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2.2 AVALIAÇÃO DO ECOSSISTEMA

2.2.1 Identificação e Mensuração das Externalidades Ambientais

Para identificar e mensurar as externalidades ambientais, é necessário reconhecer o objeto de investigação. O diagnóstico ambiental pode ser aplicado para conhecer e examinar a situação ambiental. (SILVA; OLIVEIRA, 2011). Elaborar um diagnóstico ambiental auxilia a interpretar a situação ambiental a partir da análise das interações e da dinâmica dos componentes ambientais, sejam relacionados aos elementos físicos e biológicos, sejam vinculados a fatores socioculturais. (SILVA; OLIVEIRA, 2011).

Após a definição do objeto de investigação, cabe definir o objetivo e o escopo de mensuração das externalidades ambientais. Nesse sentido, as ferramentas destinadas à mensuração dos impactos ambientais contemplam o escopo das fases iniciais de aplicação.

O escopo considera a situação pela qual se deseja medir e valorar o capital natural, os objetivos, a materialidade dos impactos e dependências, o público alvo da avaliação, (NCC, 2016b), a(s) etapa(s) da cadeia de valor, a(s) área(s) geográfica(s), os serviços ecossistêmicos de interesse e o horizonte temporal.

(GVces, 2014b). O escopo e o objetivo da mensuração, apresentados de forma clara e detalhada, auxiliam a avaliar os dados, a analisar os resultados, a rastrear as informações e a replicar o processo de mensuração.

Quanto às ferramentas de mensuração, a avaliação do ciclo de vida prevê a descrição do sistema do produto em termos de fronteiras e de unidade funcional. Assim, na definição do escopo, são detalhados, entre outros itens, o sistema do produto, as funções do sistema de produto, a unidade funcional, os procedimentos de alocação, a metodologia de avaliação, as fronteiras, os pressupostos e as limitações. (INTERNATIONAL ORGANISATION FOR STANDARDIZATION (ISO), 2006).

A partir da definição do escopo, cabe verificar a ferramenta que colabora para identificar e quantificar externalidades ambientais. Como possibilidade de ferramentas, tem-se a Análise de Fluxo de Entradas e Saídas de Material, a Avaliação do Ciclo de Vida (ACV), o Inventário do Ciclo de Vida (ICV), entre outras. No Brasil, a ACV foi internalizada pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) por meio do Subcomitê de Avaliação do Ciclo de Vida, da ISO 14044:2009, Gestão Ambiental: Avaliação do Ciclo de Vida e da ISO 14040:2009: Gestão Ambiental: Avaliação do Ciclo de Vida - Princípios e Estrutura.

2.2.1.1 Avaliação do Ciclo de Vida (AVC)

Consolidada como ferramenta e vinculada às Normas de Gestão Ambiental, a ACV é conhecida internacionalmente pela sigla LCA, Life Cycle Assessment. Trata- se de um procedimento sistemático para mensurar e avaliar os impactos que um material ou produto gera sobre a saúde humana, o meio ambiente e as reservas de

recursos naturais ao longo de todo seu ciclo de vida. (ISO, 2009)

.

O foco da ACV recai sobre a avaliação dos impactos gerados e dos recursos utilizados por um produto (bem ou serviço) ao longo do seu ciclo de vida. Isso contempla a aquisição ou extração de materiais virgens oriundos de recursos naturais, que servirão como matérias-prima para a elaboração do produto, e o gerenciamento de seus resíduos e sua disposição final. A ACV é desenvolvida em quatro fases distintas: Definição de Objetivo e Escopo, Análise de Inventário do Ciclo de Vida (ICV), Avaliação de Impacto do Ciclo de Vida (AICV) e Interpretação. (ISO,

2006). A Figura 4 apresenta a relação entre as fases, bem como algumas aplicações diretas da ACV.

Figura 4 - Etapas e aplicações da ACV

Fonte: ISO (2009).

Após a definição do objetivo e do escopo, a segunda fase é o Inventário do Ciclo de Vida, que é o conjunto de dados quantificados de entradas e saídas em um estudo de ACV. (SILVA; OLIVEIRA, 2011). O inventário prevê a coleta de dados e os procedimentos de cálculo para quantificar as entradas e saídas relevantes de um sistema produtivo. (ISO, 2009). A condução de uma análise de inventário é um processo interativo. (ISO, 2009)

À medida que os dados são coletados e que o conhecimento do sistema é ampliado, novos requisitos ou limitações de dados podem ser identificados, requerendo mudanças nos procedimentos de coleta a fim de que os objetivos do estudo possam ser alcançados. Às vezes, podem ser identificadas condições que exijam revisões do objetivo ou do escopo do estudo. (ISO, 2009).

A fase de avaliação de impacto da ACV tem como objetivo estudar a significância dos impactos ambientais potenciais, utilizando os resultados do ICV. Em geral, esse processo envolve associar dados de inventário a categorias de impacto específicas e a indicadores de categoria, tentando, dessa forma, entender esses impactos.

A fase de interpretação do ciclo de vida consiste em analisar criticamente e revisar o escopo da ACV, assim como a natureza e a qualidade dos dados coletados, a fim de que estes sejam consistentes com o objetivo definido. Nessa fase, apresentam-se conclusões, limitações e recomendações. (ISO, 2009).

Os estudos de avaliação do ciclo de vida nem sempre atingem seus objetivos com a aplicação exclusiva da técnica de ACV. Em função disso, pode-se lançar mão de técnicas complementares, as quais robustecem a avaliação, ampliando o entendimento do sistema em análise, entre as técnicas apresenta-se o Inventário de Gases de Efeito Estufa (GEE).

2.2.1.2 Inventário de Gases de Efeito Estufa (GEE)

A ISO 14.064:2006 traz uma série de diretrizes técnicas, princípios e requisitos para desenvolver, relatar e gerenciar inventários de Gases de Efeito Estufa (GEE). (ABNT, 2007; ABNT; SEBRAE, 2015). O inventário de emissões de GEE é um relatório de todas as fontes e sumidouros de emissões de GEE pertencentes a um sistema produtivo e influenciados por sua atividade e pelas emissões e remoções de GEE quantificadas. Segundo o Protocolo de Quioto, deve ser monitorada a concentração dos seguintes gases de efeito estufa: dióxido de

carbono (CO2), metano (CH4), óxido nitroso (N2O), hexafluorsulfúrico (SF6),

hidrofluorocarbonos (HFC), perfluorocarbonos (PFC) e o trifluoreto de nitrogênio

(NF3). (ABNT, 2007; ABNT; SEBRAE, 2015).

Nesse contexto, o Programa Brasileiro GHG Protocol, iniciado em 2008, busca promover a cultura corporativa de mensuração, publicação e gestão voluntária das emissões de GEE no Brasil, proporcionando aos participantes acesso a instrumentos e padrões de qualidade internacional para contabilizar e elaborar inventários de GEE. O Programa também propõe constituir uma plataforma nacional para publicação dos inventários de GEE corporativos e organizacionais (Registro Público de Emissões, 2012). A implementação do Programa é uma iniciativa do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e do World Resources Institute (WRI), em parceria com o Ministério do Meio Ambiente (MMA), o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável

(CEBDS) e o World Business Council for Sustainable Development (WBCSD). (FGV; WRI, 2010).

O programa oferece uma plataforma para cálculo das emissões de GEE e utiliza fatores de emissão do IPCC adaptados às unidades de medida brasileiras. O inventário de emissões é um instrumento utilizado para identificar as emissões de GEE. Assim, o inventário de emissões diretas e indiretas de gases de efeito estufa de uma determinada atividade é um instrumento que permite avaliar as emissões, retratando a preocupação, a responsabilidade e o engajamento no enfrentamento de questões relativas às mudanças ambientais, de modo a transformar o discurso em atitude responsável. (FGV; WRI, 2010).

Para calcular as emissões dos GEE, são identificados os dados das atividades envolvendo GEE. Por conseguinte, é verificada a quantidade de GEE emitida em uma atividade, como por exemplo, o consumo de energia elétrica (kWh), de combustíveis fósseis (litro ou kg) ou de biomassa ou o descarte de materiais e resíduos. (FGV, 2010). Além disso, considera-se o fator de emissão de GEE, que consiste em distinguir a unidade de conversão relacionada a um dado de atividade de uma determinada fonte. A unidade de conversão geralmente expressa a média estimada da taxa de emissão mínima e máxima possíveis (desvio padrão) resultantes de variáveis como temperatura, pressão, densidade e teor de carbono de um dado GEE. (FGV, 2010).

Os fatores de emissão dos GEE são contabilizados por meio de inventários de emissões, segregando-se a emissão para diferentes GEE, o que permite a equiparação entre a relevância de cada gás emitido frente às fontes de emissão identificadas. O cálculo de emissão dos gases é o resultado dessas emissões, com

a conversão final para CO2 equivalente (CO2e), unidade universal de medição de

GEE. (NBR ISO 14064, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT, 2007).

A conversão para CO2 equivalente é resultado da equivalência do potencial

de aquecimento global (PAG) de cada GEE, publicado pelo Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC, 2006). O PAG é uma medida que estima o quanto um determinado tipo de GEE contribui para o aquecimento global em relação à

quantidade necessária de CO2 que causa um impacto similar. Sendo assim, a

conversão da emissão de todos os GEE para Dióxido de Carbono Equivalente (CO2e) é realizada por meio da seguinte fórmula:

Onde:

ECO2e – emissões do gás de efeito estufa expressa em CO2e (kg)

Ef, GEE – emissões de gás de efeito estufa para a fonte f PAGGEE – potencial de aquecimento global para o tipo de GEE

O Inventário de Gases de Efeito Estufa (GEE) colabora com a identificação e mensuração dos impactos ambientais e das externalidades ambientais, bem como com a avaliação do ciclo de vida. O escopo do objeto de avaliação é a base para a escolha da ferramenta, sendo possível aplicar ambas, tanto para complementar informações quanto para comparar as informações geradas. Destaca-se que outras ferramentas e informações complementares de bancos de dados confiáveis podem ser utilizadas nessa etapa.