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Principais Abordagens Metodológicas Adotadas nas Pesquisas Educacionais Brasileiras

IDÉIAS DESCRIÇÕES Centros que zelam

2.3. Considerações sobre a Abordagem Crítico-Dialética e suas Implicações na Pesquisa Educacional Brasileira

2.3.3. O Método Dialético enquanto Paradigma de Investigação e Práxis

O método dialético surgiu como abordagem científica com Marx e Engels, e desde então tem se constituído com base nas contribuições do empirismo inglês e do idealismo alemão, apropriando-se destas tem gerado e desenvolvido algumas categorias transformando a dialética materialista em uma nova concepção filosófica e científica. (GADOTTI, 2003 e SÁNCHEZ GAMBOA, 2000. In: SANTOS FILHO; SÁNCHEZ GAMBOA, 2000)

Portanto, a dialética materialista avança, em virtude, do seu próprio desenvolvimento, mas também devido a sua capacidade de assimilar as contribuições do empirismo moderno e da fenomenologia contemporânea. (SÁNCHEZ GAMBOA, 2000. In: SANTOS FILHO; SÁNCHEZ GAMBOA, 2000)

Ao partir da matéria como pressuposto filosófico básico do materialismo histórico dialético, Marx trata as formas do materialismo como um todo indivisível. (DALAROSA, 1999; LIMA, 2003 e LÖWY, 1988).

Desta forma, o materialismo é dialético e histórico, pois expressa a negação da realidade capitalista, ao considerar o fluxo desta caracterizado por uma transitoriedade, portanto, apresenta-se como essencialmente crítico e revolucionário. (MARX apud LÖWY 1988, p. 73-74)

No mesmo sentido Dalarosa (1999) afirma que o materialismo é histórico pois deve ser entendido a partir dos condicionantes históricos (não é uma explicação materialista estática, linear e permanente) e o materialismo é dialético porque tem como pressuposto lógico de análise a contradição. Esta produzida na própria história e estes dois, apesar de serem utilizados algumas vezes de forma dissociável formam um todo indivisível.

Corroborando as mesmas idéias, Lima (2003) ao tratar do método dialético como paradigma de investigação científica aborda este, como elemento indissociável do materialismo histórico, considerando o primeiro como fonte e o segundo como veículo desta, em uma total e indivisível unidade. Marx (1985, p.16) explica essa enunciação da seguinte forma:

A investigação tem de se apoderar-se da matéria, em seus pormenores, de analisar suas diferentes formas de desenvolvimento, e de perquirir a conexão íntima que há entre elas. Só depois de concluído este trabalho, é que se pode descrever, adequadamente o movimento real. Se isto se consegue, ficará espelhada, no plano

ideal36, a vida da realidade pesquisada, o que pode dar a impressão de uma construção a priori.

Baseado nessas idéias Kosik (1976, p.31) afirma que o método dialético compreende, primeiro, minuciosa apropriação da matéria, com pleno domínio do material, nele incluído todos os detalhes históricos aplicáveis, disponíveis, em seguida, análise de cada forma de desenvolvimento do próprio material e finalmente, a investigação da coerência interna, isto é, determinação da unidade das várias formas de desenvolvimento.

Com relação às leis e categorias da dialética materialista estas existem objetivamente e se formaram no processo de desenvolvimento histórico do conhecimento e da prática social e podem ser definidas da seguinte forma: CATEGORIAS: Formas de conscientização dos conceitos, dos modos universais da relação do homem com o mundo, que refletem as propriedades e leis mais gerais e essências da natureza, da sociedade e do pensamento; e LEI: “Uma ligação necessária geral, interativa ou estável”. [...] Esta conexão deve ser interna e essencial e, dadas certas condições, assinala o caráter de desenvolvimento do fenômeno. (CHEPTULIN, 1982, 253-254)

Corroborando esta definição, Kopnin (1978) afirma que às leis e categorias da dialética materialista são “o reflexo” das leis mais gerais do movimento dos fenômenos do mundo objetivo, e, conseqüentemente seguem as normas oriundas dele, o conhecimento em seus conceitos e teorias, concebe o objeto tal qual existe, sem depender do sujeito em assimilação.

No materialismo dialético, as categorias e as leis apresentam um valor essencial, apresentando algumas semelhanças, mas há também diferenças substanciais. Tanto as categorias como as leis “refletem as leis universais do ser, as ligações e os aspectos universais da realidade objetiva”. Mas as categorias são mais ricas em conteúdo do que as leis, já que aquelas refletem também “as propriedades e os aspectos universais da realidade objetiva”. As leis da dialética, assim como as de qualquer outra ciência, se expressam através de juízos, entretanto, as categorias constituem um tipo de conceito. (KOPNIN, 1978, p. 103-108)

Para compreendermos as categorias do materialismo dialético, precisamos compreender as categorias iniciais da matéria, da consciência e da prática social. É importante considerarmos que está presente em nosso espírito, a realidade objetiva que é regida pela lei de contradição (unidade e luta dos contrários), por isso, a dificuldade para estabelecer a correlação e interdependência das categorias. (TRIVIÑOS, 1987)

Devemos considerar ainda, que o sistema de categorias surgiu como resultado da

36 Para Marx (1985, p.16) “o ideal não é mais do que o material transposto para a cabeça do ser humano e por ela interpretado”.

unidade do histórico e do lógico “e movimento do abstrato ao concreto, do exterior ao interior, do fenômeno à essência”. O conteúdo mesmo das categorias muda e se enriquece com o progresso do conhecimento. (KOPNIN, 1978)

Os princípios ou leis da dialética apresentados por Jamil Cury (1986) apud Dalarosa (1999),Gadotti (2003) e Triviños (1987) são apresentadas de forma esquemática e sucinta, a seguir:

¾ Tudo se relaciona (princípio da totalidade) – Objetos e fenômenos agem reciprocamente, entendendo-os como elementos de uma totalidade concreta de uma realidade diversa e essa considerando o sujeito cognoscente como ser que age de forma objetiva e prática, movendo a história e movendo-se com ela, assim como com os outros homens. Portanto é preciso analisar os aspectos particulares, articulando-os com a totalidade, com o contexto social. No caso da Educação, ela não pode ser analisada como algo desconexo de um determinado contexto social que produz as contradições.

¾ Tudo se transforma (princípio do movimento) – A totalidade é entendida como um processo, portanto, em movimento, sob o enfoque “negação da negação”. Conforme Triviños (1987) ao comparar a totalidade como princípio do movimento em Marx e Hegel verifica-se que o conceito de ‘totalidade’ ativa em Marx difere do ‘todo absoluto’ que se renova continuamente em Hegel, em virtude de a totalidade marxista ser social e estar limitada por outras totalidades, o movimento para a dialética marxista considera todas as classes de movimento (retilíneo e circular) por isso, pode ser representado de forma espiralada, enquanto a totalidade hegeliana é metafísica e ilimitada e o movimento em Hegel aceita apenas os movimentos retilíneos ou os circulares;

¾ Mudança qualitativa (princípio da mudança qualitativa) – A transformação da totalidade se faz através da passagem da quantidade à qualidade, isto é, ocorre uma conversão do todo em um novo todo, diferente qualitativamente. Mudanças quantitativas podem gerar transformações qualitativas e vice-versa, o mais importante é que ocorram alterações essenciais na estrutura, função e finalidade no objeto em questão. Em geral, na química e na Física essas mudanças são mais comuns, por exemplo, a transição da água de estado sólido para o líquido e também para o gasoso, já o estado orgânico e principalmente nos fenômenos sociais essas mudanças necessitam de anos, de séculos e até milênios para ocorrerem.

¾ Unidade e luta dos contrários (princípio da contradição) – É a contradição interna aos fenômenos que possibilita a transformação, dado que existe em permanência ocorre simultaneamente o confronto de forças que se contrapõem, p.ex, afirmação versus negação

e deste processo resulta ou prevalece uma síntese como superação destas duas (afirmação ou negação). Nesta perspectiva, não há lugar para o determinismo. Toda realidade é passível de superação. A contradição põe em xeque a concepção de linearidade, de “ordem e progresso”.

Com relação às leis da dialética e suas formas de conceber o objeto e a atuação sobre ele, faz-se necessário destacar a observação de Kopnin (1978) acerca da explicação do conhecimento, sob uma perspectiva dialética como um processo em desenvolvimento que pode ser representado de forma espiralada, rompendo portanto, com a linearidade no processo de desenvolvimento do conhecimento, de acordo, com os postulados cartesianos.

Desse modo, as categorias marxistas não são entendidas como conceitos definitivos, mas como indicações para investigações ulteriores, cujos resultados retroajam sobre elas próprias. Por exemplo, Horkheimer quando se vale, nos mais diversos contextos, da expressão “materialismo” não repete ou transcreve simplesmente o material codificado nas obras de Marx e Engels, mas reflete esse materialismo segundo a óptica dos momentos subjetivos e objetivos que interferem na interpretação deste autor. (ABRIL CULTURAL, 1973)

O método crítico-dialético surge na literatura e pesquisas educacionais brasileiras, a partir da década de 70, fundamentadas em obras neo-marxistas, mais precisamente, naquelas elaboradas pelos representantes da Escola de Frankfurt37, que fizeram sérias críticas ao paradigma positivista e fenomenológico (LIMA, 2003 e SANTOS FILHO, 2000. In: SANTOS FILHO; SÁNCHEZ GAMBOA, 2000).

Sánchez Gamboa (1998) ainda destaca o aumento e a valorização nos últimos 30 anos38 do método dialético como postura ou concepção de método científico e práxis em uma mesma unidade.

Portanto, o método dialético enquanto paradigma de investigação e práxis tem como base o materialismo-histórico-dialético, cujos principais representantes foram Karl Marx e Engels. A essência filosófica básica do método em questão, são as leis ou categorias da

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Entre todos os elementos vinculados ao grupo de Frankfurt, salientam-se, por razões diversas, os nomes de Walter Benjamin, Theodor Wiesengrund-Adorno e Max Horkheimer, aos quais se podem ligar o pensamento de Jürgen Habermas. Esses autores formaram um grupo mais coeso e em suas obras encontram-se um pensamento dotado de maior unidade teórica.

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Sánchez Gamboa (1998) apresenta o crescimento da dialética como tendência paradigmática (denominada “crítico-dialética”) comparando três períodos específicos (por ele trabalhados, respectivamente em sua dissertação de mestrado e tese de doutorado, bem como outras pesquisas alusivas), o primeiro período (71-76) apresentava um percentual de 2%, aumentando para 8% no segundo período (77-80) e chegando a 12% no terceiro (81-84), perfazendo uma média de 9,5% de crescimento.

dialética materialista39, que como lógica exige o contato com a realidade e é este, que possibilita o movimento dessas categorias filosóficas, assim sendo, contraria o que pensam os críticos da dialética materialista, pois o método em questão não inibe o desenvolvimento do conhecimento, por apreendê-lo na realidade. Como abordagem metodológica e práxis começam a ganhar espaço na literatura e pesquisas educacionais brasileiras, a partir, dos anos 70.

2.3.4. Implicações Técnicas, Metodológicas, Teóricas e Epistemológicas das Pesquisas