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2. MARCO CONCEITUAL TEÓRICO

2.11 O planejamento no turismo

Planejamento e política estão intimamente ligados. Hall (2001) declara que "planejamento pode ser entendido como um processo de decisão". Dror (1973), citado por Hall (2001), afirma que planejar é o processo de preparar um conjunto de decisões a serem colocadas em prática no futuro, direcionadas para o cumprimento de metas pelos meios preferidos.

Gunn (1988), citado por Hall (2001), identificou várias abordagens ao planejamento turístico, além de hipóteses referentes ao seu valor, como as que podemos observar na seqüência:

1. Somente o planejamento pode evitar impactos negativos, e para que ele seja eficiente todos os participantes devem estar envolvidos, não apenas os planejadores profissionais;

2. O turismo está associado à conservação e à recreação e não ao uso conflitante com efeitos ou objetivos incompatíveis;

3. O planejamento, hoje em dia, deve ser pluralista, envolvendo dimensões sociais, econômicas e físicas;

4. O planejamento é político e assim existe uma necessidade vital de considerar objetivos sociais e equilibrá-los com outras aspirações (muitas vezes conflitantes);

5. O planejamento turístico deve ser estratégico e integrador;

6. Deve-se dar importância ao planejamento regional. Como muitos problemas surgem no limite de pequenas áreas, é essencial que se disponha de uma esfera de planejamento mais ampla.

Percebe-se que o planejamento turístico tem a ver com prever e regular a mudança em um sistema e promover um crescimento ordenado, a fim de aumentar os benefícios sociais, econômicos e ambientais do processo de desenvolvimento do turismo. Sendo assim, o

planejamento deve ser considerado um elemento crítico para se garantir o desenvolvimento sustentável de longo prazo dos destinos turísticos (HALL, 2001).

Segundo Petrochi (1998, p.95), os fatores que fazem o turista optar por um destino é determinado pelo CAT (Coeficiente de Atração Turística). Este coeficiente constitui-se de elementos que se diferenciam de outros destinos por possuírem natureza exuberante, boa infra-estrutura, bons serviços, gastronomia típica, folclore, ações de marketing, boa hospitalidade e diferenças entre núcleo emissor e receptor.

Por outro lado, Beni (1998, p.51) afirma que o crescimento do turismo não está em função da disponibilidade quantitativa dos recursos naturais, mas de sua qualidade.

Inúmeras definições já foram criadas para a delimitação do que se entende por “lugar turístico”. Muitas delas basearam-se, e ainda se baseiam, nas chamadas potencialidades turísticas, que ora são recursos naturais, ora recursos histórico-culturais, ou ambos (CRUZ, 2000, p.21).

Segundo o Programa Nacional de Municipalização do Turismo – PNMT, desenvolvido pela Secretaria de Turismo e Serviços e a EMBRATUR, o seu desenvolvimento na comunidade e em todo mundo deve-se à proteção do meio ambiente.

Ouriques (1998, p.29) defende e denomina essa forma de desenvolvimento ligada à proteção do meio ambiente de ecodesenvolvimento em que, “... é possível a conciliação do crescimento do turismo com a conservação do meio ambiente”. Sachs (1986) denomina ecodesenvolvimento como sendo, “... um estilo de desenvolvimento que, em cada ecorregião29, insiste nas soluções específicas de seus problemas particulares, levando em

conta os danos ecológicos da mesma forma que os culturais, as necessidades imediatas como também aquelas de longo prazo".

Atualmente, o modelo de desenvolvimento sustentável no turismo, que considera as ecorregiões, tem estado presente em todas as novas discussões e orientações relacionadas a isso, como se pode observar no atual Plano Nacional do Turismo no Brasil (2003 – 2007), que privilegia essa forma de desenvolvimento, destacando, dentre outras questões, que essa área deverá transformar-se em um agente da valorização e conservação do patrimônio ambiental (cultural e natural), fortalecendo o princípio da sustentabilidade.

O Ministério do Turismo recomenda o desenvolvimento da atividade de ecoturismo30, no Brasil, como forma de preservar o potencial dos patrimônios natural e

histórico-cultural. É uma atividade que requer muitas ações por parte dos agentes internos e externos em uma região com potencial ecológico, cultural e histórico.

Cruz (2000) recomenda no planejamento turístico a adoção de critérios de análise do patrimônio turístico de uma localidade, com base na observação de dois aspectos fundamentais da paisagem: os elementos naturais e culturais que interagem em constante evolução.

No primeiro aspecto, analisa-se a organização do espaço físico da localidade pesquisada e seu entorno, em que serão identificadas as paisagens mais propícias ao desenvolvimento do turismo ecológico. Haverá a preocupação de analisar não só as belezas cênicas, mas, sobretudo, fazer uma análise da dinâmica de seu quadro natural, que propiciará, futuramente, a criação de roteiros de passeios, em que o turista não só apreciará as belas

29 Segundo ARRUDA et al (2001) a ecorregião representa um território geograficamente definido, constituído por comunidades naturais que compartilham a grande maioria de suas espécies, a dinâmica ecológica, as condições ambientais, cujas interações ecológicas são cruciais para sua persistência em longo prazo. <http://www.ambientebrasil.com.br/composer.php3>. Acessado em 07/02/2006.

30 Acordo de Mohonk, evento internacional realizado em 2000, no período de 17 a 19 de novembro, em New Paltz, Estados Unidos, convocado pelo Institute for Policy Studies, reuniu participantes de 20 paises. Neste íevento redefiniu-se o conceito de Ecoturismo como “Turismo Sustentável em áreas naturais, que beneficia o meio ambiente e as comunidades visitadas, promovendo o aprendizado, o respeito e a consciência sobre aspectos ambientais e culturais”. <http://www.ecobrasil.org.br/pagina.asp?pagina_id=47&lng=p > - acessado em 07/02/2006.

paisagens, mas também poderá ser educado quanto à necessidade de preservação e conservação dos recursos naturais existentes.

O segundo aspecto corresponde à evolução cultural, à análise do patrimônio histórico-cultural e seu entorno, às edificações que hoje fazem parte do patrimônio turístico, tais como igrejas, casarios, fortes e recursos de lazer.

Rodrigues (1997) alerta que muitos estudos e pesquisas têm mostrado que a atividade turística provoca impacto negativo no meio ambiente. São impactos que incidem tanto no meio natural (vegetação, rios, praias, mangues, montanhas etc.), quanto no patrimônio histórico-cultural e modos de vida dos habitantes locais. Salienta, porém, que muitos estudiosos reconhecem que a atividade turística tem importância crescente na economia das áreas receptoras, mas admitem, também, que ela provoca degradação ambiental nessas áreas. Diante desta situação, Rodrigues (1997) recomenda que se adotem novas formas de turismo, com menor impacto no meio ambiente. Dentre essas formas, aparece o turismo sustentável, o qual é colocado como alternativa ao modelo de desenvolvimento sustentável aplicado a ele, como estratégia voltada para buscar a integração entre uso turístico, preservação do meio ambiente e melhoria das condições de vida das comunidades locais.

Swarbrooke (2000, p.59) relata que uma das pedras fundamentais do turismo sustentável é a idéia de que a comunidade local deve participar ativamente de seu planejamento, e até mesmo controlando as atividades relacionadas a ele. O autor salienta que a idéia de comunidade local é um conceito de difícil definição, porém, mais difícil ainda é achar mecanismos efetivos para conseguir a participação da comunidade como um todo, no processo de desenvolvimento turístico.

Fernandes (2001), citando Silva (1998), afirma que o turismo é uma atividade social, política, cultural e, sobretudo, econômica que aparece no cenário mundial como uma forte força propulsora de desenvolvimento, uma vez que gera renda e divisas nas regiões onde

se desenvolve. Sendo uma atividade voltada para o desenvolvimento, requer a aplicação de idéias inovadoras, envolvendo os principais gestores do processo, como Governo, Sociedade e Natureza. Manifesta-se de acordo com a realidade de cada região e cria paisagens diferenciadas.

Já Pellegrini Filho (1993, p.08) recomenda a realização de um inventário dos recursos turísticos da natureza, ou seja, estudo das possibilidades de aproveitamento desses recursos e da cultura para atividades turísticas que, uma vez planejadas corretamente e realizadas da mesma maneira, minimizem impactos ambientais e contribuam para o desenvolvimento sustentado, trazendo benefícios para as populações endógenas.

Segundo CECCA (1997, p.216), o IPUF (Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis), ao encaminhar, em 1984, o então projeto de Plano Diretor dos Balneários (depois transformado em Lei), reconhecia que o turismo trazia sérias ameaças para o espaço local, devido à falta de infra-estrutura dos balneários e relata:

“(...) A inexistência de infra-estrutura adequada para o abastecimento d’água, esgoto doméstico e drenagem pluvial acarretam a desfiguração dos elementos estruturais da paisagem natural e, por outro lado, passaram a comprometer a balneabilidade das praias pela utilização intensiva do mar para o lançamento de esgotos domésticos. (...) A preservação dos recursos naturais e dos núcleos e hábitos tradicionais (pesca, vilas, folclore, etc) é, portanto, condição fundamental, não só para a sobrevivência de importante segmento da população e da cultura local, como, ainda que paradoxalmente, para a própria sustentação destas áreas como pólos privilegiados de atração turística” (CECCA, 1997, p.216).

A exploração turística dos recursos ambientais deve relevar que, em primeiro lugar, se está se prestando um serviço cujo objetivo final é, sem dúvida, o lucro. Mas lucro como retorno da qualidade de vida para os turistas, a comunidade local e, acima de tudo, o retorno para a preservação do ambiente.

Há que se realizar um registro importante da situação na área de estudo, que possui um CAT (Coeficiente de Atração Turística) de elementos diferenciados de outros destinos, por possuir uma paisagem cênica de grande valor. Por outro lado, possui deficiência de infra-estrutura, serviços, gastronomia típica, folclore, artesanato e hospitalidade.

É indicador de que planejar turismo neste destino exige esforços na mobilização e constituição de um processo de captação de recursos, pois os investimentos são altos, necessitam, além de infra-estrutura básica, ações de reeordenamento territorial.