• Nenhum resultado encontrado

Igualdade de Oportunidades e Equidade no Ensino Superior

Capítulo 2. Enquadramento Teórico: Ação Social no Ensino Superior

2.5. Igualdade de Oportunidades e Equidade no Ensino Superior

A forma de financiar os custos do ensino superior, nomeadamente a crescente comparticipação dos estudantes e respetivas famílias nos encargos associados à frequência de um curso superior, levanta questões de acessibilidade, igualdade de oportunidades e equidade social. Daí que os apoios sociais sejam vistos como um veículo importante de promoção da igualdade de oportunidades no acesso e frequência do ensino superior (European Commission/EACEA/Eurydice, 2015, 2014, 2011 e 1999; OCDE, 2015b, 2013c, 2012b, 2004).

A igualdade está na base da Declaração Universal dos Direitos do Homem (UN, 1948), cujo Art.º 1º refere que “todos os seres humanos nascem livres e iguais na dignidade e nos direitos”. Também na Constituição da República Portuguesa (CRP) a igualdade constitui um dos princípios fundamentais, desde logo na definição do Princípio da Igualdade (Art.º 13º), segundo o qual “todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a lei”, […] “ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão de ascendência, sexo, raça, língua, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação económica, condição social ou orientação sexual”.

O conceito de igualdade é complexo e multifacetado, podendo referir-se a inúmeras características e condições da existência humana, pelo que, como refere Haubrich (2008), normalmente seja adjetivado para clarificar a que tipo de igualdade nos estamos a referir – igualdade social, igualdade de géneros, igualdade racial ou igualdade política, entre

63

muitos outros. Por outro lado, para que possa ser usufruída em pleno pelos indivíduos, a igualdade tem que ser aceite por todos os membros da sociedade e amplamente divulgada, como refere Jerónimo (2010: 50), “para que exista verdadeira igualdade entre os seres humanos, torna-se necessário que cada um reconheça no outro a dignidade de ser igual a si e proceda para com os outros segundo um espírito de fraternidade, sem discriminação em função do sexo, da nacionalidade, da raça, da etnia ou da religião”.

De acordo com o contexto a que se refere, o conceito de igualdade pode assumir significados distintos, por exemplo: na matemática significa equivalência entre duas grandezas; em termos jurídicos significa que a lei é igual para todos; em termos civis, que todos os cidadãos têm os mesmos direitos e deveres; em termos materiais que todos têm acesso aos mesmos recursos. Independentemente do contexto e até das diferentes conceções teóricas acerca do conceito de igualdade25, os princípios baseados na igualdade

assentam na ideia de igual tratamento para todos os indivíduos, independentemente das suas características ou origens.

Estamos a referir-nos à igualdade por contraposição à desigualdade, algo que é circunstancial e reversível através da ação social, ao contrário da igualdade como oposição ao conceito de diferença (Barros, 2005). Na explicação que apresenta do chamado “triângulo semiótico da igualdade” (igualdade – diferença – desigualdade), o autor refere que “pode-se dizer que as desigualdades relacionam-se mais frequentemente ao estar ou mesmo ter (pode-se «ter» mais riqueza, mais liberdade, mais direitos políticos), enquanto as diferenças relacionam-se mais habitualmente ao ser («ser negro», «ser brasileiro», ser mulher») (Barros, 2005: 353). Desta forma, as diferenças são inerentes à própria condição humana, pela diversidade de características intrínsecas ao ser humano, como a idade, o sexo ou a etnia, ou às condições sociais externas aos indivíduos, como o sítio onde nasceram, enquanto as desigualdades podem estar relacionadas com as diferentes formas de estar e de se relacionar com os outros, aos diferentes estilos de vida, às diversas redes

25 Jerónimo (2010) apresenta no seu estudo uma interessante análise das diferentes abordagens teóricas

64

sociais e profissionais a que os indivíduos vão tendo acesso ao longo da vida ou aos diferentes percursos traçados pelos próprios indivíduos.

Neste sentido, qualquer política social que pretenda promover a igualdade deve pretender minimizar as desigualdades, reconhecendo a existência das diferenças, à semelhança do que Barros (2005: 347) refere: “as lutas sociais não se orientam em geral para abolir as diferenças, mas sim para abolir ou minimizar as desigualdades”.

No que respeita à educação, a igualdade está intrinsecamente relacionada com o conceito de igualdade de oportunidades, que corresponde à ideia de Singer (2004) de que todos os indivíduos tenham iguais condições à partida, na corrida ou competição que caracteriza a vivência em sociedade. Nesta ótica, e reconhecendo a desigualdade de circunstâncias e vivências presentes em todas as sociedades, o apoio social torna-se então fundamental, em todos os níveis de ensino, para que sejam criadas as condições necessárias para compensar os indivíduos que partem em desvantagem, com o intuito de minimizar tais desigualdades.

Frequentemente, a igualdade de oportunidades é encarada como um ideal, nomeadamente o que Rawls (2003) designa por “igualdade de oportunidades justa”, alcançável apenas em sociedades onde qualquer indivíduo, com idêntico talento inato e o mesmo grau de ambição, tenha a mesma probabilidade de ser bem sucedido, o que só ocorrerá se o estatuto económico-social e o contexto em que cada um nasce não tiverem impactos significativos nas potencialidades de sucesso de cada um.

Em termos socioeconómicos, a igualdade de oportunidades entre dois indivíduos só existe se ambos dispuserem de recursos ajustados às suas necessidades, de forma que possam beneficiar, ao longo da vida, do mesmo nível de bem-estar e qualidade de vida. Envolve, portanto, questões qualitativas, muito para além das estritamente económicas e materiais, como as oito áreas que Caride (2009, apud Jerónimo, 2010: 69) associa ao bem-estar: saúde, educação, emprego, lazer, bens e serviços disponíveis, meio ambiente, segurança e justiça.

65

Em termos educativos, o ideal de igualdade de oportunidades exige que esteja garantido que a escola confira as mesmas vantagens a todos os indivíduos, de forma que as oportunidades e benefícios económicos e sociais proporcionados pela educação possam ser alcançados por qualquer um, independentemente das suas origens e contexto socioeconómico.

Colleman (2011) analisa as mudanças evolutivas verificadas na interpretação do conceito de igualdade de oportunidades educacionais, desde a revolução industrial e o subsequente surgimento da escola pública no século XIX até aos dias de hoje, argumentando que “apenas se pode alcançar total igualdade de oportunidades se todas as influências externas à escola desaparecerem” […] e que “dadas as influências divergentes existentes, a igualdade de oportunidades apenas pode ser abordada e nunca totalmente alcançada” (Colleman, 2011: 151).

A igualdade de oportunidades no ensino português é explicitamente referenciada na Constituição da República Portuguesa (CRP) quando se afirma que “todos têm direito ao ensino com garantia do direito à igualdade de oportunidades de acesso e êxito escolar” (n.º 1 do Art.º 74º), e que cabe ao Estado promover “a democratização da educação e as demais condições para que a educação […] contribua para a igualdade de oportunidades, a superação das desigualdades económicas, sociais e culturais” (n.º 2 do Art.º 73º). Em particular, no ensino superior a CRP define que “o regime de acesso à Universidade e às demais instituições do ensino superior garante a igualdade de oportunidades e a democratização do sistema de ensino” (n.º 1 do Art.º 76º).

Encarando o acesso à educação como um direito fundamental de todos os cidadãos, independentemente da sua condição ou origem socioeconómica, e considerando que o ensino superior acarreta custos para os estudantes e respetivas famílias, então a igualdade de oportunidades no ensino superior deve ser assegurada (ou pelo menos a desigualdade de oportunidades minimizada) de acordo com as condições socioeconómicas dos estudantes, através de políticas sociais de apoio aos estudantes oriundos de agregados familiares carenciados e meios socias desfavorecidos.

66

Os apoios sociais no ensino superior estão também relacionados com o conceito de equidade, enquanto requisito básico de justiça social, que assume um significado diferente do conceito de igualdade. Apesar de estes dois conceitos serem inúmeras vezes utilizados na literatura de forma indiferenciada, importa compreender a sua distinção.

No Equity Handbook a equidade é definida como sendo “a qualidade de ser imparcial ou justo”, sendo que “para que o tratamento seja justo, questões de diversidade têm de ser tidas em consideração para que as diferentes necessidades e exigências dos indivíduos sejam atendidas” (Gielis, 2010: 11). Assim sendo, a equidade é um aspeto de justiça social que diz respeito ao reconhecimento das diferenças e à correção das desigualdades nomeadamente em relação a grupos desfavorecidos.

Por exemplo no direito, o conceito de equidade surge no sentido de corrigir injustiças da universalidade da lei quando esta não é aplicável, de forma justa, a casos individuais. Neste sentido, ao contrário da igualdade (no sentido de igual tratamento), que não tem em conta as diferenças entre os indivíduos, a equidade tem implícita a identificação das diferenças e o tratamento desigual das situações diferentes, numa tentativa de ir ao encontro de soluções socialmente mais justas para determinados casos específicos.

A Teoria da Justiça de Ralws [1971] tinha implícita esta distinção entre os conceitos de igualdade e equidade. Ralws defendia que uma sociedade justa deve garantir que todos os indivíduos na sociedade tenham acesso aos chamados bens sociais primários (considerados essenciais para que uma pessoa possa ter uma vida digna: liberdades, oportunidades, rendimento, riqueza e bases sociais da auto-estima). A sua conceção de justiça social ou “justiça como equidade” baseava-se na ideia de que esses bens devem ser distribuídos de forma igual, exceto se a distribuição desigual beneficiar os mais desfavorecidos da sociedade e se essa correção da desigualdade estiver acessível a todos (Ralws, 1993). Neste sentido, a justiça social não é interpretada como igualdade (no sentido de tratamento igual), mas como equidade, permitindo tratamentos desiguais, desde que justificados nomeadamente pelas contingências que afetam as perspetivas de vida de cada um, tais como a sua classe social de origem, os seus talentos naturais e a sua boa ou má sorte ao longo da vida.

67

A sua conceção de equidade assentava em dois princípios fundamentais (Ralws, 1993: 67):

Princípio de liberdades iguais: cada pessoa tem o mesmo direito irrevogável a um esquema

plenamente adequado de liberdades básicas iguais, que seja compatível com o mesmo esquema de liberdades para todos os restantes;

Princípio da diferença: as desigualdades sociais e económicas devem satisfazer duas

condições: em primeiro lugar, devem estar vinculadas a cargos e posições acessíveis a todos em condições de igualdade equitativa de oportunidades; e, em segundo lugar, têm de beneficiar ao máximo os membros menos favorecidos da sociedade.

De realçar que o primeiro princípio tem preponderância sobre o segundo, ou seja, a liberdade e igualdade de oportunidades devem ser priorizadas e o princípio da diferença deve ser o último a ser contemplado. Isto significa que, segundo Ralws (1993), uma sociedade justa seria a que equipara todos os sujeitos no mesmo patamar (a hipotética “posição inicial”, sob o “véu da ignorância”) para que possam exercer a sua autonomia e tenham todos as mesmas oportunidades de se desenvolverem. Contudo, uma vez que a realidade social apresenta grandes desigualdades, que afetam os sujeitos de várias formas, torna-se necessário o uso do princípio da diferença para que seja possível equalizar situações em que muitos atores sociais se encontram e os colocaram em desvantagem por questões históricas, culturais, económicas, geográficas, religiosas ou outras. Para os que não tivessem tantas possibilidades de se desenvolverem, por estes condicionalismos, entraria o princípio da diferença para equiparar estas situações, cabendo ao Estado esse papel.

Também D’Adesky (2003) distingue equidade de igualdade na forma de solucionar problemas sociais como o racismo, o sexismo, o género ou outras formas de discriminação, defendendo que a solução para estes problemas não passa pela aplicação das mesmas regras para todos (igualdade), mas pela aplicação de medidas específicas que tenham em consideração situações particulares (equidade), nomeadamente dos grupos minoritários e desfavorecidos.

Da mesma forma que Jerónimo (2010) conclui que, para lá do princípio da igualdade, aplicável a todos os membros da sociedade por igual, existem características individuais que justificam a necessidade de reconhecer a individualidade e a dignidade da pessoa

68

humana e de, em determinadas circunstâncias, se desenvolverem políticas públicas que compensem ou reduzam as disparidades de certos grupos minoritários, desfavorecidos ou discriminados por questões de género, raciais, étnicas, religiosas ou económicas (princípio da equidade).

Em torno do conceito de equidade, enquanto dimensão normativa da natureza redistributiva da Política Social, Pereirinha (2008a) distingue equidade horizontal de equidade vertical. De acordo com o autor, o princípio da equidade horizontal significa que “dentro da população relevante, se deve tratar de forma adequadamente idêntica todos os que se encontrarem na mesma situação”, enquanto o princípio da equidade vertical significa que “as pessoas que estiverem em situação diferente devem ser objeto de tratamento adequadamente diferente” (Pereirinha, 2008a: 113)26.

O princípio da equidade horizontal baseia-se no critério da igualdade de situação, contudo e apesar de não ser explicitado, ele significa que pode haver tratamento diferente para pessoas que se encontrem em situação diferente. Este princípio está maioritariamente presente nas medidas de natureza universal, em que se pretende garantir a igualdade de direitos ou de acesso a determinadas medidas de política. Também em medidas do tipo seletivo podem ser encontradas preocupações de equidade horizontal, por exemplo, nas medidas sujeitas a condições de recursos, no sentido de conceder subsídios idênticos ou acesso idêntico aos indivíduos que provem encontrar-se em idêntica situação de necessidade (Pereirinha, 2008a).

A equidade vertical centra-se na identificação das situações diferentes que justificam um tratamento diferenciado com vista à redução das desigualdades. Está presente nas medidas de política fiscal em que a redução das disparidades de rendimento é uma preocupação, como nos impostos progressivos. Mas também está presente por exemplo quando se estabelecem valores mínimos para determinada prestação social (idem).

26 O autor enumera também, para além destes dois, o princípio da equidade intergeracional, presente nas

políticas redistributivas entre gerações, “que visam assegurar direitos sociais, quando estão presentes dimensões intertemporais”. (Pereirinha, 2008: 23).

69

Relativamente ao ensino, Gielis (2010: 11) defende que uma abordagem equitativa na educação tem que “identificar e levar em conta a diferença na distribuição justa do tempo e de recursos e a imparcialidade na avaliação dos resultados”. O autor argumenta que a equidade em termos educativos deve ser uma meta inclusiva, de reconhecimento e correção da discriminação através de mecanismos de ação afirmativa, nomeadamente a favor de grupos marginalizados que enfrentam relações de poder desiguais e obstáculos que impedem a sua realização educacional.

Em relação a este aspeto, o relatório da OCDE (2009) refere que a equidade na educação significa que, por um lado, se deve garantir a todos os indivíduos o acesso à educação e o seu desenvolvimento potencial e, por outro lado, o sistema educativo deve garantir a inclusão de todos os cidadãos, assegurando um mínimo de educação generalizado. Neste documento são propostas algumas medidas no sentido de se alcançarem estes dois objetivos, nomeadamente:

i) A estruturação de sistemas educativos que promovam a educação justa e inclusiva, nomeadamente repensando a forma como é feita a seleção dos estudantes e a composição social das escolas;

ii) A implementação de práticas justas e inclusivas, identificando e proporcionando ajuda sistemática aos estudantes com menor rendimento escolar, prestando especial atenção às dificuldades de aprendizagem;

iii) O reforço dos laços entre a escola e a família, auxiliando as famílias mais desfavorecidas a apoiar os seus filhos nos estudos;

iv) A aceitação da diversidade e a promoção da inclusão das minorias e dos imigrantes nos sistemas educativos nacionais;

v) A existência de um sistema educativo com recursos justos e inclusivos que promovam a educação, desde o ensino básico, visto ser esta a melhor forma de promover a equidade no sistema educativo como um todo;

vi) O estabelecimento de objetivos concretos relativamente à equidade, definindo metas para a promoção do sucesso educativo e para a redução do abandono escolar.

No contexto do ensino superior, a equidade tem a ver com a capacidade de acesso, frequência e conclusão, independentemente das diferenças individuais e tal implica a correção das desigualdades e dos obstáculos que o podem pôr em causa. Em termos conceptuais, Gielis (2010: 12) refere-se à equidade participativa no ensino superior no

70

sentido em que este deve refletir verdadeiramente a sociedade, com todos os grupos sociais a terem participação neste nível de ensino “na mesma medida que a sua participação na população”. Tal como menciona a democratização do ensino superior associada à ideia de que “todos, independentemente da sua origem socioeconómica e cultural, têm o direito a participar, de acordo com as suas escolhas e os seus talentos, sem quaisquer barreiras”.

Como refere Pereirinha (2008a) a existência de fatores económicos ou barreiras sociais que condicionam as possibilidades de escolha dos indivíduos legitimam a promoção da igualdade de oportunidades, por razões de equidade, como forma de eliminar ou pelo menos reduzir essas barreiras, nivelando o conjunto de possibilidades de escolha.

O sistema de ensino superior só será equitativo se todos os estudantes ao concluírem o ensino secundário tiverem iguais possibilidades de prosseguir os estudos, caso seja essa a sua vontade. Se alguns jovens tomarem a decisão de não continuar os seus estudos porque as suas condições económicas não o permitem, por não ter capacidade de suportar os custos inerentes, então a política educativa não é equitativa, na medida em que a sua escolha foi condicionada. Assim sendo, qualquer medida de política social que consiga minimizar as barreiras que possam estar a condicionar tais escolhas, contribuirá para uma maior equidade no sistema de ensino superior.

Os apoios sociais no ensino superior podem então ser entendidos como medidas de política social conduzidas por princípios de equidade. A atribuição de bolsas de estudo aos estudantes economicamente carenciados, por exemplo, é uma ação de discriminação positiva, na medida em que introduz fatores compensatórios que visam reduzir a desigualdade no conjunto de possibilidades de escolha dos estudantes.

Neste sentido, concordamos com o argumento de Jerónimo (2010) de que a ação social pode ser encarada como uma forma de discriminação positiva que pretende combater as injustiças no acesso, frequência e conclusão do ensino superior.

Também Cerdeira (2008) defende que a acessibilidade e equidade no ensino superior dependem fortemente das políticas de apoio social e dos instrumentos utilizados para

71

concretizar esses apoios, sob a forma de bolsas de estudo e programas de empréstimos estudantis, no sentido de balancear a partilha de custos no ensino superior, por forma a não pôr em causa a possibilidade dos estudantes mais desfavorecidos continuarem os seus estudos.

De acordo com Striedinger (2008), para além dos custos, os próprios critérios de acesso ao ensino superior funcionam como uma seriação social que seleciona os estudantes pela sua origem social e situação socioeconómica, referindo-se a uma discriminação dos estudantes mais desfavorecidos. O autor defende assim a necessidade de se atuar no sentido de reduzir as barreiras sociais que dificultam o acesso dos mais carenciados ao ensino superior.

Lederman (2007) acrescenta ainda que uma das causas para o reduzido número de alunos de famílias carenciadas a frequentar o ensino superior é o desconhecimento dos sistemas de apoio disponíveis, argumentando que se deve apostar em ações que lhes disponibilizem toda a informação necessária para que possam ingressar no ensino superior com as condições necessárias.

Coleman (1988) argumentava que a continuidade dos estudantes no ensino, bem como os resultados escolares, dependem do nível de capital social das suas famílias e das relações e interações que se estabelecem entre pais e filhos. Nomeadamente da atenção que os pais atribuem à evolução educativa dos filhos e, no caso da continuidade para o ensino superior, do interesse e importância que os pais demonstram ao longo do seu percurso escolar de que os filhos ingressem neste nível de ensino.

A teoria da reprodução pode ajudar a explicar o percurso educativo e o sucesso escolar, de acordo com a classe social de origem dos estudantes (Bourdieu e Passeron, 1983). Segundo esta teoria as classes sociais constituem, para além de uma fonte de recursos desiguais, também diferentes formas de pensar, de sentir e de agir, com óbvias consequências no percurso e sucesso escolar. De acordo com esta abordagem, mesmo que se conseguisse