• Nenhum resultado encontrado

2 CAPÍTULO I: FUNDAMENTOS TEÓRICOS E CONCEPTUAIS

2.5 Imprensa de elite e imprensa popular

A literatura aqui existente a qual trata o jornalismo presente no Brasil, refere-se à nossa imprensa, definindo-a de duas formas: uma, através da imprensa de elite, tida por séria, de prestígio e de grande importância, e a popular, considerada mais sensacionalista, menos formal e de menor influência, sem considerar como parte desta classificação a imprensa alternativa, que é apenas retratada nos estudos mais recentes devido às transformações ocorridas com o estabelecimento do regime político de 1964.

Segundo Pedroso (2001), essa distinção feita acerca das variedades de imprensa é algo a ser questionado, pois o uso da denominação popular acaba por não traduzir as condições de vida e anseios da camada menos favorecida, faltando sólido conhecimento científico em nosso continente, que sistematize esse tipo de jornalismo. É por isso que, quando questionada por alguém, a autora diz que “ela não existe como um tipo de imprensa que se opõe a outro, mas uma divisão aparente, ou melhor, um surgimento que pertence à grande imprensa e a reproduz” (PEDROSO, 2001, p. 46).

Dessa forma, Pedroso insiste em que a imprensa popular não existe por si só, mas pertence ao segmento da grande imprensa; afinal esses jornais ditos mais populares também se apresentam como subservientes às aspirações da elite, que, ao conhecer os objetivos e propósitos do público, produzem uma comunicação voltada a esta camada, estabelecendo como disse Beltran (1981, p. 29) “uma comunicação vertical, isto é, de cima para baixo, dominante, impositiva, monológica, em suma, não democrática”.

O aumento do número de leitores de jornais populares se deu após o ano de 1994, por causa do surgimento do Plano Real. Com esse plano de estabilização econômica, houve maior facilidade de compra pela população, em especial pelas classes menos favorecidas, fato esse que fez com que as empresas jornalísticas se dedicassem à produção de um jornal voltado para esse novo nicho consumidor.

Fez-se um jornalismo popular em que se buscava a produção de informações e conhecimentos sobre os fatos cotidianos do país e do mundo narrados de maneira clara e contextualizada, buscando garantir a atenção do leitor localizado em determinados estratos sociais. Desse modo, os temas sociais passam a ser prioritários, e as temáticas que envolvem o entretenimento também passam a ser abordadas, porém de maneira secundária.

Os jornais populares precisam falar de outro ponto de vista com relação aos jornais de referência, visto que a posição social, econômica, histórica e cultural de quem lê esse periódico é diferente. Deve-se, portanto, observar até os perfis dos jornalistas contratados, para que possam cobrir de maneira mais adequada o universo de leitores. Sua difusão pode ser considerada benéfica para as pessoas, para que elas ao descobrirem o hábito da leitura, possam se informar, e busquem melhorias em suas vidas.

Segundo Amaral (2006), o jornalismo popular tem valor, pois estabelece conexão com número expressivo de pessoas. Trata, portanto, de variados assuntos que vão desde questões voltadas à política e à utilidade pública até temas mais amenos, como esportes e variedades. O jornal, por conseguinte, se faz popular por intermédio de uma estratégia de dizer aos leitores como devem ocupar uma posição em suas páginas. O indivíduo é chamado a tomar posse de seu lugar pré-determinado, e o jornal confia na idéia de que o leitor vai se identificar com as posições para as quais é convocado. Por isso, busca, a cada dia, compreender as necessidades de seu público leitor.

Nesse sentido, de acordo com a autora acima citada, podemos observar que:

A imprensa popular ligada a grandes empresas de comunicação existe pela necessidade de ampliar o mercado de consumidores de jornais para um público que vive numa situação social, cultural e econômica diferente da do público das classes A e B. Os jornais assumem formas específicas porque o que move essa imprensa é, antes de qualquer coisa, a sedução do público e não a credibilidade ou o prestígio (AMARAL, 2006, p. 58).

E ainda continua:

Os acontecimentos, para se transformarem em notícias e fazerem sentido para alguém, devem estar enquadrados no universo do público. Toda notícia é uma narrativa, sejam notícias hards (importantes) ou softs (leves ou interessantes). Ambas são narrativas sobre a realidade e utilizam-se de diversos valores culturais para contar uma historia. A forma como a notícia relata o fato muda conforme o público para quem o veículo é dirigido. (AMARAL, 2006, p. 70)

O jornalismo popular também obedece às regras das empresas racionais capitalistas, que visam à produção de informações dirigidas para determinados seguimentos sociais com propostas editoriais que buscam lutar pelos interesses daquela classe. Os produtos culturais são produzidos pensando no gosto do público consumidor. Esse gosto transpassa o conceito estético, abrangendo também o contento sócio cultural de determinadas camadas populares.

Segundo Amaral (2006), na imprensa popular, os fatos a serem noticiados são priorizados conforme a capacidade de entretenimento, a proximidade geográfica ou cultural do leitor, a possibilidade de simplificação e o grau de identificação dos personagens com os leitores. Diferente da impressa considerada de referência, em que a possibilidade de um acontecimento virar notícia está associada ao grau de importância das pessoas envolvidas, aos impactos sobre a nação, à relação com as políticas públicas, dentre outros fatores.

Por causa de o enfoque desta pesquisa não se propor a esmiuçar as classificações atribuídas a cada tipo de imprensa, assim como fez Pedroso, adotaremos, segundo o consenso geral prescrito no âmbito da sociedade, a familiar e habitual distinção feita entre imprensa de elite e imprensa popular, estando o nosso objeto de pesquisa enquadrado nessa segunda classificação, o qual apresenta também traços pertencentes à escola sensacionalista.

Sendo assim, trabalharemos, nesta pesquisa, com o conceito de jornalismo popular, no que tange à classificação de um tipo de jornalismo produzido para o povo, em seu sentido mais amplo e geral, que além de expor algumas questões mais voltadas a essa classe social, conta com o uso de aspectos gráficos mais visíveis e expressivos, além de uma linguagem mais fácil e compreensível; não remetendo à denominação de popular referente àquele jornalismo feito pelo próprio povo, como se fosse uma vertente de um jornalismo comunitário ou cidadão, em que se tem como objetivo primordial dar voz à classe dos injustiçados, expondo os interesse dos fracos, explorados, oprimidos, dos injustamente punidos pela sociedade e pelo cotidiano.