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F IGURA 2.2 – C LASSIFICAÇÃO DAS CAPACIDADES TECNOLÓGICAS DA FIRMA – F UNCIONAIS E META

As capacidades de operação são relacionadas ao uso eficiente das tecnologias, em termos da condução das atividades produtivas. Elas incluem os conhecimentos e experiências necessários para identificar, adquirir, assimilar, usar e dominar tecnologias de produto e/ou processo que são importantes para as atividades produtivas. Podem incluir ainda capacidade para realizar adaptações menores nas tecnologias já em uso. De maneira geral, portanto, a influência destas capacidades sobre a mudança técnica é associada à imitação duplicativa eficiente de tecnologia gerada por outros agentes, podendo incluir também alguma forma menos complexa de imitação criativa. Este tipo de capacidade é em geral destacado pela literatura como sendo um conjunto de conhecimentos e informações tecnológicas necessários para empreender a atividade produtiva (KATZ, 1985; LALL, 1994; LALL 2000a).

As capacidades de melhoria, por sua vez, são os conhecimentos, competências e experiências associados à imitação criativa das tecnologias desenvolvidas por agentes externos à firma. Referem-se, portanto, a capacidades mais profundas, necessárias para melhorar de modo mais substancial e criativo as tecnologias adotas. O caráter criativo associado a este tipo de capacidade a define como mais complexa e profunda que as capacidades de operação.

existentes para a produção de certos bens; 2) capacidade de geração (i.e., capacidade de inovar stricto sensu), a qual representa conhecimentos e aptidões necessários para gerenciar e gerar tecnologia. Pode ser subdividida em: 2.a) capacidade de gerar mudanças menores e 2.b) capacidade de gerar mudanças maiores. A capacidade de uso, a capacidade de gerar mudanças menores e a capacidade de gerar mudanças maiores estão diretamente associadas às três categorias de capacidades aqui propostas, respectivamente, capacidade de operação, capacidade de melhoria e capacidade de geração. Capacidade de Aprendizado Capacidade de Interação METACAPACIDADES CAPACIDADES FUNCIONAIS Capacidade de Monitoração Capacidade de Melhoria Capacidade de Geração Capacidade de Operação

Da mesma forma, as capacidades de geração são caracterizadas por conhecimentos e competências associadas a mudanças tecnologicamente mais criativas. Estas capacidades representam um passo adiante no processo de aprendizado tecnológico, à medida que elas são necessárias para a obtenção de resultados mais complexos e originais, isto é: inovações stricto sensu53.

A literatura sublinha que capacidades mais complexas implicam a economia de forma mais positiva à medida que podem levar a mudanças mais originais. Da perspectiva das firmas, as capacidades mais complexas implicam maiores vantagens competitivas sustentáveis no longo prazo (KIM, 1997). CHRISTENSEN (1994), por exemplo, observa que as capacidades mais avançadas (a qual denomina de “capacidades dinâmicas” em oposição a capacidades “reprodutivas”54) são as que definem as bases da vantagem competitiva de longo prazo. No mesmo sentido, LALL (2000a)

enfatiza que capacidades menos complexas, como o que denomina de capacidade operacional, permite ser um produtor eficiente, mas que no longo prazo é preciso ir além, e avançar em direção à acumulação de capacidades mais complexas, as quais denomina de “capacidades inovativas”55.

Outra dimensão não menos importante do aprendizado tecnológico é a das metacapacidades. Estas, no entanto, não podem ser comparadas às capacidades funcionais em termos do grau de complexidade, pois não estão diretamente associadas à mudança técnica e ao sistema de produção. Isto é, enquanto as capacidades funcionais influenciam a realização de atividades associadas ao sistema de produção, as metacapacidades influenciam a dinâmica do sistema de conhecimento, à medida que facilitam o processo de acumulação das capacidades tecnológicas propriamente dito. Portanto, a influência das metacapacidades perpassa as capacidades funcionais.

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Como observado na Seção 2.2, alguns autores consideram as capacidades de melhoria e geração como sendo “capacidades inovativas” (LALL, 2000a). CANIËLS e ROMIJN (2001: 17) observam que as capacidades inovativas são competências e conhecimento necessários para que a firma possa realizar adaptações e melhorias independentes nas tecnologias, e posteriormente gerar tecnologias completamente novas. No mesmo sentido, ALBALADEJO e ROMIJN (2000: 5) sugerem que a capacidade de inovação é uma “habilidade para realizar melhorias e modificações maiores nas tecnologias existentes e para criar novas tecnologias”.

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Na distinção proposta por CHRISTENSEN (1994), as capacidades reprodutivas implicam a exploração e utilização de recursos e conhecimentos dados, via processo de aprendizado baseado na experiência; as capacidades dinâmicas promovem a inovação (stricto sensu) e criam novas rotinas e capacidades, via processo de aprendizado experimental e baseado em atividades de P&D.

55 Estes impactos econômicos diferenciados justificam a importância de distinguir entre os agentes capazes de gerar daqueles capazes

Muitos autores têm, de certo modo, reconhecido a importância das metacapacidades.

CANIËLS e ROMIJN (2001: 18) notam, por exemplo, que a dinâmica do processo de aprendizado não

é baseada somente na acumulação de capacidades tecnológicas conectadas à atividade produtiva (i.e., ao sistema de produção). Segundo estas autoras, esta dinâmica é também baseada em uma “capacidade crescente em gerenciar o processo de aprendizado tecnológico de modo eficiente. Esta capacidade, a capacidade de aprender, é construída como um subproduto do processo de aprendizado tecnológico (...)”. Isto implica, como notado por STIGLITZ (1987), que o “próprio aprendizado precisa ser aprendido” (apud LALL, 2000a: 17).

O conceito de capacidade de absorção de COHEN e LEVINTHAL (1990: 128) também traz elementos para o entendimento das metacapacidades. Eles definem capacidade de absorção como a “habilidade de uma firma em reconhecer o valor de uma informação externa nova, assimilá-la, e aplicá-la com fins comerciais (...)”. Este conceito sugere a importância de dois metaelementos do processo de capacitação tecnológica: 1) a habilidade de interagir com agentes externos, e 2) a habilidade de identificar e localizar as principais fontes de conhecimento tecnológico. Muitos autores enfatizam a relevância da habilidade de interagir para a acumulação tecnológica, analisando as diferentes formas de interação e agentes envolvidos56(LALL, 1992; LUNDVALL, 1988). O argumento central é que as fontes externas de conhecimento são cruciais para o processo de mudança tecnológica. Segundo COHEN e LEVINTHAL (1990:128), isto é explicado pelo fato de que a

“(...) maioria das inovações [ou amplamente falando da mudança técnica] resulta de empréstimo ao invés de invenções”.

Tendo chamado a atenção para importância de aprender a aprender, e de interagir com fontes externas de conhecimento tecnológico, três metacapacidades são ressaltadas na classificação aqui proposta: capacidade para aprender, para interagir e para monitorar. A primeira se refere às habilidades e conhecimentos para gerenciar o processo de aprendizado. Os mecanismos para acumular este tipo de capacidade são o próprio processo de aprendizado (learning-by-learning). A capacidade para interagir está associada às habilidades para trocar conhecimento com agentes externos à firma. Quanto mais uma firma interage com outros agentes do sistema tecnológico, maior à sua habilidade para interagir. Portanto, o mecanismo para acumular esta capacidade é a própria interação (learning-by-interacting). Finalmente, a

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Há muitos estudos sobre este aspecto do desenvolvimento tecnológico: interação usuário-produtor, relação com fornecedores, interação com universidades e outras instituições científicas, ligações dentro dos parques tecnológicos e clusters industriais, dentre outros.

capacidade para monitorar é habilidade e conhecimento necessário para identificar, localizar e se manter a par dos conhecimentos relevantes na área tecnológica de atuação da firma57.

A identificação destas três metacapacidades não esgota a complexidade desta dimensão do aprendizado. O objetivo aqui é chamar a atenção para a distinção entre as dimensões funcional e metacapacidades, sem pretender esgotar seu desenvolvimento conceitual. O que estaria fora do escopo deste trabalho. É importante observar, no entanto, que a dimensão das metacapacidades tecnológicas das firmas que operam em um país é essencial para o dinamismo do sistema de aprendizado local. Neste sentido, um estudo “ideal” sobre o aprendizado tecnológico da indústria de um país deveria avaliar tanto a dimensão funcional quanto a das metacapacidades. A subjetividade envolvida nesta última dimensão torna este exercício bastante complexo. No estudo aqui proposto, outro elemento que também dificultou este tipo de exercício analítico é o tipo de informação disponível a partir da pesquisa de inovação da PAEP, adotada aqui como fonte de informação para o desenvolvimento dos indicadores de capacidade tecnológica. A análise conduzida no Capítulo 5 sobre a contribuição das multinacionais estrangeiras para o aprofundamento do aprendizado tecnológico da indústria brasileira é, portanto, baseada em indicadores para as capacidades funcionais – exceção para as metacapacidades de interação, para as quais são desenvolvidos dois indicadores. A próxima parte da tese detalha a metodologia desenvolvida para operacionalizar a classificação de capacidades tecnológicas no sentido de permitir a condução da análise aqui proposta.

PARTE II