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Importância do Estágio Profissional na Formação Pessoal e Profissional

2. Enquadramento Pessoal

2.3. Importância do Estágio Profissional na Formação Pessoal e Profissional

“Se o que nos move é a nossa paixão, então nada nos impede de nos entregarmos de corpo e alma à nossa profissão.”

(Neves de Castro, 2013, p. 10)

O EP é a última etapa da minha formação académica e a primeira como professor numa escola. No entanto, não é apenas isto que faz esta fase ser importante e especial para mim. É também porque significa o culminar de um sonho que tem vindo a ser alimentado desde há uns anos.

Foi durante este ano letivo que tive a oportunidade de colocar em prática, numa escola, grande parte daquilo que tenho vindo a aprender ao longo da minha formação académica e com as experiências vivenciadas no decorrer da minha vida. De acordo com a conjuntura atual em que o país se encontra, não sei quando voltarei a ter uma oportunidade igual ou semelhante aquela que tive este ano letivo. Por esta razão, este ano será sempre uma grande marca na minha carreira profissional, embora esta seja ainda muito curta.

Ao longo da minha formação, essencialmente na licenciatura e no mestrado, fui construindo a ideia de que aquilo que se aprendia na teoria era facilmente aplicado na prática. Mas com esta experiência vivida no EP estou em condições de referir que entre a teoria e a prática, há uma grande distância, ou

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seja, nem tudo o que é revelado pela teoria é possível ser aplicado na prática e nem tudo o que é realizado na prática é passível de passar para a teoria. Não obstante, ambas estão intimamente ligadas e complementam-se. Segundo Miranda (2008) o estágio profissional constitui-se num espaço privilegiado de interface da formação teórica com a vivência prática.

Nestes anos de ensino superior ensinaram-me e fui aprendendo muitas matérias, muitas teorias, muitas ideologias, mas foi nesta etapa que me considero ter dado o “grande salto” na minha preparação para ser professor, porque até então, julgava-me minimamente preparado, mas na verdade não estava. Faltava-me a experiência do terreno, experiência essa que só a prática possibilita. É por isso que considero que é no contexto real que se aprende uma profissão. Para Canário (2001), os professores aprendem a sua profissão nas escolas e o mais importante da formação inicial consiste em aprender com a experiência. Foi neste contexto que percebi, ainda mais, importância do estágio e a importância de ter alguém com mais experiência do que eu para me orientar, para me encaminhar, para me auxiliar e também para me ajudar e apoiar.

O estágio profissional é revestido de grande importância pois propícia ao estudante-estagiário um contacto com a realidade escolar (Bernardi et al., 2008b) e com a prática pedagógica, uma vez que através de situações concretas de docência, o estudante-estagiário tem que organizar o que ensinar e como ensinar, desenvolvendo um processo de reflexão crítica sobre a sua atividade (Bernardi et al., 2008a). Também Pimenta & Lima (2004, p. 61) destacam “o estágio como campo de conhecimento e eixo curricular nos cursos de formação de professores, pois possibilita que sejam trabalhados aspetos indispensáveis à construção de identidade, dos saberes, e das posturas específicas da docência (…) é no processo da sua formação que são consolidadas as ações e intenções da profissão que o curso se propõe a legitimar”. Por sua vez, Barros (2003) refere mesmo que o estágio é um período de adaptação do aluno à condição de profissional no mercado de trabalho.

O facto de ter tido alguém mais experiente do que eu para me orientar poderá ser visto como um processo de desenvolvimento e de formação que permitiu aprender a resolver da melhor forma os problemas com que fui sendo

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confrontado na prática pedagógica. De acordo com Alarcão & Tavares (1987) este processo denomina-se por supervisão, na medida em que um professor, mais experiente e mais informado, orienta um outro professor ou candidato a professor no seu desenvolvimento humano e pessoal. Vieira (1993, p. 28) define supervisão como “uma atuação de monitorização sistemática da prática pedagógica, sobretudo através de procedimentos de reflexão e experimentação”. Deste modo, parece evidente que o objetivo do processo de supervisão passa por direcionar o supervisionado para um conjunto de possibilidades que, autonomamente, terá de optar pela(s) que considerar mais adequada(s).

Apesar de já ter realizado estágio no último ano da licenciatura, esse não foi tão marcante como este, até porque não tinha tido tanta autonomia e responsabilidade como tive ao longo deste ano letivo, em que tudo, o que é inerente ao processo ensino-aprendizagem de uma turma, esteve a meu cargo. Foi preciso passar por esta experiência para perceber o quão importante é o EP na formação inicial dos professores, considerando-o por isso uma etapa fundamental para poder exercer a profissão docente. Na minha opinião, o professor estagiário deve tentar aprender o máximo com todos professores da escola e com todas as outras pessoas que o acompanham (sobretudo assistentes operacionais e alunos), pois são esses professores e essas pessoas que também ajudam a aprender a profissão. Esta é, sem dúvida, uma lição que levo para a vida: querer saber sempre mais, não tendo receio de procurar informações/conhecimento através de quem tem mais experiência. Desta forma, as reflexões pós-aulas com a professora cooperante e os diálogos mantidos com outros professores foram importantíssimos para aprender mais sobre a profissão de professor de EF. Com esta partilha de ideias é mais fácil e, muitas vezes, só assim se torna possível, ultrapassar os obstáculos que vão surgindo. No entanto, considero que é importante filtrar e refletir sobre toda a informação recebida, de modo a que cada um a possa adequar à sua realidade e às suas próprias necessidades.

Sem o apoio, essencialmente, da professora cooperante, por ter sido quem acompanhou mais de perto a minha atuação no contexto real, iria ficar mal

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preparado para abraçar esta profissão. O facto do professor estagiário ter alguém a cooperar consigo, ainda que seja da sua responsabilidade a organização e gestão do ensino-aprendizagem, leva a que se evitem alguns erro, porque são corrigidos atempadamente, e que aqueles que se cometem sejam mais facilmente identificados e corrigidos.

“Por último, quero mais uma vez destacar o comportamento irregular de alguns alunos. Numas aulas são empenhados e comportam-se devidamente e noutras parece “não quererem nada com isto”. Por um lado penso que o motivo posso ser eu, que não os consigo motivar suficientemente para a prática desportiva, mas por outro penso que poderá ser a situação pela qual estão a passar há cerca de um ano, ou seja, a existência de aula de EF teórico-práticas, que não lhes permite adquirir as rotinas e as regras próprias da disciplina, quando é devidamente exercida, já que só têm aulas práticas uma vez por semana. Na perspetiva da professora cooperante, após reflexão com a mesma, a segunda opção será a que faz mais sentido.” (Excerto da reflexão individual da aula 61 e 62)

“Apesar de ter consultado livros de EF, trabalhos que realizei no primeiro ano do mestrado e documentos que me foram facultados ao longo da licenciatura referentes à modalidade em questão, por vezes não fui capaz de esclarecer todas as dúvidas dos alunos. Neste caso, valeu a ajuda da professora cooperante, que em alguns momentos retirou as dúvidas colocadas por alguns alunos. Esta foi, portanto, uma das minhas maiores dificuldades nesta aula, que com a ajuda da professora cooperante, como já referi, consegui ultrapassar.” (Excerto da reflexão individual da aula 63)

Tentei sempre adquirir conhecimentos, experiências e sabedorias dos professores e professoras que me acompanharam ao longo deste percurso, quer na escola, quer na faculdade. Foram os mesmos que me permitiram e ajudaram a construir a minha identidade profissional. Para Batista et al. (2014) a identidade do professor é um conceito complexo que inclui a legítima participação de pessoas da profissão, assumindo estas o desempenho e controlo do exercício profissional, nomeadamente a linguagem, as ferramentas e os recursos associados à função do professor; os ideais, valores e crenças que afiliam os professores à profissão e as experiências que influenciam as decisões na

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carreira; e a representação de si como profissional, aos seus olhos e aos que o rodeiam.

Percebi a importância da supervisão e da cooperação neste ano da formação inicial, pois como referiram Sergiovanni e Starratt (1993) cit. por Tracy (1992), a supervisão no ensino é muito semelhante a janelas e muros. Como janelas, ajudam a expandir a visão das coisas, a solucionar problemas e a fornecer respostas dando-nos as bases necessárias para funcionarmos como investigadores e profissionais da prática. Como muros, estes mesmos modelos servem para nos orientar na visão de outras conceções da realidade, de outras perceções e de outras alternativas. Com tudo aquilo que vivenciei ao longo deste ano posso referir que a supervisão a que fui sujeito, se assemelha a uma janela, onde a professora cooperante me ajudou a construir e a pensar no trajeto que pretendo seguir. Mas também se parece com um muro, na medida em que todos os conselhos, criticas e observações foram no sentido de me encaminhar a ser melhor profissional.

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