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SUSTENTAÇÃO ANÁLITICA DA INVESTIGAÇÃO EMPÍRICA

2.2. Opções Metodológicas e Caracterização do Público-Alvo

Atendendo ao nosso objecto de estudo e aos objectivos deste trabalho, coube efectuar-se as opções metodológicas que melhor poderiam responder ao pretendido.

Importou, desde logo pois, definir o método, enquanto “estratégia integrada de pesquisa que organiza criticamente as práticas de investigação, incidindo, nomeadamente sobre a selecção e articulação das técnicas de recolha e análise da informação” (Costa, 1986, p. 129).

Uma vez que este trabalho incidiu sobre a Comissão de Protecção de Crianças e Jovens, designadamente sobre as representações que os membros da Comissão Restrita e da Alargada e as famílias têm sobre este organismo, situado num território circunscrito, o concelho de Amarante10, consideramos haver maior pertinência em efectuar um estudo de carácter qualitativo e intensivo.

Atendendo a que a investigadora estabelece um contacto próximo e de familiaridade com o seu objecto de estudo, uma vez que faz parte integrante da comissão restrita da CPCJ de Amarante, pressupõe-se que a utilização do método de pesquisa de terreno, como opção metodológica, possa ser parte integrante do processo de pesquisa empírica, uma vez que este método “(…) supõe, genericamente a presença prolongada do investigador nos contextos sociais em estudo e contacto directo com as pessoas e situações” (idem, ibidem).

Nesta vertente, o investigador passa a ter um papel central nas escolhas das técnicas pois, “(…) o principal instrumento de pesquisa é o próprio investigador” (idem, ibidem). Ao investigador coube a monitorização constante das técnicas, onde registou observações, informações, reflexões metodológicas, impressões que poderão ser associadas a outras técnicas.

A presença do investigador, enquanto participante, com redes de relações sociais e profissionais estabelecidas, deve ser tida em atenção, pois como refere Costa (1986, p. 135), “a questão não está, pois, em supostamente evitar a interferência, mas tê-la em consideração, controlá-la e objectivá-la, tanto quanto possível”.

Como tal, após termos definido o nosso método de estudo, seleccionamos as técnicas mais adequadas ao estudo empírico.

10 Ver Enquadramento CPCJ no Concelho de Amarante (Anexo - pág. 120)

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Desta forma, efectuou-se uma entrevista exploratória à actual Presidente da Comissão de Protecção de Crianças e Jovens de Amarante, uma vez que esteve presente na Comissão desde que foi instaurada no concelho de Amarante. Para além de conhecer claramente o território, também possui um conhecimento profundo sobre a trajectória da própria comissão.

Esta entrevista permitiu obter o máximo de informação sobre a evolução desta comissão no seu território de intervenção, nomeadamente as primeiras estratégias envidadas para a sua instalação, quais foram as principais entidades envolvidas e a forma como se organizaram, sobre a estrutura da Comissão Alargada e sobre o seu papel na CPCJ, as parcerias estabelecidas entre a CPCJ e as entidades locais, os constrangimentos e/ou potencialidades locais e comunitários.

Ao nível da equipa da comissão restrita, como se organizam, quais as suas competências académicas e profissionais, como é que estas se transpõem na intervenção da CPCJ. Numa segunda fase, realizamos entrevistas semi-directivas aos técnicos da comissão restrita desta CPCJ. O guião de entrevista utilizado para a equipa da Comissão Restrita foi semelhante ao da entrevista exploratória.

Para além disso, optamos por efectuar entrevistas não só aos técnicos que, actualmente, compõem a Comissão Restrita mas também aos técnicos que, anteriormente, também, já tinham feito parte, por um lado, porque possuem um conhecimento profundo sobre a comissão e a forma como foi evoluindo, e por outro, porque nos permitiu reconhecer um “olhar” distanciado e quase “externo” sobre as suas práticas.

Neste âmbito, o nosso interesse passou por compreender de que forma os próprios membros das CPCJ percepcionam a sua acção/intervenção na CPCJ.

Esta técnica permitiu obter um conjunto de informações sobre os temas que o investigador quis abordar, captando, simultaneamente, as reacções por parte dos entrevistados. Todavia, a ordem e a forma em que os temas foram abordados despontaram, de forma flexível, do diálogo natural estabelecido entre o entrevistador e entrevistado.

Atendendo a que o nosso estudo se baseia essencialmente nas representações, esta técnica permitiu, ainda, efectuar a análise do significado que os indivíduos dão às suas práticas, ou seja, permitiu conhecer as percepções que os membros da Comissão Restrita têm sobre o trabalho que desenvolvem na CPCJ, sobre a relação, dinâmicas e o papel da Comissão Alargada e da intervenção ao nível das crianças e jovens e suas famílias.

Por outro lado, ao utilizar esta técnica com as famílias das crianças e jovens sinalizadas à CPCJ e seleccionadas para as entrevistas, foi possível conhecer a percepção que essas famílias têm do próprio trabalho desenvolvido pela CPCJ, numa atitude de complementaridade de análise.

Finalmente, permitiu, também, compreender de que forma as famílias recebem a intervenção das CPCJ, como se (re)organizam face ao seu acompanhamento.

Para além desta técnica, com o objectivo de podermos abranger com profundidade outras opiniões realizamos um focus group aos membros da Comissão Alargada, atendendo ao tempo despendido caso efectuássemos todas as entrevistas de forma individualizada. Esta técnica permite a realização de uma narrativa colectiva.

Quer para as entrevistas à Comissão Alargada quer para a do focus group, foi utilizado o mesmo guião, versando por isso as mesmas questões.

Apesar das críticas subjacentes as entrevistas semi-estruturadas, nomeadamente no que diz respeito ao argumento de que o entrevistado se encontra artificialmente isolado do seu quotidiano durante a entrevista (Flick, 2002: 112), este método, do nosso ponto de vista, apresenta a vantagem de poder estudar opiniões, atitudes acerca do tema em análise.

Desta forma, foram realizadas 13 entrevistas semi-directivas aos membros que fazem ou fizeram parte da Comissão Restrita; 3 Entrevistas aos Membros da Comissão Alargada. A escolha dos entrevistados da Comissão Alargada esteve associada ao facto terem uma maior proximidade e conhecimento do trabalho desenvolvido pela CPCJ.

Relativamente às famílias, efectuaram-se 7 entrevistas. Efectuou-se uma triagem das famílias que não fossem acompanhadas pela investigadora, evitando o enviesamento das respostas pelos entrevistados. Posteriormente, a selecção das famílias passou pela abordagem das diversas problemáticas sinalizadas Negligência, Abuso Sexual, Maus- tratos físicos e psicológicos, Abandono escolar, Exposição a Modelos de Comportamentos Desviantes)11.

Importa referir que todas as entrevistas forma gravadas com a autorização dos entrevistados.

O tratamento das entrevistas, foi efectuada através da sua análise vertical e horizontal em consonância com a análise categorial, o que possibilitou classificar os elementos

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Ver Enquadramento processual (Enquadramento da denúncia ,Entidade Sinalizadora, Diagnóstico ,,Entidades envolvidas, Diligencias efectuadas Medida Aplicada no Acordo de Promoção e Protecção (Anexo pág. 125)

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constitutivos dos discursos dos entrevistados (individual e colectivamente), a partir das categorias definidas no modelo de análise, e que nos permitiu efectuar a construção dos guiões das entrevistas.

Para além desta técnica, efectuamos análise documental, às actas dos Plenários da CPCJ de Amarante e aos seus relatórios anuais.