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Fonte: Trabalho de Campo, Novembro de 2013

O debate realizado nas dependências do IFPB em Sousa tratou de experiências exitosas de convivência com o semiárido. Alguns elementos que foram levantados e que acaba servindo como elo das experiências observadas no encontro de convivência com o semiárido pode ser destacados.

O primeiro elemento seria a idéia do “LOCAL”. Todas as experiências observadas no encontro nascem do lugar que elas existem, elas não são resultados de um processo externo a realidade local, mas o contrário, são resultados de um processo inter-regional.

Partindo da idéia do “local”, existem dois outros elementos que fundamentam o nascimento dessas experiências. O primeiro é o “conhecimento”. Não necessariamente o conhecimento que vem de fora e que transforma, mas a base da 138

transformação é o CONHECIMENTO LOCAL, é o conhecimento da sua própria realidade enquanto agricultores e agricultoras.

O segundo elemento do “local” são os “recursos”. A base dos recursos utilizados nas experiências também é do local. Nenhuma experiência exitosa vista no encontro de convivência com o semiárido é fundamentada na importação massiva de recursos ou de insumos. Todas elas são baseadas na valorização dos “RECURSOS

NATURAIS LOCAIS”. Então esses dois elementos, o conhecimento e os recursos

locais, foram a base para a construção dessas experiências.

Nesse sentido, o grande resultado dessa construção local é a AUTONOMIA, ou seja, as pessoas estão construindo a sua própria capacidade de viver no seu lugar, de construir sua economia e de ter a sua forma de viver no lugar. E mais, de torna-se independente de sistemas outros como as instituições públicas, de políticos, ou de quaisquer outras formas de dependência. Vale salientar que os Programas Sociais vigentes como o bolsa família tem seu papel contribuinte para retirar as pessoas abaixo da linha de pobreza, porém, esse programa, por si só, não gera a autonomia necessária para a transformação social.

De acordo com uma das falas dos atores na reunião, esse elemento AUTONOMIA ele é fundamental,

(...) vale salientar que a autonomia que estamos falando aqui não só é a autonomia econômica, mas também é uma autonomia de organização social e política. Por que a medida que você deixa de depender de programas e projetos você acaba tendo o livre arbítrio para escolher quem você quiser como representante

Apesar do terceiro evento não tratar especificamente de variáveis que fizeram parte do ISHAP, ela traz uma análise de conjuntura de outra realidade do semiárido, a realidade de convivência, principalmente nas áreas rurais, já que os municípios que fazem parte do semiárido brasileiro são, em sua maioria, municípios de pequeno porte e tipicamente rurais. Portanto, elementos-chave para o Desenvolvimento Rural Sustentável seria o desenvolvimento do conhecimento local, a utilização dos recursos naturais locais e a construção de uma autonomia econômica, de organização social e política.

Quanto as variáveis propriamente dita, o terceiro evento mostrou a importância de indicadores voltados para o a acesso ao Programa 1 Milhão de Cisternas e do 139

Programa Uma Terra e Duas Águas do Governo Federal. O primeiro indicador foi inserido no sistema, porém o segundo ainda não tem dados disponibilizados e acabou não sendo inserido no ISHAP.

Por fim, a tese abordará no próximo subitem o levantamento, as discussões e a análise dos dados referentes ao conteúdo das filmagens. Etapa essa necessária para a aplicação do Sistema de Indicadores de Sustentabilidade Hidroambiental Participativo na sub-bacia do Rio do Peixe-PB.

4.2.3 - Levantamento de dados primários através das filmagens e das discussões e análises de conteúdo dos mesmos junto com equipe

Última etapa antes de começar a ponderação das variáveis que compuseram o sistema, deu-se no ambiente do Centro Vocacional Tecnológico em Pombal, no qual foi montada toda uma estrutura e ambientação para que a equipe de pesquisadores se dedicasse a análise do conteúdo das falas dos atores sociais registradas nas reuniões e eventos mencionados acima.

Para a análise do discurso partiu-se de alguns elementos-chave, principalmente no que tange a esfera de participação dos atores na discussão das reuniões. Por exemplo: a primeira reunião tinha como pano de fundo da discussão a situação dos reservatórios estratégicos da sub-bacia do Rio do Peixe, no qual tinha como principais interessados os irrigantes de São Gonçalo; o segundo evento tinha como pando de fundo da discussão o diagnóstico da bacia Piranhas-Açu que servirá como base para o Plano de Recursos Hídricos dessa Bacia, no qual os principais interessados era a Câmera Técnica e de Pesquisa do Comitê da Bacia do Rio Piancó-Piranhas-Açu; o último encontro teve como base a discussão de experiências de convivência exitosa na região semiárida do Alto Sertão Paraibano.

Desta forma, percebe-se que todos os discursos construídos, partilhados e registrados fazem parte de uma rede de outros discursos, como bem menciona Brandão:

Todo discurso se constrói numa rede de outros discursos; em outras palavras, numa rede interdiscursiva. Nenhum discurso é único, singular, mas está em constante interação com os discursos que já foram produzidos e estão sendo produzidos. Nessa relação interdiscursiva (com outros discursos), quer citando, quer comentando, parodiando esses discursos, disputa- se a verdade pela palavra numa relação de aliança, de polêmica

ou de oposição. É nesse sentido que se diz que o discurso é uma arena de lutas em que locutores, vozes, falando de posições ideológicas, sociais, culturais diferentes procuram interagir e atuar uns sobre os outros. (BRANDÃO, 2009, p.5).

É nessa arena de discussão, nesses espaços coletivos de produção de conhecimento e de informação que a equipe de pesquisa trabalhou, tentando captar o máximo possível de informação, que servisse na ponderação das variáveis do sistema.

Além dessa construção interdiscursiva, reforça-se que cada discurso ele não é vago de sua realidade, ao contrário, ele traz consigo a visão de mundo, de realidade em que eles vivem. Daí a necessidade de captar essa realidade deles. Para Brandão (2009, p.6),

Um conceito fundamental para a AD é, dessa forma, o de condições de produção, que pode ser definido como o conjunto dos elementos que cerca a produção de um discurso: o contexto histórico-social, os interlocutores, o lugar de onde falam, a imagem que fazem de si, do outro e do assunto de que estão tratando. Todos esses aspectos devem ser levados em conta quando procuramos entender o sentido de um discurso.

Por fim, os pesquisadores tiveram em mente de que cada ator social, sujeitos construtores da pesquisa e sujeitos organizados de forma coletiva e representantes de seus órgãos, instituições, representantes de comitê e/ou simplesmente atores relacionados com a temática de sustentabilidade hidroambiental e de gestão de recursos hídricos possuem características importantes que, de acordo com Brandão (2009, p. 9) são:

a) o sujeito do discurso é essencialmente marcado pela

historicidade. Isto é, não é o sujeito abstrato da gramática, mas

um sujeito situado na história da sua comunidade, num tempo e num espaço concreto;

b) o sujeito do discurso é um sujeito ideológico, isto é, sua fala reflete os valores, as crenças de um momento histórico e de um grupo social;

c) o sujeito do discurso não é único, mas divide o espaço do

seu discurso com o outro na medida em que orienta, planeja, ajusta sua fala tendo em vista seu interlocutor e

também porque dialoga com a fala de outros sujeitos (nível interdiscursivo);

d) porque na sua fala outras vozes também falam, o sujeito do discurso se forma, se constitui nessa relação com o outro, com a alteridade. Isto é, da mesma forma que tomo consciência de mim mesmo na relação que tenho com os outros, o sujeito do discurso se constitui, se reconhece como tendo uma

determinada identidade na relação com outros discursos produzidos, com eles dialogando, comparando pontos de vista, divergindo etc.

Adentra-se agora no terceiro momento da pesquisa, no qual a estrutura pronta do ISHAP começa a rodar os dados da pesquisa e começar a gerar os índices necessários para avaliar a sustentabilidade hidroambiental da sub-bacia do Rio do Peixe-PB.

4.3 – Momento 3: Participação das reuniões/eventos temáticos dos atores sociais e levantamento dos dados primários

Após todo o esforço na ponderação e validação das variáveis a partir da análise de conteúdo dos atores sociais através das discussões com a equipe de pesquisadores é hora de analisar todas as dimensões que fazem parte do ISHAP.

4.3.1 – Tabulação dos dados primários e cálculo dos pesos dos indicadores

Após toda a análise do conteúdo através das filmagens e anotações dos membros de pesquisadores que participaram do trabalho, foi sendo definido o grau de importância de cada variável pertencente ao ISHAP conforme demonstrado no capítulo referente a metodologia da tese..

Lembrando que a lógica da hierarquização das variáveis foi feita através do Diagrama de Mudge onde se atribuía o grau de prioridade do indicador, no qual o grau de importância 1 foi atribuído quando o indicador foi considerado pouco importante; 2 quando o indicador foi considerado importante; e 3 quando o indicador foi considerado

muito importante, sempre em relação a outro indicador com o qual está sendo

comparado. Observando que o grau de importância foi atribuído a partir da análise do conteúdo das filmagens das reuniões/eventos dos atores sociais.

Após essa etapa e com o resultado do peso de cada variável, foram sendo definidos os outros pesos referentes aos temas e as dimensões, descritos abaixo.

QUADRO 20 - PESO DOS INDICADORES DA DIMENSÃO SOCIAL DE