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PARTE III – APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS ELEMENTOS

2. Percurso Histórico do Estilo de Liderança na Escola

2.3. Tomada de Decisão dos Líderes

Em relação à tomada de decisão sobre assuntos relacionados com os funcionários, os vários Conselhos Directivos consultavam ora a chefe dos serviços administrativos ora a chefe do pessoal auxiliar de acção educativa. A chefe dos serviços administrativos, quando entrevistada, deu o exemplo do orçamento da escola, referindo que foi sempre consultada por todos os presidentes para a sua elaboração. E, referindo-se à última presidente do Conselho Executivo, disse o seguinte:

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169 Eu preparava as coisas e, por exemplo, a última presidente perguntava-me se havia mais alguma coisa, se havia necessidade disto, daquilo ou não. Se havia aumento dos passes, era só assentar as ideias. Depois, era a nível de Assembleia de Escola e Conselho Administrativo. (E: 308)

E, referindo-se ao professor que esteve no Conselho Directivo doze anos, argumentou:

Sempre foi da mesma forma (...) Sim. Trabalhava com ele no orçamento. (E: 308)

As decisões sempre foram colegiais. No entanto, o professor que esteve no Conselho Directivo doze anos tinha, por vezes, atitudes de “quero, posso e mando”. A última presidente era um pouco mais liberal, como nos conta a chefe dos serviços administrativos:

(…) no tempo do professor que esteve no Conselho Directivo doze anos, se havia alguma dúvida quanto à legislação, eu chegava junto dele e perguntava-lhe, porque, por vezes, existem várias interpretações da lei. Mas, muitas vezes, exagerava um pouco na sua teimosia, insistindo na sua interpretação, dizendo que ele era quem mandava e a interpretação que ele fazia era a correcta. Muitas vezes, dizia: “É assim, assim e acabou!... Por vezes, a sua interpretação estava errada e ele teimava (…) e foi no mandato da presidente seguinte que verificámos que estávamos a proceder erradamente em relação aos professores. Detectámos que a interpretação do presidente estava errada, quando tivemos uma reunião com o Ministério, tendo sido necessário refazer tudo (...) Ela era mais liberal. Se havia divergências, ela pedia, por escrito, a interpretação oficial do Ministério. (E: 308)

Pelo que se apurou, as decisões com consulta ou participadas são mais do agrado dos funcionários e atingem níveis de qualidade superiores aos da decisão individual (Ferreira, 2003).

Na opinião dos professores entrevistados, a tomada de decisão dos Conselhos Directivos em relação a assuntos relacionados com os professores e alunos era quase sempre colegial. Eles funcionavam em equipa coesa, o que um

decidisse sem a consulta dos outros, era como se fosse feita pelo grupo, porque essa decisão era sempre comunicada na primeira oportunidade a todos os elementos da equipa. No entanto, as decisões que envolvessem assuntos delicados eram produzidas colegialmente, como nos diz um dos professores que foi presidente de um Conselho Directivo: “(…) ouvia sempre os outros elementos (…)”. (E: 207)

Apesar de não ser um órgão com carácter deliberativo, os Conselhos Directivos ou Conselhos Executivos consultavam o Conselho Pedagógico, quando se tratasse de questões pedagógicas e tomavam as decisões de acordo com as sugestões que lhes eram feitas. Um dos professores entrevistados, que fez parte de um dos Conselhos Directivos, respondeu a esta questão, dizendo o seguinte:

Esses Conselhos Directivos basearam sempre a sua actuação no sentido de confiar no Conselho Pedagógico, quanto às opiniões, e, a opinião do Conselho Pedagógico, era regra, era aceite porque só assim se entendia que fossem parceiros, fossem um outro órgão que vai contribuir para o funcionamento da escola. E não só, quer dizer, quando se pede a um órgão que se pronuncie, é muito importante que, quem vai pôr cá para fora a decisão, saiba que tem apoio. E, portanto, era sempre respeitada, apesar de saber que o Conselho Pedagógico é um órgão consultivo. Instituiu-se um pouco as ordens do Conselho Pedagógico. Isto levou até a um certo hábito de confusão. Se o Conselho Pedagógico recomendava determinada coisa, era ponto assente que o Conselho Directivo procedia dessa maneira. O que não quer dizer que o Conselho Directivo não pudesse decidir o contrário! O Conselho Directivo ou Conselho Executivo pode só ouvir! Mas, não. Mas era sempre regra. Vamos ouvir e depois decidimos. (E: 207)

Um outro professor, que também fez parte de um Conselho Directivo, respondeu-nos deste modo:

Naquele em que eu participei, aceitávamos as orientações do Conselho Pedagógico. Depois definíamos uma linha de actuação em conformidade também com a parte administrativa, com os dinheiros que havia, com as possibilidades

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171 que existiam. As tomadas de decisão, em princípio, eram sempre colegiais. (E: 206)

Mas esses Conselhos Directivos também tinham por hábito consultar os professores mais “influentes” na escola para a tomada de decisão.

Sim, era normal estar-se com atenção às opiniões das pessoas, pessoas com mais experiência, mais metidas na vida da escola, mais actuantes nesse sentido. Era habitual também procurar seguir um pouco a linha das pessoas que revelavam interesse e trabalho aqui dentro. (E: 207)

No mandato do professor que esteve no Conselho Directivo doze anos, esses professores mais “influentes” não eram só consultados pelas razões apresentadas por este professor, mas por fazerem parte do grupo ligado ao poder. Era necessário manter o sentimento de “culto da personalidade”, já atrás referido, que se fomentava nesta escola, e estas consultas faziam parte da sua preservação, para além de contribuírem para a coesão desse grupo. Isso também se verificava nas reuniões de Conselho Pedagógico.

Como esse presidente acumulava as funções de presidente do Conselho Pedagógico, as ideias ou sugestões dos membros que não pertenciam ao grupo do “poder” nunca eram tidas em conta, e, muitas vezes, eram mesmo interrompidos nas suas exposições ou pelo presidente, ou por professores com estatuto de pertencer ao grupo do “poder”. Havia uma marginalização desses professores o que, ao longo dos anos, originou uma grande desmotivação por uma grande parte dos professores, não só na participação das decisões do Conselho Pedagógico, como também na participação da restante vida da escola. Esses professores, a quem não era pedida nem respeitada a sua opinião, começaram a ter uma atitude de corpo presente, sem iniciativa de participar e só marcavam presença para não terem falta.

Uma das razões que se identificou como sendo uma das principais para se pertencer a esse grupo de “poder” era a das habilitações académicas. Os

professores com habilitação suficiente, isto é, com bacharelato ou abaixo deste grau, eram subestimados e muitas vezes desconsiderados. Outra das razões era a falta de afinidades com os elementos desse grupo. O núcleo duro desse grupo era constituído por professores que se conheciam há muitos anos e a amizade unia-os fortemente. A falta de afinidade no relacionamento era uma das condições para a exclusão. Uma outra era a falta de afinidade com a área de leccionação.

As condições indispensáveis para que algum professor pudesse entrar no grupo eram ser amigo de um dos elementos e ser aceite pelos outros e pertencer ao grupo de leccionação de um dos elementos e ser considerado útil ao grupo no reforço e preservação da sua imagem e estatuto. Deste modo, o resultado das tomadas de decisão estava à partida condicionado e, consequentemente, punha em causa a equidade que devia haver nas decisões.

Logo após o 25 de Abril, considerado período revolucionário, ainda houve algumas reuniões gerais para tomar decisões, mas, passada essa fase, elas serviram exclusivamente para fornecer informações e para eleger os presidentes dos Conselhos Directivos.

Na opinião dos professores entrevistados, a resolução dos conflitos também sempre foi através do diálogo.

Os conflitos eram, normalmente, resolvidos através do diálogo, apesar de ter havido situações de uma certa gravidade de entendimentos. (E: 207)

No ano em que eu estive no Conselho Directivo, não houve nenhum Processo Disciplinar. E que eu me lembre, nunca houve nenhum Processo Disciplinar. Foi tudo resolvido pelo diálogo, quando existiam situações problemáticas. Posteriormente, que eu saiba, também nunca houve processos disciplinares. Houve, sim, processos de inquéritos que foram movidos a elementos da secretaria. Nos anos a seguir à minha estadia no Conselho Directivo, houve processos de inquéritos a um ou dois elementos da secretaria. No entanto, não sei qual foi a resolução disso. (E: 206)

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