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O papel das Política Pública e das Políticas Transversais

III. O papel e o processo de produção das Políticas Públicas

1. O papel das Política Pública e das Políticas Transversais

A complexidade social conjugada com o ritmo de progressão, em termos de evolução e modernização da sociedade, determina o carácter omnipresente das políticas públicas, todavia variável com o modelo de regime e a ideologia do Estado. Aquelas repercutem resultados manifestos no plano social, enquanto motivadoras de vantagens e desvantagens, causadoras de seguranças e inquietações e produtoras de consequências importantes no bem-estar e felicidade da colectividade.

A política pública corresponde a fórmulas de equacionar problemas socialmente considerados, como tal, cuja relevância impele à tomada de decisão para a intervenção, ou apatia, dos agentes da governação.

Recorrendo à definição clássica de Dye (1995), podemos considerar políticas públicas como “tudo o que o governo decide fazer e não fazer”. No cerne do conceito estão contempladas, não apenas as acções do governo, mas também as inacções conscientes, ou seja, o que o governo escolhe não fazer. Assim, são consideradas todas as decisões que, depois de submetidas ao escrutínio e influência dos actores não governamentais, são objecto de produção a partir do poder político (Dye, (1169) 1995:3).

Na perspectiva de Anderson, a política pública é definida como um intencional curso de acções relativamente estáveis, seguidas por um ou conjunto de actores para lidar com um problema ou motivo de preocupação. Ou seja, apreende as acções dos governos e dos funcionários públicos designados a debruçarem-se sobre um determinado problema (Anderson, 1975: 6).

Aqueles actores na formulação da política são normalmente aquilo que David Easton denomina de “authorities” do sistema político, designadamente os anciãos, os chefes principais, os executivos, os legisladores, os juízes, os administradores, os conselheiros, os monarcas, e semelhantes (por Anderson, 1975:7). Para Easton, a política pública corresponde

a “atribuição autoritária de valores para toda a sociedade” (Dey, (1969) 1995:3). Assim sendo, as políticas públicas são produzidas pelo governo e pelas agências e afectam um número considerável de pessoas.

Lowi e Ginsburg definem política pública como “uma intenção expressa oficialmente apoiada por uma sanção, que pode ser uma recompensa ou um castigo” (por Parsons, 1995:xix). Enquanto curso de uma acção (ou inacção) a política pública pode ser revestida na forma de lei, regra, decreto, regulamento ou de uma ordem (Parsons, 1995:xix).

Podemos considerar que as políticas públicas obedecem a um padrão lógico, cujas ideias disseminadas produzem consequências reais. Geralmente as políticas aspiram servir diversos fins e diferentes interesses em simultâneo e, por conseguinte, têm consequências a vários níveis. Sendo que as consequências do seu impacto dependem principalmente da dimensão do valor atribuído pelo significado e interpretações que constituem a construção social da política (Schneider e Ingram, 1997:3).

As políticas públicas são concebidas com o intuito de conseguir objectivos concretos ou de produzir resultados previamente determinados, mesmo que estes nem sempre sejam alcançados.

A política pública compreende, ainda, toda a escolha que visa a produção de determinados resultados, a qual não se confina apenas a criação de uma lei, mas alonga-se às acções subsequentes destinadas a concretização da mesma (Anderson, 1975:7). Estas revelam-se de igual modo através de textos, de práticas, de comportamento, de símbolos e de discursos que definem, divulgam e disponibilizam valores, bens e serviços, bem como regulações regulamentos, investimentos, estatutos e outros atributos valorativos de sinal positivo ou negativo (Shneider, 1997:2).

Consideramos que as políticas públicas podem ser positivas, quando traduzidas em leis, regulamentos, regulações, decisões, orientações ou determinações, ou negativas, quando resulta a inactividade do governo (Anderson, 1975:9).

Remete-nos para a observância do domínio das acções, isto é, para os outputs resultantes das decisões políticas e distancia-nos do domínio das intenções. Contemplamos

aquilo que efectivamente foi feito pelo governo e não contabilizamos apenas as intenções ou promessas e divulgações presentes no discurso político. Importa, então, distinguir policy outputs de policy outcomes.

Em suma, as políticas públicas incorporam os seguintes atributos (Birkland, 2001:20):

1) São públicas e como tal afectam significativo número e diversidade de pessoas;

2) São feitas em nome de causa pública;

3) São genericamente feitas ou iniciadas pelo governo;

4) São interpretadas e implementadas por actores públicos e privados; 5) Correspondem ao que o governo entende fazer ou realizar;

6) Traduzem também o que o governo escolhe ou não fazer.

São legitimadas por serem concebidas em nome do interesse público enquanto domínio em que não é viável desenvolver pelo simples jogo de mercado. Este domínio, decorre de um superior interesse que incorpora a compatibilização de interesses que entre si colidem ou se interligam.

A ideia do público pressupõe a existência de uma esfera ou domínio da vida que não é privado, nem tão pouco meramente individual, mas que pelo contrário, é assumido como comum (Parsons, 1995:3). Como tal, envolve a esfera de provisão de bens ou serviços públicos, cuja concretização demanda a necessidade de actuação do Estado. Este modelo de provisão de bens e serviços destinados a corresponder ao interesse público é variável ao longo do tempo e dependente das opções políticas de cada sociedade de acordo com a sua ideologia.

Segundo Dye, o processo de produção de políticas públicas obedece às seguintes fases:

1) Identificação do problema; 2) Agendamento;

3) Formulação da política; 4) Legitimação da política;

5) Implementação; 6) Avaliação da política.

A relação entre a formulação da política e o seu contexto político podem ser explicadas de forma de acordo com seis abordagens (Parsons, 1995:39-40):

1) Abordagens por fases; 2) Pluralistico-Elitistas; 3) Neo-Marxistas; 4) Sub-Sistémicas; 5) Institucionalistas;

6) Abordagens ao Discurso Político.

Na Abordagem Por Fases o processo de produção das políticas é composto por uma série de pessoas ou sequências e inicia-se com a fixação da agenda e termina com a avaliação da política e com a sua finalização. O modelo Pluralistico-Elitistas enfoca no poder e na sua distribuição entre grupos e elites e na forma como formatam e delineiam a produção política. Relativamente à Abordagem ;eo-Marxista podemos considerar que põe a sua ênfase na aplicação das ideias de Marx na formação das políticas na sociedade capitalista. Por sua vez, a Abordagem Sub-sistémica analisa a produção de políticas de acordo com novas metáforas, como por exemplo, redes, comunidades e sub-sistemas. Examinar o processo político ao nível da linguagem e da comunicação é o ponto basilar da Abordagem ao Discurso Político. E finalmente, as Abordagens Institucionalistas que abordam o papel que as instituições na definição e formulação das políticas públicas (Parsons, 1995:39-40).

Para Heidenheimer, a “política pública comparativa, consiste no estudo de como, do porquê e de qual o efeito perseguido pelos diferentes governos, enquanto particulares decursos ou sequências de acção ou de inacção” (por Parsons, 1995:40). A resposta àquelas questões pode formular-se através das diversas abordagens que se seguem (Parsons, 1995:40):

1) Abordagens sócio económicas;

3) Abordagens de Lutas entre Classes; 4) Abordagens Neo-Corporativas; 5) Abordagens Institucionalistas.

A primeira abordagem observa a forma de constituição das políticas públicas como resultados de factores económicos e sociais. As abordagens Governamentais e Partidárias enfocam o modo como a competição entre partidos e o controle partidário do governo têm importância para as políticas públicas. No que refere a abordagem de Luta entre Classes, podemos compreende-la como forma explicativa através das formas políticas de luta de classes nos diferentes países. O enfoque na influência é dos interesses organizados na determinação das políticas é procedido pela abordagem Neo-Corporativas. Para finalizar, as abordagens Institucionalistas analisam a importância do papel do Estado e das instituições sociais no formato e definição das políticas (Parsons, 1995:40).