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5 PROPOSIÇÃO DE MÉTODO PARA A MENSURAÇÃO E A EVIDENCIAÇÃO DO

5.1 PROCESSO CONSTRUTIVO DO MEED

5.1.2 Processo Construtivo do MEED: segunda versão

Com o objetivo de aproximar o método da realidade, foram selecionadas quatro organizações contábeis especializadas em auditoria e em consultoria mundial. A oferta de produtos e de serviços dessas organizações valida a amplitude global, oportunizando identificar estudos de caso de várias partes do mundo. Nesse panorama, a construção da segunda versão do MEED pautou-se no fluxograma de construção do MEED (Figura 37). A Figura 37 retrata a segunda versão do MEED, contemplando sete etapas e as melhorias da primeira versão (em caixa alta).

Figura 37 - Segunda versão do MEED

Fonte: Elaborado pela autora.

As etapas e ferramentas inseridas na segunda versão do MEED, apresentadas em caixa alta, serviram para aperfeiçoar o método. Assim, cada etapa do método foi vinculada às justificativas de alterações, inserções e complementações.

Na identificação do escopo, na etapa 1 desta versão do método, manteve- se o objeto, o objetivo, o limite de mensuração e a análise, elementos destacados também na primeira versão. Contudo, na segunda versão, foram ampliados os aspectos do objeto, de modo a se considerar a avaliação de materialidade e de risco

1. Identificação do

escopo

Especificação do âmbito de mensuração e análise: objeto, limite, AVALIAÇÃO DE MATERIALIDADE E RISCO

Ferramentas

2. Mensuração física

Inventário de entradas e saídas, análise do ciclo de vida, DADOS DO SISTEMA DE INFORMAÇÕES DA

EMPRESA

3. Valoração

monetária

Valoração econômica do uso: método direto, indireto; Valoração do não uso: valor da existência,

compensações; MODELAGEM

Etapas do método

4. Internalização dos

custos externos

Abordagem regulatória: taxa, tributos, subsídios, políticas governamentais, EPR E AÇÕES DE MITIGAÇÃO (INOVAÇÃO), DINÂMICA DE MERCADO, AÇÕES DE PARTES INTERESSADAS

5. Validação de DADOS E

INFORMAÇÕES PROCESSO SISTEMÁTICO E DOCUMENTADO DE VERIFICAÇÃO DOS DADOS (AUDITORIA)

6. IDENTIFICAÇÃO DO VALOR REAL DA ORGANIZAÇÃO

COMPOSIÇÃO DO VALOR ECONÔMICO + AMBIENTAL

7. Evidenciação do

enviromental debt

RELATO INTEGRADO E ENVIRONMENTAL PROFIT AND LOSS STATEMENT (EP&L)

como ferramenta que auxilia a identificar qual(is) é(são) o(s) objeto(s) de mensuração e de evidenciação das externalidades relevante(s) ao negócio.

A avaliação da materialidade sintetizou os processos de identificação, de refinamento e de avaliação de inúmeras potencialidades ambientais e sociais, bem como de problemas que podem afetar a empresa e seus stakeholders. (KPMG, 2015). Igualmente, conduziu à identificação de questões que os stakeholders, a sociedade e o meio ambiente têm como materiais para o negócio e suas perspectivas de futuro, e possibilitou a percepção do impacto do negócio. (KPMG, 2015; PWC, 2013).

Para a apresentação das informações ambientais, buscou-se entender o que é material, por meio da elaboração de uma lista de fatores internos e externos. A análise dos fatores internos objetiva criar valor e identificar riscos emergentes; a análise dos fatores externos considera as necessidades, os interesses e as expectativas das partes interessadas, dentre elas, a sociedade. O processo de determinação da materialidade fundamentou-se em alguns critérios, que são apresentados no Quadro 27:

Quadro 27 - Critérios determinantes da materialidade

Critério Descrição

Relevância questões que impactaram o modelo de negócios Significado probabilidade de ocorrência de impactos ambientais

Priorização necessidade de as pessoas responsáveis pela governança definirem o que deve ser priorizado

Magnitude intensidade do impacto no curto, médio e longo prazo Fonte: Adaptado de EY (2014) e KPMG (2014a).

Ao lado da determinação da materialidade está a avaliação da materialidade, que requer um processo de condução para identificar os elementos vislumbrados como materiais. O processo de avaliação da materialidade, segundo KPMG (2014a), apresenta sete fases. As fases de 1 a 4 suportam elementos esperados e básicos, considerados requisitos para um processo de materialidade robusto. As fases de 5 a 7 são etapas avançadas de avaliação de materialidade. São direcionadas a organizações com estratégia de sustentabilidade estabelecida. A Figura 38 apresenta as fases do processo de avaliação da materialidade:

Figura 38 - Fases do processo de avaliação da materialidade

Fonte: Adaptado de KPMG (2014a).

Destaca-se que não existe definição ou abordagem universalmente acordada para determinar a materialidade a partir dos tópicos relevantes, de modo que as empresas têm liberdade para desenvolver sua própria abordagem. Nesse âmbito, a abordagem da KPMG coaduna com os princípios do GRI, do Processo do G4 e do IIRC. (KPMG, 2014a).

Outro elemento estimado para a identificação do objeto é a avaliação de risco, que envolve quantificação e qualificação da incerteza, tanto no que diz respeito às perdas quanto no que concerne aos ganhos relacionados ao rumo dos acontecimentos planejados pelas organizações. Nesse sentido, a análise de riscos proposta pela EY é desencadeada em quatro estágios do risco. O primeiro, o de diagnóstico, visa a compreender os riscos associados aos problemas legais e aos processos internos, além de considerar os riscos gerados às comunidades do entorno de determinado processo produtivo. O segundo estágio, conjunto de recomendações, propõe a construção de um plano de ação de curto (seis meses), de médio (dois anos) ou de longo prazo (cinco anos). O terceiro nível incorpora o

1. Definição do propósito e do escopo de análise de materialidade (objetivos e público-alvo)

2. Identificação dos tópicos relevantes e com potencial risco

3. Categorização em tópicos por potencial e por categoria

4. Exploração e compreensão dos impactos relevantes para o negócio e para as partes interessadas

5. Prioridade aos tópicos materiais com base na importância para o negócio e para as partes interessadas

6. Verificação dos resultados da materialidade, da avaliação da auditoria interna e da validação dos resultados com o público interessado.

7. Averiguação do feedback dos stakeholders sobre os tópicos identificados nos materiais

monitoramento do desempenho em relação às externalidades ambientais por projeto ou por impacto ambiental. O quarto estágio trata da sustentação, trabalhando planos diretores, planos estratégicos, investimentos e análise de grupos de especialistas. (ENTREVISTADO B).

A avaliação de risco também é apontada no tocante à identificação do objeto de mensuração e de evidenciação das externalidades ambientais. Nesse contexto, as empresas são aconselhadas a empregar ferramentas de gerenciamento de risco corporativo e sistemas de sustentabilidade para avaliar e compreender os riscos futuros. Buscam, com isso, respostas por meio da eficiência, da substituição ou da adaptação. (KPMG, 2012). A avaliação de riscos (KPMG, 2012) se conjectura pela natureza do risco, com base em seis aspectos, apresentados no Quadro 28:

Quadro 28 - Natureza do risco ambiental

Natureza do risco Descrição

Riscos físicos Danos contra os ativos físicos e as cadeias de suprimento, com exposição às tendências ambientais em longo prazo, como variações na disponibilidade de água ou elevação do nível do mar;

Riscos competitivos

Exposição ao aumento de custos ou à volatilidade energética - combustíveis, água e produtos agrícolas - bem como exposição a mudanças nas dinâmicas do mercado;

Riscos regulatórios Risco de aumento de custos e de complexidade para políticas e regulamentos, como impostos sobre o carbono, sistemas de comércio de emissões e tarifas de combustível;

Risco de reputação Perigo condizente à reputação da corporação e ao valor da marca entre as partes interessadas;

Risco de litígio Danos ambientais ou divulgação insuficiente das empresas em relação à sustentabilidade;

Riscos sociais Perigo de graves perturbações nas operações empresariais e nas cadeias de abastecimento devido a efeitos sociais.

Fonte: Adaptado de KPMG (2014a).

A avaliação da materialidade e dos riscos ambientais foi conectada ao escopo da segunda versão do MEED por proporcionar robustez ao processo de identificação dos impactos e das externalidades ambientais. A avaliação da materialidade proporcionou informações que valoraram e evidenciaram as externalidades ambientais significantes ao sistema produtivo. Dessa forma, o processo foi sistematizado e avaliado pelos usuários interessados na informação, permitindo rastreabilidade de informações.

Na etapa 2, mensuração física, a ênfase na identificação das informações

quantitativas dos impactos e das externalidades ambientais vinculou-se à técnica de análise do ciclo de vida e do inventário de entradas e saídas. Com isso, considerou

um aspecto percebido unanimemente pelas quatro empresas de auditoria e de consultoria, ratificando a primeira versão do MEED. Nesse âmbito, a segunda versão do método contemplou os dados do sistema de informações das consultorias, a fim de reconhecer e validar a adequação destes ao objetivo de MEED.

Assim, na etapa 2, contemplou-se a utilização de ferramentas em uso, conhecidas ou consolidadas pela empresa, desde que alinhadas ao objetivo do MEED. Destaca-se que o custo de implementação de novas ferramentas foi considerado nesta etapa.

A modelagem de dados foi contemplada na etapa 3, valoração econômica, como mais uma alternativa de valoração das externalidades ambientas, uma vez que foi apontada como técnica de modelagem financeira pela KPMG e pela PwC. Para valorar as externalidades ambientais são utilizados, entre outras fontes de informações, dados públicos de saúde da população afetada. (PWC, 2013). A modelagem foi inserida na segunda versão do modelo como uma forma de valorar impactos e externalidades sobre os quais não havia informações disponíveis para avaliar.

A internalização das externalidades pode afetar rendimentos futuros de uma organização por meio de regulamentação, de ação das partes interessadas e da dinâmica do mercado. (KPMG, 2014b). Identificar o custo externo que a sociedade absorve com uma externalidade possibilita suavizar o impacto ambiental e viabilizar ações de mitigação, como inovações de produtos e de processos.

Tal abordagem foi verificada na EP&L e na metodologia utilizada pela KPMG (2014b). (ENTREVISTADO C). A Deloitte sustenta a Responsabilidade Estendida do Produtor (EPR), que objetiva internalizar externalidades ambientais e incentivar os produtores a considerarem questões ambientais ao longo da vida dos produtos, desde a fase de concepção até o fim da vida útil. Na prática, a EPR implica que os produtores assumam a responsabilidade por recolher bens usados e por fazer triagens e tratamentos de reciclagem. A responsabilidade pode ser meramente financeira ou organizacional. Tal política surgiu no início dos anos 1980 em alguns Estados-membros europeus, especialmente no que tange a resíduos de embalagens, e desde então, vem se espalhando a outros países. (DELOITTE, 2014).

Ao lado de outros instrumentos econômicos, a EPR pode incentivar uma mudança de comportamento em todos os agentes envolvidos na cadeia de valor do

produto: fabricantes de produtos, consumidores, autoridades locais, operadores públicos e privados de gestão de resíduos, recicladores e agentes da economia social. Ademais, simboliza um instrumento-chave de ligação entre as estratégias de eficiência energética e de matérias-primas, como a iniciativa emblemática para uma Europa eficiente em termos de recursos da Estratégia Europa 2020. (DELOITTE, 2014).

A primeira versão do MEED, contudo, contemplou a internalização das

externalidades ambientais, etapa 4, a partir da regulação dos mercados por meio

de tributação. Essa prática é utilizada pelos governos para atribuir valor às externalidades ambientais. Na versão 2 do MEED, a internalização foi apresentada a partir de ações e iniciativas privadas, conectada aos requisitos de funcionamento do MEED. As inserções das ferramentas são justificas pela demanda da contabilidade, que requer o reconhecimento econômico do valor das externalidades em sistemas produtivos do agente responsável pelas ações danosas ao ambiente.

A regulamentação da contabilidade não prevê os custos ambientais, sendo que apenas os registra quando ocorre uma ação (ou uma obrigação) que afeta o patrimônio da empresa. No caso dos custos externos, a contabilidade não reconhece nem o custo nem a dívida ambiental da externalidade. Portanto, a contabilização das externalidades ambientais ainda não é efetivada, tratando-se de um assunto incipiente e que requer discussões entre empresas, governos e organismos que atuam com práticas contábeis. (ENTREVISTADO A). Nesta etapa do MEED, a contabilidade gerencial foi a plataforma utilizada para registrar as externalidades ambientais, permitindo a internalização dos custos externos e da dívida ambiental correspondente a um sistema produtivo responsável pelas ações danosas ao ambiente.

A etapa de validação dos dados e das informações, etapa 5, teve alteradas a nomenclatura e as ferramentas previstas na primeira versão do MEED. Essas alterações se devem ao conhecimento inerente à natureza da atividade das empresas que atuam no segmento de auditoria. Trata-se de um procedimento técnico de avaliação dos dados gerados e dos resultados obtidos na mensuração das externalidades ambientais, representando um meio de diminuir os riscos de apresentação inadequada de dados.

O processo de verificação se vincula ao volume de informações, sendo de praxe a verificação por amostragem e por seleção de informações relevantes.

(KPMG, 2014b). A validação de dados e informações é reconhecida como técnica de auditoria, pois consiste em um processo sistemático e documentado de verificação de dados, proporcionando robustez e credibilidade às informações. (DELOITTE, 2015; EY, 2014; KPMG, 2014b)

A etapa 6, identificação do real valor da empresa, foi inserida na segunda versão do MEED como resultado da identificação do processo de avaliação das informações dos métodos disponíveis nas empresas de consultoria. O objetivo principal das empresas de auditoria e de consultoria é identificar o real valor do negócio e, para tanto, utilizam metodologias como: Total Impact Measurement and

Management (PwC, 2013); True Value (KPMG, 2014b); Criação de Valor (EY, 2014)

e Valor Justo. (DELOITTE, 2015). O conceito do real valor pretende apreender valores não contemplados na dimensão econômica da empresa, dentre eles, o valor ambiental.

A etapa 6 foi apontada como um ponto forte e alinhada aos requisitos de construção do MEED. Ela prevê a identificação do patrimônio líquido a partir da inserção das externalidades ambientais. Nesta etapa, há o reconhecimento de que o patrimônio líquido é afetado pelo custo externo e de que, consequentemente, existe uma dívida a ser reconhecida.

Na última etapa do MEED, etapa 7, evidenciação do ED, foram desvendados, na segunda versão, dois formatos de evidenciação das externalidades ambientais: o IR (Relato Integrado, que é o formato de evidenciação adotado pelas empresas de auditoria, cujo padrão é estabelecido pelo IIRC), e o Environmental

Profit and Loss Statement, ou EP&L, utilizado pela PwC.

O EP&L visa a proporcionar informações relevantes acerca dos impactos ambientais desconsiderados até então nas análises econômicas da empresa, propondo inserir os custos externos gerados pelos negócios da organização. Além do mais, corrobora com o propósito do ED ao buscar o reconhecimento do valor monetário originado da internalização das externalidades ambientais (custos externos), reconhecendo o gasto ambiental como uma perda que afeta o resultado de um negócio. Todavia, o reconhecimento da dívida ambiental, passivo contingente, não é tratado nem pelo IR nem pela EP&L, pois o foco de ambos é a análise do resultado. O Quadro 29 categoriza as classes de problemas, as etapas, a entrada, a saída e as ferramentas atinentes à segunda versão do MEED.

Quadro 29 - Classe de problemas e Etapas da versão 2 do MEED Classe de

problemas

Etapa Entrada Saída Ferramentas

Mensuração das

externalidades ambientais

1. Identificação do

escopo Definir o escopo

Escopo deliberado

- reunião com a equipe estratégica e tática da empresa;

- formulário ou cadastro do detalhamento do escopo; - AVALIAÇÃO DE MATERIALIDADE E DE RISCOS AMBIENTAIS. 2. Mensuração física Identificar e quantificar fisicamente os impactos e as externalidades ambientais Métrica dos impactos e das externalidades ambientais

- inventário de entradas e de saídas de recursos naturais;

- análise do ciclo de vida com a utilização dos padrões da ISO 14040 a 14042;

- CONTROLES AMBIENTAIS DA EMPRESA (LICENÇA AMBIENTAL). 3. Valoração econômica Identificar o valor das externalidades ambientais Valor das externalidades ambientais

- Técnica de valoração econômica ambiental; - MODELAGEM. Evidenciação das externalidades ambientais 4. Internalização dos custos externos Contemplar o valor das externalidades inerentes aos negócios da empresa Valor econômico + valor ambiental do negócio

- mecanismos de regulação de mercado; - RESPONSABILIDADE ESTENDIDA DO PRODUTOR (EPR);

- AÇÕES DE MITIGAÇÃO (INOVAÇÃO); - DINÂMICA DE MERCADO. 5) VALIDAÇÃO DE DADOS E INFORMAÇÕES Listar os requisitos técnicos de validação das informações geradas Parecer da avaliação - métodos estatísticos; - PROCESSO SISTEMÁTICO E

DOCUMENTADO DE VERIFICAÇÃO DOS DADOS (AUDITORIA). 6. Identificação do valor real da organização. Conceder valor econômico e ambiental Resultado do valor da organização - INDICADORES ECONÔMICOS E AMBIENTAIS. 7. Evidenciação do ED. Escolher a plataforma de comunicação com os usuários da informação Plataforma de evidenciação do valor ambiental - IR E EP&L.

Fonte: Elaborado pela autora.

A partir da reflexão e do aprendizado desencadeados pelas duas primeiras versões do MEED e da revisão dos métodos apurados nesta pesquisa, confeccionou-se um quadro com todas as versões do MEED. Esse quadro destaca as alterações nas etapas e/ou nas descrições, e pode ser visualizado após a apresentação da síntese (Quadro 30).