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Implicações educacionais do TDA/H e medidas de auxílio

Nesse tópico, pretendemos passar em revista os aspectos relacionados ao TDA/H que têm implicação direta no processo de aprendizagem e no cotidiano escolar. Para isso, abordaremos questões como organização da sala de aula, estrutura de aula e atividades escolares, rendimento escolar, o papel do professor e o da escola. Buscaremos, com isso, oferecer a vocês alternativas que facilitem a construção de recursos e estratégias criativas para superação dos impasses que surgem em sala de aula, no contato e no convívio com as crianças portadoras desse transtorno.

O conceito de aprender determina o de ensinar, porque ambos constituem

uma relação inseparável. Uma

concepção construtiva da

aprendizagem deve refletir-se em uma metodologia ativa que crie condições necessárias para que o aluno seja o

verdadeiro protagonista de seu

processo de aprendizagem.

( Blanco apud Rohde, Mattos & Cols., 2003, p. 198) Isso nos aponta a necessidade de que o professor busque encontrar o recurso pedagógico, a didática que melhor atenda as necessidades educacionais de cada aluno, a partir do conhecimento do seu estilo de aprendizagem. Para pensar A criança com TDA/H é constantemente inundada com estímulos que não consegue filtrar corretamente. Ela não consegue priorizar e por isso, em geral, tem dificuldade para aprender e memorizar, não porque não possa ou não seja capaz, mas, porque não consegue sustentar a atenção ou manter-se concentrada por tempo suficiente. Além disso, frequentemente, não consegue concluir as tarefas que inicia porque algum estímulo a atrai irresistivelmente.

Dica de leitura

Uma boa dica de leitura para complementar e enriquecer o estudo do tema proposto é o livro: - Hiperatividade: como desenvolver a capacidade de atenção da criança . GOLDSTEIN, Sam e GOLDSTEIN, Michael, 9ª edição, Ed. Papirus, 2003.

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As intervenções no ambiente escolar são extremamente importantes. O

professor, apesar de encontrar

dificuldade por não ter em sua sala de

aula apenas uma criança com

problemas de atenção e

hiperatividade, tem a responsabilidade

educacional no processo de

aprendizagem desta. Para tanto, todas as tentativas de recursos disponíveis devem ser utilizadas, até que o professor descubra o estilo de aprendizagem da criança.

(Benczik, 2002, p. 84) Mas a resolução do problema encontra-se somente na mão do professor? Claro que não. Sabemos que o sistema educacional brasileiro contribui e muito para o baixo rendimento escolar, principalmente, no caso das crianças portadoras do TDA/H, na medida em que nos deparamos com a rigidez da metodologia e do planejamento educacional, superlotação das salas de aula, despreparo dos professores, baixa remuneração e consequente insatisfação e intolerância com todo e qualquer caso que fuja ao esperado, ao normativo. Os objetivos de ensino-aprendizagem concentram-se no âmbito cognitivo, estabelecem uma padronização do aluno, enrijecem o potencial criativo e ignoram as diferenças.

...o ponto de referência é o aluno padrão. Tal posicionamento levou a uma

situação caracterizada pela

homogeneização e inflexibilidade do ensino, a uma avaliação do tipo normativo – em função dos objetivos iguais para todos – e, finalmente, a uma organização das atividades de ensino- aprendizagem nas quais todos têm que fazer o mesmo, ao mesmo tempo

(Blanco apud Rhode, Mattos & Cols, 2003, p. 200) A escola precisa estar aberta para as diferenças individuais, preparada para trabalhar com as diversidades, sobretudo, deve estar atenta aos recursos e metodologias que melhor atendam as necessidades educacionais de seus alunos.

Dica da professora Nas tarefas monótonas, repetitivas e rotineiras aumenta a dificuldade para manutenção da atenção, sendo os reforços constantes um importante aliado para que o professor consiga manter seu aluno atento por um período maior.

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A escola precisa lutar para romper com os modelos rígidos e inflexíveis, pois somente desta forma poderá responder de forma mais objetiva e apropriada às questões e necessidades concretas de seus educandos.

Apresentaremos, agora, algumas ações que, se praticadas pelo professor, equipe pedagógica e/ ou familiares, favorecem o desenvolvimento e a evolução do portador de TDA/H no seu processo de aprendizagem.

ORGANIZAÇÃO DA SALA DE AULA

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Sabemos que

fatores existentes no meio externo podem levar à variação no desempenho escolar de qualquer criança e não somente nas crianças desatentas ou hiperativas, portanto, as dicas comentadas aqui favorecerão a todo e qualquer aluno, embora sejam indispensáveis para os alunos que apresentem TDA/H.

Em função da dificuldade de organização e planejamento, alunos com TDA/H necessitam de uma estrutura externa bem definida, sendo relevante que a sala de aula seja bem estruturada, iluminada, com recursos visuais estimulantes, embora tenha que se ter muito cuidado para não oferecer um excesso de informações que acabam por favorecer a distração e a desatenção.

É indispensável que a organização da sala seja dinâmica e flexível. A arrumação deve possibilitar bom acesso e boa visibilidade para todos os alunos, de forma a favorecer a participação ativa de todos os envolvidos no processo ensino-aprendizagem.

O ideal é que alunos com TDA/H estejam inseridos em turmas pequenas, sentem-se próximos ou ao alcance dos olhos do professor, longe das janelas e

Dica da professora

Estratégias de ensino ativo que incorporem a atividade física com o processo de aprendizagem são fundamentais. Observa-se maior fixação do conteúdo e aumento do tempo de atenção em atividades como: leitura em voz alta, interpretação e/ou encenação do conteúdo estudado, manuseio de material, pesquisa em grupo com apresentação do trabalho.

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portas e no meio de colegas mais tranquilos que possam estimulá-los e ajudá-los.

Nos trabalhos de grupo, o professor deve optar por grupos menores para evitar a dispersão; nas aulas deve proporcionar intervalos entre as atividades e, em alguns momentos, oportunidades de movimentação; além disso, deve circular pela sala com frequência, usando a proximidade física e o contato do olhar para atrair o foco da atenção e controlar a agitação motora. ESTRUTURA DA AULA E ATIVIDADES ESCOLARES - Algumas dicas podem favorecer o interesse e a participação dos alunos com TDA/H na dinâmica das aulas e na realização das atividades escolares. São elas:

 Estabelecer rotina diária clara, com períodos de descanso definido;

 Regras e expectativas do professor e da escola para o grupo devem estar claramente definidas;

 Estabelecer consequências razoáveis e

realistas para o não-cumprimento das tarefas, regras e deveres;

 Focalizar mais o processo do que o produto, explicar de forma clara a relevância do conteúdo a ser transmitido, oferecendo exemplos práticos e relacionados ao dia-a- dia;

 Reforçar positivamente os comportamentos adequados e as conquistas diárias, em vez de

sempre chamar a atenção dos

comportamentos inadequados;

Importante

É de grande valia para o bom aproveitamento do aluno com TDA/H a utilização de recursos materiais diversificados (ex: giz colorido, computador, retroprojetor, projetor de slides, gravuras. Esses recursos favorecem a manutenção do foco de atenção. A utilização de cartazes que esclareçam as regras e normas de comportamento desejáveis naquele ambiente, assim como o cronograma das provas e trabalhos favorecem a orientação, organização e o planejamento do aluno.

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 Nos dias em que o aluno estiver mais agitado, inquieto, é importante redirecioná-lo para outra atividade ou situação: apagar o quadro, levar um recado, transmitir uma instrução para a turma ir beber uma água;

 Evitar o excesso de informação, transmitindo as instruções de forma clara e precisa,

fornecendo os pontos relevantes e

indispensáveis para a execução da tarefa;  Alternar tarefas interessantes com as menos

interessantes ou monótonas, graduar o nível de dificuldade das atividades, dando retorno constante e imediato. O conteúdo deve ser dado paso-a-passo;

 Destacar os tópicos do assunto a ser transmitido para facilitar a organização e a articulação das idéias. Não é necessária a redução da atividade, mas é importante que o professor possa intermediar de forma a tornar possível a execução da tarefa, ou seja, fazer em pequenas partes para que possa ser completada em diferentes tempos;

 Valorizar e estimular o uso de organizadores de tarefas (por ex: agenda, pastas).

RENDIMENTO ESCOLAR

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O transtorno do déficit de

atenção/hiperatividade tem grande impacto no percurso escolar e no desenvolvimento educacional de seus portadores. Os sintomas mais facilmente observáveis no ambiente escolar, que têm impacto direto no rendimento escolar desses alunos, são: dificuldade de terminar uma tarefa, cópia incompleta do conteúdo dado em sala de aula, resistência à formalização, esquecimento de material, perda de prazo para entrega de trabalho, provas com diversos erros devido à oscilação da atenção, respostas inadequadas em função

Você sabia?

“Estudos indicam que as crianças com TDA/H em ensino regular correm risco de fracasso duas a três vezes maior do que crianças sem dificuldades escolares e com inteligência

equivalente”(Gordon apud Rohde, Mattos & Cols. 2003, p. 201).

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da dificuldade de ouvir ou ler a pergunta ou instrução até o final, entre outros. Essas dificuldades específicas podem interferir na capacidade de aprender, porém é importante destacar que o portador do TDA/H não tem,

necessariamente, transtornos de aprendizagem,

embora esses transtornos ocorram em comorbidade com significativa frequência.

Geralmente, essa criança se envolve em atividades mais improdutivas, durante a aula e no recreio, se

comparada a seus pares. O

desempenho acadêmico insatisfatório com frequência acompanha o TODA/H e pode ser uma característica estável do transtorno.

(Greenhill apud Rohde, Mattos & Cols., 2003, p. 201)

O professor, geralmente, observa uma

discrepância entre o potencial intelectual e a produção escolar dos alunos com TDA/H, mesmo nos que apresentam inteligência superior à média. Com isso, vão se somando situações de fracasso e frustrações, a auto-estima é abalada e como consequência, tem-se o aumento do desinteresse e da desvinculação do processo de aprendizagem.