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Impacto Ambiental e efeitos da atrazina sobre o ambiente e seres

3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.4 A atrazina (CAS: 1912-24-9)

3.4.3 Impacto Ambiental e efeitos da atrazina sobre o ambiente e seres

A atrazina é classificada pela USEPA na classe toxicológica III, ou seja, de reduzida toxidez. Por esta razão, bem como pelo seu potencial de contaminação ambiental, foi designada de uso restrito por este órgão, o que implica que a sua compra e uso é limitado a aplicadores certificados ou sob a direta supervisão de um aplicador certificado (USEPA, 2011).

Nas culturas, a atrazina atua como um inibidor da fotossíntese, sendo responsável pela degenaração das plantas daninhas susceptíveis ao agente (BARBOSA 2013). No solo, a atrazina apresenta-se com moderada a alta mobilidade, com meia-vida de até 385 dias, dependendo do tipo de solo. A meia-vida longa e a mobilidade no solo reforçam seu potencial de contaminante do solo e mananciais. Suas formas de decomposição no ambiente incluem: a degradação química, hidrólise e fotólise e degradação microbiana, apesar ser razoavelmente resistente para esta ação (ATSDR, 2012).

Nos seres humanos, a atrazina é prontamente absorvida no trato gastrointestinal, com índice de excreção via urina em 66%. Aproximadamente 14% da dose ingerida de atrazina é absorvida nos tecidos, tipicamente persiste em eritrócitos, fígado, baço e rim, com eliminação de todo o corpo em 31,3 horas (Organização Mundial de Saúde, 1996). Os efeitos de interferência endócrina da atrazina sobre o ambiente, especificamente

sobre os animais são amplamente divulgados pela comunidade científica. Alguns estudos relevantes acerca deste contaminante quando na água, são resumidos a seguir:

A pesquisa de Hayes (2010) realizada na Universidade da Califórnia analisou o desenvolvimento de 40 rãs africanas com cromossomos masculinos, desde a fase em que eram girinos, expostas a água com concentração de atrazina dentro do limite

considerado seguro pela USEPA (2009); 3,0 µg/L. Esse grupo de rãs foi comparado com

outro grupo de controle, também com 40 rãs do sexo masculino, desenvolvidas em água isenta de atrazina. Entre as rãs desenvolvidas na água com o agrotóxico, 10% se tornaram “fêmeas funcionais”, capazes de copular com machos e botar ovos viáveis. Os outros 90%, apesar de terem mantido características básicas do sexo masculino, apresentaram baixos níveis de testosterona e fertilidade. Segundo os pesquisadores, esses machos tiveram um menor índice de sucesso na competição com outros machos não expostos à atrazina na competição pela atração de fêmeas. Uma possível explicação para o fenômeno, segundo Hayes, é que a atrazina absorvida pelas rãs seria capaz de ativar um gene normalmente inativo em rãs do sexo masculino. Isso produziria uma enzima com a capacidade de converter o hormônio masculino testosterona no hormônio feminino estrogêneo (HAYES, 2010).

Xing et al., (2012), em estudo realizado na Universidade de Harbin - China observaram que a atrazina foi responsável por alterações fisiológicas em amostras de tecidos extraídos dos rins e cérebro de carpas comuns, após contato com a substância contaminante sob três diferentes concentrações: 4,28; 42,8 e 428 µg/L, durante 40 dias. O estudo fundamentou-se na análise de dois grupos de peixes, o primeiro de controle, o qual ficou em contato com água isenta do herbicida e o segundo sob água contaminada. Os pesquisadores também concluíram que as alterações patológicas, onde se incluem danos nos tecidos de ambos os órgãos foram mais graves com o aumento da dose de exposição.

Moreira et. al. (2012) no Brasil analisou o nível de contaminação de águas superficiais, potável e de chuvas em municípios do Estado do Mato Grosso (MT) por agrotóxicos, onde se inclui a atrazina. Este Estado é o maior produtor brasileiro de soja, algodão e milho. Os estudos foram subdividos em dois módulos distintos: um primeiro que visou a análise de detecção e quantificação dos agrotóxicos em amostras de água das fontes descritas; e

um segundo no qual se analisou as mesmas substâncias em amostras sanguíneas de dois bioindicadores: o sapo-cururu (Rhinella schneidere) e a rã-pimenta (Peptodactylus labyrinticus). A análise dos resultados do estudo revelou que os agrotóxicos utilizados nas atividades agrícolas dos municípios avaliados estão afetando o ambiente das áreas próximas às zonas de plantio, nomeadamente as águas superficiais, de chuvas e de consumo humano. A atrazina foi quantificada em amostras de água potável em concentrações entre 0,1 e 0,2 µg/L. Quanto aos estudos ecotoxicológicos realizados a partir dos dois tipos de anfíbios citados foram observadas sobretudo, mal formações apendiculares (ectromelia), ou ausência congênita ou desenvolvimento incompleto dos ossos longos de um ou mais membros locomotores e sindactilia, ou fusão das falanges dos membros inferiores). As anomalias foram registradas apenas nos indivíduos da espécie Rhinella schneidere.

Na Universidade de Novi Sad – Sérvia, Pogrmic-Majkic et al. (2012) estudaram a exposição de ratos machos, do gênero Wistar, a água contaminada com atrazina, sob concentração de 50 e 200 mg/kg de massa corporal/dia), tendo concluído que a substância, nas condições experimentais adotadas, foi a responsável pela significante redução da produção de hormônio andrógeno pelos indivíduos que ingeriram a água contaminada, durante os 28 dias de teste. Este hormônio, produzido nos testículos de indivíduos machos, é o responsável pelas suas características sexuais secundárias. Para ratificar os resultados das análises que mediram a androgênese testicular na espécie in vivo; foram realizados testes complementares ex vivo, nos quais foi quantificada a produção de androgênio em enzimas produzidas nas células de Leydig, localizadas nos testículos. Os resultados desta etapa também se mostraram positivos frente à redução da atividade das enzimas glutationa-S-transferase (GST), glutationa peroxidase (GSH-Px) e catalase (CAT) nas células, confirmando a redução do processo de androgênese celular. O mesmo estudo, em uma outra etapa, também confirmou a ação interferente endócrina da atrazina sob o fígado dos ratos, pela quantificação do citocromo P450 (CYP) produzido pelo órgão; esta enzima enzima é a responsável pela metabolização de xenobióticos no organismo.

No Centro de Pesquisas Ambientais de Columbia (EUA) e no Instituto de Biologia da Acadêmia de Ciências da Rússia, Papoulias et al., (2014) avaliaram a produção de ovos

em fêmeas de peixes do tipo Oryzias latipes expostas a atrazina. Para a realização dos testes, foi escolhida uma população de reprodutores virgens adultos que continham um macho e quatro fêmeas em cada grupo testado. Os grupos foram expostos a água contaminada com atrazina sob concentrações nominais de 0 (nula); 0,5; 5,0 e 50 mg/L, durante 14 e 38 dias. Os pesquisadores concluíram que a produção total de ovos pelas fêmeas expostas à atrazina, em ambas condições de tempo, foi reduzida em média de 39%, em comparação à produção de fêmeas do grupo de controle. As reduções na produção total de ovos nos grupos de tratamento com atrazina foram atribuídas a redução na ovulação das fêmeas. Além disso, os machos expostos a atrazina apresentaram um maior número de células germinais com anomalias. Não houve efeito da atrazina no índice gonadossomático, na proteína aromatase e nos hormônios 17 β-estradiol e testosterona. Os resultados sugerem que a atrazina reduz a produção de ovos por meio da alteração de maturação final dos oócitos (PAPOULIAS 2014).

A USEPA (2009) considera a atrazina como provável substância carcinogênica uma vez que tem atividade endócrina, mas a relação segura entre a exposição por atrazina e certos tipos de câncer não é fácil de ser obtida. Alguns estudos mostraram que a exposição à atrazina combinada com outros pesticidas aumentou o risco do surgimento de linfomas não-Hodgkin`s e de cânceres na bexiga e no pulmão além de mielomas múltiplos em trabalhadores rurais, em contato direto com a substância (RUSIECKI et al., 2009; ROSS et al., 2003). Simpkins et al. (2011) relacionaram o potencial risco de câncer de mama com o consumo de água contaminada por atrazina usando dados epidemiológicos.