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CAPÍTULO IV CONSIDERAÇÕES FINAIS

4.2 RESPONDENDO ÀS PERGUNTAS DE PESQUISA

O presente item possui como objetivo responder às perguntas de pesquisa, tanto as relacionadas aos objetivos específicos, quanto a pergunta que corresponde ao objetivo geral do trabalho.

Iniciaremos com a primeira pergunta, gerada a partir do objetivo específico um, que indaga “Quais conflitos e/ou desafios da profissão são representados nos

textos dos participantes da pesquisa?”. Percebemos que os conflitos e desafios são

encarar novamente a rotina como aluno em um curso de pós-graduação. Há conflitos como os das participantes Chloe e Julia, que se preocupam em tentar exercer a autoridade em sala de aula (fato discutido no item 3.2.3 Análise da Terceira Temática – SOT 3: Atuação Docente). Os fatos relatados por tais professoras demonstram que há nelas uma identidade mais amigável, que atrela o ensino ao afeto, portanto, não há nada de errado na maneira com que elas exercem a sua prática. Talvez elas devam refletir mais sobre o fato (VASCONCELLOS, 2006), e tentar se cobrar menos com relação à indisciplina dos alunos. Além de tal reflexão por parte das participantes, sugerimos que esta dimensão deva ser mais explorada ao longo da formação de professores.

No item 3.2.4 (Análise da Quarta Temática – SOT 4: Conflitos e Desafios) levantamos outros pontos conflituosos representados pelos professores, que dizem respeito à prática do estágio de docência e também da necessidade de maior qualificação em determinadas áreas. Pudemos constatar que o estágio de docência e algumas experiências pedagógicas vivenciadas durante a graduação podem ser traumatizantes para alguns professores, o que interfere na constituição identitária profissional, levando a escolhas como querer dar aula somente para determinada faixa etária ou modalidade de ensino. Ademais, a necessidade de maior qualificação vem crescendo, especialmente no campo da Educação Especial, pelo fato de que as escolas possuem cada vez mais alunos inclusos (ou “especiais”), e, sem pelo menos uma especialização na área, os professores se sentem acuados, sem saber como agir.

É importante destacar que percebemos que alguns conflitos ficaram silenciados nos discursos dos professores participantes, como por exemplo, questões relacionadas às falhas que se fazem presentes no ensino público, que diz respeito tanto à má estrutura das escolas, quanto ao despreparo de alguns profissionais como diretores e coordenadores, e até mesmo dos políticos que deveriam pensar em melhorias para a área da Educação. No momento do minicurso em que houve a discussão de textos teóricos, os participantes Camilo e Julia ilustraram e mostraram aos colegas dois desenhos, um de uma escola em boas condições, e outro de uma escola destruída, em condições precárias. A tratativa sobre o assunto se deu de maneira descontraída, em que todos deram risada da maneira como os participantes ilustraram a realidade de nosso país (a escola destruída).

Refletindo sobre isso alguns meses após a realização do minicurso, percebemos que essa maneira dos participantes retratarem a realidade educacional, de maneira divertida e contundente, pode representar a preocupação dos participantes com relação à

educação pública no momento atual. Dos seis participantes da pesquisa, apenas Olívia atua ativamente na esfera pública de ensino (a participante Cristina já atuou, mas por um curto período de tempo, assumindo uma substituição). Esse é um fato que, para nós, representa uma fuga das falhas presentes no ensino público, e este é um item que foi silenciado nos textos autobiográficos dos participantes da pesquisa.

Nossa segunda pergunta de pesquisa é “Quais são as realizações/conquistas

e expectativas futuras dos professores de LI participantes da pesquisa, representadas em seus textos?”. Os textos, em especial os autobiográficos, nos

revelaram que a principal expectativa futura diz respeito à permanência em sala de aula e término do mestrado. O ingresso na pós-graduação, mesmo gerando dificuldades e desafios para a maioria dos participantes, é algo que interferiu em suas vivências tanto profissionais quanto pessoais. O ingresso no mestrado também é tido para alguns como uma realização, pois tanto o ingresso no programa quanto a permanência nele, exigem dos participantes muito esforço e determinação.

Ademais, no item 3.2.5 (Análise da Quinta Temática – SOT 5: Próximos Passos) levantamos, entre outros elementos, o fato de que nenhum dos professores pretende desistir de dar aulas, ou seja, desistir da Educação não é uma opção no momento (apenas a participante Olívia afirmou querer “dar um tempo” para refletir sobre a profissão, mas isso não implica que ela deixe de ser professora). Há também alguns participantes que relataram querer seguir carreira como professores universitários, o que exigirá uma doação ainda maior à área da Educação e também à pesquisa, tendo em vista que na maioria das universidades de nosso país os concursos exigem a titulação de doutor.

Assim como na questão anterior, compreendemos que alguns elementos ou foram simplesmente silenciados pelos participantes, como por exemplo expectativas futuras relacionadas à estabilidade na carreira, que só é possível a partir de um concurso público. Houve participantes que mencionaram querer atuar como formadores de professores (Julia e Paloma), mas não foi mencionado que, para tal, um dos meios é a investidura em cargo público no magistério superior. Isso é visto por nós tanto como uma expectativa futura tanto como um desafio, tendo em vista que os concursos estão sendo cada vez mais requisitados e concorridos.

Para encerrar a seção, cabe respondermos à pergunta geral da pesquisa: “Quais

orais e escritos?”. As representações identitárias dos professores participantes da

pesquisa mostraram ser provenientes não somente de sua prática pedagógica, mas também da experiência enquanto alunos (tanto da graduação, quando na primeira infância), do incentivo da família para os estudos e aprendizagem de uma segunda língua, e da avaliação que eles mesmos fazem de como é ser professor em nosso país.

A partir dos relatos, especialmente os escritos, identificamos alguns traços que, ao nosso ver, representam sua identidade enquanto docente. O quadro a seguir ilustra tais traços, justificados a partir de trechos extraídos dos próprios textos autobiográficos:

Quadro 14 – Traços identitários dos participantes da pesquisa

Participante Traços Identitários Justificativa

Camilo Protagonista de si mesmo “Tenho muitos prazeres no tocante à prática docente. Preparar aulas é sempre um momento interessante tanto pela reafirmação do conteúdo a ser ministrado quanto pela organização de um pensamento didático. Uma das coisas que mais gosto na minha prática é a liberdade da aula particular que não prende a livros didáticos ou à necessidade de completar metas. Ainda nesse viés, o uso da tecnologia como o whats app, o facebook, instagram, youtube etc., asseguram-me uma aula dinâmica em que não há imposição do tempo ou superiores.”

Chloe Atriz “Não sei explicar bem o que eu pensava, mesmo que inconscientemente, mas era como se eu fosse uma atriz e estava “atuando” em sala. Lá eu sei do processo, eu planejei e visualizei a aula e sou a senhora da minha aula. Assim, quando a aula finda, volto a ser a tímida Chloe de sempre, que não é boa em iniciar ou manter conversas na maioria das vezes.”

Cristina Persistente “Ser professora é desafiador. Acredito que sempre foi. No passado quando eu fui aluna e me apaixonei por essa profissão, as professoras tinham outros problemas, relacionados aquele tempo histórico e social. Hoje em dia me deparo com situações dentro das salas de aula que me fazem refletir se é realmente isso que eu quero continuar fazendo. Tenho dúvidas ocasionais, fiquei sem trabalhar durante 4 anos quando minhas filhas gêmeas nasceram, e durante esse período eu tive a possibilidade de mudar de profissão, mas percebi que não me sentiria bem/feliz fazendo outras coisas. Meu

trabalho é difícil, desestimulante por vezes, porém é o que eu gosto e quero continuar fazendo.”

Julia Organizada “Outro ponto que gosto muito em minhas aulas é a organização. Sempre estudo o conteúdo antes da aula para pensar em como vou ensiná-lo para aquela turma específica, em um dia específico. Também gosto de organizar meus alunos. Todo início de aula falo a eles o que vamos estudar naquela aula, relacionando-a com a aula anterior e com a próxima.

Gosto também de valorizar o esforço do

aluno. Saliento que cada pronúncia correta,

cada sentença produzida já é um enorme avanço deles na língua. Além disso, gosto da

abordagem cultural que tento incluir em

cada aula, ainda que, num curso de idiomas, seja preciso seguir o material da escola. Tento dar uma motivação aos alunos, principalmente aos pré-adolescentes e adolescentes, de que aquilo é útil a eles pois eles já tem muito contato com o Inglês em seu cotidiano. Também relaciono a cultura brasileira com a de países falantes do Inglês para que percebam semelhanças e diferenças.”

Olívia Hesitante “Nos últimos meses, tenho passado por algo que acredito ser uma crise de identidade

profissional. Os fatores que levaram a isso

foram tanto internos, quanto externos, como a desvalorização da classe e do trabalho realizado.

Estou no meio de uma trajetória acadêmica que não pretendo abandonar, quem sabe até se estender para um doutorado, mas não tenho confiança quanto a meu futuro profissional.

Acredito que seguirei nessa profissão por um tempo, mas pretendo logo dar uma pausa a fim de refletir sobre essa escolha. Quem sabe buscar um público diferente; descobrir onde está o meu perfil pode ajudar nesses planos.”

Paloma Aprendiz “Mudanças? Temos todos os dias das nossas vidas, e graças a elas podemos nos adaptar sempre em tudo o que acontece, cada pedra no caminho até cada janela que se abre. Entrar no mestrado foi uma mudança incrível e poder conhecer e

estudar cada vez mais, só faz eu querer me tornar uma professora melhor a cada dia!”

Fonte: Dados da pesquisa.

Com tudo isso, compreendemos que investigar a identidade docente implica adentrar em um universo subjetivo, que diz respeito às experiências de vida de cada um dos participantes da pesquisa. Por isso, mesmo tentando delimitar nas análises elementos que possam ser comuns na identidade dos professores de LI, não podemos ignorar o fato

de que cada sujeito é único, e mesmo que algumas vivências presentes nos textos escritos e orais dos participantes “pareçam” ser as mesmas, elas se deram em contextos e momentos diferentes, o que as torna diversas.