor quando ele destaca que o conceito de cultura deve estar baseado na intersubjetivação, transcendendo as barreiras tradicionais de cultura. Para Castiano (2015):

[...] as “raízes” culturais só servem como tal, somente e só na medida em que constituem o veículo das águas profundas para tornarem o tronco da árvore mais frondoso, as folhas mais verdes e as flores poderem dar frutos. Doutra forma não se justifica o “regresso” às raízes da tradição e à cultura, regresso este que é alegado, muitas vezes, por posições tradicionalistas de africanos pouco atentas na armadilha em que se metem. O conceito de cultura deve, assim, ser dês-tradicionalizado [...] (CASTIANO, 2015, p. 60).

Concordamos com o autor citado também no que diz respeito aos valores da filosofia africana, ao significado de uma humanização ubuntuísta, em que um ser humano só pode ser assim reconhecido se trata aos outros como seres humanos, ou seja, qualquer que seja o objetivo ou propósito que se tem, este não pode passar por cima da desconsideração dos seres humanos com quem estamos ao mundo (CASTIANO, 2015, p. 194).

Esses referenciais da filosofia africana podem nos auxiliar a embasar os princípios que nos levam a realizar um trabalho com ênfase nas Africanidades, pois ao chamar

atenção para a filosofia, cultura e história africana e afro-brasileira, estamos buscando reconhecer nos/as explorados/as e marginalizados/a o nosso semelhante, que produz cultura e tem direito a ver suas raízes e referências valorizadas e colocadas em destaque. Entretanto, é importante frisar que não se trata de trocar um discurso eurocêntrico por um discurso afrocentrado, mas sim de reconhecer como se implicam mutuamente as raízes africanas, europeias, indígenas e asiáticas, presentes no contexto de nosso país sem estabelecer hierarquizações, pois:

A ideia não é inaugurar uma outra hierarquia racial. Não se trata de trocar um discurso branco por um discurso negro. Seria uma grande bobagem e não nos levaria a nada diferente do que já está posto. A ideia é que possamos nos formar pessoas solidárias, coletivas e com autonomia. Temos que compreender que a minha etnia é a sua etnia, quando nos entendemos como povo brasileiro. Nós não somos apenas brancos, ou apenas negros, ou somente índios. Somos negros, brancos e índios, ou índios, brancos e negros... (MACHADO, 2008, p. 8).

Portanto, não se trata de estabelecer outra ordem na hierarquização de culturas, mas possibilitar espaços e práticas para o questionamento dessa hierarquia, para que as diferentes etnias que compõem nosso país sintam-se representadas, respeitadas e valorizadas em suas diferenças.

O que queremos com um trabalho voltado para a educação das relações étnico- raciais é romper com o silêncio dos tantos anos de negação e marginalização a que foram submetidas às culturas e história dos/as negros/as africanos/as e afro-brasileiros/as. O que se propõe é que sejam inseridas outras referências, que contemplem diferentes formas de ser e estar no mundo, o que segundo Silva (2010) pode ser chamado de “enegrecer” a educação, sendo um processo que afeta não somente os/as negros/as, pois:

É importante salientar que o enegrecer da educação para os negros significa sentirem-se apoiados, com o reconhecimento, pela sociedade, da história e cultura dos africanos e seus descendentes, a construir livremente seu pertencimento étnico-racial, a exercer com dignidade sua cidadania. Para os não negros, significa se tornarem capazes de deslocar o olhar de seu próprio mundo e, dessa forma, conseguir compreender distintos modos de pensar, de ser, de viver (SILVA, 2010, p. 41-42).

Ao questionar os padrões estabelecidos, a forma eurocêntrica de ver e interpretar o mundo, estamos aprofundando o conhecimento sobre nossa cultura e história a partir de outras formas de ver, mais especificamente dando enfoque aos postos à margem,

buscando o ponto de vista daqueles que até então foram colocados em situação de invisibilidade e submissão. Para além da denúncia da negação dessas culturas em nossas práticas e instituições educativas, entendemos como essencial a prática do anúncio, propondo outras formas de ver o mundo, observando relações entre as diferentes culturas e etnias que compõem o povo brasileiro.

Cabe destacar o entendimento da sociedade a partir de uma perspectiva intercultural. Preocupa-nos a adoção de abordagens que se restringem a abordar as culturas apenas no nível do elogio às diferenças, esquecendo-se de enfatizar o diálogo, a relação entre as culturas. Para nós:

A cultura, seja na educação ou nas ciências sociais, é mais do que um conceito acadêmico. Ela diz respeito às vivências concretas dos sujeitos, à variabilidade de formas de conceber o mundo, às particularidades e semelhanças construídas pelos seres humanos ao longo do processo histórico e social (GOMES, 2003, p. 75).

A cultura não pode ser pensada separadamente da sociedade e do contexto em