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P ESQUISA DE I NOVAÇÃO DA PAEP: C RÍTICAS E S UGESTÕES

T ABELA 3.1 – A MOSTRA E XPANDIDA DA PAEP (N ÚMERO DE F IRMAS )

3.3 P ESQUISA DE I NOVAÇÃO DA PAEP: C RÍTICAS E S UGESTÕES

A adoção do Manual de Oslo em pesquisa de inovação em países em desenvolvimento suscita uma série de questões que não podem deixar de ser consideradas. As preocupações centrais estão associadas ao caráter diferenciado da mudança tecnológica nos países em desenvolvimento. Estes países devem ir além das metodologias elaborada nos países desenvolvidos, no sentido de construir indicadores específicos para a natureza, os elementos distintos, as dinâmicas e a magnitude das atividades tecnológicas locais (UIS, 2002). Guiado por

esta preocupação o RICYT (Red Iberoamericana/Interamericana de Indicadores de Ciencia e Tecnología) desenvolveu o Manual de Bogotá (JARAMILLO et al., 2000), resultado de um esforço

conjunto de diferentes pesquisadores latino-americanos para contornar dificuldades da adoção do Manual de Oslo em pesquisas de inovação na América Latina. Apesar dos esforços, muitas das críticas ao Manual de Oslo não são contornadas pelo Manual de Bogotá. Uma especificidade dos sistemas de aprendizados da região que não foi explicitamente considerada nesta versão latino- americana do Manual de Oslo é a presença considerável de multinacionais estrangeiras como agentes importantes do processo de mudança tecnológica nestes sistemas. Dado o objetivo desta tese, i.e., avaliar a contribuição destas empresas para o aprofundamento do aprendizado tecnológico na indústria brasileira, somado à adoção da pesquisa de inovação da PAEP como principal fonte de informação para o desenvolvimento dos indicadores de capacidade tecnológica, julgou-se importante fazer algumas observações quanto à efetividade dos surveys de inovação a la Manual de Oslo para avaliar esta especificidade importante dos sistemas de aprendizado de países em desenvolvimento, particularmente dos latino-americanos.

Como a PAEP se orientou pela primeira versão do Manual de Oslo, e seu questionário é bastante próximo ao do CIS-I, as críticas mais gerais feitas a este se aplicam à pesquisa de inovação da PAEP, com dimensões um pouco mais significativas. Da perspectiva do objetivo central desta tese, é importante tecer duas observações críticas: 1) sobre o conceito de inovação; 2) sobre o tratamento às subsidiárias de multinacionais estrangeiras. Vale ressaltar, que as observações enfatizadas nesta tese são de caráter conceitual e estão associadas às dificuldades encontradas para construir indicadores para diferentes níveis de capacitação tecnológica, segundo origem do capital (doméstica e estrangeiras).

Na pesquisa de inovação da PAEP, assim como no CIS-I, inovação é definida de forma abrangente como sendo “o desenvolvimento ou introdução” de um novo produto ou a

implementação de um novo processo, incluindo tanto inovação como “difusão” quanto “inovação como esforço criativo” (Questões 6.1.1 e 6.1.2). Deste modo, inovações na PAEP não são, necessariamente, resultados de esforços tecnológicos internos realizados pelas empresas. Isto é, as inovações de produto ou processo não necessariamente resultam da criação de algum conhecimento novo pela empresa. Assim como no CIS-I, a PAEP também não questionou as empresas quanto ao grau de novidade destas inovações (isto é, se são inovações para empresa, para o setor, para o país, ou algo fundamentalmente novo para o mundo) e quanto à complexidade científica e tecnológica destas inovações. A única distinção feita era se eram inovações de produto incrementais, inovações de produto significativa e inovações de processo, o que é bastante genérico e subjetivo, podendo ser interpretado de forma diferenciada segundo tipo de empresa e/ou setor. Por exemplo, dentro de um mesmo setor, o que é uma inovação significativa para uma empresa média de capital doméstico, pode ser incremental para uma empresa de tamanho similar, porém de capital estrangeiro.

Esta definição ampla de inovação adotada na PAEP dificultou a construção de indicadores para diferentes tipos de capacidades tecnológicas. De maneira geral, uma definição menos abrangente é central para que pesquisas de inovação sejam importantes para orientar a tomada de decisão de agentes públicos e privados, particularmente dos primeiros. Isto, porque, conforme discutido na primeira parte desta tese, o caráter adaptativo da mudança tecnológica nos países em desenvolvimento é um fato amplamente reconhecido pela literatura já há algumas décadas. Este caráter adaptativo implica que as mudanças ocorrem em um espaço mais restrito de complexidade e criatividade, o que se for considerado de forma muito agregada, seguindo uma definição ampla de inovação, não permite avaliar os níveis de aprendizado atingidos por diferentes empresas ou grupos de empresas. A natureza adaptativa da mudança tecnológica requer, portanto, uma definição restrita de inovação para que possam ser desenvolvidos indicadores mais precisos do tipo do processo de aprendizado dos países em desenvolvimento. O que não é possível a partir da definição ampla de inovação sugerida no Manual de Oslo, e seguida pela PAEP.

Conforme discutido no Capítulo 1, a natureza adaptativa é associada por muitos autores à forte presença de subsidiárias de multinacionais estrangeiras nos sistemas de aprendizados dos países em desenvolvimento, particularmente os latino-americanos. Pesquisa de inovação neste países deveriam, portanto, diferenciar a unidade de observação conforme sua

origem do capital, para o que o Manual de Oslo não traz nenhuma contribuição. O fato é que a abordagem genérica do Manual de Oslo não permite a inclusão de questões detalhadas para setores e grupos específicos de firmas, como o caso das subsidiárias das multinacionais. No caso da pesquisa de inovação da PAEP esta abordagem genérica foi mantida, de modo que todas as empresas da amostra, grande ou pequena, doméstica ou estrangeira, responderam às mesmas questões. Além das diferentes apreensões que cada empresa tem do termo “inovação”, no caso das multinacionais é importante situar a posição da subsidiária na estratégia tecnológica global da corporação. Entender o papel da subsidiária em termos de geração, uso ou cooperação no desenvolvimento tecnológico no âmbito da rede tecnológica corporativa é central para entender a contribuição da mesma para o processo de aprendizado tecnológico local.

Como observado no início desta seção, questões que não captam a atuação específica das subsidiárias de multinacionais estrangeiras nos sistemas de aprendizado local, somado à definição ampla de inovação adotada pela PAEP, foram as principais dificuldades encontradas no exercício de construção de indicadores realizado nesta tese. A Questão 6.1.5, sobre fontes de informação para inovação é um bom exemplo para elucidar esta limitação. Apesar de ter a opção “outras empresas do grupo”, ela não deixa claro o fluxo de conhecimentos tecnológico entre a matriz e a subsidiária brasileira. A mesma observação se aplica à Questão 6.1.6, sobre os fatores que motivaram a inovação. No caso das empresas de capital estrangeiro, esta questão não capta aspectos da estratégia corporativa mundial, como por exemplo, a definição da subsidiária brasileira como exercendo um papel de “centro de competência” em determinada tecnologia ou apenas conduzindo atividades de engenharia adaptativa.

É importante salientar que estas críticas são feitas a partir da perspectiva do estudo proposto nesta tese. Elas não implicam negar a condução de pesquisas de inovação como a PAEP, ao contrário, o objetivo é o de, ao relatar estas dificuldades, contribuir para uma melhor adequação do Manual de Oslo às caraterísticas da mudança e do aprendizado tecnológico na indústria brasileira, e nos países em desenvolvimento de uma maneira geral. De forma mais ambiciosa, contribuir para a consolidação de um “manual” que forneça as bases conceituais e metodológicas para a condução de pesquisas sobre atividades e mudança tecnológica que permitam captar de forma mais aproximada a realidade dos sistemas de aprendizado de países como o Brasil.

CAPÍTULO 4

METODOLOGIA PARA CONSTRUÇÃO DOS INDICADORES DE