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Sindicatos Enquanto Estimuladores da Construção da Identidade Profissional das Educadoras

5 2 Formação Contínua: um Referente Identitário

7. Sindicalismo e Associativismo: Contributos para uma Construção Identitária

7.2. Sindicatos Enquanto Estimuladores da Construção da Identidade Profissional das Educadoras

Os sindicatos, além de poderem ser grupos de pressão que concebem projectos de mudança, criando condições propícias e orientando os processos de controlo social (Laranjo et ai., s/d: 18), dedicam-se também a actividades de formação quer dinamizando planos de formação, quer por via indirecta, através da publicação de jornais e boletins informativos.

De acordo com Serralheiro (1996), os sindicatos existentes - FENPROF e SPZN - representados nas várias zonas do país (Norte, Centro e Sul e Ilhas) sofrem de fraca adesão por parte dos educadores, ou porque não têm servido os seus propósitos ou porque este grupo de profissionais não possui grande espírito de união.

Exceptuando a educadora Rute, todas as entrevistadas referem o sindicato como uma mais valia para a sua construção identitária. Talvez por sempre ter estado numa posição de Dirigente (proprietária), não tem tido necessidade de se ligar a um grupo com finalidades reivindicativas.

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Apesar de ser sindicalizada, Ana manifesta uma fraca adesão, quando diz: (...), não

quero envokência... nunca me fascinaram muito, pago as cotas... vou a algumas reuniões, mas sem muita

envolvência. (Ana, Anexo II).

Tais factos podem eventualmente dever-se à denominação utilizada, ou seja, Sindicato dos Professores e não dos educadores. Ainda que a designação atribuída possa não parecer um dado de análise significativo, o que é certo é que este grupo poder-se-á sentir excluído ou segregado, pois chamar as coisas pelo nome''1 poderia ser u m primeiro passo na conquista de

mais aliados. Por outro lado, também podemos estar perante u m grupo sem forte expressão e sem uma identidade coesa.

N o entanto, Luísa sublinha a importância dos sindicatos quando diz:

(...) Eu acho que os sindicatos têm um papel reivindicativo ao nível das horas de trabalho... Vejo muito pouco os sindicatos a reivindicarem... Têm de facto, qualquer uma das federações, centros de formação..., têm investido... bem ou mal não interessa..., têm fato caminhos mais transversais.. (Luísa,

Anexo II).

Esta educadora pensa, contudo, que tais instituições deveriam ser mais reivindicativas quanto às condições de trabalho e à formação: (...) vejo muito pouco os sindicatos

a reivindicarem condições de trabalho para os educadores, no que se refere, por exemplo, à formação (ibidem).

Esta educadora reconhece que os sindicatos p o d e m ser úteis, quer ao nível de reivindicação laboral quer ao nível da formação, embora não os considere determinantes n o seu processo identitário, já que não parece ter qualquer tipo de constrangimentos a este nível.

Segundo Dubar, o sindicalismo pode constituir, p o r exemplo,

(...) um aparelho ae socialização secundária,permitindo a transformação das identidades "dominadas" em identidades "militantes", que resistem à dominação e que contribuem para a produção de novas regras do jogo (1997: 100).

Nesta perspectiva, podemos considerar que a educadora Alcina possui uma identidade dominada, a julgar pelos seus relatos de desânimo face às condicionantes institucionais (trabalha numa IPSS; com péssimas condições de trabalho, ausência de autonomia, salário não enquadrado na tabela, etc.). Experimenta assim, um intenso sentimento de frustração, que poderá, eventualmente, encontrar nos sindicatos âncoras para a

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construção da sua identidade. Talvez por este facto se tenha tornado participante activa, procurando soluções para os seus constrangimentos: (...) falo e exponho as minhas dúvidas... pergunto se há novidades, se alguma coisa mudou... (Alcina, Anexo II).

Alcina lamenta, no entanto, o facto de a participação das colegas ser quase nula, expressando-se com desilusão: (...) aqui há dias fui a um plenário e, lamentavelmente, só estavam lá

quatro educadoras... Perguntei às minhas colegas se queriam ir... mas, como são casadas..., têm sempre que fa^er... {ibidem).

Esta questão pode não ser muito significativa, mas o facto do grupo profissional de educadores ser fundamentalmente constituído por elementos do sexo feminino pode limitar o processo de participação.

Nestas organizações sindicais, as educadoras poderão encontrar um espaço de expressão, tal como nos conta Alcina: (...) até fui eleita delegada sindical... e lá estou eu a lutar pelos nossos direitos... (Ibidem).

Os sindicatos permitem, com efeito, criar um espírito corporativo de defesa dos próprios interesses bem como dos interesses do seu grupo profissional. Como lembra Delors (1996), o associativismo pode continuar uma forma de tentar acabar com os sentimentos de isolamento e frustração dos educadores, além de poder dar lugar à discussão de ideias, para que todos contribuam para o sucesso das reformas indispensáveis.

Seguindo esta lógica, num discurso cheio de força e activismo, Helena diz-nos:

(...) temos que reivindicar por melhores coisas... O ano passado, fui a duas reuniões e a uma manifestação a Lisboa, por causa dos créditos dos educadores contratados e da escola pública... Acho que vale a pena lutar por essas causa (Helena, Anexo II).

Apesar da militância manifestada, esta educadora admite que, neste momento, não tem muito tempo, porque vai iniciar o Complemento de Formação Cientifica e Pedagógica em Educação de Infância. No entanto, compromete-se a reiniciar a sua actividade sindical: (...) quando tiver tempo vou-me tornar mais activa, porque acho, que o movimento sindical é muito importante, dá-nos imenso apoio...(lbidem).

Encontramos aqui uma perspectiva muito próxima da entrevistada Alcina, já que as duas encontram nos sindicatos um meio de luta, um meio de reivindicação de uma identidade mais satisfatória.

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A profissionalização da actividade das mulheres é um dos grandes fenómenos sociais desde a Segunda Guerra Mundial. As mulheres foram utilizadas em massa e como assalariadas nos serviços do Estado social, no sentido alargado do termo. Desde ai a sua integração no mundo do trabalho, tem vindo a ser progressiva, embora ainda penetrem mal nos lugares de poder politico e económico. A

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De facto, um processo educativo não se pode fazer contra, mas com as instituições, com os sindicatos, com as escolas, com o poder local, com as associações. E desta cooperação que podem nascer novas esperanças para o sistema educativo e, mais particularmente, para o universo da educação de infância e seus profissionais. A este

propósito, Vilhena (1993:58) diz o seguinte: (...) temos que estar em várias guerras, com o corpo, com a inteligência e o afecto, como armas unidas na conflitualidade numa cooperação fraterna..

Dada a existência de duas instituições sindicais, em Portugal, Jardim, considera que

(...) as pessoas têm de se filiar ou de se associar onde sentem que têm mais a ver com os seus próprios valores, com o seu projecto profissional, com aqueles valores que estão subjacentes ao seu projecto profissional, e eu penso que o nosso projecto profissional tem imenso a ver com o nosso projecto existencial, cada ve\ penso mais que realmente o desenvolvimento pessoal, nos educadores, não anda divorciado do desenvolvimento profissional'(1996: 2)4 9.

Poderemos, com efeito, inferir que a construção da identidade profissional dos educadores de infância passa pela afirmação da sua utilidade pública e pelo reconhecimento social dessa utilidade, e que os sindicatos podem ter aí um papel promotor de tão merecida visibilidade e reconhecimento. Tais instituições constituem, pois, uma estratégia identitária a que os educadores podem e devem recorrer com vista ao seu fortalecimento profissional. Consequentemente, os sindicatos deverão tentar chegar mais perto dos educadores, esclarecendo a sua acção, propondo os seus projectos reivindicativos de formação e de lazer, no sentido de conseguirem uma maior aproximação com e entre este grupo profissional, na medida em que, tendo em conta as clivagens50 de índole profissional, urge uma intervenção mais sistematizada e coesa.

história dos acontecimentos e a lenta diluição da desigualdade de sexos poderão ainda afectar a sua fraca participação em espaços públicos, como defende Schnapper (1997).

45 Refira-se que foi Maria José Jardim, Presidente duAPEI (Associação Portuguesa de Educadores de Infância), em 1996.

50 Quando se fala em clivagens profissionais, fala-se fundamentalmente nás diferenças existentes entre as educadoras que trabalham no

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