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2. DESIGN BIOFÍLICO

2.3 O impacto da Biofilia

Como já dito, a Biofilia é o ramo que estuda a relação inata que existe entre a espécie humana e a natureza. Essa relação no decorrer da história vem resultando no desenvolvimento das forças

adaptativas humanas intimamente ligadas às condições do ambiente e da própria conexão direta ou não, deste com a natureza. Hoje, grande parte da evidência da Biofilia apoia -se nas pesquisas dos sistemas mentais cognitivo, psicológico e fisiológico humano, sendo o funcionamento destes cada vez mais exp lorados em estudos laboratoriais e de campo na intenção de exp licar como a saúde e o bem-estar das pessoas são afetados por seu ambiente. Sabendo que o sistema cognitivo é aquele que “engloba nossa agilidade mental, a memória, nossa capacidade de pensar, aprender, produzir de forma lógica ou criativa”, que o sistema psicológico é o que “engloba nossa adaptabilidade, atenção, concentração, humor e emoção” e que o sistema fisiológico é o que “abrange nossos sistemas auditivo, músculo esquelético, respiratório, circadiano e o conforto físico geral” (BROWNING; RYAN; CLANCY, 2014, p. 11), buscou-se estudar e experienciar a influência que os fatores relacionados ao ambiente externo exerciam sobre cada um desses sistemas.

No relatório da Terrapin Bright Green (consultora de grandes organizações que buscam desenvolver soluções criativas e impactantes no objetivo de reconectar as pessoas ao ambiente) intitulado “14 Patterns of Biophilic Design”, encontra-se que quanto aos sistemas e suas relações com a natureza:

- Sistema cognitivo: “conexões fortes ou rotineiras com a natureza podem oferecer oportunid ades para a restauração mental [...]como resultado, nossa capacidade de realizar tarefas focadas é maior do que em alguém com recursos cognitivos fatigados” (2014, p. 11);

- Sistema psicológico: “inclui respostas à natureza que afetam a restauração e o gerenciamento do estresse. As respostas psicológicas podem ser aprendidas ou hereditárias, por

exp eriências passadas, construções culturais e normas sociais” (2014, p. 11);

- Sistema fisiológico: “as respostas fisiológicas desencadeadas por ligações com a natureza incluem o relaxamento dos músculos, bem como a diminuição dos níveis de pressão arterial diastólicas e do hormônio de estresse (c ortisol) na corrente sanguínea” (2014, p. 11).

Stephen Kellert e Elizabeth Calabrese apresentam como princípios e benefíc ios associados à aplicação d o Design Biofílico:

• O design biofílico requer um envolvimento repetido e contínuo com a natureza;

• O design biofílico se concentra nas adaptações humanas ao mundo natural que, ao longo do tempo evolucionário , têm promovido a saúd e e o bem-estar das pessoas;

• O design biofílico estimula uma ligação emocional com cenários e lugares específicos;

• O design biofílico promove interações positivas entre as pessoas e a natureza, que estimulam um senso ampliado de relacionamento e responsabilidade pelas comunidades humanas e naturais;

• O design biofílico estimula soluções arquitetônicas de reforço mútuo, interconectadas e integrada s (p. 6 e 7).

Como observado, a adoção de medidas do Design Biofílico além de promover melhorias nos sistemas físico e mental das pessoas, promove ainda mudanças comportamentais:

Os resultad os físicos incluem melhor cond icionamento físico, menor p ressão arterial, maior conforto e satisfaç ão, menos sintomas d e d oença e melhor saúd e. Benefícios mentais variam d e maior satisfaç ão e motivação, menos estresse e ansied ad e, melhora p ara resoluç ão d e p roblemas e criativid ad e. As mud anças comp ortamentais p ositivas,

incluem melhores habilid ad es d e enfrentamento e d omínio, maior atenção e concentração, melhor interação social e menos hostilid ad e e agressivid ad e. (KELLERT; CALABRESE, p . 8)

São diversos os resultados da aplicação do Design Biofílico nas mais diversas escalas. O indivíduo e sua saúde são impactados, suas interações com os dem ais, a relação de pertencimento, o respeito e o cuidado com os lugares e os cenários, favorecendo assim o desenvolvimento do ser humano, da sociedade e da cidade como um todo. São muitas as estratégias que se pod e implementar para a resolução dos mais variados desafios:

As ap licações p ond erad as d o d esign biofílico p od em criar uma estratégia multip lataforma p ara d esafios familiares trad icionalmente associad os ao d esemp enho d os ed ifícios, como conforto térmico, acústico, gerenciamento d e água e energia, bem como questões d e maior escala como asma, biod iversid ad e e mitigaç ão d e inund ações. Sabemos que o aumento d o fluxo d e ar natural p od e ajud ar a p revenir a sínd rome d o ed ifício d oente; a iluminação natural p od e red uzir os custos com energia em termos d e aquecimento e resfriamento; e o aumento d a vegetaç ão p od e red uzir o material p articulad o no ar, red uzir o efeito d e ilha d e calor urbano, melhorar as trocas d e infiltraç ão d e ar e red uzir os níveis p ercebid os d e p oluição sonora. Essas estratégias p od em ser imp lementad as d e man eira a obter uma resp osta biofílica p ara melhorar o d esemp enho, a saúd e e o bem- estar. (BROWNING; RYAN; CLANCY, 2014, p.19)

Focando mais especificamente no Design Biofílico aplicado aos locais de trabalho – que é onde grande parte da população passa horas de sua jornada diária – constatou-se por exemplo, que “um ambiente isento de natureza pode gerar discórdia, o que significa que tais ambientes podem ter um efeito negativo sobre a saúde e o bem estar” (HUMAN SPACES, 2015, p. 12), o que leva a crer que a adoção de simples medidas do Design Biofílico, como a uso de vasos com plantas nos ambientes internos, ou a p ossibilidade de

vista à jardins pode tornar os ambientes mais positivos, promovendo a saúde e o bem estar dos ocupantes.

Em se tratando d a Biofilia e o bem estar, constatou-se que “um fator chave para manter o bem estar positivo é reduzir nossos níveis de estresse”, o que pode ser obtido por conexões visuais com a natureza já que “verificou-se que as paisagens naturais tiveram um efeito mais positivo sobre a saúde se comparado a paisagens urbanas” (HUMAN SPACES, 2015, p. 20). A análise mostrou ainda que “a percepção do bem-estar pode aumentar em até 15% quando as pessoas trabalham em ambientes que incorporam elementos naturais, possibilitando uma co nexão com a natureza ” (HUMAN SPACES, 2015, p. 20). Outra benesse de ter a natureza incorporada nos ambientes de trabalho é o fato de proporcionarem “um ambiente mais tranquilo, que permite mais atenção, é menos fatigante mentalmente e que pode , de fato, restaurar ao invés de esgotar a nossa capacidade mental” (HUMAN SPACES, 2015, p. 21).

Diz-se que “sentir-se bem, muitas vezes equivale a ser capaz de produzir mais” (HUMAN SPACES, 2015, p. 26), o que leva a explorar mais um fator: a produtividade . Segundo a Human Spaces os “trabalhadores em escritórios com elementos naturais tais como vegetação e iluminação natural sã o 6% mais produtivos” (2015, p. 26) e “ap resentam 15% mais criatividade” (2015, p. 32) o que prova, mais uma vez, o impacto positivo da adoção de padrões do Design Biofílico nos ambientes de trabalho.

Importante citar ainda que “o design biofílico tem um impacto positivo em todas as pessoas, entretanto existem diferenças culturais significativas que devem ser consideradas ao se projetar os espaços de trabalho de maneira que incorpore as práticas d o design biofílico” (HUMAN SPACES, 2015, p. 28).

Embora a etnicid ad e p ossa influenciar as p referências d a p aisagem d e um ind ivíd uo, culturas e grup os em tod o o mund o usam as p aisagens e os esp aç os d e maneiras d iferentes, não significand o que alguns grup os étnicos tenham uma menor ap reciaç ão p ela p aisagem ou uma conexão menos significativa com a natureza, esses grup os simp lesmente usam e interagem com a natureza d e maneiras comp atíveis com sua cultura e necessid ad es. Id entificar ced o essas necessid ad es p od em ajud ar a d efinir p arâmetros p ara estratégias e intervenções d e d esign ap rop riad as. (BROWNING; RYAN; CLANCY, 2014, p. 17)

Na pesquisa realizada pela Human Spaces no Brasil, determinou-se que: a sensação de felicidade estava assoc iada ao “uso de cores como azul e branco no escritório [...] bem como a observação regular da vida selvagem”, a criatividade apareceu relacionada às “vistas a lagos e corpos d’água [...] como também ter elementos aquáticos dentro do ambiente de escritório ” e a produtividade era impactada negativamente em “e scritórios predominantemente cinzas” e positivamente quando associado “a vista de paisagens campestres” (2015, p. 42,43 e 44).

Sabendo da influência d a Biofilia e d o Design Biofílico para a qualidade ambiental (se refere à soma das p ropriedades e características de um ambiente específico e como isso afeta os seres humanos e outros organismos dentro de sua zona de influência), surge do ponto de vista arquitetônico, a importância da adoção de padrões do Design Biofílico que como ferramenta de redirecionamento d a “atenção do designer para os elos entre as pessoas, a saúd e, o design de alto desempenho e a estética” (BROWNING; RYAN; CLANCY, 2014, p. 19), busca potencializar resultados de alta performance ao mesm o tempo em que respeita e considera as necessidades humanas.

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