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Tipologias das Políticas Públicas e Políticas transversais

III. O papel e o processo de produção das Políticas Públicas

2. Tipologias das Políticas Públicas e Políticas transversais

Os governos tomam deliberações concernentes aos vários domínios do social, nomeadamente na esfera do conflito, na organização social e em termos de distribuição de recursos. Deste modo, entendemos as políticas públicas como sendo reguladoras de comportamento, organizadoras da burocracia, distribuidora de benefícios ou extractora de taxas (ou ambas) ( Dey, (1969)1995:3).

Assim, de acordo com a classificação das políticas públicas de Lowi, podemos identificar quatro tipos de políticas, designadamente (Heinelt, 2007: 110):

1) Distributivas, 2) Reguladoras; 3) Redistributivas; 4) Constitucionais.

As Políticas Distributivas envolvem a provisão de serviços ou bens, tendo em consideração os recursos limitados, a um segmento da população (indivíduos, grupos corporações e comunidades). Algumas políticas distributivas proporcionam benefícios a um grupo restrito de pessoas, enquanto outras política distributiva provocam benefícios para um grupo vasto de pessoas. Aquelas políticas implicam usualmente a aplicação de fundos para apoiar grupos ou parcelas populacionais. Esta política só cria vencedores e não perdedores específicos, excepto na eventualidade de haver fuga ao fisco. Em termos de Políticas Reguladoras, podemos referir que estas impõem ou limitam o comportamento individual ou dos grupos. A formulação das políticas reguladoras intervém na mediação de conflito entre grupos com interesses contraditórios ou concorrentes. Abarcam as políticas de protecção que velam pela inibição dos efeitos negativos, resultantes do exercício da actividade privada, sobre os cidadãos. Contrariamente às políticas distributivas, estas possuem claros vencedores e perdedores. As Políticas Redistributivas abrangem a alocação e a gestão dos recursos colectivos e a forma de os distribuir e disponibilizar para os seus sucedâneos. Estamos perante a necessidade da emergência de uma área política centralizada fundamentada na segmentação social e de elites. Por fim, temos as Políticas Constitucionais que estão intrinsecamente relacionadas com a defesa dos direitos dos cidadãos, ordenação do sistema ou manutenção das regras do jogo (Lowi por Cardim, 2006: 38-39) (Anderson, 1975: 11-15).

Segundo a perspectiva de Anderson as políticas podem ser classificadas como (Anderson, 2006:10):

1) Políticas Substantivas; 2) Políticas Procedimentais.

Sendo que as primeiras compreendem o que o governo faz. Encontram-se directamente relacionadas com a dicotomia vantagens/desvantagens ou benefícios/custos. Contrariamente, as Políticas Procedimentais relacionam com o como o governo faz ou quem irá praticar à acção. Assim, a definição desta política implica a criação de agências administrativas, indicações processuais e técnicas, bem como a forma de controlo das operações (Anderson, 2006: 10).

No que concerne ao seu carácter, podemos descrever duas classificações dependendo do tipo de benefícios garantidos:

1) Materiais; 2) Simbólico.

Trata-se de políticas que providenciam benefícios tangíveis ou poder substantivo para os seus beneficiários, ou impõem desvantagens reais em quem é adversamente afectado. As políticas simbólicas produzem impacto nas pessoas, apelando a valores tais como a paz, patriotismo e justiça social, sem se sustentarem em recursos ou investimentos concretos.

Quando desenvolvidas e direccionadas pelos serviços específicos do Estado, relativamente aos aspectos da vida social, tais como saúde, a educação, o trabalho, a habitação, a assistência e os serviços sociais, as políticas públicas são consideradas políticas sociais (Moutagut por Caeiro, 2008:21).

Existem políticas de sentido verticalizado, dirigidas a um tema concreto, cuja responsabilidade de implementação se atribui a uma agência implementadora (saúde, educação, habitação, emprego, entre outras) e existem políticas que cruzam todo o espectro temático das políticas verticalizadas e que se pretendem como garantes de princípios básicos, nomeadamente de igualdade de oportunidades e de cidadania.

Trata-se, portanto, de políticas transversais que, pelo atributo de multi afectação que possuem, se tornam responsáveis pela criação de efeitos que se repercutem nos domínios das políticas verticalizadas. Assim, a articulação daquelas políticas com políticas verticalizadas, num quadro de implementação pluri agências, produz implicações relevantes na concretização e efectivação dos propósitos pelas quais estas foram configuradas.

Figura 2 - Políticas Transversais

Estamos, assim, perante políticas que exigem relações inter-organizacionais desde o processo de formação. Isto é, políticas cujo seu desenvolvimento obriga ao estabelecimento de ligações horizontais, onde é imprescindível a colaboração com organizações, ainda que desprovidas de qualquer relação hierárquica (Hill, (1997) 2009:235).

Nesta perspectiva, pese embora o facto de as organizações dos diversos níveis possuírem um campo de actuação abrangente, apresentam-se actividades para as quais a colaboração é essencial.

Aquele reconhecimento da importância da colaboração entre organizações consolidou a tendência do governo para efectuar discussões temáticas, haja em vista a prossecução de uma maior cooperação e a criação de dispositivos facilitadores do planeamento conjunto (Hill, (1997) 2009:245).

Interessa reconhecer que as relações de colaboração pressupõem uma duradoura e contínua interacção, que se aproxima da integração. Importa, pois, perceber que as relações de colaboração sucedem dentro das organizações, bem como entre elas. Desta feita, na selecção das modalidades organizacionais para processos políticos é necessário considerar os limites existentes e os efeitos que possuem. No entanto, salientamos que o próprio conceito de “organização” pode envolver um desenho arbitrário dos limites, onde presenciamos as situações de dubiedade organizacional resultantes da coincidência de papéis que os indivíduos possuem por pertencerem a mais de uma organização (Hill, (1992) 2009: 245).

Os indivíduos são membros de diferentes grupos profissionais pertencentes às divisões intra-organizacionais, com funções ou hierarquias separadas. Com base neste pressuposto, Laffin explica como essas comunidades profissionais podem influenciar as relações entre organizações e, por sua vez, DiMaggio e Powell, argumentam que as comunidades profissionais possuem um papel preponderante na formação de convergências nas estruturas orgânicas (Hill, (1997) 2009: 252).

Por outro lado, à semelhança do que acontece nas relações verticalizadas, relações inter-organizacionais decorrentes desde o topo até a base da organização, mesmo possuindo idêntico nível hierárquico, poderão ocorrer distribuições de poder e autonomia díspares, que originam manifestações relutantes de afirmação e alteração das políticas, de forma a satisfazer os interesses dos níveis orgânicos.

Posto isto, e recorrendo às variadas teorias organizacionais que se concentram nas questões internas da organização, é possível apresentam uma variedade de contextos onde o intercâmbio é entendido como um beneficio mútuo ou ser considerado haver benefício para uma das partes ou ser refutada a ideia de oferecer quaisquer benefícios (Hill, (1997) 2009:246).

Constantemente, inteiramo-nos de casos onde as múltiplas actividades organizacionais são executadas perante a interacção de indivíduos externos à organização ou, até mesmo, outras organizações. As organizações públicas fragilizadas que recorrem ao envolvimento com terceiros para a execução de tarefas constituem exemplo disso (Hill, (1997) 2009:246).

Na base do sucesso torna-se, portanto, fulcral criar uma boa relação de cooperação com as organizações convenientes. Enquanto princípios para uma parceria de sucesso, Hudson e Hardy, apresentam os seis pontos em epígrafe (por Hill, (1997) 2009:253):

1) Conhecimento da actividade do parceiro; 2) Clareza e realismo;

3) Empenho e responsabilidade;

4) Desenvolvimento e manutenção da confiança; 5) Estabelecimento de parcerias claras e estáveis;

6) Acompanhamento, revisão e aprendizagem organizacional