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Capítulo III – Estilo de Liderança

5. Imagens organizacionais da Escola

A análise organizacional diz que existem várias imagens organizacionais da escola, visto que nem sempre a intervenção activa dos actores é coincidente na acção organizacional, fruto de concepções diferentes da realidade, de interesses diversos, de formações desiguais e da sujeição a condicionalismos geográficos, organizacionais e culturais díspares.

Costa (1996), como modelos teóricos abstractos de análise, define seis imagens organizacionais da escola: escola como empresa, escola como burocracia, escola como democracia, escola como arena política, escola como anarquia e escola como cultura.

5.1. A Escola como Empresa

Esta imagem assenta em concepções e práticas utilizadas na produção industrial, defendidas pelos modelos clássicos de organização e administração (Taylor e Fayol), das quais se destacam: estrutura organizacional hierárquica, centralizada e devidamente formalizada; divisão do trabalho e especialização através da definição precisa de cargos e funções; ênfase na eficiência e na produtividade organizacional; planificação e identificação rigorosa e pormenorizada dos objectivos a atingir; identificação da melhor maneira de executar cada tarefa e, consequentemente, a padronização; uniformização de processos, métodos, tecnologias, espaços e tempos; individualização dos processos do trabalho, etc.

Esta concepção de escola, que é sustentada por pressupostos teóricos economicistas e mecanicistas, apresenta uma visão reprodutora da educação, vendo o aluno como matéria-prima a ser moldada.

5.2. A Escola como Burocracia

A escola, segundo esta imagem, baseia-se no princípio de um funcionamento racional, defendido pelo modelo burocrático de organização de Max Weber, sendo de destacar o seguinte: centralização das decisões nos órgãos de cúpula do Ministério da Educação, traduzida na ausência de autonomia das escolas e no desenvolvimento de cadeias administrativas hierárquicas;

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regulamentação pormenorizada de todas as actividades, a partir de uma rigorosa e compartimentada divisão do trabalho; previsibilidade de funcionamento com base numa planificação minuciosa da organização; formalização, hierarquização e centralização da estrutura organizacional dos estabelecimentos de ensino; obsessão pelos documentos escritos; actuação rotineira, com base no cumprimento de normas escritas e estáveis; uniformidade e impessoalidade nas relações humanas; pedagogia uniforme: a mesma organização pedagógica, os mesmos conteúdos disciplinares, as mesmas metodologias para todas as situações; concepção burocrática da função docente; etc.

5.3. A Escola como Democracia

Esta imagem foi buscar os pressupostos teóricos à teoria das relações humanas que sustenta uma concepção que assenta no desenvolvimento de processos participativos na tomada de decisões, na utilização de estratégias de decisão colegial através da procura de consensos partilhados, na valorização dos comportamentos informais, na organização relativamente à sua estrutura formal, ao incremento do estudo do comportamento humano (necessidades, motivação, satisfação, liderança) e defesa da utilização de técnicos para a correcção dos desvios, uma visão harmoniosa e consensual da organização e um desenvolvimento de uma pedagogia personalizada.

5.4. A Escola como Arena Política

Esta imagem é sustentada em pressupostos teóricos de uma concepção baseada nos modelos políticos de organização, destacando-se as seguintes características: a escola é um sistema político em miniatura cujo funcionamento é análogo ao das situações políticas nos contextos macro-sociais; os estabelecimentos de ensino são compostos por uma pluralidade e heterogeneidade

de indivíduos e de grupos que dispõem de objectivos próprios, poderes e influências diversas e posicionamentos hierárquicos diferenciados; a vida escolar desenrola-se com base na conflitualidade de interesses e na consequente luta pelo poder; os interesses (de origem individual ou grupal) situam-se quer no interior da própria escola, quer no seu exterior e influenciam toda a actividade organizacional; as decisões escolares, tendo como base a capacidade de poder e de influência dos diversos indivíduos e grupos, desenrolam-se e obtêm-se, basicamente, a partir de processos de negociação; e o interesse, o conflito, o poder e a negociação são palavras-chave no discurso utilizado por esta abordagem organizacional.

Ao contrário da escola democrática, as tendências normativas desta imagem organizacional são muito reduzidas.

5.5. A Escola como Anarquia

Esta imagem situa-se na linha de ruptura efectuada pelos modelos políticos, mas vai mais além e rompe, profundamente, com as perspectivas teóricas que dão corpo às outras imagens organizacionais apresentadas sobre a escola, já que, à racionalidade, previsibilidade e clareza das organizações, ou mesmo dos seus actores e grupos, contrapõe a ambiguidade, a imprevisibilidade e a incerteza do funcionamento organizacional.

O conceito de anarquia aqui apresentado não pode ser conotado negativamente, mas sim como uma metáfora cujo uso permite visualizar um conjunto de dimensões escolares, entre as quais se destacam as seguintes: a escola é, em termos organizacionais, uma realidade complexa, heterogénea, problemática e ambígua; o seu modelo de funcionamento pode ser apelidado de anárquico, na medida em que é suportado por intenções e objectivos vagos, tecnologias pouco claras e participação fluida; a tomada de decisões não surge a partir de uma

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sequência lógica de planeamento, mas irrompe, de forma desordenada, imprevisível e improvisada, do amontoamento de problemas, soluções e estratégias; um estabelecimento de ensino não constitui um todo unido, coerente e articulado, mas sim uma sobreposição de diversos órgãos, estruturas, processos ou indivíduos frouxamente unidos e fragmentados; as organizações escolares são vulneráveis relativamente ao seu ambiente externo que, sendo turbulento e incerto, aumenta a incerteza e a ambiguidade organizacionais; e, finalmente, os diversos processos organizativos desenvolvidos pela escola, mais do que tecnologias decorrentes de pressupostos de eficiência ou de eficácia organizacionais, assumem um carácter essencialmente simbólico.

5.6. A Escola como Cultura

Por último, esta imagem enquadra-se na abordagem comportamental da administração, mais propriamente, nas teorias do desenvolvimento organizacional, caracterizando-se como sendo uma escola diferente das outras, com uma especificidade própria que se traduz em diversas manifestações simbólicas, tais como valores, crenças, linguagem, heróis, rituais e cerimónias.

A qualidade e sucesso da organização escolar dependem do seu tipo de cultura: as escolas bem sucedidas são aquelas em que predomina uma cultura forte entre os seus membros (identidade e valores partilhados).

Estas imagens organizacionais da escola, que acabamos de descrever, proporcionam-nos um quadro conceptual teórico para a compreensão do funcionamento das nossas escolas.