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Igualdade Política, Igualdade Intrínseca: Princípios da

CAPÍTULO 1 CONTEXTUALIZAÇÃO DAS POLÍTICAS CULTURAIS NO

1.6 PRINCÍPIOS DE IGUALDADE E DE LIBERDADE DE

1.6.1 Igualdade Política, Igualdade Intrínseca: Princípios da

Quino

A democracia, segundo Dahl (2009b), proporciona oportunidades para a participação efetiva, igualdade de voto, aquisição de entendimento esclarecido, exercício do controle definitivo do planejamento e a inclusão de adultos. Ao mesmo tempo em que estes são pressupostos para o princípio de igualdade política, são exemplificados como os modos de satisfazer a exigência de que todos os membros estejam igualmente capacitados a participar das decisões políticas:

1) Participação efetiva - oportunidades iguais para que todos falem e sejam escutados, para que se conheça a opinião de cada um;

2) Igualdade de voto - votos contados iguais e oportunidade igual para votar a todos os membros quando for necessário se efetivar uma decisão política; 3) Entendimento esclarecido - dentro de limites razoáveis de tempo, cada

membro deve ter oportunidades iguais de aprender sobre as políticas alternativas importantes e suas prováveis consequências;

4) Controle do programa de planejamento - os membros devem ter a oportunidade exclusiva para decidir como e, se preferirem, quais as questões que devem ser colocadas no planejamento;

5) Inclusão dos adultos - todos ou, de qualquer maneira, a maioria dos adultos residentes permanentes deveriam ter o pleno direito de cidadãos implícito no primeiro dos critérios. Antes do século XX, este critério era inaceitável para a maioria dos defensores da democracia. Justificá-lo exigiria que examinássemos por que devemos tratar os outros como nossos iguais políticos.

Segundo Dahl (2009b, p.50), quando qualquer dessas exigências é violada, os membros não serão politicamente iguais, fugindo, assim, da lógica do exercício democrático, cujo processo é impossibilitado em ocasiões nas quais uns podem ser mais ouvidos que outros; sendo, assim, é provável que as políticas desses prevaleçam e que essa minoria venha a determinar as políticas em questão. O critério da participação efetiva visaria evitar essa possibilidade. Nessa hipótese, cabe se questionar, contudo: se todos estivessem qualificados para a discussão, por que alguns votos contariam mais do que os de outros?

Nesse sentido, o princípio da igualdade política pressupõe a condição de que os membros estejam qualificados igualmente para participar, o que ocorre somente quando estes têm iguais oportunidades para aprender sobre as questões relacionadas ao assunto ou debate por meio da investigação, discussão e deliberação, o que exige o entendimento esclarecido.

Assim, o processo democrático exigido pelos três primeiros critérios jamais é encerrado, podendo as políticas de uma associação ou governo estarem sempre abertas para a mudança pelos membros e pela participação, se assim estes optarem. O autor pondera, contudo, nem sempre ser possível que todos os membros tenham iguais oportunidades de participar, de adquirir informação para compreender e influenciar um programa. Esses são modelos ideais para instigarem instituições e práticas e "arranjos concretos" nessa direção (grifo nosso).

Ainda, apontando para a discussão da igualdade política, Dworkin (2005, p.502) denomina de coparticipativa uma dimensão de democracia em que "o governo exercido pelo 'povo' significa governo de todo o povo, agindo em conjunto como parceiros plenos e iguais no empreendimento coletivo do autogoverno", enfatizando três dimensões:

1) A soberania popular, que é a relação do público como um todo e as diversas autoridades que compõem o governo. O povo, e não as autoridades, é o senhor;

2) Igualdade da cidadania – a equidade entre os cidadãos exige que participem como iguais; estarem habilitados ou capacitados a votar e falar nos diversos processos pelos quais se tomam as decisões políticas coletivas e se formam a opinião e a cultura políticas (DWORKIN, 2005, p.511);

3) O discurso democrático e a ação coletiva requerem interação:

Se o povo pretende governar coletivamente, de maneira que torne cada cidadão um parceiro da empreitada política, deve deliberar, como indivíduo, antes de agir coletivamente, e a deliberação deve concentrar-se nos motivos a favor e contra essa ação coletiva, para que os cidadãos que perderem em um assunto possam ficar satisfeitos por terem tido a oportunidade de convencer os outros, para que não precisem acreditar que não conseguiram apenas porque foram numericamente derrotados (DWORKIN, 2005, p.512).

Sobre esse aspecto de igualdade de condições para alcançar um patamar democrático, Dahl apresenta o conceito de igualdade intrínseca, considerada como um julgamento moral, diferenciando a desigualdade de se ganhar ou perder em uma competição, da desigualdade de não se ter a oportunidade de votar, falar e participar nas escolhas de um governo (grifo nosso).

O autor (2009b, p.78) assume como julgamento moral a insistência na ideia de que

a vida, a liberdade e a felicidade de uma pessoa não são intrinsecamente superiores ou inferiores às de qualquer outra. Consequentemente, devemos tratar todas as pessoas como se possuíssem igual direito a vida, à liberdade, à felicidade e a outros bens e interesses fundamentais.

Mesmo considerando que muitos podem acreditar na implausibilidade dessa alternativa, por haver o princípio da superioridade intrínseca, que pode se impor por alguns quando estes desejam que apenas os seus desejos sejam afirmados em detrimento de seu egoísmo, o autor (2009b, p.80) afirma a igualdade intrínseca como princípio a ser adotado pelos governos de Estado, desde que sejam observadas as propriedades da prudência e da aceitabilidade para que se mantenha esse pressuposto democrático (grifo nosso). A prudência, no que diz respeito a insistir em que os interesses de uns tenham peso igual aos interesses dos outros e a aceitabilidade, como um processo que assegure igual peso para todos.

A democracia exige um redimensionamento constante sobre como, quais e em que medida os direitos humanos, políticos e sociais podem ser alcançados e garantidos. Do mesmo modo, exige uma avaliação de como se distribui o poder para a participação nas escolhas e decisões políticas em um governo, para que os desejos, os interesses e as necessidades dos indivíduos que compõem uma determinada sociedade possam ser

manifestados nos espaços de participação e, consequentemente, em suas legislações e, portanto, nas políticas elaboradas e praticadas.

A proposição de igualdade política é uma discussão complexa, considerando-se, no Brasil, as dimensões do País, além das diferenças e contrastes sociais, econômicos, territoriais, entre outros fatores como o próprio histórico apresentado. Contudo, o que se pretende aqui é sublinhar a importância de se considerar a existência desses pressupostos democráticos como um modelo a ser perseguido nas práticas cotidianas da vida política brasileira como balizadores das iniciativas e preocupações de qualquer cidadão.

Um outro parâmetro para se discutir a igualdade política é o das liberdades humanas, conforme propõe Amartya Sen55 (1933), economista indiano, um dos fundadores

do Instituto Mundial de Pesquisa em Economia do Desenvolvimento56, que apresenta

a liberdade como o principal fim do desenvolvimento. Este deve consistir, segundo Sen, na expansão das possibilidades de escolhas e oportunidades das pessoas para exercerem sua condição de cidadão (grifo nosso). O desenvolvimento deve ser entendido como recurso para a eliminação de privações de liberdade que limitam a participação política e a garantia de direitos.

Sen abarca pelo viés do desenvolvimento a prioridade de se inter-relacionar direitos, debate público, satisfação de necessidades econômicas e liberdade de participação política (grifo nosso). É na relação entre estes aspectos que se pode expandir e efetivar maior liberdade e concomitantemente garantir maior participação e consequente politização e cidadania. E, nesse sentido, interessa a esta tese apresentar parte do entendimento do autor sobre estas relações.

A expansão das liberdades das pessoas implica um processo amplo e que envolve várias dimensões como coloca Sen (2009): a análise das políticas públicas; o papel das instituições; a formação de valores e a emergência e evolução da ética social. Pois a liberdade não se traduz simplesmente na ideia de abertura de mercados e (ou) planejamento eficiente. As liberdades humanas dependem de outros determinantes, como as disposições sociais e econômicas – os serviços de educação e saúde – e

55 Ler mais em "Desenvolvimento como Liberdade" livro de Amarthya Sem publicado no Brasil pela

Companhia das Letras, em 1999.

os direitos civis – a liberdade de participar de discussões e averiguações políticas (SEN, 2009, p.17, grifo nosso).

Encontra-se na proposição de Sen similaridade de forma com os apontamentos sobre a igualdade política e igualdade intrínseca, conforme Dworkin e Dahl, já que o princípio que estrutura estas noções codepende de uma "abrangente preocupação com o processo do aumento das liberdades individuais e o comprometimento social de ajudar para que isso se concretize" (SEN, 2009, p.336, grifo nosso).

Ademais, tipos distintos de liberdades, entendidas como instrumentais pelo autor, estão inter-relacionados e corroboram para a expansão da capacidade de as pessoas viverem "mais livremente", a exemplo das (SEN, 2009, p.55) liberdades políticas, facilidades econômicas, oportunidades sociais, garantias de transparência, segurança protetora.

Assim como os direitos políticos e civis básicos são, muitas vezes, preteridos em discussões pelos direitos econômicos, Sen afirma que as questões residem nas inter-relações entre as liberdades políticas e a compreensão e satisfação de necessidades econômicas. Relações que não são apenas instrumentais – uma área pode contribuir com a outra – mas que também são relações construtivas: "Nossa conceituação de necessidades econômicas depende crucialmente de discussões e debates públicos abertos, cuja garantia requer que se faça questão da liberdade política e de direito civis básicos" (SEN, 2009, p.175, grifo nosso).

A discussão proposta pelo economista do desenvolvimento, Amarthya Sen (2009, p.264), sobre a questão dos direitos humanos aponta para uma definição deles como "um conjunto de pretensões éticas que não devem ser identificadas por direitos legais legislados (que precisem de leis e da política para controlá-los se acontecem ou não)". Os direitos humanos dizem respeito a benefícios que todos deveriam ter e por isso são considerados, pelo autor (2009, p.265), como pretensões, poderes, imunidades "que seria bom que as pessoas tivessem" (grifo nosso).

Como Sen manifesta, apenas uma política pública poderia resguardar o direito de acesso, por exemplo, aos bens culturais em um governo. Como nem todo o direito será assegurado por lei, Sen ressalta a importância de este tema ser contemplado nos debates públicos, em que as liberdades associadas aos direitos específicos podem ser levantadas: "Temos de julgar a plausabilidade dos direitos humanos

como um sistema de raciocínio ético e como base de reivindicações políticas" (SEN, 2009, p.264, grifo nosso).

Como componentes que possibilitam angariar e (ou) respeitar direitos estão os espaços de participação e debate, portanto, onde se pode reconhecer os direitos do cidadão e firmá-los como pressupostos para elaborar leis que mantenham e contemplem direitos e demandas – aspecto de extrema relevância para este estudo e para a proposição de fortalecimento das organizações civis da dança. São essas organizações e os movimentos que emergem destas, os que podem transformar os padrões relacionais instituídos entre gestores/instituições públicas de Estado e artistas e profissionais da dança. O território político será abarcado e ampliado na medida em que o tamanho e a importância da dança, e de seus parcos indicadores, forem assimilados, corporalizados pelo sistema cultural, político e econômico. Ao se garantir espaços de participação e debates qualificados, as lógicas que estruturam e operam as relações entre poder público e sociedade civil emergem e podem ser estudadas com vistas a que as especificidades da área da dança possam ser legitimadas e instituídas como politicas públicas.

Sen prossegue com uma menção que entrelaça e estabelece a relação entre alcançar e garantir direitos com a necessidade de debate público e implementação de políticas democráticas: "[...] a intensidade das necessidades econômicas aumenta – e não diminui – a urgência das liberdades políticas" apontando três considerações para a preemência dos direitos políticos e civis básicos (SEN, 2009, p.175, grifo nosso):

1) Sua importância direta para a vida humana associada a capacidades básicas (como a capacidade de participação política e social);

2) Seu papel instrumental de aumentar o grau em que as pessoas são ouvidas quando expressam e defendem suas reivindicações de atenção política (como as reivindicações de necessidades econômicas);

3) Seu papel construtivo na conceituação de "necessidades" (como a compreensão das "necessidades econômicas" em um contexto social).

A relação entre necessidades econômicas e liberdades políticas também possui um caráter construtivo, segundo Sen. Conforme exemplifica o autor, ao exercitar os direitos políticos básicos, a própria conceituação do que é necessidade econômica irá requerer o exercício desses direitos; além disso, possivelmente este exercício pode se desdobrar em respostas políticas a necessidades econômicas. Compreender

quais são as necessidades econômicas e seu conteúdo e força exige diálogo e discussão (SEN, 2009, p.180).

Por conseguinte, trata-se de gerar diálogos construtivos, intercâmbios e espaços de "apreendência" entre atores públicos e privados, cidadãos e organizações civis em distintas localidades que contribuam para impulsionar uma reflexão coletiva sobre soluções possíveis a problemas comuns e que estejam vinculados com a promoção de uma coesão social e (ou) mesmo de uma área específica como a dança.

Importa tomar-se também em conta que o avanço e a coesão social, política e econômica de qualquer área ou campo de conhecimento são indissociáveis do aumento das capacidades, dos recursos e das competências dos gestores públicos e dos governos em suas distintas instâncias. O que demanda, concomitantemente, o estabe- lecimento de uma agenda permanente que reflita sobre as aspirações comuns da sociedade e seus participantes para que estes incidam nos processos e nas instâncias necessárias para o aumento de coesão tanto social quanto política e econômica, seja de uma área artística, seja do próprio Sistema Nacional de Cultura, seja da sociedade. Todos são atores de cooperação para trabalhar na escolha e definição de objetivos e planos, nos debates. A cooperacão, em si mesma, cabe ser considerada como um mecanismo para o funcionamento de um sistema que codepende da participação ativa e, para tanto, da garantia de direitos.

E, de modo proporcional e inverso, no rol de direitos políticos e civis está a garantia de debate, discussão, o espaço para o dissenso e a crítica, pois apenas estas componentes fundamentam boas e refletidas escolhas, além de serem imprescindíveis para gerar valores e prioridades: "[...] e, não podemos, em geral, tomar as preferências como dadas independentemente de discussão pública, ou seja, sem levar em conta se são ou não permitidos debates e diálogos" (SEN, 2009, p.181).

Nos debates, o espaço para o dissenso necessita ser entendido como estratégia democrática. A busca por uma suposta harmonia, nos processos de escolha e decisão, muitas vezes arranjada por uma forjada consensualidade entre debatedores e representantes, mostra-se como estratégia de poder e de manutenção da desqualificação nas discussões. Desejos pessoais e (ou) motivados exclusivamernte pelo interesse de alguns muitas vezes suplantam necessidades específicas de uma área e de um debate movido por criteriosa argumentação, qualificação técnica e mesmo artística,

quando no caso da dança e outras áreas das artes. Ideias perdem espaço nas discussões e nos debates para interesses pessoais – conseguir cargos ou poder – sobrepujando interesses e demandas coletivas muitas vezes construídas ao longo de anos e por meio de inúmeros confrontos anteriores. Entre o cotidiano das discussões e o momento de escolha política, nos espaços de representação, há que se ter um representante autônomo e que preze os valores do coletivo que o legitima como porta-voz. Torna-se este um dos grandes desafios para que uma proposta coletiva chegue sã e salva ao espaço onde será avaliada e votada/selecionada.

Nesse sentido, a democracia também desempenha um papel construtivo por criar um conjunto de oportunidades, contudo codepende dos direitos políticos e do tipo de "prática" democrática exercitada pelos cidadãos, pois ao mesmo tempo em que estabelece regras e procedimentos para ser potencializada, requer que as oportunidades disponibilizadas sejam utilizadas e exercidas pelos cidadãos (SEN, 2009, p.182-183). E este aproveitamento de uma "prática mais integral" da democracia relaciona-se a "um aproveitamento mais eficaz da comunicação e participação política" (SEN, 2009, p.182).

Sinais como apatia e alienação não devem ser menosprezados, segundo o autor, que considera alguns fatores como responsáveis pela força da participação e do aproveitamento de oportunidades em regimes democráticos: a) o vigor da política multipartidária; b) o dinamismo dos argumentos morais e da formação de valores; c) o ativismo de participantes políticos; d) o ativismo dos partidos de oposição (SEN, 2009, p.183).

A Índia é mencionada como exemplo pelo autor, como país onde a contribuição da democracia extrapolou a prevenção de desastres econômicos, como as fomes coletivas conquistando certa estabilidade e segurança:

Quando esses problemas são negligenciados se tornam objeto de debate e confrontos públicos, as autoridades têm de dar alguma resposta. Em uma democracia, o povo tende a conseguir o que exige, de um modo mais crucial, normalmente não consegue o que não exige (SEN, 2009, p.184).

A democracia, portanto, está para o autor como componente essencial para o desenvolvimento, assim como os espaços para o debate e confronto público.

Devendo-se observar a inter-relação entre debate público e exercício de liberdade participativa, entre debate público e implementação de políticas democráticas, entre a intensidade das necessidades econômicas e a urgência das liberdades políticas, entre a liberdade política e os direitos civis básicos, entre a plausabilidade destes últimos e as reivindicações políticas.

Desse modo, é crucial que os debates se tornem cada vez mais públicos e que estes relacionem estes conteúdos e as inter-relações entre estes: "O exercício da liberdade é mediado por valores que, porém, por sua vez, são influenciados por discussões publicas e interações sociais, que são, elas próprias, influenciadas pelas liberdades de participação." (SEN, 2009, p.24).

Ainda, sobre essas inter-relações e sobre garantir o espaço para a discussão publica, Sen aponta as políticas públicas em relação às prioridades que emergem de valores e que, em última análise, fazem parte do processo construtivo dos direitos humanos:

A política pública tem o papel não só de procurar implementar as prioridades de valores e afirmações sociais, como também de facilitar e garantir a discussão pública mais completa. O alcance e a qualidade das discussões abertas podem ser melhoradas por várias políticas públicas, como liberdade de imprensa e independência dos meios de comunicação (incluindo ausência de censura), expansão da educação básica e escolaridade (incluindo a educação das mulheres), aumento da independência econômica (especialmente por meio do emprego, incluindo o emprego feminino) e outras mudanças sociais e econômicas que ajudam os indivíduos a ser cidadãos participantes. Essencial nessa abordagem é a idéia do público como um participante ativo da mudança, em vez de recebedor dócil e passivo de instruções ou de auxílio concedido (grifo nosso) (SEN, 2009, p.318).

O direcionamento de uma política pública pode ser influenciado pelo uso efetivo das capacidades participativas do povo havendo complementação mútua entre tipos distintos de liberdade já que as políticas públicas podem ser elaboradas visando a estes aspectos de liberdade substantiva e aumento das capacidades humanas. Pois são estas capacidades, junto à liberdade substantiva, cruciais e determinantes para a iniciativa individual e eficácia social.

Ter mais liberdade melhora o potencial das pessoas para cuidarem de si mesmas e para influenciar o mundo, o que é central para o processo de desenvolvimento e que influencia numerosas questões de políticas públicas (SEN, 2009, p.33) que

dependem da ativação do papel de agente (grifo nosso) e da ativação do exercício participativo dos direitos políticos e civis.

O agente participativo é entendido como alguém que age e ocasiona mudanças e cujas realizações podem ser julgadas de acordo com seus próprios valores e objetivos, independentemente de algum critério externo, ao contrário de serem indivíduos recebedores passivos de benefícios. A condição de agente do indivíduo é forjada por atributos como a insatisfação ou impaciência construtiva, pela habilidade de atuar como membro e participante do público envolvendo-se em ações econômicas, sociais e políticas, assim como em outras esferas, e atuando nelas.

O papel positivo que o agente exerce diz respeito a ser livre e sustentável existindo acentuada complementariedade, segundo Sen (2009, p.10), entre a condição de agente individual e as disposições sociais. Nesse sentido, a importância de reconhecer simultaneamente a centralidade da liberdade individual e da força das influências sociais sobre o grau e o alcance individuais.

Portanto, para que agentes participativos emerjam no sistema, é necessário que tanto a liberdade quanto a igualdade sejam defendidas como direito humano na medida em que há a liberdade pessoal e a igualdade de liberdade, isto é, a liberdade que é garantida para um deve ser garantida para todos. E, do mesmo modo, deve haver uma preocupação em observar se perspectivas orientadas para a liberdade estão ausentes nas práticas políticas e sociais.

De qualquer modo, é de um comprometimento comum com esses pressupostos democráticos de igualdade e liberdade de participação política, que codependem do debate público e da elaboração de políticas públicas, de que tratam estes autores, sendo