• Nenhum resultado encontrado

Sistema de Monitoramento e Avaliação e Coordenação Executiva

CAPÍTULO 1 CONTEXTUALIZAÇÃO DAS POLÍTICAS CULTURAIS NO

1.5 O PLANO NACIONAL DE CULTURA

1.5.2 Sistema de Monitoramento e Avaliação e Coordenação Executiva

O monitoramento e a avaliação com revisões periódicas do alcance das diretrizes e ações do Plano Nacional de Cultura competem ao Ministério da Cultura e terão a participação do CNPC com o apoio de outros órgãos colegiados de caráter consultivo, técnicos de institutos de pesquisa, universidades entre outras organizações. Este deverá ser feito com base em indicadores que quantifiquem a oferta e a demanda por bens, serviços e conteúdos, o acesso da cultura, entre outros fatores.

Para tanto, o projeto de lei do PNC prevê a criação do Sistema Nacional de Informações e Indicadores Culturais (SNIIC) que será um mecanismo para acompanhar a projeção de diretrizes e metas do PNC, nos próximos dez anos.

51 Um indicador consiste em um valor usado para medir e acompanhar a evolução de algum fenômeno

Ainda, a encargo do MinC ficará o estabelecimento de regimentos e mecanismos para conferir efetividade ao PNC, o que se denomina coordenação executiva, além da realização das conferências setoriais e da Conferência Nacional de Cultura. As conferências municipais e estaduais ficam sob a responsabilidade dos respectivos entes federados.

Segundo a Agência de Notícias da Comissão de Justiça:

Caberá ao Ministério da Cultura exercer a coordenação executiva do plano, além da organização, do monitoramento, da avaliação e implantação do SNIIC. A iniciativa foi proposta em projeto de lei da Câmara (PLC 56/10), que determinou a designação de recursos para viabilizar suas ações nos planos plurianuais, nas leis de diretrizes orçamentárias e nas leis orçamentárias da União e dos entes da Federação que aderirem ao PNC. Indicou ainda o Fundo Nacional de Cultura como o principal mecanismo de fomento às políticas culturais. Depois de votada pela Comissão de Justiça, o PLC 56/10 vai ser examinado pelas Comissões de Assuntos Econômicos (CAE) e de Educação, Cultura e Esporte (CE), nesta em decisão terminativa.52

No caso da Cultura, o acompanhamento e a avaliação do PNC dependerão da aprovação do pacote de leis e ementas que permita, além de sua aprovação, a sua viabilidade de execução orçamentária. Portanto, ainda não se configura o SNC, e nem mesmo o PNC, como uma política pública. Pode-se dizer, contudo, que pela primeira vez na história das políticas culturais no País há a oportunidade de efetivar um processo desta dimensão, até porque ele já teve início e tem sido vivenciado por organizações da sociedade civil e por setores do poder público e seus respectivos entes federados.

52 É aquela tomada por uma comissão, com valor de uma decisão do Senado. Depois de aprovados

pela comissão, alguns projetos não chegam ao Plenário, sendo enviados diretamente à Câmara dos Deputados, encaminhados à sanção, promulgados ou arquivados. Somente serão votados pelo Plenário do Senado se recurso com esse objetivo, assinado por pelo menos nove senadores, for apresentado ao presidente da Casa. Após a votação do parecer da comissão, o prazo para a interposição de recurso para a apreciação da matéria no Plenário do Senado é de cinco dias úteis (Disponível em: <http://www.senado.gov.br/ comunica/agencia/infos/Infoterminativo_.htm>. Acesso em: 10 jun. 2010).

A legitimação desse processo codepende, como bem coloca o próprio Ministério da Cultura (BRASIL/MINC, 2007a), da participação ativa da sociedade civil e de seus formatos de mobilização. E do período de ocorrência e do vigor destas mobilizações, acrescente-se. Principalmente quando, agora em 2010, tivemos um novo processo eleitoral para a presidência da República, governadores de estado e representantes do Congresso Nacional.

Considerando a relação de mão dupla, levantada por Amarthya Sen (2009, p.32), entre a direção que pode tomar uma política pública e o "uso efetivo das capacidades participativas de um povo", fica a preocupação de como irá se desenrolar o processo de tramitação no Congresso Nacional53 de todos os componentes que

integraram essa proposta de política pública de cultura, em virtude das propriedades recorrentes no histórico das políticas culturais no Brasil de autoritarismo, ausência e instabilidade.

Ao mesmo tempo em que, como já mencionado, poderá haver, pela própria estrutura conceitual do SNC, a submersão das propriedades de ausência e instabilidade. O autoritarismo implícito nas relações sociais e políticas continua como o grande desafio a ser superado nas mais variadas instâncias de poder e de relacionamento com a sociedade civil, ainda não inteiramente legitimada nos diálogos e debates públicos com as distintas instâncias do poder público, conforme se comprova ao participar dos processos de conferência de distintas instâncias.

Ousa-se, mesmo, dizer que as relações mantidas por modos de operar autoritários tem mantido a cultura no rol do entretenimento, privando a área de previsão orçamentária e mantendo a inequanimidade em relação a outras áreas, como a educação e a saúde, tanto na distribuição de recursos orçamentários quanto na atenção dispensada por outros setores do governo.

53 O Presidente Lula, em 03 de dezembro de 2010, sancionou o projeto de lei que orientará as

políticas culturais nos próximos 10 anos com a aprovação do PNC juntamente com a criação do Sistema Nacional de Informações e Indicadores Culturais (SNIIC). As diretrizes, objetivos e estratégias contidas no Plano serão fixadas por uma coordenação executiva do Plano, que trabalhará a partir de subsídios do SNIIC e que deverá ser criada após 180 dias da sanção do PNC. Conforme visto, o Plano Nacional é uma diretriz a ser seguida pelos estados e municípios, para criarem seus próprios planos de cultura, contudo, a adesão não é automática ou obrigatória. Apenas com os protocolos de adesão assinados pelos entes federativos o MinC irá subsidiar, com consultoria técnica e apoio orçamentário, a elaboração desses planos.

A iniquidade é responsável, segundo Sen (2009), por muito do que se polariza na sociedade e tem prejudicado o próprio engajamento político, de participação e de produção principalmente na área da cultura. Esta reflexão do autor permite analisar esses âmbitos apresentados, engajamento político, participação e produção, na especificidade das linguagens artísticas. De fato, conforme argumenta Sen, os aspectos econômicos não estão desvinculados dos políticos, podendo-se considerar que os que foram mais contemplados com recursos ao longo da história das artes, no País, tendem a se perpetuar como sendo os mais contemplados, dependendo dos critérios e das políticas adotadas. Isso não apenas a respeito das linguagens, mas também dos formatos e das especificidades das áreas que foram mais contempladas até aqui, por exemplo, gêneros específicos da dança e mesmo do teatro, ou entre as linguagens artísticas, entre a dança e o teatro, e (ou) o circo.

Tal problemática atinge, atualmente, a distribuição de recursos do Fundo Nacional de Cultura, quando se exercita a divisão entre os fundos setoriais das artes cênicas, pela Funarte, como preparação para a divisão de recursos prevista pelo Procultura54, em

que se encontram a dança, o teatro e o circo não mais sob o "guarda-chuva" das artes cênicas, porém ainda com um entendimento de vinculação muito próxima e sem critérios claros de distribuição de recursos entre uma e outra destas três áreas.

Como e em que medida compartilhar recursos entre estas três áreas – circo, dança e teatro – e quais os critérios de distribuição? E, do mesmo modo, cabendo a reflexão: quais os critérios de distribuição dos recursos entre os oito fundos setoriais existentes no Procultura – Fundo Setorial das Artes Visuais; das Artes Cênicas; da

54 Nova Lei da Cultura – Projeto de Lei que cria o Programa de Fomento e Incentivo à Cultura:

"Aprovada no dia 08 de dezembro de 2010 pela Comissão de Educação e Cultura a proposta de criação do Programa Nacional de Fomento à Cultura (Procultura), que substitui a Lei Rouanet (8.313/91). A proposta estabelece os critérios de distribuição dos recursos originários do incentivo fiscal à cultura, porém precisa ainda ser analisada pelas comissões de Finanças e Tributação; e de Constituição e Justiça e de Cidadania. Depois, seguirá para o Senado. A proposta (PL 6722/10), do Executivo, foi alterada pela relatora, deputada Alice Portugal (PCdoB-BA), que apresentou substitutivo espécie de emenda que altera a proposta em seu conjunto, substancial ou formalmente." (Disponível em: <http://www.pt.org.br/portalpt/secretarias/cultura-15/campanha- cultura-nAo-pode-faltar-211/programa-nacional-de-fomento-a-cultura-(procultura)-foi-aprovado- hoje-(8-12)-33651.html>. Acesso em: 09 dez. 2010).

Música; do Acesso e Diversidade; do Patrimônio e Memória; do Livro, Leitura, Literatura e Humanidades; de Ações Transversais e Equalização e de Incentivo à Inovação do Audiovisual? (BRASIL/MINC/INFORMATIVO, 2010, p.15).

A expansão das "capacidades" de as pessoas levarem o tipo de vida que elas valorizam tende a aumentar a capacidade participativa delas, ao mesmo tempo em que as políticas públicas, quando contribuem para a expansão das "capacidades" das pessoas de levar o tipo de vida que elas valorizam, tendem a ser redirecionadas pela participação das pessoas. Sempre há uma inversão nas relações entre participação e possibilidade de construção de políticas públicas que se aproximem dos anseios da sociedade, segundo Sen (2009).

Espera-se que a vivência da sociedade civil nos últimos oito anos possa ter fortalecido essa participação na área da cultura e para que ela continue sendo ouvida e se fazendo ouvir, transformando e provocando ajustes no modo como as relações se dão e no modo como os mecanismos funcionam. Quanto mais um plano ou política tiver sido debatida por um número maior de pessoas qualificadas para o debate, maiores são as chances de que a estrutura debatida se consolide como política pública, ou seja, aquela demandada e construída pelo maior número possível de pessoas. O que significa dizer, que a estrutura e coesão do sistema proposto codependem desta coparticipação ativa e do debate público, dois mecanismos que devem ser sobremaneira exercitados.

Caso essa vivência não seja validada, devem-se considerar alguns questionamentos, como bem coloca Uille Gomes (2010, p.137), quando indaga:

Qual é o papel do Ministério Público diante da falta de iniciativa dos Poderes em formular políticas públicas ou de detalhar as políticas em planos e incluir os programas no Plano Plurianual, e até que ponto o Poder Judiciário pode compelir os demais Poderes a fazê-lo?.