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II ALEJO CARPENTIER: UM INTELECTUAL NO REINO DESTE MUNDO

No documento – PósGraduação em Letras Neolatinas (páginas 37-54)

A relação do escritor cubano Alejo Carpentier com as artes começou a se estabelecer desde sua infância. Sua avó paterna era pianista e seus pais, o arquiteto francês, discípulo de Pablo Casals, e a professora de idiomas de origem russa, sempre cultivaram um ambiente que permitiu a Carpentier escrever e compor desde muito cedo.

O musicólogo cubano, que se destacou por sua habilidade em manejar la

pluma, experimentou em sua juventude todo o fervor revolucionário presente no

continente Americano nas primeiras décadas do século XX. Integra o Grupo Minorista, ao lado de escritores como Juan Marinello e Nicolas Guillén; atua na direção da expressiva Revista de Avance (1927), na qual se denotava uma forte influência das ideias difundidas nas obras de Picasso e Stravinsky. Porém o vigor em defender e propagar a realidade que o circundava, desde seu nascimento, amadureceu somente após sua estada em Paris.

Os anos que passara em contato com as tendências surrealistas e toda a intelectualidade vigente na Europa promoveram em Carpentier um redescobrimento do continente americano. A escrita automática e todo o aparato tecnicista do movimento idealizado por André Breton não atraía o interesse do escritor cubano. Seu posicionamento a respeito desse momento literário está expresso em seu Diario (2013: 70): “Soy adverso a la literatura onírica [...] El sueño [...] es uma cosa tan personal, tan íntima, tan vivida por uno mismo, como el amor físico”.

No entanto, o contato com a estética surrealista permitiu uma reflexão que levou o escritor cubano a vislumbrar o surrealismo em solo latino-americano. O campo do absurdo, do desmesurado, manifestado em estado bruto, virgem e alheio a qualquer artificialidade. Dessa descoberta nasceram suas teorias sobre o real

maravilloso, inaugurada no prólogo de seu livro El reino de este mundo e aplicada

ao longo de todos os seus escritos advindos, na qual comenta que:

Lo real maravilloso […] que yo defiendo, y es lo real maravilloso nuestro, es el que encontramos al estado bruto, latente, omnipresente

en todo lo latinoamericano. Aquí lo insólito es cotidiano, siempre fue cotidiano.” (CARPENTIER, 1984: 122)

Para tanto, passa a estudar com afinco os documentos que tratam de fornecer dados sobre o Novo Mundo. A respeito deste período de “imersão” na história americana, temos a seguinte declaração de Carpentier:

[...] desde las Cartas de Cristóbal Colón, pasando por el Inca Garcilaso, hasta los autores del siglo XVIII. Por espacio de casi ocho años creo que no hice otra cosa que leer textos americanos (Alejo Carpentier. 75 Aniversario, p.13. (Entrevista a VELAYOS ZURDO, 1985: 60)

A necessidade de estar sempre munido de dados precisos sobre os temas que lhe interessavam se apresentava como característica massivamente trabalhada em seus, quase, sessenta anos de ofício como jornalista. O que lhe permitiu calcar em suas obras literárias um marcante traço de verossimilhança.

Ainda sobre sua minúcia ao situar o leitor no tempo e espaço, cabe ressaltar que seus escritos literários não foram rotulados pela crítica como literatura informativa: o que reflete uma especial capacidade em manejar as palavras de acordo com o discurso proposto, reconhecida na afirmação que temos a seguir: “El periodista es en si un historiador, él es el cronista de su tiempo, y el que anima con sus crónicas, la gran noche del futuro”. (Granma, La Habana, 16 de enero de 1976 (In: VELAYOS ZURDO, 1985: 55).

Ao analisar aspectos da obra e vida de Alejo Carpentier, é possível vislumbrar que o escritor cubano se figura na sociedade como intelectual latino-americano, que pode parecer destoar do ambiente em que vive, mas que se apresenta como produto da simbiose de culturas tão peculiar ao Novo Mundo. De nacionalidade cubana, conseguiu depreender também os costumes e valores europeus através da educação de seus pais que, como muitos habitantes do Velho Mundo, vieram tentar uma nova vida em solo americano.

Seu caminho percorreu um itinerário clássico, tendo em vista o ambiente no qual foi criado. Os esplendores teatrais de La Habana Vieja foram o cenário que um

dia albergou a trajetória de um lar que vivia no Caribe, mas se guiava pelo

firmamento europeu. Seguiu os passos de seu pai ao interessar-se por arquitetura, porém, em pouco tempo lançou seus olhos e talento ao campo do jornalismo.

O então jornalista cubano, em seu trabalho como chefe de redação da revista

Carteles, armou-se de palavras e usou o discurso escrito para colocar em evidência

a realidade ditadorial sobre a qual vivia a ilha de Cuba. Fez de sua postura profissional um modus operandi, não só na jornalística como também na literatura latino-americana. Como se verifica em um fragmento de seu Diario (2013:45) “Quién quiera, en América, tener una acción política eficaz, siendo escritor, debe empezar por hacer una obra importante. Luego, respaldado por la obra, gritar por lo que quiera.”

A citação contida no parágrafo acima poderia justificar a incessante busca por conhecimento na trajetória profissional e pessoal de Alejo Carpentier, o ferrenho trabalho em seus textos. Seu compromisso em transparecer a verdade, em apresentar ao público, em seus programas radiofônicos, fatos históricos emblemáticos e obras literárias consagradas pelo cânone literário.

Em território parisiense, o inquieto intelectual segue em sua sedenta busca por conhecimento. Deslumbrado com a multiplicidade de campos de atuação e acesso à cultura, Carpentier (2013: 5-6) se envolve em múltiplas atividades, como se pode ler em

Desde su llegada a París [...] para ganarse la vida, había tenido que realizar diversos trabajos de esa índole [lides publicitarias – grifo da autora] en varias instituiciones galas: redactaba publicidade en castellano para la Compañia Transatlántica Francesa, realizaba, además la traducción de la revista turística Le Voyage en France, y promocionaba la importante casa cinematográfica Gaumont Franco Film Aubert (G.F.F.A)

Aproximou-se também de vários artistas, alguns destes pertencentes ao surrealismo, cujo estudo do momento se centrava em redescobrir a América Latina para apresentá-la à cultura ocidental sob um olhar moderno. Sobre esse momento de imersão em território europeu, o autor cubano comenta o seguinte:

Nunca Cuba estuvo más viviente en mi espíritu – en paisajes, hombres, maneras de hablar – que cuando vivía en París. Así mismo, mi visión de París es mucho más exacta, ahora que estoy en América, que cuando vivía allá. (CARPENTIER, 2013:32)

Viveu-se, nesta época, um fervoroso interesse pelas questões relativas ao primitivo e ao insconciente, impulsionando muitos artistas a empreender missões de

matiz etnológico em busca de respostas que completassem as lacunas do passado do território americano. Mario de Andrade realizou semelhante trabalho que culminou, posteriormente, no aclamado Macunaíma: o herói sem caráter (1928). Ainda que Carpentier apresentasse pouca simpatia por essa prática terminou por vivenciá-la e, de tal forma, revisar suas considerações sobre o continente americano através de uma experiência semelhante, quando de seu autoexílio na Venezuela:

Los pasos perdidos foi escrito durante seu exilio na Venezuela [...] e, efetivamente, descreve uma viagem que o autor fez remontando o Orinoco até as grandes savanas, [...] uma nota final do livro identifica a cena. Porém não é importante precisar o lugar no mapa. Durante o transcurso da narração, o rio permanece anônimo. Poderia se tratar de qualquer rio americano. O narrador poderia ser qualquer homem que remontara a corrente em busca do passado da humanidade e de sua própria infância. (HARSS, 1966: 508, tradução nossa)

Ao experimentar a estética que objetivava dar lugar ao sonho e a imaginção, com o fim de alcançar paisagens míticas e cosmovisões desmedidas, Carpentier volta seus olhos para seu continente natal e se dá conta de que este processo por lá faz parte do cotidiano da América Latina:

Na América Latina tudo é sem medida: montanhas e cascatas gigantescas, planícies infinitas, selvas impenetráveis. A anarquia urbana coloca tentáculos terra adentro, onde sopram os vendavais. O antigo convive com o moderno, o arcaico com o futurístico, o tecnológico com o feudal, o pré-histórico com o utópico. Em nossas cidades se levantam arranha-céus junto a mercados indígenas onde proliferam ainda os amuletos. Como encontrar sentido nesta profusão, em um mundo cuja devoradora presença ofusca o homem, descalabra sua inteligencia e sua imaginação? (HARSS, 1966: 508, tradução nossa)

Para Carpentier, como talvez para todos os que vivem oscilando entre distintos tempos, a resposta para o questionamento proposto na citação acima foi deixa-se levar pelo tempo. Atitude que o protagonista do romance Los pasos

perdidos também toma durante toda a narrativa. A respeito dessa intrigante postura

tomada pelo autor cubano, intrigante porque que em seu fazer literário parece ter extremo controle de todo o processo narrativo, e pelo protagonista do romance que é objeto de estudo desta tese, temos a seguinte citação de Carpentier (2013:92) onde, com certo tom confessional, admite:

Creo tanto en la misteriosa acción de la vida ajena [...] sobre mi existência, que jamás he tratado de imponer uma voluntad mía a las circunstancias, encuentros, etc que van forjando mi destino. Me dejo llevar por las sorpresas de la existência, sin oponer la menor resistencia. Más aún: son ciertos acontecimentos los que me dictan la actitud a adoptar, la medida por tomar.

Viveu entre dos mundos. Europa foi o ponto de observação que lhe conferiu desapego e distanciamento suficientes para reconhecer as particularidades de sua terra. O escritor vislumbra a territorialidade americana através da desterritorialização advinda do exílio em París. Um perído de preparação para o retorno definitivo. Sobre esse momento sublinha-se que

Carpentier os viveu lançando miradas retrospectivas. Se deu conta de que a vida no estrangeiro, mesmo bem aproveitada, era um destes Dias sem Fim que para o expatriado levam ao vazio. Suspirava pelo continente americano. Carcomia-lhe o desejo de «expresar o mundo da América», de fazer com que seus riachuelos perdidos afluissem ao mar. Agradece aos surrealistas esta iluminação. (HARSS, 1966: 509, tradução nossa)

Ao se descobrir tremendamente ignorante em relação ao passado de seu continente, exerce, neste período, o seu caótico exercício ilustrado de adquirir conhecimento, como se lê em:

«Me consagré durante años enteros a leer todo lo que encontraba sobre América, […] América se presentaba como una enorme nebulosa que yo trataba de comprender, pues sentía vagamente que mi obra se desarrollaría allí, que iba a ser profundamente americana. » Organizarse, advirtió pronto, era sólo dar el primer paso hacia la meta. América tenía algo de fruto prohibido. Como lo demuestra su obra, tuvo que recorrer un largo camino antes que su bibliofilia se convirtiera en experiencia vital. (HARSS, 1966: 509)

O gênero romance estava apenas dando seus primeiros passos na América Latina no momento em que Alejo Carpentier começa a escrever. Há em seu estilo de narrar uma profusão de palavras, uma preocupação com a retórica. Seu primeiro romance, Écue-Yamba-Ó (1933), no qual trata de pintar a cultura afro-cubana desde «dentro», ainda que, como admite textualmente em vários discursos, sua intimidade com o descrito no romance fosse superficial. Concluiu, a partir desse trabalho que a literatura exigia mais que um repertório de mitologias e folclore. Não eram suficientes

apenas elencar os documentos a respeito dos fatos presentes na narrativa, havia que incluir a intuição nascida da relação íntima entre o contexto e o escritor.

No fim das contas, as cosmogonias indígenas não ofereciam um sistema intelectual nos moldes vivenviados pela sociedade ágrafa. O branco tratava de apreender a realidade indígena e aplicar-lhe sua razão, adequando-a a sistemas para que a Cidade letrada pudesse compreender aquele fenômeno primitivo. O raciocínio do conquistador branco era o viés para toda e qualquer possibilidade de entendimento. Um exemplo dessa prática é o Popol Vuh, o livro sagrado dos maias, que registra a cosmogonia e as tradições orais desse povo, porém sob o olhar de um sacerdote espanhol. O texto indígena foi compilado e censurado durante a Conquista, pois poderia ser um entrave às missões jesuíticas.

Em busca de mais conhecimento, o escritor cubano aprofundava-se no estudo das culturas ancestrais: africana, pré-colombiana. Ainda que pouco evidente em termos artísticos, o estudo parece ter contribuído para o desenvolvimento de uma consciência de latino-americanidade. Carpentier foi um dos romancistas que pretendeu deixar marcado em seus escritos as dimensões das raízes latino- americanas. Em sua obsessão pelo saber, percorreu tantas paisagens e vivências quanto lhe foi possível, para dar conta da assimilação e integração das realdiades que encontrava, até que lhe fossem familiares.

A motivação em seguir os passos perdidos do continente foi o motor de arranque que impulsionou sua trajetória como romancista. Carpentier ao buscar uma definição para América Latina, leva em conta os aspectos sociais, geográficos, políticos, econômicos, históricos desse território de difícil delimitação. Um exemplo desse modus operandi está no livro de ensaios intitulado Tientos y diferencias. Publicado pela primeira vez no México, na década de 60, o livro divide o continente em vários «blocos» principais: a montanha, o rio, a planície. Cada um, segundo a apresentação feita da publicação de Carpentier (1987: 181), seria

«una sección que tiene sus características propias. Por ejemplo, la región andina con su cultura de tipo predominantemente indígena; el Caribe, donde hay un común denominador afroamericano». En la suma de los rasgos esenciales del continente halla su perfil. Omnipresente, eclipsando al hombre, está el marco telúrico, a la vez

redundante y múltiple. En el centro del crisol se libra la vieja batalla por la supervivencia y la renovación.

As paisagens tipicamente americanas foram tema de romances que antecederam Los pasos perdidos. Podemos citar o destaque dado às planícies de Rómulo Gallegos em Doña Barbara (1929) onde o citadino advogado Santos Luzardo, retorna a sua terra natal, el hato de Altamira, e decide usar seus conhecimentos para que as savanas de Altamira deixem de ser usurpadas por Doña Bárbara. Em Carpentier a selva está em evidência e com ela todo um universo de complexidade histórica e social, com um matiz arquétipico que ficcionaliza o real vivenciado na cidade e o mítico experimentado na convivência em Santa Mónica de los Venados.

Carpentier transita no terreno do absoluto e do categórico. Os contextos postulados por Carpentier para análise do continente americano atuam marcando e determinando os temas de discussão. Objetiva empreender a difícil tarefa de registrar o que é específico e, ao mesmo tempo, genérico na experiência latino- americana. Para tanto, se fará poeta, romancista, historiador, músico, sociólogo, em uma compulsiva busca pela completude. Sobre a busca mencionada no período anterior, temos a seguinte citação de Albert Camus (1985: 57) a respeito da criação:

A criação é a mais eficaz de todas as escolas da paciência. É também o testemunho transformador da única dignidade do homem: a rebelião tenaz contra sua condição, a perseverança em um esforço considerado estéril. Exige um esforço cotidiano, o domínio de sí mesmo, a apreciação exata dos limites do verdadeiro, da mesura e da força [...]

Carpentier afirma que o idioma espanhol, que lhe permite alcançar vinte países, o faria menos nômade frente ao mundo. Ressalta também a intrigante possibilidade de viver várias épocas históricas dentro de um mesmo período cronológico. É como se o tempo da narrativa invadisse o tempo cronológico da existencia real. Para definir tal fenômeno, o intelectual cubano busca inúmeras vezes a terminologia bíblica: Gênesis, Babel e Apocalipse.

Considera o que ele chama de influências atmosféricas ou os contextos luminosos: as luzes que envolvem o homem. Postula que as condições climáticas

determinam, também o caráter de um lugar. Neste sentido, a América Latina apresenta um amplo espectro que abarca desde as transparências andinas até as auroras austrais, passando pelos resplandores do deserto e os rápidos crepúsculos tropicais. Carpentier (1987:147) tratou de desenvolver uma teoria que abarcasse cada uma destas manifestações. Afirma que:

«Yo creo que la visión del mundo que tiene el intelectual latinoamericano es una de las más vastas, de las más completas, de las más universales que existen... Para mí, el continente americano es el mundo más extraordinario de este siglo. Nuestra visión de él debe ser ecuménica».

Acredita-se que neste momento de fervor revolucionário, América tenha alcançado, enfim, uma identidade própria que lhe conferiria voz e lugar de destaque diante do cenário mundial. As realidades autóctones estão sendo rapidamente incorporadas à experiência universal. Para o intelectual cubano, os latino- americanos “No sólo nos encontramos en el umbral de una nueva era, [...], sino que ya hemos entrado en ella. Nuestra madurez se refleja en la obra de nuestros novelistas, que llevan el sello de su continente como un distintivo personal”. (CARPENTIER, 2003:153)

O futuro literário da América Latina, aos olhos de Alejo Carpentier (2003: 205- 206) pode ser vislumbrado com profundo otimismo. Para ele, em pouco tempo, a literatura latino-americana competirá em pé de igualdade com as obras que representam o cânone ocidental. É tarefa do romancista latino-americano garantir que isto se torne realidade, como se lê em:

[...] la gran tarea del novelista americano de hoy está en inscribir la fisionomia de sus ciudades en la literatura universal, olvidándose de tipicismos y costumbrismos [...] la novela empieza a ser gran novela [...] cuando deja de parecerse a una novela; es decir: cuando, nacida de una novelística, rebasa esa novelística, engendrando, con su dinâmica propia, una novelística posible, nueva, disparada hacia nuevos ámbitos, dotadas de médios de indagación y exploración que pueden plasmarse [...] en logros perdurables.

Em sua incessante busca por conhecimento, chefiou a redação da revista

Imán (París 1931), publicada em espanhol, porém dedicada sobretudo a escritores

franceses. Foi diretor de Foniric (Paris, 1933), uma casa editora de discos fonográficos especializada em publicar registros de textos literarios, que

comprendiam desde Whitman até Aragon. Colaborou na produção de um filme sobre o vudú. Estudou musicologia, que lhe permitiu escrever partituras e livretos para cantatas e óperas bufas baseados em temas americanos. Entre animadas tertulias com Rafael Alberti e García Lorca, estudou os problemas da sincronização musical e escreveu uma ópera com Edgar Varèse, considerado o pai da música eletrônica.

A escrita de Carpentier tem instríseca relação com a música. A temática que permeia os princípios de composição musical figura de maneira substancial como elementos estruturais de sua obra. Em El siglo de las luces (1962), segundo palavras do autor, vislumbra-se uma espécie de construção sinfônica através da qual três personagens principais encarnam, respectivamente, um tema masculino, um feminino e um neutro.

Ainda que a questão musical esteja fortemente presente em Los pasos

perdidos (1953), o exemplo mais notável do pensamento «musical» de Carpentier é

a obra El acoso, que começou a ser escrita ainda durante o processo de finalização de Los pasos perdidos. Em El acoso (1958), o tempo da sequência dramática coincide com a duração da Sinfonia Heroica de Beethoven, enquanto que em Los

pasos perdidos a 9 Sinfonia de Beethoven é colocada no romance, segundo o

próprio Carpentier (2013: 95) como “una barrera más, tras de la barrera simbólica de Los Andes”. Os dois romances e o livro La música en Cuba (1945) são frutos do período em que esteve na Venezuela, coordenando uma emissora de rádio

Em Los pasos perdidos, o pomposo protagonista é um músico. Vale destacar, para delinear o processo de criação do autor cubano, que inicialmente o protagonista do romance exercia outro ofício. Não só ele, mas também sua ausente esposa desempenhava outra tarefa. Carpentier em seu Diario (2013: 38) justifica a alteração nas profissões do protagonista e sua esposa, deixando entrever em suas palavras um traço importantíssimo que marca o seu modo de criação literária, como se lê em:

En Los pasos perdidos, el personaje relator comenzó por ser un fotógrafo de periódicos. Pero, al cabo de diez páginas comprendí que, no habiendo sido nunca fotógrafo profesional, me era imposible reaccionar ante los hechos como un fotógrafo y volví mi personaje a

No documento – PósGraduação em Letras Neolatinas (páginas 37-54)