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Identidade: Revisões dos Discursos e das Práticas Sociais

Desafios Identitários: Passado e Presente

2. Identidade: Revisões dos Discursos e das Práticas Sociais

Apesar de as tensões a que nos referimos no ponto anterior não estarem ainda resolvidas, a verdade é que, como refere Santos (1996: 126),

EDUCADORAS D E INFÂNCIA: Identidades Profissionais em Re/construção

Tudo parece ter começado a mudar nos últimos anos e as revisões profundas por que estão apossar os

discursos e as práticas identitárias deixam no ar a dúvida sobre se a concepção hegemónica da modernidade se equivocou na identificação das tendências dos processos sociais, ou se tais tendências se inverteram totalmente em tempos recentes, ou ainda sobre se está perante uma inversão de tendências ou antes perante cruzamentos múltiplos de tendências opostas sem que seja possível identificar os vectores mais importantes".

Assim sendo, estamos, hoje, numa fase de revisão radical do paradigma epistemológico em que o que presenciamos pode não ser novo, mas requer, certamente, um novo olhar (Ibidem).

Neste contexto, Silva (1999) acrescenta que a actualidade, por muitos considerada como Pós-Modernidade4, é o tempo onde se rasgam novos horizontes, onde identidades reprimidas se revelam e se afirmam, pondo claramente em causa a identidade unificada e centrada do indivíduo moderno.

D e facto, ao contrário do que acontecia na modernidade, o novo paradigma confere um outro valor ao sujeito, agora tido como actor e autor, não só da sua própria vida como de toda a vida social (Weber, cit. Hargreaves, 1998).

Procurando relacionar-se com aquilo que faz de uma forma autónoma, o sujeito pretende poder escolher aquilo que vai fazer ou poder fazer aquilo que deseja. Assim, como diria Schlanger (1998), o investimento que cada um põe na actividade da sua conveniência pessoal coincide com a sua realização pessoal, que passa a ser o objectivo existencial, ético e espiritual da existência humana.

Apesar de tudo, na linha do que afirma Giddens (1997), parece-nos poder afirmar que todas estas práticas, esta complexidade de oposições de valores e de ideologias contraditórias, acabaram por moldar a nossa forma de estar e forjar reflexivamente uma nova identidade.

2.1. Revisões Identitárias no Plano Educacional

Os inúmeros desafios da actualidade, frutos das pressões sociais, económicas e políticas decorrentes de uma demografia em mutação, restruturações económicas e

4 O teimo Pós-Moémidade "foi popularizado com a obra de F. Lyotard, La Condition Postmoderne, obra publicada em 1979, e assentou

arraiais no vocabulário contemporâneo através de trabalhos que, na sua esteira, surgiram , de J. Habermas, R. Rorty, G.Vattimo" (Magalhães,1998).

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alterações tecnológicas, políticas e institucionais, são indutoras de mudanças de vária ordem, com particular relevo para o plano educacional.

Nos últimos tempos, o sistema de ensino e os seus agentes têm sido alvo de múltiplos confrontos e desafios, no que respeita à necessidade de se requalificarem e de se adaptarem a tão variadas mudanças.

As inovações a que o sistema de ensino tem estado sujeito - em função das percepções que até agora vigoraram - leva a que surjam crises de identidade pessoal e profissional. Deste modo, a relação com a profissão sente-se como uma rekção ameaçada, provocando um certo mal estar e, originando movimentos, que se traduzem em procuras de requalificação de papéis e de funções, procurando procedimentos de maior ou menor continuidade na busca de parcerias com colegas,em trabalhos de interacção com os pais e a comunidade. Tentam, deste modo, responder aos desafios criados, enquanto buscam estratégias que lhes permitam perpetuar o status que até então possuíam.

Apesar da tentativa de normalização de estratégias políticas e administrativas que têm procurado desencadear a mudança educativa parecem ignorar, compreender mal e desvalorizar os próprios desejos de mudança dos professores. Estas incompatibilidades entre os desejos e oportunidades, têm contribuído para que a crise pessoal e profissional, de que temos vindo a falar, teime em instakr-se.

No seio destes desafios, estes profissionais entendem que a sua profissão deixou de ser uma condição herdada. O estável assumiu, assim, a forma de desafio, de luta, onde se realçam as diferenças dos indivíduos e das realidades.

Analisaremos, por isso, a busca do sentido identitário que os educadores têm vindo a desenvolver, face a todas as mudanças políticas, culturais e sociais ocorridas na mudança de paradigmas. A sociedade deixou de ter unidade e, por conseguinte, nenhuma personagem, nenhuma categoria social, nenhum discurso detém o monopólio de sentido. Paralelamente o sujeito individual vai acabando por se decompor, até se reduzir a uma sucessão de apresentações de si próprio, e já não por orientações de acção e projectos, o que reduz o Eu-mesmo (self) a uma enorme fragilidade (Dubar, 1998).

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2.2. Educador de Infância: Tempos de Revisões das Identidades

Profissionais

Dada a problemática que desde o início tem orientado esta dissertação passaremos já a falar essencialmente nos actores sociais que no contexto educativo continuam a ser referenciados como educadores de infância, apesar de em épocas diferentes terem tido outras denominações

A profissão de educador de infância tem-se pautado por um desenvolvimento lento e recheado de contradições, tem sido fortemente marcado pelo entrelaçamento de tempos diferentes: o tempo longo das estruturas históricas; o tempo da conjuntura, o tempo curto do acontecimento (Braudel, 1977, cit. Silva, 1994).

Por forma a percebermos a busca de sentido identitário, assentaremos a nossa procura nos pressupostos de Berger e Luckman, quando dizem que:

as transformações de identidade dependem da articulação durável de um "aparelho de legitimação"e de uma "reinterpretação da biografia passada ( cit Dubar, 1995).

Este aparelho de legitimação é um aparelho de conversação que permite a transformação do mundo vivido pela transformação da linguagem e um laboratório de transformação que permite a conservação de uma parte da identidade antiga ao longo da identificação a outros significativos como legítimos (Lopes e Ribeiro, 2000: 47).

3. A transtemporalidade da Educação de Infância Enquanto