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4. DIAGNÓSTICO DA REALIDADE PESQUISADA

4.6. A abordagem ecológica sistema hidrográfico canal da Baía Norte

4.6.1. Impactos levantados e analisados na Baía Norte

Em entrevista concedida em 10/07/2003, o então Sr. Joel Balconi (Presidente da Associação Comunitária dos Moradores do Distrito de Santo Antônio de Lisboa) revelou que os maiores problemas ambientais na comunidade resumem-se: "...na falta de saneamento básico, resultando na poluição do lençol freático e das praias, e na ocupação desordenada e predatória do território por falta de se fazer cumprir a Legislação vigente do Plano Diretor dos Balneários", Lei no 2193/85, que dispõe sobre o zoneamento o uso e a ocupação do solo nos balneários da Ilha de Santa Catarina.

Hoje a situação não é muito diferente, pois se questionarmos os moradores do Distrito de Santo Antônio sobre quais as suas maiores deficiências, iremos ouvir a seguinte resposta: não temos saneamento, parcelamento do solo, meio ambiente e malha viária, são áreas com precariedade de infra-estrutura, ou seja, não temos saneamento básico, conseqüentemente o solo fica saturado ou os dejetos vão para o mar, colocando em perigo a maricultura, uma das alavancas propagandistas da costa.

Fala-se em turismo, mas falta infra-estrutura para o desenvolvimento da atividade no Distrito. Por outro lado, o parcelamento do uso do solo existe, mas não se faz cumprir ou respeitar, provocando indignação e revolta em grande parcela da comunidade.

Estas constatações se confirmam se for feita uma análise dos dados obtidos junto à FATMA (Fundação do Meio Ambiente do Estado de Santa Catarina), que desenvolve o Projeto de Balneabilidade das Praias e Lagoas Catarinenses.

divulgação das condições de balneabilidade. Todos os meses são colhidas amostras da água em dois pontos das praias de Cacupé, Santo Antônio de Lisboa, Sambaqui e Ponta do Sambaqui. Estes pontos recebem números de identificação, conforme pode ser visto na tabela abaixo.

Tabela 1: Pontos de coleta de amostras de água submetidas à análise - Canal da Baía Norte.

Ponto Localização do ponto

Ponto 09 Próximo ao nº 4000 da Rodovia Haroldo S. Glavan, em Cacupé.

Ponto 10 Em frente à Colônia de Férias do SESC e estacionamento da Praia de Cacupé. Ponto 12 Em frente à praça e à igreja Nossa Senhora das Necessidades, em Santo

Antônio de Lisboa.

Ponto 13 Em frente à servidão Hipólito Machado, em Santo Antônio de Lisboa. Ponto 14 Em frente à servidão Paraíso das Flores, em Sambaqui.

Ponto 15 Localiza-se na Ponta do Sambaqui.

Fonte: FATMA – Fundação do Meio Ambiente, 2003.

A Figura 42, a seguir, identifica as áreas de cultivo de moluscos e os pontos de coleta de amostras de água junto ao Canal da Baía Norte. Essa representação espacial foi elaborada a partir de dados fornecidos pela EPAGRI (Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina) e FATMA (Fundação do Meio Ambiente).

Optou-se por ilustrar o estudo analisando dados disponíveis que representassem os meses com maiores temperaturas (novembro a abril), equivalendo aos meses com maior fluxo de turistas, que representa uma carga maior de pessoas por unidade de área. Os dados da tabela 1 estão discriminados segundo o ponto de coleta nas temporadas de veraneio de 2000/2001 e 2001/2002, mostrando o período de coleta, número de coletas, mínimo, máximo e médio de coli-fecal no período.

Na análise da tabela 2 e Figura 41 constata-se que o índice de coliformes fecais aumentou, em muito, na média de uma temporada de veraneio para outra, mesmo que dados não analisados constatem diferenças na demanda de turistas.

Santo Antônio e Sambaqui

Ponto Ano Período de coleta e análise (06 meses) Número de coletas Número Mínimo/Máximo de Coli-Fecal (NMP/100ml) Média de Coli-Fecal (NMP/100ml) no período 2000/2001 01/11/2000 16/04/2001 21 230/500 1001,66 09 2001/2002 05/11/2001 18/04/2002 21 230/2200 1436,66 2000/2001 01/11/2000 16/04/2001 21 230/5000 1465 10 2001/2002 05/11/2001 18/04/2002 21 230/3000 1843,33 2000/2001 01/11/2000 16/04/2001 21 230/1300 1788,33 12 2001/2002 05/11/2001 18/04/2002 21 230/9000 3111,66 2000/2001 01/11/2000 16/04/2001 21 230/500 1548,33 13 2001/2002 05/11/2001 18/04/2002 21 230/5000 1981,33 2000/2001 01/11/2000 16/04/2001 21 230/2200 1948,33 14 2001/2002 05/11/2001 18/04/2002 21 230/3000 2061,66 2000/2001 01/11/2000 16/04/2001 21 230/1700 1060 15 2001/2002 05/11/2001 18/04/2002 21 230/3000 1995

Obs.: Limites máximos permitidos de coliformes fecais por 100ml, em águas de praias e lagoas, para recreação de contato primário, conforme Resolução CONAMA n.º 20/86.

Fonte: FATMA (Fundação do Meio Ambiente do Estado de Santa Catarina), 2002.

FIGURA 42: Média de Coli-Fecal das Praias de Santo Antônio de Lisboa, Sambaqui e Cacupé.

Fonte: Dados obtidos da FATMA (Fundação do Meio Ambiente do Estado de Santa Catarina), 2002. Gráfico 1: Média de Coli-Fecal das Praias de Santo Antônio de Lisboa, Sambaqui e Cacupé

0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 Período Ponto de Coleta N M P/100m l Média de Coli- Fecal (NMP/100ml) no Período

Média de Coli-Fecal (NMP/100ml) no Período 1788.33 3111.66 1548.33 1981.33 1948.33 2061.66 1060 1995 1001.66 1436.66 1465 1843.33 2000/2001 12 2001/2002 12 2000/2001 13 2001/2002 13 2000/2001 14 2001/2002 14 2000/2001 15 2001/2002 15 2000/2001 9 2001/2002 9 2000/2001 10 2001/2002 10

Lisboa, colocadas anteriormente, são a mais pura verdade. A realidade, hoje, não é diferente da apresentada nos anos e meses de alta temporada, analisados em 2000/2001 e 2001/2002. Para entender e valorizar o desenvolvimento da aqüicultura na Baía Norte e percebê-la como um outro meio da atividade de turismo. É importante olhar para fora do contexto estritamente tecnológico desta atividade. Deve-se analisar a problemática social, cultural, ambiental e política do distrito e comunidades circunvizinhas.

A melhor compreensão desta problemática no cenário contemporâneo exige um esforço de análise da raiz do problema ecológico. Tal problema não se reduz a uma dimensão apenas técnica e, portanto, não pede apenas uma solução técnica. É, antes de tudo, um problema de falta de conscientização do homem, que é o principal agente poluidor.

Nesse processo, a tecnologia deve contribuir na instalação de rede de esgotamento cloacal, juntamente com as estações de tratamento de dejetos nas comunidades. As entidades protetoras ambientais devem promover a sua contribuição para a integridade dos ecossistemas. Portanto, há muito trabalho a ser feito. O primeiro passo é fazer-se cumprir a legislação vigente, porque se observarmos a Figura 41 o panorama não é nada otimista; a degradação está presente e a tendência é que se agrave ainda mais nos próximos anos, se as forças não se unirem em defesa destas comunidades e de seus ecossistemas.

Outro fator presente na degradação do meio ambiente é a expansão urbana, incentivada pela especulação imobiliária, que é visível, pelo número de novas construções efetuadas.

Os fatores acima citados trazem às bacias hidrográficas do Rio Ratones e Saco Grande danos sociais, culturais e ambientais, que se caracterizam pelos seguintes impactos:

um sistema de tratamento das águas residuais; pela falta ou coleta inadequada do lixo; 2. Destruição e descaracterização da paisagem natural: pelo fato de barrar o acesso ao

público, por serem propriedades privadas, muitas vezes junto às praias, conforme registrado na praia de Cacupé;

3. Congestionamentos: queixas e reclamações, várias vezes registradas pelos moradores locais devido, principalmente, ao sistema viário não suportar o número de moradores somado ao de visitantes;

4. Conflitos sociais: principalmente por espaços, o grande problema na Baía Norte é a relação da atividade de maricultura que tem que conviver com serviços de infra- estrutura ligada à atividade de turismo, tais como, marinas, trapiches que incentivam a circulação de barcos e lanchas nos finais de semana, causando a poluição sonora e o risco de haver derramamento de efluentes nas águas;

5. Competitividade: entre a população local, que não está inserida na atividade do turismo, com as atividades comerciais em geral, isto causa sentimento de inveja e ressentimento, diante da ostentação de tempo e dinheiro, muitas vezes escassos para os moradores locais.

A aqüicultura é bastante praticada no Canal da Baía Norte. Há três comunidades onde ela é praticada na forma de cultivo de ostras (ostreicultura) e mexilhões (mitilicultura). São elas: Cacupé, Santo Antônio de Lisboa e Sambaqui. A que possui maior produção é Santo Antônio de Lisboa, onde fica a sede da Associação dos Maricultores do Norte da Ilha. Há um valor nestas comunidades que está sendo perdido, é o valor intrínseco histórico-cultural e natural. Por isso é necessário frear a especulação imobiliária e a conseqüente expansão urbana deve passar por um planejamento criterioso para que esses valores não sejam perdidos.