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2. MARCO CONCEITUAL TEÓRICO

2.10 A política nacional do turismo: uma breve discussão

2.10.2. O patrimônio natural como atrativo turístico

Pellegrini Filho (1993, p.08) destaca que a preocupação com a ecologia e a preservação do meio ambiente no Brasil se fez sentir nos anos 70, refletindo iniciativas de diferentes países do mundo. Reuniões especiais foram realizadas pela UNESCO, visando evitar a continuidade da degradação dos recursos naturais do planeta.

Segundo Machado (apud RODRIGUES, 1997, p.73), desde a conferência de Estocolmo, em 1972, e depois na Rio 92, procurou-se definir padrões de racionalidade no aproveitamento dos recursos naturais. Vieira (1998, p.81) destaca o documento final de Estocolmo (in “Museum”, vol. XXV, nº ½ - UNESCO, Agência das Nações Unidas para a Educação – 1973) como aquele que contém princípios representando os compromissos entre as nações, destacando-se as preocupações com a proteção dos recursos (especialmente de

amostras representativas dos ecossistemas naturais), a exaustão deles, a justa luta dos povos de todos os países contra a poluição e a aplicação de políticas demográficas, em que a taxa de crescimento ou a concentração da população tenham efeitos adversos sobre o ambiente ou o desenvolvimento.

Segundo Barbieri (1997, p.20), o Brasil nessa conferência, defendeu o desenvolvimento a qualquer custo e não reconheceu a gravidade dos problemas ambientais. O governo brasileiro, naquela época (1972), empenhava-se na sustentação de uma política desenvolvimentista, através da industrialização substitutiva de insumos industriais e da expansão das fronteiras agrícolas e dos distritos minerais em áreas de ecossistemas frágeis, como são as áreas do cerrado e da floresta amazônica.

Pellegrini Filho (1997, p.9) acredita que exista uma "...enorme potencialidade de recursos naturais, que o turismo no Brasil não quer, não sabe ou não pode aproveitar.” Para isso, vale a realização de estudos que apresentem as potencialidades e limitações dos espaços, de forma a possibilitar a maximização da utilização do potencial existente, visando, ao mesmo tempo, à adequação do uso dos atrativos, minimizando ou eliminando os possíveis prejuízos. O autor acrescenta, ainda, a idéia de que a imagem do turismo como fator de poluição e destruição deve ser debitada a atividade em massa. Uma política para o setor deve privilegiar uma forma branda.

Segundo Ruschmann (1997, p.19), a inter-relação entre o turismo e o meio ambiente é incontestável, uma vez que este é matéria prima da atividade daquele. O contato com a natureza constitui, atualmente, uma das maiores motivações das viagens de lazer e as conseqüências do fluxo em massa de turistas para esses locais, extremamente sensíveis, tais como as praias e as montanhas. Dessa amaneira, devem ser avaliados e seus efeitos negativos evitados, antes que esse valioso patrimônio da humanidade se degrade.

O ambiente é a base dos recursos naturais e culturais para atrair turistas. Por esse motivo, a proteção do ambiente é essencial para o sucesso do turismo a longo prazo. Segundo Beni (1998, p.56), em se tratando de espaço turístico é imprescindível incorporar a perspectiva ecológica em todas as etapas do processo de planejamento turístico. Além de considerar, segundo Boullón (2002), as várias tipologias de espaço: real, potencial, cultural, natural adaptado, artificial, natural virgem, vital. Resta observar que é muito importante o reconhecimento dos tipos de espaço no momento em que vai se realizar o planejamento turístico de uma localidade.

Conforme Boullón (2002, p.77), pode-se definir os tipos de espaços citados anteriormente das seguintes formas:

1) Espaço real: refere-se à totalidade da superfície de nosso planeta, é a camada

da biosfera que o envolve, é real porque se pode comprovar sua existência e, em muitos casos, modificá-lo;

2) Espaço potencial: é a possibilidade de destinar ao espaço real um uso diferente

do atual; portanto, não existe no presente; sua realidade pertence à imaginação dos planejadores quando, depois do diagnóstico, ao passarem à proposição do plano, estudam as possibilidades de uso de um território;

3) Espaço cultural: é aquele da crosta terrestre que, devido à ação do homem,

teve modificada sua fisionomia original. O espaço cultural é conseqüência do trabalho do homem voltado ao acondicionamento do solo a suas necessidades. Também chamado de espaço adaptado, porque, conforme o tipo de tarefa que o homem realiza, sobre o espaço cultural origina-se o natural adaptado e o artificial;

4) Espaço natural adaptado: é parte da crosta terrestre em que predominam as

espécies do reino vegetal, animal e mineral, sob as condições que o homem lhes estabeleceu. Este espaço é conseqüência das mudanças que ele teve que fazer para a realização das suas

atividades produtivas. No espaço adaptado, as árvores nascem por força da natureza, mas é o homem quem decide onde devem nascer e o quanto irão viver. É denominado também como “espaço rural”;

5) Espaço artificial: compreende aquela parte da crosta terrestre em que

predomina todo tipo de artefatos construídos pelo homem. Sendo sua expressão máxima a cidade e, por isso, denominado de “espaço urbano”. Nele tudo o que existe foi feito pelo homem, todas as formas, e quando aparece um elemento natural (flores, plantas, árvores, etc.) sua função é apenas decorar o ambiente artificial;

6) Espaço natural virgem: é uma área cada vez mais escassa do espaço natural,

sem vestígios da ação do homem;

7) Espaço vital: este tipo ou forma de espaço não se refere à litosfera, mas ao

homem ou a quaisquer outras espécies unicelulares, vegetais e animais e ao seu entorno ou meio, que precisa ser favorável para que possam existir;

8) Espaço turístico: é o resultado da presença e distribuição territorial dos

atrativos turísticos dos quais não podemos esquecer, pois é a sua matéria-prima. Este elemento do patrimônio turístico, somado ao empreendimento e à infra-estrutura turísticas são suficientes para definir este espaço de qualquer unidade geográfica.

A organização destas tipologias de espaço é que forma os tipos de paisagens. Em nenhuma outra atividade econômica a paisagem é tão relevante quanto é para o turismo, daí o significado da preservação e conservação dos patrimônios natural e histórico-cultural. Não necessariamente, pelo papel que desempenham na economia, na cultura, na vida do lugar, mas pelo que aparentam ser aos olhos de um turista (CRUZ, 2000, p.57).