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Fonte: GUEDES, 2006, p. 116.

A importância da água para a ocupação e o uso do sertão paraibano não acaba nas grandes fazendas de gado ou colonização das ribeiras, ela foi importante também para fomentar políticas públicas para a região do semiárido, já que tal região vinha crescendo tanto em termos de novas vilas e cidades, quanto em termos populacionais.

A grosso modo pode-se dividir a importância da água para o processo de construção e reconstrução da região do semiárido brasileiro e, em particular, o semiárido paraibano, em dois grandes períodos: 1) o período denominado de “Combate a Seca” e; 2) a Abertura do processo de Planejamento e Gestão das Águas através da Política Nacional dos Recursos Hídricos com a Lei 9.433/97 e sua influência no Plano Estadual de Recursos Hídricos da Paraíba

2.1.2 - O papel da água na produção e reprodução do semiárido brasileiro e paraibano:

2.1.2.1 – Primeiro período: o “Combate a Seca”

As primeiras políticas públicas tinham como base o “Combate a Seca”. As grandes secas de 1825 – 1827 – 1830 foram decisivas para a implantação das políticas

de açudagem no Nordeste semiárido. Porém, foi na grande seca de 1877 que o

governo federal cogitou a construção de grandes açudes que materializou-se apenas em 1909, com o nascimento da Inspetoria de Obras Contra a Seca (IOCS) que

36 posteriormente passou a ser chamado de Inspetoria Federal de Obras Contra a Seca (IFOCS) e, atualmente o Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (DNOCS).

Para alguns autores, a intervenção estatal no Nordeste brasileiro focada na resolução de problemas relacionadas a seca foi denominada de Fase de Intervenção Hidráulica. De acordo com Cardoso (2007, p 123),

(...) como parte das medidas de emergência adotadas, achava-se que os esforços governamentais deveriam ser concentrados no sentido de combater o fenômeno da seca e seus efeitos de forma direta, por meio de acumulação de água e construção de obras de engenharia, visando reter o homem no campo e dar condições de progresso à agricultura.

Ao mencionar problemas de escassez hídrica na região semiárida nordestina e a criação de aparelhos estatais para combater tal problema, percebeu-se a materialização do terceiro grande evento para a região, a construção de pequenos, médios e grandes açudes que figuram na paisagem do sertão paraibano e tornam-se objetos de pesquisas, discussões e questionamentos.

Alguns questionamentos se destacam, dentre eles, seria se tal problema de escassez hídrica se dá em decorrência apenas da falta de água ou se está relacionado a outros condicionantes físicos e sociais.

Para responder inicialmente a tal questionamento, trabalhar-se-á com a realidade local, contextualizando as obras hídricas para a região do sertão paraibano e os impactos que elas trouxeram ao longo do espaço e do tempo.

Essa região do semiárido paraibano no qual está localizado a bacia hidrográfica do Piancó-Piranhas-Açu, bem como a sub-bacia hidrográfica do Rio do Peixe é uma área que apresentam um quadro bastante contraditório. De um lado, é considerada uma das regiões semiáridas mundiais que mais possui obras de açudagem, por outro, essa grande quantidade de açudes não tem a capacidade de resolver por completo o problema da escassez de água da região.

Um dos pontos primordiais a ser discutido é quanto a democracia do acesso aos hidrossistemas na região semiárida, pois existe nessa área tanto pessoas que pertencem a um sistema de recursos hídricos, tais como: açudes, rios perenizados, adutoras, etc; como existem pessoas que não pertencem a tal sistema, atais como as populações rurais difusas e a agricultura de sequeiro.

Desta forma, aflora um primeiro ponto a ser discutido, qual seja: o acesso a água de beber e de produzir. Há a necessidade de uma política que integre alternativas de

37 abastecimento adequadas para os diferentes espaços do semiárido. Para Souza Filho (2011), uma medida necessária para a contribuição na resolução de tal temática seria a elaboração de uma “cesta de tecnologia de abastecimento” e uma “cesta de modelos gerenciais” que produzam uma solução sustentável.

Porém, no histórico das políticas hídricas para o semiárido nordestino e, conseqüentemente, para o semiárido paraibano, revela uma má gestão dos recursos

hídricos da região que durante muito tempo privilegiou apenas a questão técnico-

política, muito mais política, atendendo a interesses de uma oligarquia hídrica e que, posteriormente, direcionou sua gestão para interesses preponderantemente econômicos.

Cardoso (2007), aponta para esse direcionamento das políticas hídricas na região para atender a oligarquia local. Segundo ele,

Uma característica comum na ação do IOCS/IFOCS/DNOCS, presente tanto na construção dos açudes quanto na perfuração dos poços, é o fato de que grande parte desses estavam localizados em propriedades particulares de políticos ou grande e médios proprietários da região, evidenciando que este aparelho governamental havia sido ‘capturado’ pelas oligarquias agrárias nordestinas, que o utilizara para viabilizar o seu sistema de dominação. (CARDOSO, 2007, p.126 apud Maranhão, 1982)

A problemática de se privilegiar apenas alguns aspectos em detrimento dos outros pode provocar sérios problemas de ordem econômica, social, ambiental e institucional para a região. Pelas ações do DNOCS, percebe-se esse privilégio para a questão de ordem infra-estrutural hídrica para uma classe dominante que trouxe sérias questões de implicações sociais e ambientais encontradas ainda hoje no sertão paraibano.

Mas nem sempre foi assim. Fazendo um breve resgate da gênese do DNOCS, dar para dividir esse departamento em quatro grandes fases, quais sejam: 1) a fase hidráulica (científica); 2) a fase hidráulica de engenharia; 3) a fase hidrotécnica e a fase hidroagrícola. Velloso e Mendes (2009) sintetizaram essa divisão em uma tabela no qual mencionam o período de cada uma delas, bem como as atividades principais que caracterizaram cada fase mencionada acima, quais foram:

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TABELA 1 - PERIODIZAÇÃO DAS FASES DO IOCS, IFOCS E DNOCS, DE