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Transtorno do Déficit de Atenção/ Hiperatividade (TDA/H)

O QUE É ISSO?

Atribui-se ao pediatra inglês George Frederic Still o pioneirismo de descrever como condição médica condutas infantis que , até então, eram rotuladas como “maus comportamentos”. A partir da observação de um grupo de vinte crianças que, embora recebessem cuidados parentais satisfatórios, apresentavam atitude desafiadora, pouca “inibição a sua própria vontade”,

indisciplina, agressividade, impulsividade, não

reconhecimento de regras e desatenção, Still propõe a hipótese de que essas condutas eram “um defeito no controle moral”. Ele acreditava que esse “defeito”

Dica da professora As crianças portadoras do transtorno do déficit de atenção/hiperativida de quando são ajudadas a canalizar corretamente seu potencial, apresentam características muito positivas, tais como: criatividade, dinamismo, ousadia e facilidade para inovação. Você sabia? O grupo de vinte crianças estudado por Still tinha uma proporção de 3 meninos para cada menina e em todos eles o distúrbio de comportamento havia se manifestado antes dos 8 anos.

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crônicopoderia ser herdado geneticamente, pois nas famílias estudadas foram encontradas patologias psiquiátricas como alcoolismo e depressão, além de se observar maior incidência desse tipo de comportamento entre os adultos.

A idéia de que haveria uma causa biológica para

esses distúrbios da conduta infantil (atitude

desafiadora, indisciplina, agressividade, impulsividade, não reconhecimento de regras e desatenção) foi reforçada pela pandemia de encefalite ocorrida no período de 1917 a 1918, na medida em que as crianças vitimadas por essa doença apresentavam como

sequelas: hiperatividade, impulsividade e um

comportamento perturbador.

Alguns estudos foram realizados descrevendo crianças que apresentavam prejuízo na atenção, regulação da atividade física e controle dos impulsos e, em 1922, Holman denominou esse quadro de “desordem pós-encefalítica do comportamento”.

A lógica desenvolvida nessa época era a

seguinte: Se algumas crianças apresentam

comportamento similar ao das crianças vitimadas pela encefalite, sem terem sido expostas a essa doença, então, essas crianças devem ter sofrido um dano cerebral de alguma forma. A partir desse pressuposto, surge a categoria “LESÃO CEREBRAL MÍNIMA” consagrada por Strauss e Lehtinen em 1947.

Esse termo pretendia explicar não

apenas transtornos de

comportamento, mas também os de linguagem e aprendizado. Porém, com a dificuldade de generalização de hipóteses localizacionistas cerebrais e a persistência da impossibilidade, na

grande maioria dos casos, de

identificar uma lesão no cérebro a

justificar os distúrbios no

comportamento, propõe-se, a partir de Importante

O termo hiperatividade infantil foi usado por Laufer em 1957 e por Stella Chess em 1960. Nesse período, ocorre um movimento de estreitamento do foco sintomático em torno da hiperatividade. Para Laufer, a síndrome atingiria exclusivamente meninos e teria sua remissão ao longo do desenvolvimento. Chess isola a hiperatividade da noção de lesão cerebral. “Chess encarava os sintomas como parte de uma “ hiperatividade fisiológica” , cujas causas estariam enraizadas mais na biologia (genética individual) do que no meio ambiente (como causador de lesão)”. Daí o termo “ Síndrome da Criança Hiperativa” ( Silva, 2003, p. 172)

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um simpósio promovido pela Spastic Society em 1962, em Londres, a

denominação Disfunção Cerebral

Mínima – DCM.

(Hallowell e Ratey apud Lima, 2005, p. 62) Essa denominação (disfunção cerebral mínima) foi difundida e muito bem aceita tanto no meio médico quanto entre os leigos.

Werner Jr. (1997, 2001) observa que o surgimento e a aceitação rápida desse diagnóstico podem ser explicados pelo contexto histórico e social dos EUA na década de 1960. Nesse período, a

prosperidade econômica

experimentada nos anos do Pós-

Segunda Guerra começa a se

enfraquecer e a estabilidade da família americana começa a dar evidentes sinais de nova crise. Aumenta o número de divórcios, de suicídios e de uso de tranquilizantes, enquanto a contracultura e o movimento hippie se disseminam. A classe média clama por uma explicação para os distúrbios de comportamento e para as dificuldades escolares de seus filhos, e é atendida

pelo discurso dos médicos e

autoridades sanitárias. Com o aval científico, o fracasso acadêmico e a “indisciplina” se deslocam de possíveis

matizes econômicos, sociais ou

familiares e passam a ser atribuídos a mínimas disfunções cerebrais.

(Lima, 2005, p. 63/64) É importante atentarmos para o fato de que essa pronta aceitação trouxe a reboque a explosão dessa entidade diagnóstica em clínicas de orientação infantil.

Em 1966, a DCM (disfunção cerebral mínima) foi descrita pelo U.S. Department of Health, Education and Welfare da seguinte forma:

O termo disfunção cerebral mínima refere-se a crianças com inteligência geral próxima da média, média ou supe-

Importante O diagnóstico de “Síndrome da Criança Hiperativa” designava crianças que apresentavam atividade motora muito acima do que seria esperado para sua faixa etária.

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rior à média, com distúrbios de

aprendizagem e/ou de

comportamento, que variam de grau leve a severo, associados a desvios de funcionamento do sistema nervoso central. Esses desvios manifestam-se por variadas combinações de déficits

na percepção, conceituação,

linguagem, memória e controle da atenção, dos impulsos ou da função motora. Essas anomalias podem ser decorrentes de variações genéticas,

irregularidades bioquímicas,

sofrimento perinatal, moléstias ou traumas sofridos durante os anos críticos para o desenvolvimento e maturação do sistema nervoso central ou de causas desconhecidas. A definição admite a possibilidade de que privações severas precoces possam resultar em alterações permanentes do sistema nervoso central. Durante os anos escolares, uma variedade de

incapacidades de aprendizagem

constitui a mais importante

manifestação do que é definido por disfunção” cerebral” mínima.

(Werner Jr. apud Lima, 2005, p. 63) Em 1968, a Associação de Psiquiatria Americana (APA) na publicação do Manual Diagnóstico e Estatístico de Desordens Mentais (DSM-II) utiliza o termo “Reação Hipercinética da Infância”.

Durante a década de 70, o foco das pesquisas começou a mudar da hiperatividade para as dificuldades de atenção e do controle dos impulsos. Nesse período, as questões atentivas ganharam espaço, principalmente, em função dos trabalhos de Virginia Douglas. Para ela, o déficit de atenção poderia ocorrer mesmo em situações em que não houvesse hiperatividade. Com isso, o déficit de atenção que era

subvalorizado anteriormente, ganhou destaque

especial.

As contribuições de Virginia Douglas e os estudos de Gabriel Weiss (1976), que apontavam a persistência dos problemas de atenção e impulsividade

Para refletir Na categoria “Reação hipercinética da infância” proposta pela APA, a expressão reação é fruto da influência da psicanálise na compreensão do transtorno e na psiquiatria americana, o que possibilitou reconhecer a existência da síndrome e associá-la, também, a fatores ambientais e psicológicos. Ou seja, a inquietude poderia ser provocada por eventos da vida familiar e social.

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na adolescência e vida adulta, mesmo que ocorresse a diminuição da hiperatividade, foram decisivos para que, na terceira edição do DSM, em 1980, a entidade fosse renomeada de “distúrbio de déficit de atenção (DDA)”, incluindo um subtipo com e outro sem hiperatividade.

Com essa mudança, as crianças sem

hiperatividade e os adultos, também, passaram a figurar entre os portadores desse transtorno. Além disso, a ênfase nas questões atentivas permitiu a distinção deste transtorno de outros nos quais também faz parte a hiperatividade (como, por exemplo, os transtornos de ansiedade).