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Implicações Técnicas, Metodológicas, Teóricas e Epistemológicas das Pesquisas Educacionais Brasileiras elaboradas sob a Abordagem Crítico-Dialética

Principais Abordagens Metodológicas Adotadas nas Pesquisas Educacionais Brasileiras

IDÉIAS DESCRIÇÕES Centros que zelam

2.3. Considerações sobre a Abordagem Crítico-Dialética e suas Implicações na Pesquisa Educacional Brasileira

2.3.4. Implicações Técnicas, Metodológicas, Teóricas e Epistemológicas das Pesquisas Educacionais Brasileiras elaboradas sob a Abordagem Crítico-Dialética

Nesta parte, trataremos mais especificamente das implicações técnicas, metodológicas, teóricas e epistemológicas das pesquisas educacionais brasileiras, realizadas sob a abordagem crítico-dialética, por meio da apresentação sucinta, dos resultados dos estudos de Sánchez Gamboa (1982 e 1987) e Lima (2003) que se propuseram a analisar a pesquisa educacional brasileira, articulando as abordagens metodológicas utilizadas com os diferentes níveis e pressupostos40.

Com relação ao nível técnico, as pesquisas realizadas sob a abordagem crítico- dialética, apresentaram em comum à utilização de técnicas de coleta, tratamento e análise dos dados quantitativos e qualitativos (leitura dialética). Os tipos de pesquisas mais utilizados foram estudos de caso, estudos bibliográficos, documentais, pesquisa participante e pesquisa ação. Os dados foram coletados por meio de técnicas utilizadas pelas abordagens empírico- analítica e fenomenológica-hermenêutica, e também por estratégias conhecidas como investigação-ação, investigação militante e algumas formas de investigação participante e técnicas historiográficas. O tratamento dos dados consistiu na análise quantitativa e qualitativa (leitura dialética), análise de conteúdo (documental, bibliográfica, de entrevistas, de questionários e do discurso).

Com relação ao nível metodológico, as pesquisas crítico-dialéticas, assim como, as pesquisas fenomenológicas buscaram compreender o contexto, mas de forma diferente, pois

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As categorias da filosofia materialista “[...] têm importância metodológica, servem de meio de procura de novos resultados, são um método de movimento do conhecido ao desconhecido.” (KOPNIN, 1978, p.106) 40

Procedimento semelhante foi utilizado para articular os diversos níveis e pressupostos nas pesquisas elaboradas sob a abordagem empírico-analítica e fenomenológica-hermenêutica.

no caso daquelas a ênfase esta nas categorias de temporalidade e historicidade que buscaram explicar e compreender o fenômeno. O conhecimento foi construído com base no concreto41.

Com relação ao nível teórico, as principais temáticas tratadas foram a Educação formal e informal (suas diversas relações, incluindo o desenvolvimento cognitivo), as políticas que a regem e as implicações que essas trazem. Acerca dos autores mais privilegiados apresentaram mais ênfase nas referências teóricas, para garantir maiores informações para as análises contextualizadas, a partir, de uma referência teórica prévia, fundada no materialismo histórico. As críticas desenvolvidas nesse grupo também são mais freqüentes do que na abordagem empírico-analítica. As pesquisas crítico-dialéticas destacaram a necessidade de que a investigação revele, denuncie as ideologias subjacentes e ocultas, decifrem os pressupostos implícitos nos discursos, textos, leis, comunicações que expressam as contradições, os conflitos, os interesses antagônicos.

As propostas apresentadas nesse grupo referiram-se a necessidade de reflexão e superação dos problemas que afligem a escola, a sociedade e as relações diversas que são desenvolvidas em seu interior, além de um pretenso quadro político-ideológico que se diz “legitimador dos processos sociais”.

Com relação ao nível epistemológico, mais precisamente, a concepção de causalidade as pesquisas crítico-dialéticas fundamentaram-se na explicação dos fenômenos por meio de seus contextos sócio-político-econômico e cultural. Na inter-relação entre o texto e o contexto dos fenômenos, entre o todo e as partes e vice-versa, na luta dos contrários e na explicação dos fenômenos pela sua produção histórica.

Os critérios de validação científica das pesquisas realizadas sob esta abordagem, fundamentaram-se na práxis humana que significaram a reflexão, a ação sobre uma realidade buscando sua transformação. Na legitimação do processo dialético (análise-síntese, da relação de contradição, da relação quantidade-qualidade), cuja ação é geralmente expressa através do materialismo histórico.

Com relação à concepção de ciência as abordagens dialéticas semelhantes às pesquisas empírico-analíticas, não renunciaram a origem empírica objetiva do conhecimento, nem a distinção entre o fenômeno e essência como faz a fenomenologia. Realizam sim uma síntese entre os elementos de outras abordagens. O processo de conhecimento parte do real objetivo percebido através de categorias abstratas para chegar à construção do concreto no

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O concreto é o ponto de partida e chegada do conhecimento e pode ser representado esquematicamente da seguinte forma: concreto-abstrato-concreto, este não é como o concreto inicial, pois já representa a síntese de muitas definições. (KOPNIN, 1978, p.157)

pensamento. A própria ciência é uma construção histórica e a investigação científica um processo contínuo relacionado com o movimento das formações sociais, uma forma desenvolvida da relação ativa entre o homem e a natureza, na qual o homem como sujeito constrói a teoria e a prática, o pensar e atuação num processo cognitivo-transformador da natureza.

Com relação aos pressupostos lógico-gnoseológicos, centralizaram o processo sujeito cognoscente-objeto cognoscível, na relação cognitiva, com a pretensão de alcançar a concretitude. O concreto se constrói através de um processo que se origina na percepção empírico-objetiva, passa pelo abstrato de características subjetivas, até construir uma síntese convalidada no processo de conhecimento.

Nesse grupo de pesquisas o homem foi concebido como ser social e histórico determinado por contextos econômicos, políticos e culturais e ao mesmo tempo como um ser transformador desses contextos.

O homem foi considerado na maioria das investigações identificadas como crítico- dialéticas como um ser social, indivíduo incerto no conjunto de relações sociais. Dependendo da formação social na qual se situe e da correlação de forças existente, o homem se converte em força de trabalho, mão de obra, especialista, capital humano, sujeito capaz de transformar a realidade, ator e criador da história, etc. Apesar de ser histórica e socialmente determinado também é capaz de tomar consciência de seu papel histórico, de educar-se por meio de ações políticas e liberar-se através da prática revolucionária.

Com relação à história predominou nas pesquisas crítico-dialéticas a visão diacrônica. A história foi colocada como elemento da explicação e da compreensão científica e também como ação numa de suas principais categorias.

A história foi concebida como o movimento dinâmico da realidade construída a muitas mãos, condicionada pelas ações dos sujeitos e pelas manifestações de suas idéias. Como uma construção humana, a partir da existência social que se estabelece na concreticidade e que revela a transitoriedade dos sistemas das estruturas de poder que são criadas em determinadas condições.

Com relação à concepção de realidade ou visão de mundo (cosmovisão), predominou nas pesquisas crítico-dialéticas, a visão diacrônica. Visão dinâmica e conflitiva da mesma realidade. A realidade foi entendida como a totalidade concreta ou o contexto onde vive o homem e se desenvolvem suas relações. Desse ângulo a realidade consistiu no modo de ser das coisas fora da mente ou independente dela abrangendo as duas dimensões de um fenômeno social: o tempo (próximo ou longínquo) e o espaço (micro, referente ao cotidiano e

macro estrutural) estão em permanente movimento de inter-relacionamento. Essa totalidade foi um espaço complexo onde foram detectadas contradições, superadas e transformadas apenas pela reflexão e posicionamento crítico do homem sobre ela.

A educação foi concebida como fenômeno individual que explica a si mesmo para ser entendida como um fenômeno fundamentalmente social, mediadora da classe hegemônica, mas também capaz de promover a transformação do estado de coisas vigentes. (negação da negação). Foi entendida portanto, como prática social “prática da liberdade”, prática social intencional estabelecido pelas relações humanas, que além do lugar de reprodução ideológica também pode servir como ferramenta de emancipação do homem

Em linhas gerais, podemos concluir que a dialética têm suas origens na Antiguidade e ao longo da história foi entendida de variadas formas, mas todas elas sempre conservaram o conceito de unidade no cerne de sua essência. No entanto, como paradigma de investigação os filósofos que mais contribuíram para dialética foram Hegel com seu esquema triádico (tese; antítese e síntese) e Marx e Engels com a concepção materialista de mundo.

O Marxismo fundado por Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1920-1895), desenvolveu a dialética de acordo com sua concepção materialista de mundo e tornou-a paradigma de investigação e práxis, nas suas formas indissociáveis. No entanto, enquanto abordagem metodológica e práxis começaram a ganhar espaço na literatura e pesquisas educacionais brasileiras, a partir, dos anos 70.

Em linhas gerais, essas são as informações que levantamos na literatura científica, produzida dos anos 80 aos dias atuais, a respeito da fundamentação histórica, epistemológica da abordagem crítico-dialética e suas implicações na investigação científica, especialmente, nas pesquisas educacionais brasileiras.

2.4. Sinopse das Abordagens Metodológicas utilizadas nas