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Igualdade de oportunidades, direitos humanos e constitucionais – cidadania

V. Acessibilidade

2. Igualdade de oportunidades, direitos humanos e constitucionais – cidadania

constitucionais – cidadania

Numa época em que a igualdade de oportunidadesconsta da maioria dos discursos dos políticos e intelectuais, considera-se factor de mobilização social característico das sociedades modernas. Neste sentido, verifica-se um consenso generalizado da comunidade internacional relativo à necessidade da garantia efectiva do respeito pela integridade, dignidade e liberdade individual dos cidadãos independentemente das suas características intrínsecas, bem como promulgar leis, políticas e programas que proíbam qualquer tipo de discriminação.

A transição da perspectiva seguidora do entendimento das pessoas com incapacidades como beneficiários passivos, para possíveis membros activos na sociedade proporcionou a reivindicação da legitimação da igualdade de direitos. Surge, então a abordagem dos direitos civis, onde se postula a remoção as barreiras impeditivas à participação plena das pessoas com deficiência. Para esta perspectiva, as limitações físicas convertem-se em restrições de acesso ao exercício da actividade, criadas pelo sistema social contemporâneo, onde verificamos a ausência de preocupações relativas às pessoas com limitações físicas. Ocorre, portanto, o fenómeno de exclusão destas pessoas da corrente principal da actividade social (J. Pitcher et al por Grammenos, 2003: 29).

Consequentemente, a igualdade de oportunidades é um dos princípios universais consagrados na Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, enquanto princípio onde se baseiam e definem as obrigações gerais dos Governos relativos à integração da deficiência nas suas políticas, assim como as obrigações específicas relativas à sensibilização das sociedades para a deficiência, ao combate aos estereótipos e à valorização das pessoas com deficiência.

O propósito da Convenção é “promover, proteger e assegurar o exercício pleno e equitativo de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais por todas as pessoas com deficiência e promover o respeito pela sua dignidade inerente”. Assim, ficam salvaguados os direitos à acessibilidade, autonomia, mobilidade, integração e participação na sociedade e o cesso a todos os bens e serviços (ONU, 2006).

A União Europeia, mediante a adaptação dos princípios das Nações Unidas, define a Comunicação da Comissão sobre a Igualdade de Oportunidades das pessoas com deficiência, onde se estabelece que o “princípio da igualdade de oportunidades de todos os cidadãos representa um valor inalienável e comum a todos os Estados” (CCE, 1996).

Em termos nacionais, a promoção do bem-estar e qualidade de vida da população e a igualdade entre todos os portugueses constituem um direito Constitucional – alínea d) do artigo 9.º e artigo 13.º. Incumbe ainda ao Estado, de acordo com a Constituição da República Portuguesa, a realização de «uma política nacional de prevenção e de tratamento, reabilitação e integração dos cidadãos portadores de deficiência e de apoio às suas famílias», o desenvolvimento de «uma pedagogia que sensibilize a sociedade quanto aos deveres de respeito e solidariedade para com eles» e «assumir o encargo da efectiva realização dos seus direitos, sem prejuízo dos direitos e deveres dos pais e tutores».

Em síntese, a acessibilidade é um direito defendido pelas Nações Unidas, pela União Europeia e pela Constituição da Republica Portuguesa.

Todavia, a legislação não constitui uma componente suficiente para mudar as atitudes em relação às pessoas com necessidades especiais, sendo necessário a tomada de medidas complementares para alcançar a mudança. Assim, conjuntamente às barreiras físicas, as barreiras mentais, entendidas como atitudes negativas para com as pessoas com estas

características, devem ser eliminadas de forma a atingir a igualdade de oportunidade para estas pessoas (Grammenos, 2003: 36).

Segundo Grammenos, torna-se, não raras vezes, necessário a criação de um programa de comunicação sustentado para suprimir as atitudes negativas e o desconhecimento por parte dos cidadãos, por forma a elucidá-los sobre as contribuições das pessoas com limitações quando se encontram num contexto de plena igualdade. Neste contexto, é conveniente a definição de estratégias de formação e sensibilização sobre esta temática, haja em vista a eliminação das barreiras psicológicas (Grammenos, 2003: 39).

A mobilidade desempenha um papel crucial na garantia da participação na actividade económica e social, sendo a sua privação um factor de inibição à participação das pessoas com condicionantes físicas ou sensoriais. Assim, permitir a participação plena na vida e na sociedade destas pessoas, implica a remoção de todo o tipo de obstáculos existentes no meio edificado público e privado, transportes, comunicações e via pública (Grammenos, 2003: 36).

Neste sentido, a acessibilidade constitui um meio essencial para o exercício dos direitos de cidadania, possibilitando a participação cívica activa e íntegra da pessoa com mobilidade reduzida, pessoas com dificuldades sensoriais e ainda as pessoas que se encontram temporariamente condicionadas (grávidas, idosos e crianças).

Para Grammenos, pessoas diferentes têm necessidades diferentes. A deficiência é entendida apenas como uma variante existente na nossa pluralidade social. Assim, estas podem ser satisfeitas de forma diferente, de acordo com as diferentes necessidades (Grammenos, 2003: 35).

Não obstante, existem necessidades, entendida por Pereirinha (2008) como situações em que existe algum défice de bem-estar, que são simultanea e acumulativamente sentidas por vários grupos sociais. Perante a impossibilidade de prever todas as situações, resta-nos a produção de soluções amplificadas que compreendam um vasto leque de necessidades identificadas.

No entanto, os potenciais beneficiários das medidas para suprimento destas necessidades face à igualdade de oportunidades, como sendo o caso das acessibilidades,

representam um grupo minoritário que, assim como noutros grupos minoritários, se encontram subordinados ao escrutínio do grupo dominante.

O princípio da igualdade de direitos supõe, portanto, uma equidade da importância face às necessidades gerais e particulares, cujo respeito pela diversidade humana deve inspirar na construção das sociedades, empregando todos os recursos disponíveis para garantir que todos os cidadãos disponham de oportunidades iguais.

As limitações físicas são responsáveis pela criação de determinadas restrições ou dependências que poderão condicionar a autonomia, enquanto capacidade para a tomada de decisões, de alguns membros constituintes destes grupos minoritários. Torna-se, deste modo, necessário a criação de medidas que incluem a criação de assistência pessoal, informação, habitação, educação, entre outros, haja em vista dotar estas pessoas de capacidades para controlar as suas próprias vidas (Grammenos, 2003: 35).

Grammenos (2003) acrescenta, ainda, uma vida autónoma e independente significa que as pessoas possuidoras de limites à mobilidade têm possibilidade de escolhas e controlo das suas vidas quotidianas de forma homóloga aos restantes cidadãos. Isto é, possuem a garantia de frequentar qualquer escola corrente, utilizar o mesmo autocarro que as outras pessoas, entre outros.

Neste âmbito, surgem as acções políticas de discriminação positiva como factores compensatórios para as condições que desigualam o conjunto das possibilidades de escolha, produzidas em prol do princípio da equidade (Pereirinha, 2008:116). A discriminação positiva constitui, portanto, um processo de diagnóstico e selecção das necessidades sociais, desprovido de estigmas sociais, dos grupos populacionais minoritários, cujo objectivo consiste na elevação dos padrões de bem-estar a um nível superior (Pinker et al, 1979:188).

Para concluir, referimos sucintamente que “a ideia de igualdade é, de facto, confrontada com dois tipos diferentes de diversidades: a heterogeneidade dos seres humanos e a multiplicidade das variáveis nos termos dos quais a igualdade pode ser apreciada” (Fitoussi et al, 1997:62).

3. Caracterização da população com deficiência em Portugal e o