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4 CAPÍTULO III: ELEMENTOS DO JORNALISMO IMPRESSO

4.2 Análise de imagens

4.2.1 A imagem

A imagem também é uma mensagem. Hoje, por causa da globalização, as mazelas estruturais da sociedade ficaram ainda mais expostas, tornando a informação cada vez mais pletórica. Somente a linguagem verbal não é suficiente para expressar tudo o que vivenciamos. Enquanto o texto escrito nos informa e representa a realidade através das palavras, a fotografia mimetiza o real e os dados através da imagem. É uma essencialidade contemporânea retratar através de maneira mais visível, aparente e inteligível os fatos gerados no presente momento. Uma tragédia, por exemplo, relatada através de uma notícia, pode se tornar diferente se for apenas narrada ou narrada e visualizada, já que o impacto da imagem contribui para a interpretação dos fatos.

Esta vivifica o texto, sendo muito utilizada em nosso contexto atual; porém, não podemos esquecer que o verbal também se faz necessário, e é do amálgama entre texto e imagem que teremos a verdadeira máxima expressividade.

De acordo com a posição defendida por Sousa (2004, p. 113) “As fotografias contribuem para informar, para enfatizar matérias e para atribuição de sentido e enquadramento de um

acontecimento, podendo ter igualmente funções estéticas”. E é por isso que elas devem ser interpretadas, de modo a direcionarem também a leitura da própria notícia, pois “embora a fotografia e texto sejam estruturas heterogêneas (o texto ocupa, geralmente, um espaço contíguo ao da fotografia, não invadindo o espaço desta, a não ser para construir mensagens gráficas), não existe fotojornalismo sem texto” (SOUSA, 2004, p. 114).

A imagem midiática, difundida pelos meios de comunicação, é utilizada como um apoio informativo e também como uma nova possibilidade de leitura operada através das relações humanas atuais.

Roland Barthes (1990), renomado estudioso da imagem, procura desvelar os mistérios e segredos da fotografia, pois para ele esta produz ao infinito o que ocorreu apenas uma vez, repetindo de modo mecânico o que jamais ocorrerá material e existencialmente, já que o momento ímpar apreendido pelo fotógrafo não mais retornará.

A fotografia não mostra o tempo linear, seqüencial, mas representa um tempo próprio, peculiar, diferente do tempo marcado pelo relógio. Ela se entrega ao olhar de outrem sem pedir licença e permite um passeio pela memória e pelo tempo.

Barthes diz que as fotografias possuem dois elementos constitutivos na composição, os chamados studium e punctum. O primeiro é amplo, vasto, unímodo. É o abundante da fotografia, de interesse geral, universal e não propriamente algo específico e peculiar. Pertence ao campo do saber e da cultura, e nos permite buscar as razões e intenções das práticas sociais e das representações construídas acerca da realidade. Já o segundo é o elemento que impressiona, comove, estremece-nos de alguma forma e causa uma subitânea emoção. É o momento que nos atinge e inflama como uma picada, podendo ser algo que nos agrade ou não. Através desses conceitos o autor nos explica o que é o óbvio e o obtuso da fotografia. Enquanto um se refere a algo apresentado ao entendimento, como um domínio de um saber e de uma cultura inteligível, que pode ser apoiado na ciência para observar o óbvio, o obtuso é o que tange, abala, excita, como um silêncio encantador que pode nos abater e irromper nossa tranqüilidade.

A fotografia é muito importante para transmitir junto do texto determinada mensagem. Muitas vezes, essa informação a ser propalada pode estar explicitamente clara ou pode aparecer de modo subliminar. É justamente por esse motivo que nesta análise nos apoiaremos em preceitos advindos de Roland Barthes (1961, apud SOUSA, 2004, p. 124-125) que sustentava que a fotografia trazia consigo duas estruturas: uma denotativa (o analógico fotográfico), não sendo,

portanto, codificada, e uma puramente conotativa, que abarca um código sócio-cultural, dividindo-se, em seis principais processos de conotação além texto. Essa característica da imagem observada por Barthes fora chamada por ele mesmo de paradoxo fotográfico. Este afirmava que quanto mais uma fotografia fosse traumática, mais difícil seria sua conotação, pois o choque reduz o seu caráter polissêmico.

Desse modo, Barthes elencou os seis processos de conotação a que nos referimos anteriormente, da seguinte maneira:

1. Trucagem – Fundamenta-se no ato de introduzir, modificar ou suprimir elementos em uma fotografia. Ex: determinado objeto que se retira de uma foto pelo fato de estar na frente de uma pessoa ou monumento; a inserção de uma lata de cerveja de determinada marca que poderia funcionar como publicidade gratuita, etc.

2. Pose – É composta por gestos ou expressões encenados de propósito para a figuração da imagem fotográfica. São elementos que facultam sentidos à imagem, pois possibilitam a construção e reformulação de idéias do ser e do ambiente fotografado. É uma “intenção” de leitura e embora este tipo de recurso seja mais utilizado na publicidade, o jornalismo impresso, através da fotografia atesta o que está sendo visto. 3. Objetos – A inclusão de determinados objetos à cena fotografada também auxilia para a edificação de conceitos e significações da imagem. Ex: uma estante cheia de livros, uma escrivaninha antiga, um par de óculos semi-aberto sobre ela, uma velha máquina de escrever, podem contribuir, por exemplo, para dar à cena um ar de intelectualidade.

4. Fotogenia – Equivale ao processo de embelezamento de pessoa ou cena a ser fotografada. Esse aspecto ornamentalista pode-se dar através da iluminação, enquadramentos, etc., que tem o nome de fotogenia.

5. Esteticismo – Processo de conotação mediante a exploração estética da fotografia. O pictoralismo fazia muito uso desse recurso. A produção da imagem nesse processo ganha grande relevância. Um traço, uma expressão, a disposição de um elemento é

muito importante na atribuição de sentidos à cena. Ex: um punho cerrado, sobrancelhas retraídas podem conferir um aspecto de fúria e raiva.

6. Sintaxe – Pode-se referir quando às vezes os jornais formam seqüências com as fotografias inseridas nele, como, por exemplo, a seqüencialidade de um salto de um atleta ou mesmo a sucessão de ações ocorridas até resultar na explosão de um avião. Além dessa conexão de fatos, os jornais inserem fotografias justapostas ou contíguas, porém, deve-se observar o encadeamento dado a elas, pois dependendo do arranjo a elas conferido, pode resultar em má interpretação dos fatos. Por exemplo: Se o jornal insere a imagem de uma artista famosa presente na inauguração de uma empresa de embalar frangos, justapondo-a a uma fotografia de uma galinha, pode-se atribuir um outro sentido à foto, a qual passa a atribuir à mulher características pejorativas advindas da conotação depreciativa arraigada na palavra galinha. É por isso que a disposição das imagens deve ser bem estudada antes de ser introduzida em um veículo comunicacional, pois ela pertence a uma sintaxe fotográfica.

Vemos como a fotografia é perigosa e dotada de funções que visam a informar, representar, surpreender, fazer significar, dar vontade, etc. Para surpreender-nos, fotografa o insigne, o notável da situação, induzindo-nos a pensar e refletir sobre algo; no entanto, um simples detalhe é importante para mudarmos a leitura, funcionando como uma espécie de instante decisivo, que pode desviar nosso modo de olhar.

As informações são transmitidas através de duas estruturas heterogêneas: a lingüística, materializada e construída pelas palavras e frases, que comunica por meio do auxílio de outras estruturas, como o título, legenda ou o próprio artigo; e a gráfica, que pode ser transmitida através das linhas, superfícies e tintas utilizadas pela imagem.

Muitos estudiosos afirmam que, em razão da informação ser muito rápida, dinâmica, fugaz e visual, não é mais a imagem que subsidia e exemplifica o texto, mas o texto que subsidia a imagem.

Como em um texto se escolhem os verbos, adjetivos e advérbios adequados visando ao objetivo que se quer passar, uma boa fotografia de imprensa deve compreender os supostos saberes de seus leitores, de forma que o jornalista escolhe as provas que comportam a maior quantidade possível de elementos, de maneira a euforizar a leitura, ou seja, são escolhidos os

componentes para melhor representar a imagem, pois “uma foto de reportagem testemunha bem uma certa realidade, mas também revela a personalidade, as escolhas, a sensibilidade do fotógrafo que a assina” (JOLY, 2003, p. 58).

Ao situarmos na era da imagem, a fotografia imposta pelas novas tecnologias e pelo discurso midiático vigente tornou-se um suporte muito utilizado nas revistas, jornais, internet, etc., é, portanto, impregnada de signos, e, conseqüentemente, detentora de significados; pode ser vista por inúmeras pessoas, obtendo assim um destaque especial.

A mídia contemporânea se serve de imagens ancoradas no verbal, como do verbal ancorado nas imagens para persuadir de forma eficiente, levando os indivíduos a darem respostas com a emoção e não com a razão apenas. A linguagem visual é o meio perfeito de comunicação capaz de criar esses efeitos.

Entendemos que a imagem visual é um discurso que é construído através da seleção de vários elementos, que ao serem combinados, interagem produzindo significados. O fotógrafo seleciona o ângulo, o foco, o tamanho da imagem que vai ser revelada, escolhendo aquilo que deseja expor ou ocultar, deixando que seu ponto de vista ideológico interfira na imagem, emergindo nesse discurso suas marcas enunciativas.

Antes a fotografia era usada pelos jornais como simples ornato; hoje, no entanto, ela passou a ser usada como um produto universal de linguagem simbólica repleta de signos visuais estando, portanto, exposta ao dispêndio das massas.

Diante do que foi exposto, vimos quanto é vasta a literatura sobre jornalismo que enfatiza a importância das imagens e fotografias jornalísticas nos jornais e revistas. Por essa razão, devem ser levadas em consideração quando se fazem as análises, visto que “as fotografias contribuem também para o enquadramento de uma história, proporcionando maior compreensão desta última, e ajudam a manter o interesse de um leitor” (MILLER, 1975 apud SOUSA, 2004, p. 143).

Jamais podemos deixar de ter em mente que a imagem nos tempos atuais é sim muito importante, porém o texto também se faz necessário, tornando-se imprescindível, por isso. Esse tema é retratado nas palavras de Joly (2003) da seguinte maneira:

As palavras e as imagens revezam-se, interagem, completam-se e esclarecem-se com uma energia revitalizante. Longe de se excluir, as palavras e as imagens nutrem-se e exaltam-se umas às outras. Correndo o risco de um paradoxo, podemos dizer que quanto mais se trabalha sobre as imagens mais se gosta das palavras (JOLY, 2003, p. 133).

Cabe ao analista o trabalho de “decifrar as significações que a ‘naturalidade’ aparente das mensagens visuais implica. ‘Naturalidade’ que, paradoxalmente, é alvo espontâneo da suspeita daqueles que a acham evidente, quando temem ser ‘manipulados’ pelas imagens” (JOLY, 2003, p. 43).

É no dialogismo das linguagens (verbal e visual) que o discurso é feito e transmitido ao leitor, que o interpreta segundo suas concepções e visões de mundo.

Veremos mais adiante, no Agora, de que forma se utiliza a mistura dessas duas linguagens, fazendo-o pertencer ao rol dos jornais populares, que abarca resquícios da escola sensacionalista.