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IMPLICAÇÕES PEDAGÓGICAS, CONTRIBUIÇÕES E LIMITAÇÕES DA

CAPÍTULO IV CONSIDERAÇÕES FINAIS

4.3 IMPLICAÇÕES PEDAGÓGICAS, CONTRIBUIÇÕES E LIMITAÇÕES DA

Um fator importante em nossa pesquisa é que buscamos situar a UTFPR, Câmpus Pato Branco, como rota de formação inicial e continuada de professores. O fato de o minicurso ter se dado na instituição, bem como os participantes da pesquisa serem alunos de pós-graduação na mesma, demonstra que os professores da região vêm buscando por uma formação significativa. Lembramos que o Programa Parceria Universidade-Escola (meio em que se deu o minicurso) desenvolve todos os anos diversas atividades, como palestras e minicursos, o que possibilita a inserção dos professores na Universidade, mesmo que não estejam cursando uma pós-graduação na instituição.

No que diz respeito às limitações da pesquisa, é necessário destacar a burocratização em ter que submeter o projeto de pesquisa para a Plataforma Brasil. Compreendemos que é necessário, em qualquer pesquisa, seguir preceitos éticos correspondentes à área da pesquisa, especialmente se é uma pesquisa com seres humanos. Contudo, os formulários presentes na Plataforma Brasil60 não se mostram

adequados para as pesquisas na área da linguagem, visto que parecem se preocupar apenas com o bem-estar físico dos participantes, justamente por ter sido uma plataforma criada para, inicialmente, protocolar pesquisas da área da saúde. Buscar por um “aceite” da plataforma faz com que pesquisadores percam tempo e se desgastem emocionalmente para adequar seu projeto às normas estabelecidas. Cremos que um desdobramento que auxiliaria os pesquisadores é criar comitês de ética específicos para cada área de pesquisa, assim haveria menos transtornos e tempo perdido em adequar diversas vezes um mesmo projeto para avaliadores que o veem como inadequado por não serem da área na qual o projeto se encaixa.

Por fim, as contribuições de nossa pesquisa para a área de Linguística Aplicada são proporcionar a pesquisadores e professores, especialmente os de LI, reflexões acerca do profissional docente, o que pode ocasionar mudanças e melhorias na prática em sala

de aula, e principalmente mudanças que levam a uma melhoria na grade curricular dos cursos de Licenciatura, inserindo disciplinas que aprofundem as discussões e reflexões com relação à identidade docente. A partir da postagem do trabalho no site da biblioteca da instituição, não apenas os professores participantes da pesquisa, mas vários outros professores, poderão extrair tais benefícios com a pesquisa. No próximo item, destacamos de maneira específica as contribuições provocadas nos participantes a partir de suas próprias palavras em parágrafo escrito como retorno de suas participações na presente pesquisa.

4.3.1 Retorno dos Participantes

O presente item visa apresentar o retorno dado pelos participantes da pesquisa, tendo em vista que essa é uma etapa indispensável de nosso trabalho. Consideramos deveras importante apresentar aos participantes as análises dos dados, para saber se há alguma discordância nas interpretações, tendo em vista que a pesquisadora não buscou realizar juízo de valores ao analisar a prática docente dos professores, mas sim compreender, discutir e até mesmo desmitificar elementos relacionados à vivência em sala de aula, com o intuito de identificar marcas identitárias dos professores participantes da pesquisa.

A pesquisadora já havia acordado com os participantes no dia de realização do minicurso “Identidade e Formação Docente em Língua Inglesa”, que, após concluído o capítulo de análises o enviaria para os participantes, possibilitando assim acesso aos resultados obtidos a partir dos dados por eles fornecidos. O contato se deu via e-mail (APÊNDICE D), e os participantes poderiam reenviar o capítulo de análises para a pesquisadora com correções e/ou contribuições. Os participantes Camilo, Chloe e Paloma responderam que estavam de acordo com as análises e não sugeriram alterações. A participante Julia inseriu três comentários no arquivo, os quais já foram considerados no capítulo de análises, conforme mencionado nas seções 3.2.2 e 3.2.3. As participantes Cristina e Olívia, não responderam ao e-mail.

No e-mail de retorno, além de enviar o capítulo de análises, foi proposto que os participantes escrevessem um pequeno parágrafo relatando se algo mudou em sua

prática desde a participação no minicurso. No quadro a seguir, estão os parágrafos, que foram enviados por três61 dos participantes da pesquisa:

Quadro 15 – Parágrafos de retorno

Participante Parágrafo

Camilo Então, Maria, depois do minicurso eu refleti bastante, ainda que de forma quase inconsciente sobre o que era ensinar uma língua estrangeira. E ainda refleti mais ainda depois de ler sua análise da minha participação na sua pesquisa. Agora antes de aceitar um aluno novo que pretende aprender a língua inglesa, eu busco conhecer o aluno, observar seu contexto de vida e aí sim formular um diagnóstico onde irei apoiar minha didática. Isso graças à reflexão que fiz a partir das ideias do que é ser professor debatidas no seu minicurso. Também repensei alguns conceitos que eu tinha a respeito das escolas públicas. Sempre fui um crítico do ensino básico e percebi que não queria me manter conectado com escolas públicas por motivos de desânimo. No entanto, percebi que ser professor é uma luta constante e os lugares que mais precisam de nós são as escolas públicas. Nesse sentido, já penso em me juntar à escola pública e ajudar, no que me for possível, a tornar o ensino melhor.

Chloe Desde que a Maria Helena fez o convite para participar do minicurso, aceitei prontamente e, confesso, me empolguei com a possibilidade de ter um espaço para falar de algo de que gosto tanto: ser professora. Quando iniciei o mestrado, ainda nas primeiras disciplinas, senti-me numa espécie de "crise de identidade", pois alguns professores se referiam a nós como pesquisadores e não como docentes. No entanto, até então, a minha experiência era unicamente como professora de Inglês e, ter que me tornar uma pesquisadora, mostrou-se um grande desafio. O minicurso sobre a identidade do professor de Língua Inglesa teve um efeito intensificador da minha auto reflexão acerca da minha prática. Eu sempre fiz uma autoavaliação da minha atuação, mas passei a refletir mais sobre a minha relação com os alunos, sobre meus métodos de ensino e sobre a forma como exerço a autoridade em sala de aula. Posso dizer que passei a aceitar "numa boa" alguns comportamentos que eu antes criticava (e percebi que ser autoritária não é o meu estilo de agir em sala de aula) e percebi uma das razões pelas quais gosto tanto da minha profissão: a possibilidade de fazer uma "boa ação" para os alunos em vários momentos (por exemplo: ao dar uma atenção especial e afetiva quando algum deles está tristonho ou choroso, ao ajudar a enturmar alunos novos, ao elogiar bons feitos e ao, simplesmente, explicar algum objeto de conhecimento de uma forma compreensível pelos alunos).

61A participante Paloma entrou em contato com a pesquisadora informando que enviaria o parágrafo, mas o envio não foi realizado.

Julia Posso dizer, com certeza, que desde minha participação no minicurso passei a refletir mais sobre quem sou na profissão docente. Durante a graduação, em diferentes momentos, éramos levados a refletir sobre nossa prática. No entanto, no minicurso, ao escrever, precisei sistematizar melhor minhas ideias e a ação de colocar isso no papel foi diferente das discussões realizadas em aula. Passei a refletir mais, principalmente, com relação às minhas experiências iniciais, quando criança, com a língua inglesa. Quase todos os dias, quando estou indo para o trabalho, penso: "quero que meus alunos tenham as mesmas boas memórias que tive". Sei que não posso impor minhas memórias a eles, claro que não, mas quero que todas as aulas sejam experiências positivas e que isso os marque como algo bom. Colocar toda minha trajetória e vivências no papel foi um exercício terapêutico e muito importante para que eu lembrasse de tudo que me levou a exercer a profissão que exerço hoje. Reler o texto que escrevi, bem como ler as análises realizadas pela pesquisadora Maria Helena, foi mais um exercício de rememoração, e isso deu um "gás", um super ânimo, para continuar estudando e realizando um bom trabalho como professora.

Fonte: Dados da pesquisa.

A partir dos parágrafos presentes no Quadro 11, podemos constatar que, mesmo tendo sido de curta duração, o minicurso de extensão cumpriu com seu principal objetivo, que era levar os participantes a realizar uma reflexão sobre sua prática docente. A partir da reflexão, os professores podem avaliar as atitudes em sala de aula, tanto deles quanto dos alunos, e pensar em como resolver os conflitos, melhorar o relacionamento com os alunos e a equipe pedagógica, melhorar o planejamento, entre outros elementos.

É perceptível as mudanças que ocorreram com os participantes que escreveram o parágrafo de retorno, portanto, podemos afirmar que a participação na pesquisa foi capaz de gerar uma ressignificação na prática docente de tais professores. Por exemplo, Camilo, durante as discussões realizadas no minicurso deu a entender que não tinha pretensão de dar aula em escolas públicas. Após as reflexões realizadas, vem pensando em “se juntar” ao ensino público em prol de ajudar a melhorar o cenário educacional. Chloe, em seu texto autobiográfico, afirmou que uma das coisas que mais incomodava em sua prática era a falta de autoridade e os alunos acharem ela “boazinha”. Agora, Chloe assume que não é necessário ser autoritária em sala de aula, que esse “estilo” não combina com ela, e que algumas atitudes dos alunos podem ser toleradas. A participante Julia, relata no parágrafo de retorno que deseja aos seus alunos as mesmas lembranças boas que ela tem com relação ao ensino e aprendizagem de LI, e acessar tais lembranças só foi possível a partir da escrita do texto autobiográfico.