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Potencialidades/constrangimentos

IV. PRINCIPAIS PROBLEMÁTICAS ASSOCIADAS ÀS CRIANÇAS / JOVENS

4.5. Impacto da CPCJ na comunidade

Compreendendo o impacto a nível local como os efeitos positivos e/ou negativos da implementação da CPCJ no concelho de Amarante, podemos perceber na perspectiva dos técnicos entrevistados da comissão na sua modalidade restrita, que o impacto foi progressivo, ou, seja, foi crescendo de acordo com o trabalho efectuado pela comissão no território. No primeiro ano da sua constituição a divulgação deste organismo foi contingente, uma vez que a CPCJ também se estava a organizar e havia alguma insegurança quanto à melhor abordagem na sua divulgação, de acordo com a perspectiva da ex-comissária do Externato de Vila Meã, «O primeiro ano da

implementação ainda foi um período de adaptação. Porque a Comissão não foi muito divulgada, isso pode constatar-se se virmos o número de processos que deram entrada no primeiro ano. Não era muito do conhecimento da comunidade, porque também não sabíamos como divulgar sobre a comissão, já que não sabíamos como é que a própria comissão devia actuar e nós também sentíamo-nos um pouco inseguros quando a sua divulgação. Quando começamos a sentir mais confiança no nosso trabalho, começamos a divulgar a comissão dentro das escolas, dos centros de saúde, explicamos como era constituída a comissão, a problemática da criança, os maus trato…eh… e acho que a partir daí, fomos criando uma boa relação com a comissão, e hoje a Comissão é um elemento estrutural, e essencial no concelho de Amarante, para que se possa articular estas questões, não é? (entrevistada n.º 3 – ex-comissária na modalidade restrita – Externato de Vila Meã)

Para além disso, face às representações negativas e estereótipos que a comunidade detinha deste organismo, na sequência das situações/casos trágicos passadas pela comunicação social, houve alguma dificuldade na desmistificação do trabalho da comissão. Do ponto de vista de alguns técnicos a comunicação social foi a responsável pela imagem negativa que a população e instituições detinham dos técnicos das comissões, de uma forma geral e que se particularizaram a nível local. Não obstante, paradoxalmente contribuiu de forma incisiva para dar visibilidade às Comissões. Essa é a percepção da ex-comissária da ADESCO, «passamos por aquela fase de culpabilização

dos técnicos por algumas situações mais trágicas. A Comunicação Social limitou-se a dar notícia duma situação sem aprofundar eficazmente o caso e o porque. Porque quando se lança uma notícia, têm de aprofundar o porquê das coisas acontecerem. Mas os técnicos foram muito mal julgados, e a comunicação social passou uma má imagem dos técnicos às comunidades. Neste momento já houve um avanço nesse sentido, as coisas estão mais atenuadas nesse sentido, por isso é que agora acho que o impacto é positivo». (entrevistada n.º 1 – ex-comissária na modalidade restrita – ADESCO).

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Todavia, essa imagem negativa foi-se diluindo através do trabalho de divulgação, sensibilização efectuada pela comissão e da gestão e resolução das situações sinalizadas a este organismo.

O trabalho efectuado pela comissão, permitiu sensibilizar a comunidade para a problemática dos maus-tratos e garantiu maior visibilidade a este serviço de protecção de crianças e jovens, conforme sublinha a ex-comissária e Presidente da CPCJ, «Há uma maior visibilidade das situações de pobreza, há uma maior visibilidade de maus-tratos tanto a nível da criança como uma família por um todo. E sente-se uma maior responsabilidade da própria comunidade, agora sentem que podem contribuir para melhorar o modo de vida daquela família ou daquela criança e denunciam à comissão. E a visibilidade da comissão é muito importante» (entrevistada n.º 7 – ex Presidente e comissária na modalidade restrita – Segurança

Social)

As entidades concelhias passaram a estar mais atentas e esclarecidas sobre o tema, actuando de forma precoce sobre as situações.

É particularmente visível, segundo alguns dos entrevistados, que as escolas têm vindo a demonstrar cada vez maior abertura face à CPCJ e passaram a estar mais colaborantes com o trabalho dos técnicos. Têm procurado, cada vez mais, efectuar um trabalho prévio de abordagem e fundamentação da situação sócio-familiar da criança e jovem, antes de efectuar a sinalização para a comissão, o que permitiu diminuir substancialmente o número de processos, neste âmbito, a darem entrada na CPCJ. As acções de sensibilização efectuadas nas escolas por parte da comissão e o trabalho de informação e sensibilização por parte das instituições na área geográfica de intervenção, permitiu aumentar o nível de conhecimento da população sobre o tema dos maus tratos e sobre os objectivos e de actuação da CPCJ, conforme salienta a Presidente da CPCJ, «(…) nota-se uma maior abertura por parte das escolas, da comunicação com a Comissão,

mesmo com os técnicos, ficam com outra visão sobre a problemática» (entrevistada n.º 2, Presidente da CPCJ)

Paradoxalmente, a maior consciencialização por parte da população, sobre as problemáticas que se enquadram na temática dos maus-tratos, tem feito crescer o número de denúncias efectuadas pela vizinhança, familiares e comunidade em geral, o que, muitas vezes, se traduzem em denúncias abusivas pouco fundamentadas, que retiram tempo aos comissários para efectuarem uma intervenção centrada nas situações prioritárias.

Com a sua intervenção nas problemáticas que afectam as crianças e jovens e suas famílias, foi possível à comissão, através do trabalho em rede com outras entidades, programas e medidas, efectuar uma intervenção noutras problemáticas, muitas vezes geradoras de situações de maus-tratos às crianças e jovens, como é o caso das situações de carência económica (articulação com o Rendimento Social de Inserção e outras medidas de apoio económico), de violência doméstica (encaminhamento para o Gabinete de Apoio Social e Psicológico, Bem-Me-Quer, Défice de competências parentais (articulação com o C.A.F.A.P), entre outras.

Neste sentido, a comissão através do trabalho que tem desenvolvido com as entidades com responsabilidade em matéria da infância e juventude, a CPCJ de Amarante tem permitido a criação de uma maior consciência colectiva sobre o fenómeno dos maus- tratos e aumentar a responsabilidade civil e comunitária sobre o bem-estar das crianças e jovens e suas famílias.

Esta é também a opinião partilhada pelos membros da Comissão Alargada, onde é unânime a percepção transmitida pela Representante da Assembleia Municipal, na Comissão Alargada, ao referir «Haver um serviço, haver o conhecimento de haver um

serviço, que protege o desenvolvimento das crianças, permite logo que haja uma sinalização, e depois uma intervenção. Há logo uma grande mudança.(…) (…) para já a distinção entre as crianças que estão em risco e as que não estão em risco, e permite um olhar diferente sobre as crianças que estão ou não em risco. Fazer essa leitura de risco, obrigar o professor, obrigar o vizinho, as instituições a estarem atentas a estas crianças que possam estar em risco. Obrigam- nos a estar mais atentos e a fazer uma intervenção mais rápida e consecutivamente mais eficaz. Saber que existe um organismo destes consciencializa e responsabiliza as pessoas a cuidar melhor das crianças, a responsabilizar os adultos nos direitos e bem-estar da criança».

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