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4. Realização da Prática Profissional

4.1. O Primeiro Impacto

Após quatro anos de formação académica, eis que chegou, novamente, o momento de confrontar os conhecimentos teóricos adquiridos com o contexto real de ensino. Digo novamente, porque tal como já referi neste documento, antes de frequentar o mestrado já tinha tido a possibilidade de realizar um estágio curricular, no último ano de licenciatura. No entanto, e tal como mencionei, o EP era diferente daquele que já tinha realizado. A responsabilidade que ia ter era muito maior, essencialmente por, ao longo de um ano letivo, ter que conduzir o processo de ensino-aprendizagem a uma turma que iria ter a meu cargo. Essa responsabilidade e o desejo de não querer errar, fez com que sentisse alguma pressão e ansiedade, além do receio que tinha de não estar bem preparado para assumir as exigências e responsabilidades da profissão de professor.

No primeiro dia em que me apresentei na escola, senti um misto de emoções. Por um lado era tudo novo para mim, já que não conhecia as instalações nem as pessoas com quem me cruzava e, por outro, o regresso a uma instituição (escola) que já não frequentava desde que tinha entrado para o ensino superior. Apesar da EB2/3RT não ter sido a minha escola de formação quando completei o ensino básico, penso que todas as escolas têm traços característicos semelhantes e comprovei isso naquele dia. Contudo sabia que todas aquelas emoções iam ser ultrapassadas e o que me fazia estar ali era o desejo de descobrir, aprender e alcançar ferramentas de ensino para iniciar a minha profissão.

Depois de cumpridas as formalidades, nas quais a PC, mais uma vez, teve um papel essencial, participei na primeira reunião geral, onde me foram apresentados alguns professores e funcionários. Desde este dia que, tanto uns como outros foram sempre muito acolhedores, mostrando-se disponíveis para ajudar no que fosse necessário e sem nunca discriminarem a minha condição de estagiário. A fantástica receção a que fui sujeito pelos diversos intervenientes da

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comunidade educativa foi fundamental para a minha integração e acabou por encobrir um pouco o “choque com a realidade”, referido por Veenman (1984). No entanto, ao longo do ano, principalmente no primeiro período, sempre que me chamavam professor ainda me fazia um pouco confusão. Isto porque, apesar de estar na escola a lecionar aulas, sentia-me como um aluno/estagiário. Por me sentir como tal, sempre que me direcionava a algum professor, e embora muitos me tenham colocado várias vezes à vontade para os tratar apenas pelo nome, tratava-o (a) por Professor (a) e a sua forma comum de tratamento (exemplo: Professor Silva, Professora Isabel, Professora Alice, entre outros). Isto vai um pouco ao encontro do que é mencionado por Lima (2004), quando refere que a fase inicial de inserção na docência caracteriza-se pela passagem de estudante a professor, através da realização da prática de ensino, num contexto de estágio. Neste caso, o primeiro contacto com o campo profissional possui as suas especificidades e é exógeno, isto é, os estudantes-estagiários ainda não são efetivamente profissionais, pelo que é aceitável, numa fase inicial, que ainda não se revejam nessa posição. Depois de tantos anos como aluno, este foi um ano que me permitiu fazer a passagem de aluno para professor.

Quanto ao impacto que senti quando estive pela primeira vez com a minha turma, este será um momento que irei guardar para sempre.

Estava nervoso, ansioso, mas muito contente por estar a iniciar algo com que sonhava. O nervosismo e a ansiedade que senti não era apenas devido ao facto de estar perante uma turma, até porque essa experiência já a tinha tido no primeiro ano do mestrado, nas Didáticas Específicas. Era, essencialmente, por ter recebido informações pouco agradáveis sobre a mesma, na primeira reunião do conselho de turma.

“Depois das informações fornecidas pela Diretora de Turma do 8ºE, na reunião do conselho de turma, fiquei um pouco assustado com os alunos que ia encontrar. Inicialmente, assustei-me porque nesta turma existem alunos com um reportório um pouco problemático (em concreto, alunos que já tinham estado institucionalizados, alunos cujos pais já criaram problemas na escola, outros que já tinham reprovaram) e então tinha receio do que ia encontrar. (…) Antes da aula começar sentia-me um pouco ansioso por ser a minha primeira aula “a sério”, embora fosse uma aula de apresentação

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e já anteriormente tivesse lecionado aulas, esta era a primeira aula do meu estágio profissional, portanto tinha um peso acrescido. Ainda assim correu tudo dentro da normalidade, de forma semelhante aquilo que tinha imaginado.” (Excerto da Reflexão Individual da Aula nº1 e 2)

Como é sabido, a profissão de professor é complexa e carregada de desafios, e a fase de passagem de estudante a professor é muito exigente. No entanto, com o passar do tempo fui-me sentindo cada vez mais à vontade, aproximando-me das competências exigidas aos profissionais da educação. Como passei a ser uma referência para os alunos, adotei um comportamento mais sério, mais profissional, passei a ser mais líder, mas não deixei de ser a pessoa simples e honesta que me considero. Para isso foi essencial a supervisão e o apoio da PC, que ao longo das aulas que lecionei, foi-me chamando à atenção pelos aspetos menos positivos (formas de organização da turma, seleção de exercícios, tempos de instrução, dinâmicas da aula, entre outros) de forma a melhorar as minhas prestações e consequentemente a tornar as aulas mais eficazes e proveitosas para os alunos. Este apoio, que me obrigava a refletir e a encontrar soluções, foi essencial para a minha evolução.

Os desafios com a planificação, organização, gestão e eficácia das aulas foram uma constante, e apesar das dificuldades iniciais (controlo da turma, tornar as aulas dinâmicas e intensivas e observar os erros dos alunos), as dúvidas (qual seria a melhor forma de ensinar determinado conteúdo, definir estratégias capazes de solucionar os problemas detetados) e os receios (saber se estava a fazer bem ou mal) foram progressivamente ultrapassados, e tudo se foi tornado mais natural.

O que senti no início do EP, vai ao encontro do que referiu Huberman (1992), quando caracterizou a primeira fase de entrada na profissão de docente, como aspetos de sobrevivência e descoberta, geralmente vividos em paralelo. A sobrevivência é identificada com o “choque” com a realidade na prática, a constatação da complexidade da profissão e das dificuldades efetivas no terreno. Por sua vez, o aspeto da descoberta, segundo o mesmo autor, é o que permite suportar o primeiro, por traduzir o entusiasmo e a motivação inicial, por estar pela primeira vez inserido no corpo docente.

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4.2.

Área 1: Organização e Gestão do Processo Ensino-